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Inclusão de crianças autistas na educação infantil

Aline Dailane Souza dos Santos

Karine Martins dos Santos

Lívia Monique de Almeida

 

DOI: 10.5281/zenodo.13625815

 

 

RESUMO:

Em meio as discussões no meio educacional, este assunto vem sendo tratado com extrema delicadeza para que os direitos descritos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)sejam cumpridos da melhor maneira possível. Por se tratar de um transtorno relativamente novo, ainda se tem muito a ser estudado a seu respeito. Este artigo objetiva refletir sobre a escolarização de alunos autistas, utilizando ferramentas de cunho acadêmico, relatando a definição de autismo; conhecendo os direitos da criança com deficiência; descrevendo sobre o processo de inclusão escolar do aluno autista; e ao fim da pesquisa, compartilhando conhecimentos a respeito da inclusão e seus obstáculos. A pesquisa foi desenvolvida a partir da fundamentação teórica por meio de pesquisas bibliográficas, em artigos científicos, monografia, dissertações, teses livros, arquivos online, revistas e pesquisa em documentos, leis e decretos. Para realizar essa pesquisa utilizou-se o enfoque qualitativo, por meio exclusivo de referências bibliografias para a fundamentação teórica de toda a pesquisa, e ênfase no estudo documental para uma melhor compreensão do assunto abordado, sendo assim observando os conceitos, definições e ideias de cada autor aqui citado.

 

Palavras-chave: Escolarização. Deficiência. Autistas.

 

 

ABSTRACT:

In the midst of discussions in the educational environment, this issue has been treated with extreme delicacy so that the rights described in the Law of Guidelines and Bases of National Education (LDB) are fulfilled in the best possible way. As it is a relatively new disorder, there is still a lot to be studied about it. This article is presented to the course Completion Paper of Course II of the Licentiate Course in Pedagogy at the Faculty of Guarantã do Norte - UNIFAMA, as a partial requirement for the presentation of the research work, under the guidance of Prof. Esp. Ana Marcia Soecki. This article aims to reflect on the schooling of autistic students, using academic tools, reporting the definition of autism; knowing the rights of children with disabilities; describing the school inclusion process of the autistic student; and at the end of the research, sharing knowledge about inclusion and its obstacles. The research was developed from the theoretical foundation through bibliographical research, in scientific articles, monographs, dissertations, theses, books, online archives, magazines and research in documents, laws and decrees. To carry out this research, a qualitative approach was used, exclusively through bibliographical references for the theoretical foundation of the entire research, and an emphasis on documental study for a better understanding of the subject covered, thus observing the concepts, definitions and ideas of each author cited here.

 

Keywords: Schooling; Deficiency; Autistic.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O Transtorno do Espectro Autista é uma doença que afeta o desenvolvimento neurológico fazendo com que, em muitos casos, haja o atraso cognitivo, a realização de movimentos repetitivos bem como a falta de interação social, as quais são as características mais presentes nos autistas. Impende destacar que o autismo possui classificações que determinam o grau que o transtorno afeta o indivíduo, os quais são: leve, moderado e severo e, dependendo do mesmo, se faz necessário um acompanhamento multidisciplinar. É característico do autista apresentar alguns déficits e excessos comportamentais em diversas áreas, conforme melhor explicado adiante. O grau de comprometimento destes déficits pode variar de uma criança para outra e na mesma criança ao longo do tempo. Por este motivo, a expressão Transtorno do Espectro Autista tem sido mais utilizada em detrimento da palavra Autista.

Este trabalho faz-se necessário para que em meio a um mar de incertezas e possibilidades que é o universo autista, os profissionais da educação, tenham uma brecha de expectativa, que sirva como uma luz de esperança clareando dias melhores na caminhada cujo objetivo principal é abrir a janela para o conhecimento na vida dos alunos, estejam eles dentro do espectro ou não.

Autistas são amparados pela Constituição Federal, pela Lei 12.764/2012 (Lei de Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista) e pela Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência) As leis especificas que visam a proteção dos direitos das pessoas com autismo demonstram a preocupação do legislador em potencializar a efetivação dos princípios consagrados pela Constituição Federal: igualdade; dignidade da pessoa humana; garantia da educação para todos; igualdade de condições de acesso e permanência na escola. Mas acima de tudo, e, principalmente, visam a tão almejada inclusão social do autista. A lei 12.767/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, dispõe sobre diretrizes (art. 2º) e direitos (art. 3º) das pessoas autistas. Ela considerou para todos os efeitos legais, autistas pessoas com deficiência. Portanto, estes gozam de todos os direitos relacionados na Lei Brasileira de Inclusão.

Porém, Alunos com necessidades educacionais especiais não podem ser inseridos no ensino regular sem a adoção das medidas adaptativas. Não basta inserir o aluno na escola regular, é preciso lhe dar condições de aprendizagem e sociabilização.

A educação inclusiva para alunos dentro do espectro autista ainda é um grande paradigma de modo geral, que ainda nos dias atuais gera grandes discussões entre os profissionais da educação, principalmente quando se trata de atender as necessidades especificas de cada aluno, que por se tratar do autismo tem-se um parâmetro abrangente de possíveis transtornos envolvidos. Sabe-se que existem leis que asseguram a educação das crianças dentro do espectro autista, na qual relataremos no decorrer da pesquisa. Em meio as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da educação, desde o acolhimento, inclusão, e desenvolvimentos das habilidades possíveis e necessárias nestes alunos, existem também, vários outros obstáculos a serem vencidos, como a aceitação dos pais e dos outros alunos, com a inserção deste aluno no meio comum em sala de aula. Dentre esses desafios, se mostra presente a falta de informação e formação especializada para o atendimento destes alunos.

Atualmente o autismo tem se mostrado um verdadeiro desafio para os educadores do século XXI, por se tratar de um transtorno relativamente novo e por se terem poucos estudos a respeito, se torna um caminho um tanto nebuloso para os profissionais da educação. Em meio as discussões no meio educacional, este assunto vem sendo tratado com extrema delicadeza para que os direitos descritos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)sejam cumpridos da melhor maneira possível. Por se tratar de um transtorno relativamente novo, ainda se tem muito a ser estudado a seu respeito.

Uma em cada 50 crianças tem o transtorno, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. E este número vem aumentando a cada ano. Por estes e outros motivos faz-se necessária a intensificação dos estudos a respeito deste assunto, a busca por novas pesquisas de campo a fim de descobrir métodos pedagógicos para inserir estes alunos em sala de aula de forma satisfatória, bem como a atualização acadêmica dos profissionais da educação que irão atender estes alunos.

... Imagine chegar em um país onde você não entende a língua e não conhece os costumes – e ninguém entende o que você quer ou precisa. Você, na tentativa de se organizar e entender esse ambiente, provavelmente apresentará comportamentos que os nativos acharão estranhos...” (citação retirada do Manual de Treinamento ABA – Help us learn – Ajude-nos a aprender.) Esta frase pode ser utilizada para compreender a maneira que uma criança portadora do Transtorno de Espectro Autista pensa, sente se comporta. Muitos dizem realmente que o autista constrói para si uma realidade paralela, alheia a nossa, e por viver “lá dentro” não consegue se comunicar com os outros que vivem no mundo “real”.

Dito isto, este trabalho faz-se necessário para que em meio a um mar de incertezas e possibilidades que é o universo autista, os profissionais da educação, tenham uma brecha de expectativa, que sirva como uma luz de esperança clareando dias melhores na caminhada cujo objetivo principal é abrir a janela para o conhecimento na vida dos alunos, estejam eles dentro do espectro ou não.

 

 

2. DESENVOLVIMENTO

 

2.1 O autismo, história e características

 

A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para sí mesmo”. A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler para se referir a um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de Esquizofrenia. Estes critérios, os quais ficaram conhecidos como “os quatro ‘A’s de Bleuler, são: alucinações, afeto desorganizado, incongruência e autismo. A palavra referia-se à tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, tornando-se alheio ao mundo social fechando-se em seu mundo, como até hoje se acredita sobre o comportamento autista.

O autismo é uma síndrome que afeta o desenvolvimento em três importantes áreas: comunicação, socialização e comportamento. Dentro das Desordens do Espectro Autista (DEA), a síndrome pode se manifestar de forma leve a severa e, normalmente, as alterações comportamentais já podem ser notadas nos primeiros anos de vida (até os 3). Não há estatística oficial entre os brasileiros, mas especialistas acreditam que a proporção seja semelhante à encontrada em outros países: uma em cada 50 crianças tem o transtorno, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Embora diversos tipos de alterações neurológicas e/ou genéticas tenham sido descritas como prováveis etiologias do autismo, não há nada comprovado ainda. O transtorno pode estar diretamente associado a problemas cromossômicos, genéticos, metabólicos, e até mesmo doenças transmitidas ou adquiridas durante a gestação, durante e após o parto. A dificuldade em elaborar um diagnóstico de autismo é grande, quando se pensa que diversas síndromes possuem sintomatologia semelhante. Uma quantidade de 75 a 80% das crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista apresenta algum tipo de retardo mental, o qual pode estar associado a inúmeros fatores biológicos.

É característico do autista apresentar alguns déficits e excessos comportamentais em diversas áreas, conforme melhor explicado adiante. O grau de comprometimento destes déficits pode variar de uma criança para outra e na mesma criança ao longo do tempo. Por este motivo, a expressão Transtorno do Espectro Autista tem sido mais utilizada em detrimento da palavra Autista.

Nem sempre o autismo está associado a deficiência mental. Às vezes ele ocorre em crianças com inteligência classificada como normal. O chamado “déficit intelectual” é mais intenso nas habilidades verbais e menos evidente em habilidades viso-espaciais. É muito comum, no entanto, crianças com este diagnóstico apresentarem desempenho além do normal em tarefas que exigem apenas atividades mecânicas ou memorização, ao contrário das tarefas nas quais é exigido algum tipo de conceituação, sequenciação ou sentido.

O transtorno do espectro do autista (TEA) ou simplesmente autismo é uma síndrome caracterizada por alteração do desenvolvimento com alta incidência em todo o mundo. O TEA é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento definido no DSM-5, classificação diagnóstica mais recente dos transtornos mentais, por déficits de comunicação social associado a comportamentos ou interesses repetitivos, estereotipados com início precoce. De acordo com o DSM-5, como sintomas deverão estar presentes no início do período de desenvolvimento e se tornarem evidentes na primeira infância (CAMPOS, 2019).

Critérios diagnósticos dos Transtornos do Espectro Autista

- Deficiências persistentes na comunicação e interação social: Limitação na reciprocidade social e emocional; Limitação nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para interação social; Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos, variando de dificuldades com adaptação de comportamento para se ajustar às diversas situações sociais.

- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestadas pelo menos por dois dos seguintes aspectos observados ou pela história clínica: Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos ou fala; Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às rotinas ou padrões ritualísticos de comportamentos verbais e não verbais; Interesses restritos que são anormais na intensidade e foco; Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente.

- Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do desenvolvimento. Eles podem não estar totalmente manifestos até que a demanda social exceda suas capacidades ou podem ficar mascarados por algumas estratégias de aprendizado ao longo da vida.

- Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento atual do paciente. E esses distúrbios não são melhor explicados por deficiência cognitiva ou atraso global do desenvolvimento.

 

2.2 Leis que asseguram o ensino escolar para autistas

 

É proibida a negativa de matrícula em razão do autismo. Negar matrícula nestas condições é crime. A educação é direito fundamental garantido constitucionalmente, que dá a todos os cidadãos o acesso a todos os níveis de aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível. Portanto, é direito da pessoa autista estudar, preferencialmente na rede regular de ensino, tanto em escolas públicas quanto em escolas particulares. Não há na lei em vigor qualquer limitação do número de crianças com deficiência por sala de aula, portanto negar matrícula alegando essas condições é inaceitável.

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/15) estabelece que a matrícula destas pessoas é obrigatória pelas escolas particulares, e não limita o número de alunos nessas condições por sala de aula. Discriminação é crime! Lei 12.764/12 Art. 7º O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos. Art.10º (dez) Em caso de reincidência, apurada por processo administrativo, assegurado o contraditório e a ampla defesa, haverá a perda do cargo.

Alunos com necessidades educacionais especiais não podem ser inseridos no ensino regular sem a adoção das medidas adaptativas. Não basta inserir o aluno na escola regular, é preciso lhe dar condições de aprendizagem e sociabilização.

O Art. 28, III da Lei 13.146/15 determina que a escola regular deve se adaptar ao aluno autista. A lei exige que seja criado um projeto pedagógico para o atendimento educacional especializado, que atenda às necessidades e características individuais dos alunos, visando que o aluno autista tenha acesso ao currículo escolar em condições de igualdade.

 

2.3 A inclusão de alunos dentro do espectro no espaço escolar

 

O que cabe à escola é incluir a criança da melhor maneira possível. Na Lei nº 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, fica assegurado a ela o direito à Educação em todos os níveis de ensino.

Além de os incluir nas classes regulares de ensino, desenvolver um relacionamento capaz de propiciar uma melhor adaptação, bem como fornecer o atendimento a todos de forma ampla e efetiva, para que de fato se sintam acolhidos e incluídos. Porém nem sempre é o que de fato ocorre nas instituições de ensino regular, são inúmeros os desafios na inclusão escolar dos alunos autistas.

O aluno autista deve ser olhado em sua singularidade para ser atendido de forma adequada, e que possibilite o seu desenvolvimento. É imprescindível que haja planejamento pedagógico para que sejam verificadas as possibilidades de desenvolvimento, bem como sejam apontadas as necessidades individuais do aluno.

Para que o sistema educacional inclusivo funcione, é essencial a colaboração da família. Ela compõe a rede de apoio como a instituição primeira e significativamente importante para a escolarização dos alunos. É a fonte de informações para o professor sobre as necessidades específicas da criança. É fundamental que se estabeleça uma relação de confiança e cooperação entre a escola e a família, pois este vínculo favorecerá o desenvolvimento da criança. Entretanto, é importante destacar que não cabe à família desempenhar o papel de profissional de apoio escolar. Este profissional é de responsabilidade exclusiva da instituição de ensino, quando se tratar de escola particular, e do Estado, quando se tratar de escola pública.

 

2.4 A importância da capacitação do professor para atuar na educação do autista

 

Os professores podem ficar atentos às mudanças comportamentais, como comprometimento na interação social e na comunicação, além de interesses restritos e repetitivos. Mas não é responsabilidade da escola fazer o diagnóstico. "Se o docente observar esses comportamentos, deve falar com a coordenação pedagógica e com a família para encaminhar a criança para avaliações profissionais, com exames genéticos, neurológicos, psicológicos, pedagógicos, fonoaudiólogos, entre outros".

Garantir que os direitos a inclusão sejam cumpridos não é uma tarefa fácil, faltam profissionais habilitados, o número de alunos em sala é grande e ainda não há muitos conhecimentos consolidados sobre o tema. O que existe são bons exemplos de práticas pedagógicas que funcionaram em determinados contextos e podem ajudar o educador e refletir sobre o processo de inclusão.

O aluno autista deve participar de todas as atividades escolares, ou seja, dos jogos, atividades esportivas e recreativas, uma vez que a educação não se limita à sala de aula. (Art. 28, XV da Lei 13.146/15). Para qualquer atividade no ambiente escolar, se pressupõe a igualdade de condições. Assim, não pode haver exclusão na dança do Dia das Mães, no passeio escolar, na festa junina, ou em qualquer outra atividade, uma vez que a escola deve ser vista como um todo, jamais dividindo-se a educação do aluno com ou sem deficiência. É muito importante que sejam respeitados os limites da criança. Entretanto, é inaceitável que a instituição de ensino decida não incluir a criança nas atividades escolares.

O que se pode utilizar como base para trabalhar com o aluno autista são técnicas experimentais, como por exemplo o relato de Maria da Paz Castro, especialista e formadora em inclusão:

 

Cada criança com autismo tem particularidades. É importante investigar ao máximo o que funciona com cada uma. É um processo complexo, com base na experimentação, de muitos erros e acertos. Por isso não existe uma receita. A música foi também uma ferramenta importante em sala de aula, ajudando o aluno a participar das atividades de alfabetização propostas. (CASTRO, 2015)

 

A parceria com os alunos contribui também para a gestão de sala, ou seja, a conscientização dos colegas neste processo de inclusão também é muito importante, é indispensável na verdade. Portanto o trabalho pedagógico do educador neste meio é extremamente importante, por, é através da vivência e convivência com os colegas que o aluno autista irá se sentir acolhido e bem-vindo.

Em muitos casos, o autismo é apenas uma das barreiras que o aluno tem de superar. Nestes casos o educador precisa se desdobrar e se reinventar a cada aula, pois, os alunos que dispõe de mais de um transtorno, acaba por exigir mais atenção nas questões da aprendizagem propriamente dita.

A lei 13.146/15 impõe a oferta de profissional de apoio escolar, que segundo o artigo 3º, XIII é: Profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas.

 

2.5 Transtorno do espectro autista ou TEA

 

Campos 2019 afirma que, o TEA (Transtorno do Espectro Autista) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento definido no DSM-5, como sintomas deverão estar presentes no início do período de desenvolvimento e se tornarem evidentes na primeira infância. Já a agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos afirma que o autismo é uma síndrome que afeta o desenvolvimento em três importantes áreas: comunicação, socialização e comportamento. De certa forma esses dois autores concordam no sentido de que o autismo é um transtorno que afeta o desenvolvimento da criança. Dentro das Desordens do Espectro Autista (DEA), a síndrome pode se manifestar de forma leve a severa e, normalmente, as alterações comportamentais já podem ser notadas nos primeiros anos de vida (até os 3): uma em cada 50 crianças tem o transtorno, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Portanto a pesquisa bibliográfica realizada, constatou-se o reduzido número de artigos dedicado à temática dentro da literatura, o que corrobora com a conclusão de diferentes autores sobre a carência de estudos na área (Belisário Filho & Cunha, 2010; Cabral & Marin, 2017; Camargo & Bosa, 2009; Nunes, Azevedo, & Schmidt, 2013). De qualquer forma, o conjunto de estudos obtidos que dispomos deve ser apreendido em sua integralidade, dentro de uma tentativa de identificar categorias, padrões, tendências, relações num meio diverso de contribuições. Nesse processo, está inclusa a busca por especificidades, semelhanças e discordâncias entre os diferentes dados obtidos, bem como por associações com o arcabouço teórico previamente estabelecido.

Com relação aos direitos da criança dentro do espectro o que cabe à escola é incluir a criança da melhor maneira possível. Na Lei nº 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, fica assegurado a ela o direito à Educação em todos os níveis de ensino. Isso é assegurado também no Art. 28, XV da Lei 13.146/15, onde afirma que o aluno autista deve participar de todas as atividades escolares, ou seja, dos jogos, atividades esportivas e recreativas, uma vez que a educação não se limita à sala de aula.

 

 

3. METODOLOGIA

 

A pesquisa foi desenvolvida a partir da fundamentação teórica por meio de pesquisas bibliográficas, em artigos científicos, monografia, dissertações, teses livros, arquivos online, revistas e pesquisa em documentos, leis e decretos.

Para realizar essa pesquisa utilizou-se o enfoque qualitativo, por meio exclusivo de referências bibliografias para a fundamentação teórica de toda a pesquisa, e ênfase no estudo documental para uma melhor compreensão do assunto abordado, sendo assim observando os conceitos, definições e ideias de cada autor aqui citado.

 

[...] a pesquisa qualitativa [...] têm por preocupação o ponto de vista do indivíduo: a primeira considera a proximidade do sujeito, por exemplo, por meio da entrevista; na segunda, essa proximidade é medida por meio de materiais e métodos empíricos (KNECHTEL, 2014).

 

A pesquisa bibliográfica é um processo de investigação para solucionar, responder ou aprofundar sobre uma indagação no estudo de um fenômeno. Bastos e Keller (1995, p. 53) definem: “A pesquisa científica é uma investigação metódica acerca de um determinado assunto com o objetivo de esclarecer aspectos em estudo”. Para Gil (2002, p. 17) “A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não pode ser adequadamente relacionada ao problema”. Ela nos auxilia desde o início, pois é feita com o intuito de identificar se já existe um trabalho científico sobre o assunto da pesquisa a ser realizada, colaborando na escolha do problema e de um método adequado, tudo isso é possível baseando-se nos trabalhos já publicados.

A pesquisa bibliográfica, para Fonseca (2002), é realizada

 

[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

 

A pesquisa bibliográfica é primordial na construção da pesquisa científica, uma vez que nos permite conhecer melhor o fenômeno em estudo. Os instrumentos que são utilizados na realização da pesquisa bibliográfica são: livros, artigos científicos, teses, dissertações, anuários, revistas, leis e outros tipos de fontes escritas que já foram publicados.

 

[...] elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 54).

 

Segundo Macedo (1994, p. 13), a pesquisa bibliográfica: “Trata-se do primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa científica, com o fim de revisar a literatura existente e não redundar o tema de estudo ou experimentação”. Desta forma para Lakatos e Marconi (2003, p. 183): “[...] a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas proporciona a revisão de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.

 

 

4. CONCLUSÃO

 

Diante desta pesquisa, conclui-se que a criação de uma legislação específica foi um marco essencial na defesa dos direitos das pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA), principalmente no que se refere a inclusão social e escolar de crianças em escolas regulares de ensino, porém não podemos parar.

Se faz necessário que haja uma constante busca pela concretização da dignidade dos autistas, principalmente no âmbito escolar, já que mesmo com os avanços da sociedade, a luta constante pela igualdade, estes são diariamente rejeitados e alvos de preconceitos devido à falta de conhecimento e de conscientização.

As escolas regulares precisam estar preparadas para atender às necessidades do aluno de inclusão. Alunos autistas devem participar de todas as atividades da escola. A exclusão não pode ser aceita. A Educação Inclusiva indica para uma sociedade inclusiva. Autistas têm direito à educação e ao ensino profissionalizante. Crianças autistas têm assegurada a educação inclusiva, cabendo ao Estado a garantia do atendimento educacional especializado. Autistas têm direito à educação, preferencialmente na rede regular de ensino, com apoios e adaptações adequados para o seu desenvolvimento.

No sistema educacional inclusivo, o papel da família é tão importante quanto o do Estado, da comunidade escolar e da sociedade em geral. É direito do autista ter sua inclusão em todas as atividades escolares. A escola inclusiva respeita as diferenças e inclui não apenas por conta de uma lei, mas por compreender que a diversidade favorece o desenvolvimento de todos. A inclusão plena será possível quando as pessoas souberem se relacionar, sem discriminar, sem constranger e sem afastar a criança e sua família do convívio social. É Lei! Estudantes autistas, ou com alguma deficiência, têm direito ao profissional de apoio em sala de aula sempre que for necessário. É essencial haver práticas pedagógicas inclusivas e formação inicial e continuada dos professores. A inclusão de aluno autista na escola regular deve ser vista de forma ampla, envolvendo, inclusive, a efetiva participação da família.

Pois é sabido que a inclusão não se faz somente integrando um aluno deficiente em uma escola sem qualquer preparo. É importante que haja uma estrutura física adequada pois alguns possuem dificuldades, como de locomoção, assim como a conscientização de alunos e profissionais que fazem parte do ambiente é de suma importância, para que haja um acolhimento e a inclusão real desse indivíduo, o que ocasionará inúmeros pontos positivos na trajetória acadêmica e social do autista.

É nosso dever como indivíduo e cidadão, conceder cidadania e dignidade a quem, até recentemente, não tinha perspectiva acerca de seus direitos e garantias.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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A musicalização como ferramenta pedagógica na rotina escolar

Aline Andrade1

 

DOI: 10.5281/zenodo.13625026

 

 

RESUMO

Este artigo surge como documento potencializador para professores e gestores atuantes na Educação Infantil que visa provocar a reflexão sobre a importância da música e do seu uso na rotina escolar. Para isso, o artigo conta com elementos fundamentais trazidos de documentos legais da primeira etapa da Educação Básica no Brasil que proporcionam um maior embasamento nas discussões apresentadas no seu decorrer. Vale destacar também a dimensão que a Educação Infantil tem na formação integral de toda criança ao buscar seu pleno desenvolvimento e, neste caso, a música surge como ferramenta pedagógica capaz de aproximar a relação professor-estudante e vice-versa, uma vez que o profissional precisa compreender a relevância de se inserir no universo infantil e, assim, poder maximizar suas práticas educativas para além da sala de aula.

 

 

Palavras-chaves: Educação Infantil. Musicalização. Rotina Escolar.

 

 

ABSTRACT

This article appears as an empowering document for teachers and managers working in Early Childhood Education that aims to provoke reflection on the importance of music and its use in school routine. To this end, the article relies on fundamental elements brought from legal documents from the first stage of Basic Education in Brazil that provide a greater basis for the discussions presented throughout. It is also worth highlighting the dimension that Early Childhood Education has in the integral formation of every child in seeking their full development and, in this case, music emerges as a pedagogical tool capable of bringing the teacher-student relationship closer and vice versa, since the professional They need to understand the relevance of being part of the children's universe and, thus, being able to maximize their educational practices beyond the classroom.

 

Keywords: Early Childhood Education, Musicalization and School Routine.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A música pode ser apresentada a todos como uma forma de linguagem, possibilitando a toda pessoa se expressar e se comunicar consigo mesma e com o mundo ao seu redor, seja através do canto ou da dança, até mesmo ambos. Ela está presente na história de vida do ser humano, independentemente de como, seja em momentos alegres ou mesmo tristes.

 

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia. (BRASIL, 1998)

 

Na Educação Infantil, a música aparece como uma forma de comunicação, que se bem usada pode ser uma das mais importantes no processo ensino-aprendizagem, pois através de canções, bebês e crianças podem aprender a falar e se expressar de múltiplas maneiras. É importante todo professor e gestor de creche reconhecer isso, uma vez que se isso for visto com toda a sua potencialidade, o profissional tem uma ferramenta poderosa de ensino e pode usar em suas atividades, na transição de espaços da escola, em reuniões ao objetivar uma formação para o corpo docente, etc. Assim, torna-se essencial todo professor e gestor compreender que a permanência de bebês e crianças na escola é pedagógica a todo momento e a música pode e deve ser utilizada com essa finalidade.

 

É necessário que a escola como um todo esteja preparada para oferecer uma educação musical que parta do conhecimento e das expectativas que o aluno traz de seu cotidiano, de seu meio sociocultural e que assim saiba contribuir para a humanização de seus alunos, aperfeiçoando ainda seus aspectos cognitivos, intelectuais, sociais e culturais. (FERREIRA, 2013, p. 22)

 

Em vista disso, destaca-se a presença da musicalização na Educação Infantil nos documentos legais da Educação Básica no país, como no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que é alegado direitos de toda criança até 6 anos e uma delas entende que “nossas crianças têm direito de cantar e dançar” (BRASIL, 2009).

E, ao reconhecer a importância da musicalização na escola, este artigo apresenta algumas músicas criadas pela autora deste artigo que buscou viabilizar às crianças de suas turmas um melhor entendimento da rotina escolar, de uma forma lúdica, expressiva e pedagógica, portanto, trata-se de uma pesquisa empírica baseada nas experiências docente e também documental que colaborou para um melhor embasamento nas discussões aqui pautadas. Aproveita-se para afirmar que todas as músicas escritas e discutidas são de autoria da professora-autora Aline Andrade

 

 

EXPERIÊNCIAS DOCENTE COM A MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

A música é uma fonte de comunicação, uma linguagem a ser experimentada e reconhecida como ferramenta pedagógica por todos da escola. A música ensina. A música educa. A música conta uma história e pode narrar por exemplo um determinado momento da rotina escolar na Educação Infantil, isto é, a música pode contar sobre o momento da rotina que a turma está.

 

O professor poderá assumir a responsabilidade objetivando oportunidades com relação a música e ainda promover ações que contemplem estilos musicais existentes no cotidiano fazendo com que a reflexão acerca das letras musicais sejam proporcionadas de maneira que faça o discente olhar para os espaços sociais com outra visão, nesse caso o professor é um agente potencializador de práticas, transformando o fazer pedagógico em sala de aula onde cada sujeito possa pensar diferentes formas de ver o mundo. (SILVA; NASCIMENTO, 2021, p. 714)

 

Agora, observa-se uma das canções da professora-autora para o momento do descanso na rotina escolar.

 

Vamos devagarzinho, É hora do soninho… Descansar…

Dormir… Um…

Dois… Três.”

 

Nesta música, destaca-se a sonoridade que começa em um ritmo e vai perdendo a potência conforme o avançar da letra, pois tem a intenção de indicar sonolência às crianças, para que percebam que chegou o momento de pausa das atividades escolares e é a hora do descanso.

Ao mesmo tempo em que para indicar uma brincadeira específica ou o momento de brincar livre, tem a música com melodia similar ao ritmo de grito de guerra, animada, com sonoridade alta. A canção sinaliza que a turma está no momento da brincadeira.

 

Vamos lá

É hora de brincar”

 

Assim como também foi criada uma música para indicar o momento da saída escolar, hora da rotina em que os familiares das crianças vão buscá-las para voltar para suas casas. A canção tem a intenção de lembrar os afazeres que a criança precisa ter quando está em sua casa.

 

Vamos devagarzinho É hora de ir embora… Descansar,

Comer, Tomar banho, Assistir TV,

Brincar…”

 

É notório o destaque à brincadeira, ao descanso, à alimentação e à higiene, isso porque a música visa garantir os direitos fundamentais da criança fora da escola também.

Uma outra forma de criar uma música para a rotina escolar é a do professor fazer uso de paródias para construir as letras de acordo com a rotina de sua turma, vale lembrar que a paródia permite escrever uma nova letra através de uma melodia já existente. Para essa situação, observe uma das paródias feita a partir da rotina escolar, essa paródia é cantada sempre quando a professora percebe que precisa ter uma maior atenção da turma, tratando-se de uma paródia referente a música “Eu quero saber…” do desenho infantil “Show da Luna”, lembrando que é a paródia foi elaborada apenas utilizando-se da melodia do refrão.

 

A professora quer falar… Vocês têm que ouvir…

O que a professora vai contar, É importante pra saber…

Tam-tam-taratam… Tam-tam-taratam…”

 

Para além das experiências musicais da professora-autora de rotina escolar, existem inúmeras pesquisas que relatam e certificam o quanto a presença musical interfere de maneira positiva na vida escolar de crianças e de estudantes, no desenvolvimento corporal, na oratória, nas capacidades cerebrais e até mesmo na melhora auditiva como pode-se perceber na pesquisa realizada por Jesus & Silva (2019) em que constataram avanços extremamente expressivos em crianças que tiveram contato com a musicalização na escola.

 

Pré-escolares de 5 e 6 anos que participavam de musicalização infantil apresentaram melhor desempenho nos testes que avaliaram as habilidades de memória sequencial não verbal e verbal e de ordenação temporal de três sons, quando comparados aos pré-escolares que não participavam de musicalização. Portanto, a musicalização infantil influenciou positivamente as habilidades auditivas de pré-escolares de 5 e 6 anos. (JESUS; SILVA, 2019)

 

A partir de tantos resultados significativos na vida do ser humano que possuem a presença da música, é preciso compreender as diversas possibilidades da sua utilização, não existe um único modo de fazer acontecer ou dar certo, a própria Educação Infantil mostra diariamente, através de atividades e práticas educativas, para professores e gestores que existem muitas formas de fazer dar certo, para um bom desempenho ao ter a música como instrumento pedagógico na rotina escolar é necessário considerar as especificidades da turma para entender qual melhor maneira de “fazer música”.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É importante professores e gestores atuantes na primeira etapa da Educação Básica compreenderem que não existe Educação Infantil sem musicalização, a criança tem direito à música, à brincadeira, a cantar, a dançar e tantas outras formas de linguagens que devem ser apresentadas e constituídas ao longo da trajetória escolar de crianças até seis anos conforme previsto na legislação.

A música desenvolve a mente e amplia os campos de conhecimentos de diferentes modos e tamanhas proporções. Antunha (2010) advoga sobre a importância da música desde a infância, ressaltando o papel fundamental da escola que ocupa hoje na sociedade, ao ter a percepção de como a sua presença constante na vida escolar da criança influencia e potencializa as capacidades do cérebro.

 

A sensação musical começa na criança com uma emoção de prazer puramente auditiva, a qual evolui integrando-se aos outros analisadores: táctilcinestésico, visual e motor, compondo assim esquemas amplificadores que envolvem regiões integrativas do cérebro, desde a cóclea até as áreas préfrontais, aí incluída a participação subcortical do hipocampo-memória, bem como os centros límbicos de recompensa: amígdala, septo e nucleus accumbens, facilitadores da produção de neurotransmissores como a dopamina, serotonina, noripinefrina e endorfina, cujos efeitos podem levar à alegria, felicidade e ao êxtase. (ANTUNHA, 2010)

 

A aprendizagem pode acontecer naturalmente através da musicalização, podendo notar um progresso constante em quem faz o seu uso e o professor deve ter consciência do valor que a música tem para um melhor desenvolvimento de sua prática pedagógica, principalmente os professores atuantes na Educação Infantil. Assim, torna-se necessário reconhecer a instituição de Educação Infantil, a escola, como a grande precursora de apresentar o mundo à bebês e crianças e a música pode ser o grande elo nesse compromisso.

É irrevogável que a música é instrumento para conhecimentos, capaz de fortalecer o corpo como um todo, de enriquecer a alma, podendo ser utilizada de tantos modos, mas para isso é preciso compreender a sua relevância para o educando, o tanto que a música fortifica o ser humano como um todo, em sua forma integral se bem usada.

 

O ser humano é essencialmente musical, seja no ritmo corporal (andar, mastigar, falar), seja no ritmo fisiológico (respirar e nos batimentos cardíacos), e a música tem se mostrado importante para o neurodesenvolvimento da criança e de suas funções cognitivas. O aprendizado musical interfere na plasticidade cerebral, favorece conexões entre neurônios na área frontal, que é relacionada a processos de memorização e atenção, além de estimular a comunicação entre os dois lados do cérebro, o que pode explicar sua relação com raciocínio e matemática. (SAID; ABRAMIDES, 2020)

 

Cada informação que a criança ou o estudante recebe a partir de uma canção é passado ao cérebro, de acordo com SAID & ABRAMIDES (2020) que reage dando ao corpo uma resposta a essa informação, isto é, um comando corporal é dado conforme o indivíduo recebe a música em questão.

 

A prática musical faz com que o cérebro funcione “em rede”: o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura, necessita passar essa informação (visual) ao cérebro; este, por sua vez, transmite à mão o movimento necessário (tato); por fim, o ouvido acusa se o movimento feito está correto ou não (audição), e embora a percepção da música se localize primordialmente no hemisfério direito do cérebro, os estudos recentes apontam que o aprendizado musical depende dos dois hemisférios, uma vez que ele é interdependente de outras funções cerebrais, como a memória, a linguagem verbal, a resolução de problemas e a análise, entre outras. (SAID; ABRAMIDES, 2020)

 

Isso posto, é indiscutível o quanto a presença musical pode transformar positivamente a vida de uma pessoa, uma vez que faz com que ela se desenvolva plenamente, em todas as suas capacidades, nas funções corporais, cognitivas e cerebrais, o desenvolvimento pode ser integral ao ser humano quando se é dado oportunidades, que pode e deve acontecer na escola, ao compreender o poder da música em maximizar e potencializar conhecimento e valores, ao construir hábitos saudáveis de convívio social.

 

A organização dos conteúdos para o trabalho na área de Música nas instituições de educação infantil deverá, acima de tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (musical e global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças socioculturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país. (BRASIL, 1998)

 

Professores podem organizar espaços na rotina escolar para construir junto das crianças músicas, podendo tornar ainda mais significativo o processo de ensino-aprendizagem ao torná-lo, também, um processo de criação coletiva. Vale lembrar que cabe à gestão escolar possibilitar apoio e recursos necessários para que professores possam explorar potencialmente suas práticas educativas e possam obter sucesso em suas feituras.

A escola, gestores e professores, precisam trabalhar juntos em prol de educação de qualidade e formadora, a sintonia e sinergia é essencial durante todo o processo de trabalho do ano letivo escolar.

 

A cultura organizacional da escola, como diz García (1995), pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento dos processos de formação de professores para torná-los autônomos e colaborativos, criar um clima de confiança e compromisso, desenvolver projetos e disponibilizar recursos humanos e materiais. (GRIGOLI ET AL., 2010)

 

Porém, compreende-se que para as propostas levantadas neste artigo possam acontecer devida e precisamente, é necessário investimento na formação continuada e especializada na área de música para professores e gestores, visando uma educação de qualidade, integral e formadora, com objetivo no bem-social e estar de toda criança e de todo estudante.

 

 

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1 Pedagoga formada na Universidade Estadual de Campinas, Professora de Educação Básica I na rede municipal de Araras/SP desde 2020, Pós-graduada Lato-Sensu em: Educação Especial e Educação Inclusiva pela Faculdade Única, Educação Integral pela Faculdade IMES, Gestão Educacional: Direção, Coordenação e Supervisão pela Faculdade Iguaçu, Fundamentos e Práticas Educativas na Educação Infantil pela Faculdade Iguaçu e Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Questões Étnicos-Sociais ou Raciais pela Faculdade Iguaçu.

 

 

 

O uso de histórias em quadrinhos na Educação Infantil

Enevania Aparecida Reducino Sgobbi

 

DOI: 10.5281/zenodo.13518392

 

 

RESUMO

Este estudo aborda o uso das histórias em quadrinhos na Educação Infantil, embora possam ser desprezadas na esfera educacional por sua grande quantidade de ilustrações e linguagem coloquial. O objetivo geral deste estudo de teor qualitativo bibliográfico é investigar a relevância das histórias em quadrinhos para o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil, enquanto que os objetivos específicos são identificar o percurso histórico, as leis e os estudos referentes às histórias em quadrinhos.

 

Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos. Leitura. Educação Infantil .

 

 

Introdução

 

As histórias em quadrinhos costumam ser interpretadas como mera fonte informal de entretenimento. Embora divertidas, seja por sua grande quantidade de ilustrações, seja pela linguagem usualmente coloquial, podem ser preconceituosamente desprezadas no âmbito educacional.

O objetivo geral deste trabalho é investigar a relevância das histórias em quadrinhos para o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil. Os objetivos específicos são identificar o percurso histórico, as leis e o teor dos estudos sobre as histórias em quadrinhos.

Questiona-se a relevância das histórias em quadrinhos no processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil.

A metodologia usada é de pesquisa qualitativa bibliográfica.

 

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. [...] A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.”(GIL, 2008, p.50)

 

Assim, a pesquisa bibliográfica fornece o respaldo de material previamente existente e possibilita uma pesquisa extensa.

 

 

Desenvolvimento

 

Para que seja investigada a relevância das histórias em quadrinhos no desenvolvimento das crianças na Educação Infantil é significativo conhecer como pode se manifestar a sua presença no ambiente escolar, abordando seu uso pelo docente e alunos, assim como os resultados que podem ser atingidos. Mas antes, é importante investigar a trajetória das histórias em quadrinhos desde o seu início, bem como as leis e os estudos acerca das mesmas.

 

 

A história das historias em quadrinhos 

 

O surgimento das histórias em quadrinhos aconteceu no século XIX, com a produção de autores variados, inclusive de Rudolph Töpffer, considerado o pai dos quadrinhos modernos, porque apresentou, segundo McCloud (1995, p.17 apud ALVES; FERREIRA; SOUZA, 2020, p.603) “a primeira relação interdependente de palavras e figuras na Europa.” O escritor suíço em questão publicou as Histoires em Estampes (1846-47) (FOOHS; CORRÊA; TOLEDO, 2021).

Em outubro de 1896 Richard Fenton Outcault publicou uma ilustração diferenciada, a fala de uma personagem da série de humor The Yellow Kid (PAIVA, 2013 apud ALVES; FERREIRA; SOUZA, 2020), escrita dentro do desenho, em discurso direto, ao invés de surgir em forma de legenda e em discurso indireto, iniciando, efetivamente, a disposição das histórias em quadrinhos como são conhecidas na atualidade (BRAGA; PATATI, 2006 apud ALVES; FERREIRA; SOUZA, 2020).

 Foohs, Correa e Toledo (2021) destacam a importância de Agostine:

 

Dentre os autores que publicaram suas HQs antes de Outcault, está Angelo Agostini, italiano radicado no Brasil. Ele publicou no dia 30 de janeiro de 1869, 27 anos antes de Outcault, histórias com seu personagem Nhô Quim no jornal Vida Fluminense. Intituladas de As Aventuras de Nhô Quim, essas histórias chamaram tanto a atenção que fizeram do dia 30 de janeiro o Dia Nacional dos Quadrinhos no Brasil.

 

Silva (2023) complementa que, ainda em 1896, surgiram os quadrinhos com balões como conhecemos hoje, com Os sobrinhos do Capitão, criação de Rodolfh Dirks. Seguindo esta metodologia apareceram heróis protagonistas como Tarzan (1914), de Edgar R. Burroughs, bem como no gênero ficção científica o herói Flash Gordon (1934), de Alexander Raymond, e no passado medieval o Príncipe Valente(1937), de Harold Foster.

Gomes (2022) lembra que os Estados Unidos podem receber o crédito como o país do desenvolvimento da linguagem das tiras cômicas desde meados do século XIX, ao ponto de um crítico cultural apontar as mesmas, nos anos 1920, como um das sete artes vigorosas do século XX, e também de terem consolidado o gênero narrativo super-heroico com, Superman, seu personagem mais importante. Já a escola franco-belga de desenho possibilitou o estabelecimento de uma linguagem expressiva e detalhada , resumida na expressão ligne claire, e que tem como marco essencial a série Tintin, de Hergé. No Brasil, o verdadeiro ponto de partida da literatura em quadrinhos, no entanto, foi a revista dedicada às crianças denominada O Tico-Tico, cujo primeiro número foi publicado em 11 de outubro de 1905, pela empresa de publicações jornalísticas O Malho. Seus criadores foram Renato de Castro e Manuel Bonfim. O nome da revista foi inspirado na Escola Migalhas do Saber conhecida como Escola Tico Tico, um jardim de infância. A editora S. A. O Malho publicou a revista especialmente para crianças, após sucessos alcançados por publicações similares na Europa, França, Inglaterra e Estados Unidos (SILVA, 2023).

O jornal O Globo de Roberto Marinho, lança o Globo Juvenil, logo depois da criação do Suplemento Juvenil, com a publicação de Lil’Abner (conhecido como Ferdinando), Brucutu, Zé Mulambo e Don Dixon , dentre outros. Na sequência O Globo lança o Gibi que na década de 40 passa a ser publicado mensalmente no tipo comic books, com as aventuras de Capitão Marvel, Príncipe Submarino eTocha Humana. O termo Gibi passa a ser dirigido a toda revista em quadrinhos. Gibi, aliás, significa moleque negrinho, em referência aos meninos que vendiam os jornais com as histórias em quadrinhos (SILVA, 2023).

Da década de 60 em diante, as produções brasileiras ganharam grandes personagens como as criações de Ziraldo,O Pererê e O Menino Maluquinho, além de Bidu, Cebolinha, Piteco, e enfim a Turma da Mônica, do desenhista Mauricio de Souza (SILVA, 2023).

 

 

A legislação educacional e as histórias em quadrinhos 

 

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI) a literatura é uma ferramenta no processo de aprendizagem e desenvolvimento, de modo que a prática docente deve ser organizada para a promoção do interesse discente pela leitura de histórias e a familiaridade dos alunos com livros, revistas e até mesmo histórias em quadrinhos (BRASIL, 1998 apud SILVA et al., 2021).

Atualmente, o uso das histórias em quadrinhos na educação brasileira é estimulado pela Base Nacional Comum Curricular BNCC [...]” (BRASIL, 2017, p. 50 apud FOOHS; CORRÊA; TOLEDO, 2021, p.82). Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil referem-se, a partir da faixa etária dos bebês, a conhecer e manipular gibis e a escutar textos do gênero quadrinhos (BRASIL, 2017).

 

 

Os estudos sobre as histórias em quadrinhos

 

Tem havido um notável crescimento dos estudos acadêmicos sobre histórias em quadrinhos (HQs) ao longo dos últimos anos. Essa constatação é ratificada pelas introduções de boa parte dos diversos livros lançados há pouco tempo. Porém, a grande novidade é o estabelecimento de um efetivo campo de estudos dedicado às HQs, conhecido pela expressão de língua inglesa comics studies no mundo anglo-saxão. É uma área bastante diversificada, por permitir o diálogo crítico entre estudiosos independentes e pesquisadores bem estabelecidos na academia, além de disciplinas como história, estudos de mídia, artes visuais, filosofia e teoria literária, por exemplo e, ainda, revistas e editoras acadêmicas consagradas , abrindo cada vez mais espaço para artigos oriundos de pesquisas ao redor das HQs, ao lado de uma série de periódicos acadêmicos dedicados unicamenteà pesquisa sobre HQs, como ImageText, Comicalités, Scandinavian Journal of Comic Art, International Journal of Comic Art, European Journal of Comic Art, Comics Grid e Journal of Graphic Novels and Comics. Consequentemente, são muitos os livros e coletâneas que partem de problemáticas tão distintas como memória, identidades, cotidiano e linguagem a partir das HQs, reconhecendo-as enquanto espaço privilegiado para se discutir tais temas. Há o interesse, concomitantemente, na consolidação do campo de estudos sobre HQs por intermédio da preparação de obras de referências, com destaque para uma série de readers contendo artigos essenciais para a teoria e a história das HQs. Em comum, assumem as HQs como agentes sociais os quais, através de formas bastante específicas de narrar graficamente, introduzem questões fundamentais a respeito de temas como diferenças sociais e identitárias (GOMES, 2022).

Acerca das pesquisas que analisam as relações entre HQs e América Latina, observa-se o esforço da tentativa em acompanhar a reflexão acadêmica que se desenvolveu recentemente em torno das HQs. O desafio passa por articular uma tradição de pesquisas locais sobre HQs às tendências e avanços observados na bibliografia, escapando da lógica do entusiasta e do fã para uma leitura mais crítica acerca do papel das HQs para possibilitar uma leitura própria sobre a América Latina. Gomes (2022) se surpreende com o contato modesto de obras publicadas nos anos 1960 e 1970 por nomes como Moacy Cirne e Álvaro de Moya, no Brasil, e Oscar Masotta e Oscar Steimberg na Argentina , a título de exemplificação (GOMES, 2022).

Moraes e Araújo (2022) realizaram um trabalho de pesquisa qualitativa descritiva sobre os artigos científicos contidos na base de dados Scielo Brasil no período de 1997 a 2020, em busca baseada nas palavras-chave histórias em quadrinhos. Eles identificaram áreas de conhecimento na pesquisa que revelaram a diversidade contida nos estudos desenvolvidos e analisados das histórias em quadrinhos, como a Administração e Saúde, dentre outras. Isso atesta o quanto é possível utilizar essa linguagem em contextos e lugares diferentes, contribuindo para a produção de conhecimento sobre o ensino e práticas pedagógicas desenvolvidas desde a educação básica até a universidade a partir das HQs.

 

 

As histórias em quadrinhos na escola 

 

As histórias em quadrinhos no ambiente escolar são um excelente instrumento de trabalho na Educação Infantil em rodas de leituras e contação de história por serem muito ricas em imagens, proporcionando diversão tanto para o leitor quanto para o ouvinte (SILVA et al., 2021). E a criança também pode entrar em contato individualmente com as histórias em quadrinhos, informalmente, na sala de aula.

Ademais, quando bem utilizados, a linguagem e os elementos contidos nos quadrinhos podem ser aliados do ensino, pois o texto juntamente com a imagem colabora na compreensão dos conceitos que, se estivessem relacionados somente com as palavras , ficariam abstratos (SANTOS, 2001 apud SILVA et al., 2021). Logo, a utilização das histórias em quadrinhos pode iniciar a criança no caminho para a consolidação do exercício da leitura e do prazer de ler (SILVA et al., 2021).

Silva (2023) lembra que a literatura quadrinizada tornou-se um grande investimento cultural e a combinação de texto e imagem desperta o interesse pela leitura, especialmente em crianças. Entretanto, esse tipo de literatura fora muito criticada nas décadas passadas, pois julgava-se prejudicial à cognição infantil, por instigar a falta de leitura clássica e produtiva. Hoje, porém, os críticos de literatura salientam que as crianças que têm contato com quadrinhos apresentam facilidade na alfabetização e pouca resistência à leitura de outros tipos de literatura. De acordo com o autor e pesquisador de HQ, Flavio Calazans “ uma produção quadrinizada bem pesquisada, séria e detalhada, torna-se tão ou mais útil que um filme ou documentário” (SILVA, 2023, p.89).

Gradativamente, os quadrinhos vêm ganhando espaço na educação, contribuindo no processo de ensino e aprendizagem discente. No entanto, de acordo com Bettio, Lopes e Marinho (2018 apud MORAES; ARAÚJO, 2022), o domínio da tecnologia, hodiernamente, afetou um pouco o interesse pela leitura dos alunos mais novos. Em consequência disso, é preciso estimular esse grupo ao hábito da leitura, a fim de que tenham condições de desenvolverem habilidades com a leitura e escrita; ademais, devem ser enfatizadas práticas educativas direcionadas para as realidades dessa faixa etária, posto que levar para sala de aula algo que atrai as crianças, pode motivá-las para aspectos referentes a leitura na escola. Dito isso, o contato com as HQs como forma de leitura pode proporcionar ao estudante a execução de um trabalho criativo, expressivo e artístico, significativo para o desenvolvimento de sua criatividade e imaginação (MORAES; ARAÚJO, 2022).

O docente deve aproveitar sua presença na sala de aula para observar quando agir para impulsionar os seus alunos em relação a leitura. Por intermédio das “[...] imagens as crianças criam diferentes situações e tentam mostrar aos alunos que já sabem ler, assim chamando a atenção de quem está por perto.” (SILVA et al., 2021, p.13). Em momentos desse tipo é preciso estimular e incentivar o interesse discente pela leitura.

O professor precisa deixar a criança confortável no meio em que se encontra, de modo que ela sinta-se não apenas uma ouvinte, mas também uma leitora. Uma sugestão interessante é deixar os gibis expostos e ao alcance delas, instigando-as, movidas pela curiosidade, a saberem o que são, para que servem e como podem ser lidos. Inicialmente, as crianças se concentrarão nas imagens e, gradativamente, despertarão para a leitura (SILVA et al., 2021).

Silva (2023) ensina que as histórias em quadrinhos podem ser usadas pelo docente como ferramentas de aprendizagem de múltiplas disciplinas:

 

A utilização das HQs como ferramenta da aprendizagem, possibilita um universo de multidisciplinaridade no processo de ensino e avaliação. A leitura da imagem associada ao texto e contexto do que se pretende mediar como conhecimento tem se mostrado eficaz na sala de aula (SILVA, 2023, p.93).

 

Assim, a título de exemplificação, o professor pode abordar, com as personagens da Turma da Mônica, várias questões, desde abordagens geográficas, como regionalismo, zona urbana, zona rural, pois alguns personagens moram na cidade, outros no campo e até em matas, até questões políticas e sociais, bem como a higiene e saúde, facilmente discutidas com o personagem Cascão (SILVA, 2023).

 

 

 

Conclusão

 

A relevância das histórias em quadrinhos para o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil é comprovadamente real. Elas divertem o leitor e o ouvinte, a combinação do texto e imagem auxiliam na compreensão dos conceitos ao mesmo tempo em que desperta o interesse pela leitura, além de facilitar a alfabetização e a aceitação da leitura de outros tipos de literatura. Ademais, o contato com as histórias em quadrinhos pode proporcionar o desenvolvimento da criatividade e imaginação infantil. Mesmo que a criança ainda não saiba ler, pode criar diversas situações com as imagens e, aos poucos, despertará para o processo de ler. Além de tudo isso, as histórias em quadrinhos podem ser usadas como ferramentas de aprendizagem multimídia disciplinar.

O percurso histórico das histórias em quadrinhos abrange o seu surgimento no século XIX, em solo europueu, com a primeira relação interdependente de palavras e figuras, passando pela fala pioneira de uma personagem escrita dentro do desenho, em discurso direto, até o surgimento dos quadrinhos com balões como são conhecidos na atualidade. Em suas duas versões, desde meados do século XIX, sejam como tiras cômicas, sejam como gibis, as HQs têm conquistado espaço, estando presentes na legislação educacional, como, por exemplo, no Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil e na Base nacional Comum Curricular e constando de estudos acadêmicos expressivos.

 

 

 

Referências

 

ALVES, Bruno Fernandes; FERREIRA, Eduarda de Andrade Lima; SOUZA, Sirlene Barbosa de. Histórias em quadrinhos na Educação Infantil: possibilidades pedagógicas para o ensino da língua materna. Revista Intersaberes, v.15, n.36, set/dez 2020. Disponível em: < https://www.revistasuninter.com/intersaberes/index.php/revista/article/view/201 2>. Acesso em 25 mar. 2024.

 

BETTIO, F. D. R.; LOPES, J. C. C.; MARINHO, L. G. C. A leitura e a imaginação através da história em quadrinhos. In: GALVÃO, G. D.; GOMES, N. S.; MOURA, S. M. E. S. (Orgs.). #Somos Todos Super-Heróis. Campo Grande: Colégio Alexander Fleming, p. 43-46, 2018.

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2021.

 

BRAGA, Flávio. PATATI, Carlos. Almanaque dos quadrinhos: 100 anos de uma cultura popular. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil (RECNEI). Brasília: MEC/ SEF, 1998.

 

FOOHS, Marcelo Magalhães; CORRÊA , Guilherme; TOLEDO, Eduardo Elisalde. Histórias em quadrinhos na educação brasileira: uma revisão sistemática de literatura. Instrumento: revista de estudo e pesquisa em educação. Juiz de Fora, v. 23, n. 1, p. 80-96, jan./ abr.2021.

 

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

 

GOMES, Ivan Lima. Histórias em quadrinhos: Um balanço bibliográfico desde a América Latina. Latin American Research Review, v.55, n.1, 2022.

Disponível em: < https://www.cambridge.org/core/journals/latin-american- research-review/article/historias-em-quadrinhos-um-balanco-bibliografico-desde-a-america-latina/4E6E6C0E63B3A9CCD88A8A8509596E63>. Acesso em: 4 abr. 2024.

 

MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 2005.

 

MORAES, Renata Costa Brito; ARAÚJO, Gustavo Cunha de. Produção científica sobre história em quadrinhos na Scielo (1997-2020) : oque dizem as pesquisas. Rev.Pemo, Fortaleza, v. 4, 2022. Disponível em: < https://revistas.uece.br/index.php/revpemo/article/view/6763>. Acesso em: 5 abr. 2024.

 

PAIVA, F. S. MODENESI, T. Quadrinhos e Educação em Cinco Ponto de Vista. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2013.

 

SANTOS, Roberto. Aplicações da história em quadrinhos. São Paulo: Comunicação & Educação, 2001.

 

SILVA, Alessandra Glaucia Castilho da et al. A importância da história em quadrinhos na Educação Infantil. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], p. 07–53, 2021. Disponível em: <https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/2427>. Acesso em: 20 mar. 2024.

 

SILVA, Patrícia Maria Brito. A importância da História em Quadrinhos na Educação. Epitaya E-books, [S. l.], v. 1, n. 31, p. 77-94, 2023. Disponível em: https://portal.epitaya.com.br/index.php/ebooks/article/view/677. Acesso em: 9 abr. 2024.

 

 

 

Releitura de obras famosas na Educação Infantil

Enevania Aparecida ReducinoSgobbi

 

DOI: 10.5281/zenodo.13541898

 

 

RESUMO

As Artes entretêm e enriquecem culturalmente as pessoas de todas as faixas etárias, mas também auxiliam as crianças em seu desenvolvimento. Assim, este trabalho de pesquisa qualitativa bibliográfica aborda a releitura de obras famosas na Educação Infantil, o que se justifica pela contribuição que pode oferecer aos professorandos e professores da área educacional em questão. O objetivo geral deste estudo é investigar como as obras de arte famosas podem ser usadas em releituras para o desenvolvimento dos alunos e os objetivos específicos são pesquisar acerca da postura docente nas atividades de Artes Visuais, bem como detalhar as releituras que podem ser aplicadas no ambiente da escola. Constatou-se que a atuação docente ao longo das atividades é indubitavelmente relevante, havendo a sua orientação aos alunos para a interpretação pessoal nas releituras. Para o desenvolvimento dos alunos com as referidas atividades percebeu-se que é importante haver a formação de relações entre as representações visuais apresentadas e as vivências deles. Verificou-se também que a postura docente deve ser a de entender a arte como conhecimento e de se atualizar, sempre que possível. As releituras sugeridas envolvem autorretratos, land art e colagem, mas existem muitas opções disponíveis.

 

Palavras-chave: Releitura. Artes. Educação Infantil .

 

 

Introdução

 

As Artes possuem a magia do entretenimento e enriquecimento cultural para pessoas de todas as idades. Em se tratando das crianças, as Artes podem, ainda, auxiliá-las em seu desenvolvimento, servindo de valioso apoio para a prática pedagógica.

Este trabalho aborda a releitura de obras famosas na Educação Infantil, justificando-se pela contribuição que pode proporcionar aos professorandos e professores da área em questão .

O objetivo geral é investigar como as obras de Arte podem ser usadas em atividades de releitura para o desenvolvimento discente. Os objetivos específicos, por sua vez, são pesquisar sobre a postura docente nas atividades de Artes Visuais e detalhar tipos de releituras que podem ser aplicadas no ambiente escolar.

Questiona-se até que ponto a atuação do professor durante as atividades é relevante.

A metodologia usada neste estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa bibliográfica. A abordagem da pesquisa qualitativa, conforme atesta Cardano (2017), tem como característica o aprofundamento de seu estudo, necessitando de um maior domínio referente ao objeto a ser pesquisado, e resultando em uma pesquisa mais direcionada e singular. O procedimento técnico, por sua vez, é de teor bibliográfico, posto que a elaboração da pesquisa ocorre a partir de material previamente publicado (MOREIRA, 2004; WEBSTER; WATSON, 2002 apud RODRIGUES; NEUBERT, 2023).

 

 

Desenvolvimento

 

Para que as atividades de releitura de obras na Educação Infantil contribuam significativamente para o o desenvolvimento dos alunos é preciso que existam atualização docente, a fim de que a prática pedagógica não se manifeste em propostas retrógradas, bem como interação criança-arte, além da reprodução de modelos.

 

 

A docência e a atualização nas Artes Visuais

 

Freitas (2023), em análise de estudos realizados com docentes licenciadas em Artes Visuais que atuam na Educação Infantil, constatou que, mesmo se tendo identificado algumas ações que aproximavam da arte compreendida como conhecimento, ainda se nota práticas retrógradas, apontando que a formação específica nem sempre é suficiente para o trabalho nesta fase educacional. Sugere-se que o docente, após seus estudos iniciais, continue a se aprimorar, atualizando-se, sempre que for possível.

Richter (2021) pondera que , nas duas décadas mais recentes, o país tem passado por um processo que se intensifica a respeito de discussões e reflexões acerca da formação docente para o ensino das artes. De acordo com a autora, a maior parte das instituições de ensino universitário brasileiro já fez ou está fazendo modificações em seus programas, com base, principalmente, em sua tradição histórica. Assim, universidades que oferecem cursos de bacharelado em Artes Visuais tendem a estabelecer licenciaturas vinculadas à formação do artista, enquanto que as universidades que estabeleceram seus cursos de licenciatura em Educação Artística a partir da Lei 5692/71 tendem à reformulação curricular , sendo que alguns consensos têm sido procurados para que distorções geradas pelos cursos do passado do professor de Educação Artística sejam eliminadas e se efetue uma profunda reflexão referente ao ensino da arte e ao perfil do seu respectivo educador .

 

 

A criança e a Arte e interação

 

A partir do momento em que é oportunizado o trabalho envolvendo imagens de produção artística, assim como o contato com os respectivos artistas, são criadas possibilidades para o desenvolvimento das crianças em termos da relação formada entre as representações visuais e suas vivências (tanto a nível pessoal quanto grupal). Como consequência, as crianças enriquecem seu conhecimento do mundo e das linguagens das artes, instrumentalizando-as como leitoras e criadoras de trabalhos artísticos. Levando-se em consideração que a interpretação infantil ocorre de acordo com suas informações e interesses, fundamentados em suas vivencias, a releitura de obras com a apreciação e a leitura de imagens proporciona à criança o conhecimento e o estabelecimento de relações com o seu espaço cultural e social (PINHEIRO [et al.], 2017).

Mais do que simples atividades despretensiosas, a arte possui profundos significados que enriquecem as vidas das crianças:

 

[...] a arte vai muito além de meras atividades propostas para as crianças como forma de ocupar o tempo ou entretê-las, sendo uma dimensão importante da construção subjetiva de cada indivíduo, na medida em que colabora para a expressividade do sujeito para além do que o discurso verbal pode manifestar (BRITO; ALVES, 2023, p.220).

 

Logo, compreende-se que, através da arte, a criança pode se expressar de um modo diferente do efetuado somente com palavras.

Ostetto (2011 apud NASCIMENTO; CIRELE, 2021) menciona a necessidade do trabalho das diferentes linguagens na infância e critica determinadas formas de ensino das Artes porque têm havido

 

[...] a simplificação e o empobrecimento da “arte” em uma versão escolarizada, encerrada no fazer e visando a um produto, colocando em ação“o mesmo para todos”, “sigam o modelo”, “é assim que se faz”. Na Educação Infantil, frequentemente, a arte mostra-se com a roupagem de um conteúdo a ser ensinado em determinados momentos ou um conjunto de técnicas e instruções para o exercício de habilidades específicas (os “trabalhinhos” e as “atividades artísticas” vão por esse caminho) (OSTETTO, 2011, p.5 apud NASCIMENTO; CIRELE, 2021, p.113).

 

Simplesmente seguir um modelo estipulado previamente pelo professor nas atividades certamente não contribui para o desenvolvimento das crianças através da arte. Por outro lado, explorar as possibilidades de conhecimento contidas nas variadas modalidades artísticas existentes é permitir que os alunos se aprimorem. Freitas (2023) afirma que

 

[...] as Artes Visuais, como uma de suas linguagens e o desenho, o artesanato, a escultura, o cinema e tantas outras modalidades artísticas inseridas na grande área das Artes Visuais, são portadoras de conhecimentos próprios, que dizem respeito às formas de conversão de ideias em imagens, às percepções que despertam, as sensações que provocam e as soluções encontradas na manipulação de suas materialidades que tornam visível o que ainda não o era, por exemplo. Conhecimentos que precisam ser também despertados, refletidos e aprendidos [...] (FREITAS, 2023, p.118).

 

Percebe-se, assim, que embora seja comum associar as Artes Visuais apenas ao desenho e pintura, existem outras modalidades, como o artesanato, a escultura, ao cinema e outras, ainda.

Em relação ao desenho de observação , Barbieri (2012 apud FREITAS, 2023) elucida que a criança não reproduz necessariamente o que observa, mas torna visível o que seus olhos selecionam como significativo e que no desenho de memória, representado até na figura humana, do mesmo modo, a criança torna visível não os aspectos aparentes da imagem representada, mas uma interpretação do que observa.

 

Releituras: sugestões

 

As sugestões de releituras não se esgotam nas atividades abrangendo autorretratos, land art e colagem especificadas, mas são uma amostra expressiva do que pode ser feito com os alunos da Educação Infantil.

 

 

Autorretratos

 

Foram selecionados dois artistas estrangeiros do passado como sugestão para os autorretratos, Frida Kahlo e Vincent Van Gogh.

Através da releitura de autorretratos de artistas renomados, como Frida Kahlo e Vincent Van Gogh, as crianças podem conhecer acerca da técnica sobre um retrato ou uma imagem que o autor faz de si mesmo. Os retratos também podem conter expressões fisionômicas relevantes, como na obra “O Grito”, de Edvard Munch, e atividades relacionadas às expressões conhecidas, como demonstrar expressões de bravo, triste, feliz e assustado diante de um espelho podem ser realizadas (PINHEIRO [et al.], 2017).

Conhecendo os autorretratos de artistas , os pequenos discentes encontram uma oportunidade de se conhecerem melhor, também, pois estarão trabalhando expressões e emoções que fazem parte deles mesmos.

 

 

Land art

 

Procurou-se por um representante significativo da land art, chegando-se ao nome do artista estrangeiro, falecido, Robert Smithson.

A land art, corrente artística que apareceu ao fim da década de 1960, utilizava o meio ambiente, espaços e recursos naturais para a realização de suas obras. A proposta pedagógica da land art, por se destacar não apenas porque o material utilizado para produção das obras, costumeiramente, é retirado da natureza, organicamente, gerando um custo baixo, ou nenhum, para ser conseguido , mas também por trazer a compreensão da relevância da experiência e a discussão referente à materialidade e à efemeridade. A obra “Spiral Jetty”, do artista Robert Smithson pode ampliar o repertório visual e imagético das crianças (NASCIMENTO; CIRELE, 2021). “Spiral Jetty” foi construída com 6.650 toneladas de rocha e terra, formando uma espiral (HOLT/SMITHSON FOUNDATION, [s.d.] apud NASCIMENTO; CIRELE, 2021).

Assim, as crianças , em um primeiro momento podem desenhar ou fazer com massinha a representação inicial de algo que , posteriormente , será uma land art, por exemplo: uma espiral de folhas de árvore que será construída no pátio da escola. Nascimento e Cirele enfatizam a importância da atividade para enriquecer as experiências infantis:

 

Nesse contexto, é possível destacar que ações pedagógicas que desterritorializam espaços e extrapolam a sala de atividades se tornam potentes para movimentar os corpos, possibilitando as experiências estéticas e estésicas, tão necessárias para um ensino contemporâneo da arte (NASCIMENTO; CIRELE, 2021, p.125).

 

As atividades deslocam o ambiente tradicional de ensino e aprendizagem, a sala de aula, para outros espaços da escola, onde, com material reciclado retirado da natureza, os alunos podem vivenciar a releitura de uma land art, adaptada para a sua realidade.

 

 

Colagem

 

Para representar a arte da colagem foi escolhida a artista plástica brasileira, ainda em atividade, Beatriz Milhazes.

A artista Beatriz Milhazes realiza uma arte voltada para um trabalho mais abstrato. Suas obras, bem coloridas, são repletas de colagens, recortes, pinturas e materiais diversificados, despertando a atenção das crianças (CAMPOS, 2019).

Pode ser realizado um ótimo trabalho com alunos pequenos explorando as criações de Beatriz Milhazes, com as suas formas geométricas e as cores vivas, primárias e secundárias, presentes em suas obras . Multicoloridas, a colagem “Leblon 2”, por exemplo, possui círculos e quadrados , ao passo que “O Paraíso” contém círculos e retângulos (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2022).

A colagem com material reciclado pode ser uma forma agradável e estimulante para atividades de releitura de obras de arte da autora. Braga menciona a colagem da artista feita com embalagens de chocolate chamada “Sonho de Valsa” e o processo complexo de desenvolvimento de suas produções artísticas, envolvendo materiais como folhas de plástico e tinta acrílica, em fases de preparação que podem horas ou até mesmo anos (BRAGA, 2022). O tempo das atividades, logicamente, deve ser adaptado para a prática das mesmas na escola.

 

 

Conclusão

 

As obras de Arte famosas podem ser usadas em atividades de releitura para o desenvolvimento discente, formando relações entre as representações visuais que são apresentadas e as vivências, tanto de cada criança, em sua individualidade, quanto em grupo. Assim, os alunos podem enriquecer seu conhecimento do mundo, entrando em contato com criações e criadores, e das linguagens das Artes, aproximando-se de técnicas e materiais variados, fazendo leituras de trabalhos conhecidos e releituras, com suas criações.

A atuação do professor durante as atividades é indubitavelmente relevante, havendo o empenho em orientar os alunos para que não se concentrem na reprodução das obras, mas que as interpretem de acordo com as percepções despertadas em cada trabalho. Caso contrário, as aulas de Artes abordando a releitura se converterão em meras atividades despretensiosas, como era comum em práticas pedagógicas do passado.

A postura docente nas atividades de Artes Visuais deve ser a de compreender a arte como conhecimento e de não efetuar práticas retrógradas, procurando atualizar-se, sempre que possível.

Com este trabalho, comprovou-se a existência de três ótimas opções de abordagem: usando autorretratos de artistas renomados e expressões fisionômicas conhecidas, as crianças podem trabalhar suas próprias expressões e emoções; com a land art, os trabalhos artísticos conquistam novos espaços; nas colagens inspiradas nas obras de Beatriz Milhazes, as crianças podem lidar com formas geométricas, bem como cores primárias e secundárias. Ademais, tanto na land art quanto na colagem, os alunos são estimulados a valorizar a reciclagem. Todavia, os tipos de releituras que podem ser aplicadas no ambiente escolar são muito diversificados.

 

 

Referências

 

 

BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na Infância? São Paulo: Blucher, 2012.

 

BRAGA, Paula. Arte contemporânea: modos de usar. São Paulo: Editora Elefante, 2022.

 

BRITO, Isabela Sarah Trigueiro Custódio de; ALVES, Beatriz Guedes de Carvalho. A UAEI e a arte na Educação Infantil. In: SOUZA, Rayffi Gumercindo Pereira de [et al.] (Orgs.). Da creche ao colégio de aplicação: as crianças em cena na UFCG há 45 anos. Campina Grande: EDUFCG, 2023. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/34059/DA%20CRECHE%20AO%20COL%C3%89GIO%20DE%20APLICA%C3%87%C3%83O%2020EBOOK%20EDUFCG%202023.pdf?sequence=1&isAllowed=y#page=110. Acesso em: 4 fev. 2024.

 

CAMPOS, Janaina Miranda de. Um estudo sobre práticas artísticas na educação infantil: redescobrindo artistas brasileiras. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019. Disponível :<https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/33353>. Acesso em: 3 mar. 2024.

 

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL . Beatriz Milhazes. 2022. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9441/beatriz-milhazes. Acesso em: 4 mar. 2024.

 

FREITAS, Ana Cláudia de Oliveira. Entre conversas e visualidades: as práticas em Artes Visuais na Educação Infantil em instituições públicas da cidade de Guanambi-BA. Dissertação (Mestrado) UFPB/CCTA. João Pessoa, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/26737. Acesso em: 20 fev. 2024.

 

HOLT/SMITHSON FOUNDATION . Spiral Jetty. Disponível em: Spiral Jetty | Holt/Smithson Foundation (holtsmithsonfoundation.org). Acesso em: 8 fev. 2024.

 

MOREIRA, Walter. Revisão de literatura e desenvolvimento científico: conceitos e estratégias para confecção. Janus, Lorena, v. 1, n. 1, p. 19-30, 2004. [Online]. Disponível em: http://www.fatea.br/janus/pdfs/1/artigo01.pdf. Acesso em: 4 mar. 2024.

 

NASCIMENTO, Thais Martins do; CIRELE, Larissa Carvalho. Land art e Educação Infantil: desterritorializando os espaços para além da sala de atividades . Revista Pró-Discente, v.27, n.2, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/prodiscente/article/view/37268

 

RICHTER, Ivone Mendes. A formação do professor de Artes Visuais em uma perspectiva internacional: implicações para o ensino de arte no Brasil. In: OLIVEIRA, Marilda Oliveira de; HERNÁNDEZ. Fernando. A Formação do Professor e o Ensino das Artes Visuais. Editora UFSM, 2021.

 

OSTETTO, L. E. Educação infantil e arte: sentidos e práticas possíveis, 2011. Disponível em:

https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/320/1/01d14t01.pdf. Acesso em: 8 fev. 2024.

 

PINHEIRO, Marilene Jacobsen [et al.]. As expressões artísticas no fazer pedagógico com as crianças: releitura de obras de artes na educação infantil. In. SEMINÁRIO INSTITUCIONAL PIBID/ UNISINOS, 2. 2017, São Leopoldo.

Anais[...]. Rio Grande do Sul: Unisinos, 2017.

Disponível em: http://repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/7762. Acesso em: 4 fev. 2024.

 

RODRIGUES , Rosângela Schwarz; NEUBERT, Patricia da Silva. Introdução à pesquisa bibliográfica .[Online] Florianópolis : Editora da UFSC, 2023.Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Rosangela- Rodrigues/publication/373506797_Introducao_a_pesquisa_bibliografica/links/65 5c8dc6b1398a779da39855/Introducao-a-pesquisa-bibliografica.pdf. Acesso em: 4 mar. 2024.

 

WEBSTER, Jane; WATSON, Richard T. Analyzing the past to prepare for the future: writing a literature review. MIS Quarterly, v. 26, n. 2, p. xiii-xxiii, June 2002. [Online]. Disponível em: https://abre.ai/f9L4. Acesso em: 4 mar. 2024.

 

 

 

Para além da ruminação: Estratégias práticas para lidar com pensamentos intrusivos

Léo Ricardo Mussi1

 

Doi: 10.5281/zenodo.13355555

 

 

RESUMO

Este artigo aborda estratégias práticas e comportamentais para lidar com pensamentos intrusivos na psicologia cognitiva e comportamental. Inicia-se com a definição de pensamentos intrusivos e seu impacto na saúde mental. Abordagens como mudança comportamental, aceitação e compromisso, e mindfulness são exploradas, enfatizando a importância de ações diretas para interromper o ciclo de ruminação. São propostos exercícios como expressão criativa e também a busca por apoio profissional. A conclusão reforça que “somos definidos pelas nossas ações”, incentivando uma abordagem ativa na gestão dos pensamentos intrusivos para promover um bem-estar emocional duradouro e uma vida mais plena e satisfatória. Visando cumprir os objetivos aqui propostos, valeu-se da metodologia de revisão bibliográfica, à luz de trabalhos de pesquisadores como Associação Americana de Psiquiatria (2014); Amaral & Oliveira (2017); Clark & Beck (2011); Cuenca (2010); Gorenstein & Andrade (2008); Hayes & Wilson (2009); Kabat-Zinn (2015); Maia, Cruz & Oliveira (2019); Papageorgiou & Hirsch (2009); Ruscio et al. (2015); Sampaio & Menezes (2016); entre outros.

 

PALAVRAS-CHAVE: Pensamentos Intrusivos. Psicologia Cognitiva. Comportamento. Estratégias práticas.

 

 

Introdução

 

Os pensamentos intrusivos representam um desafio significativo para a saúde mental, afetando indivíduos em todo o mundo. Caracterizados pela recorrência e persistência de pensamentos indesejados e perturbadores, os pensamentos intrusivos podem desencadear uma série de respostas emocionais negativas e interferir no funcionamento cotidiano das pessoas. De preocupações incessantes sobre o futuro a memórias intrusivas de eventos passados, esses pensamentos podem se manifestar de diversas formas, contribuindo para o estresse, a ansiedade e a depressão.

Diante desse cenário, torna-se essencial explorar abordagens eficazes para lidar com os pensamentos intrusivos e promover o bem-estar emocional. Embora intervenções farmacológicas possam ser uma opção para algumas pessoas, abordagens práticas e comportamentais têm ganhado destaque devido à sua possibilidade de capacitar os indivíduos a enfrentarem os desafios mentais de forma ativa e construtiva. Ao invés de simplesmente tentar controlar ou suprimir os pensamentos intrusivos, essas abordagens visam equipar os indivíduos com ferramentas e estratégias para lidar com esses pensamentos de maneira adaptativa.

Neste contexto, este artigo visa explorar a importância de abordagens práticas e comportamentais na gestão de pensamentos intrusivos. Ao analisar as raízes do problema e examinar estratégias eficazes para enfrentá-lo, busca-se fornecer uma visão abrangente e prática para aqueles que lidam com pensamentos intrusivos em seu dia a dia. Ao compreender o papel fundamental da ação e da mudança comportamental na resposta aos pensamentos intrusivos, os indivíduos podem cultivar uma maior resiliência emocional e promover um maior bem-estar mental.

 

 

Pensamentos intrusivos: Definição e impacto

 

Os pensamentos intrusivos, por definição, são pensamentos indesejados e persistentes que ocorrem de forma involuntária, muitas vezes interrompendo o fluxo de pensamento normal de um indivíduo. Eles podem se manifestar de diversas formas, desde preocupações persistentes até imagens perturbadoras ou lembranças intrusivas de eventos passados. A característica central desses pensamentos é a sua recorrência e a dificuldade em controlá-los ou suprimi-los. Conforme Cuenca (2010):

 

Pensamentos intrusivos são ideias, imagens ou impulsos indesejados que surgem na mente de forma repentina e automática, sem controle consciente da pessoa. Eles podem ser neutros, positivos ou negativos, mas geralmente são experimentados como perturbadores ou inapropriados (Cuenca, 2010, p. 12)

 

Na vida cotidiana, os pensamentos intrusivos são uma experiência comum para muitas pessoas. Eles podem surgir em momentos de estresse, ansiedade ou tristeza, bem como em situações que despertam memórias dolorosas ou traumáticas. A recorrência desses pensamentos pode interferir significativamente no funcionamento normal de um indivíduo, causando desconforto emocional e comprometendo a capacidade de concentração e tomada de decisões.

O impacto dos pensamentos intrusivos na saúde mental e no bem-estar emocional é significativo. Para muitos, esses pensamentos estão associados a sintomas de ansiedade e depressão, exacerbando os sentimentos de desamparo e desesperança. Além disso, a persistência desses pensamentos pode levar à ruminação, um padrão de pensamento repetitivo e negativo que amplifica o sofrimento emocional e dificulta a resolução de problemas.

É importante reconhecer que os pensamentos intrusivos não são um sinal de fraqueza ou falha pessoal, mas sim uma resposta natural a situações estressantes ou traumáticas. No entanto, quando esses pensamentos se tornam excessivos ou prejudiciais, é crucial buscar formas eficazes de lidar com eles e promover um maior bem-estar mental.

 

 

Ruminação e ciclo de pensamentos intrusivos

 

A ruminação é um processo cognitivo caracterizado pela tendência de ficar preso em pensamentos repetitivos e negativos, muitas vezes relacionados a eventos passados ou preocupações futuras. Esse padrão de pensamento intrusivo está intimamente relacionado aos pensamentos intrusivos, podendo amplificar o impacto emocional e interferir no funcionamento cotidiano dos indivíduos. Para Nolen-Hoeksema:

 

A ruminação é um tipo de pensamento repetitivo e focado em pensamentos negativos, como os pensamentos intrusivos, que podem perpetuar e intensificar o sofrimento emocional. (Nolen-Hoeksema, S., 2000, p. 156)

 

O ciclo de pensamentos intrusivos e ruminação muitas vezes começa com a ocorrência de um pensamento indesejado, como uma memória dolorosa ou uma preocupação ansiosa. Em resposta a esse pensamento, o indivíduo pode se engajar na ruminação, revisitando repetidamente o evento ou preocupação em sua mente. Esse processo de ruminação pode levar a uma amplificação dos sentimentos negativos associados ao pensamento intrusivo, aumentando o estresse emocional e a ansiedade. Papageorgiou, C., Wells, A., & Hirsch, C. R. (2009) ditam que “A ruminação pode aumentar a frequência e a intensidade dos pensamentos intrusivos, criando um ciclo de pensamentos negativos que pode ser difícil de romper, como explicita”.

Além disso, a ruminação pode agravar o problema dos pensamentos intrusivos ao criar um ciclo vicioso de pensamento negativo. Quanto mais o indivíduo ruminar sobre um pensamento intrusivo, mais ele tenderá a se fixar nele e a interpretá-lo de maneira distorcida, reforçando assim a sua presença e impacto emocional. Esse ciclo de ruminação pode levar a uma espiral descendente de pensamentos negativos e emoções dolorosas, dificultando ainda mais a capacidade do indivíduo de lidar com os pensamentos intrusivos de forma eficaz.

É importante reconhecer os padrões de ruminação e os ciclos de pensamentos intrusivos para poder interromper esse processo e promover uma maior saúde mental e bem-estar emocional. Estratégias comportamentais e terapêuticas podem ser úteis para ajudar os indivíduos a interromperem esse ciclo vicioso e cultivar uma abordagem mais adaptativa e construtiva em relação aos pensamentos intrusivos.

 

 

Abordagens comportamentais na gestão de pensamentos intrusivos

 

Diante dos desafios apresentados pelos pensamentos intrusivos e pela ruminação, abordagens comportamentais têm se destacado como uma forma eficaz de lidar com esses padrões de pensamento negativo. Ao invés de se concentrar exclusivamente nos conteúdos específicos dos pensamentos intrusivos, essas abordagens se concentram em mudanças comportamentais e estratégias práticas para interromper o ciclo de pensamento negativo. Neste capítulo, exploraremos algumas dessas abordagens comportamentais e como elas podem ser aplicadas na gestão de pensamentos intrusivos, promovendo assim uma maior saúde mental e bem-estar emocional.

 

Mudança comportamental

 

A mudança comportamental representa uma abordagem fundamental na gestão de pensamentos intrusivos, destacando a importância da ação como resposta a esses padrões de pensamento negativo. Em vez de tentar controlar diretamente os conteúdos específicos dos pensamentos intrusivos, essa abordagem foca na modificação de comportamentos e na adoção de estratégias práticas para interromper o ciclo de ruminação e promover comportamentos mais saudáveis.

Uma das estratégias-chave na mudança comportamental é a interrupção consciente do ciclo de ruminação. Isso envolve reconhecer quando os pensamentos intrusivos surgem e, em vez de se deixar levar por eles, direcionar a atenção para atividades ou tarefas que demandem concentração e envolvimento ativo. Por exemplo, quando um pensamento intrusivo surgir, o indivíduo pode escolher se envolver em uma atividade física, como uma caminhada, ou em uma atividade criativa, como escrever ou desenhar. Essas atividades podem ajudar a desviar a atenção dos pensamentos negativos e promover uma sensação de controle sobre a própria mente.

Outra estratégia eficaz na mudança comportamental é a prática da autoaceitação e do autocuidado. Em vez de lutar contra os pensamentos intrusivos ou se culpar por tê-los, os indivíduos são encorajados a adotar uma atitude de compaixão consigo mesmos e a praticar o autocuidado. Isso pode envolver o desenvolvimento de uma rotina de autocuidado que inclua atividades relaxantes e prazerosas, como meditação, banhos relaxantes ou leitura, que ajudem a reduzir o estresse e promover o bem-estar emocional.

Ao adotar uma abordagem comportamental na gestão de pensamentos intrusivos, os indivíduos podem cultivar uma maior sensação de controle sobre sua própria mente e promover comportamentos mais adaptativos e saudáveis. Ao invés de se sentirem à mercê de seus pensamentos, eles podem aprender a direcionar sua atenção e energia para atividades que promovam o bem-estar emocional e o crescimento pessoal.

 

Aceitação e compromisso:

A abordagem da aceitação e compromisso (ACT) oferece uma perspectiva única na gestão de pensamentos intrusivos, enfatizando a importância de aceitar esses pensamentos sem tentar controlá-los ou suprimi-los. Em vez de lutar contra os pensamentos intrusivos, os indivíduos são encorajados a desenvolver uma atitude de aceitação em relação a eles, reconhecendo que os pensamentos indesejados são uma parte natural da experiência humana. Para Hayes, S. C., & Wilson, K. G. (2009):

 

A terapia de aceitação e compromisso (ACT) pode ser eficaz no tratamento da ruminação e do ciclo de pensamentos intrusivos, ensinando os indivíduos a aceitar seus pensamentos e emoções sem se envolver com eles. (Hayes, S. C., & Wilson, K. G., 2009, p. 212)

 

Essa abordagem parte do pressuposto de que tentar controlar ou evitar pensamentos intrusivos pode, na verdade, aumentar o sofrimento emocional e perpetuar o ciclo de ruminação. Em vez disso, os indivíduos são incentivados a se comprometerem com valores pessoais significativos e a agir de acordo com esses valores, independentemente dos pensamentos intrusivos que possam surgir.

Uma das estratégias-chave na abordagem da aceitação e compromisso é o desenvolvimento de uma prática de mindfulness, que envolve cultivar uma atitude de atenção plena em relação aos pensamentos, emoções e sensações corporais. Ao invés de se deixar levar pelos pensamentos intrusivos, os indivíduos aprendem a observá-los de forma desapegada, reconhecendo que os pensamentos não definem quem eles são.

Além disso, a identificação e o compromisso com valores pessoais podem fornecer uma base sólida para lidar com os pensamentos intrusivos de forma construtiva. Ao se concentrar em objetivos e aspirações que são verdadeiramente significativos para eles, os indivíduos podem encontrar uma fonte de motivação e propósito que os ajude a superar os desafios apresentados pelos pensamentos intrusivos.

Ao adotar uma abordagem de aceitação e compromisso na gestão de pensamentos intrusivos, os indivíduos podem desenvolver uma maior resiliência emocional e promover um maior bem-estar mental. Ao invés de se sentirem dominados pelos seus pensamentos, eles podem aprender a viver uma vida mais significativa e satisfatória, mesmo na presença de pensamentos indesejados.

 

Mindfulness e atenção plena

 

A abordagem de mindfulness e atenção plena oferece uma maneira poderosa de lidar com os pensamentos intrusivos, promovendo uma maior consciência e aceitação dos conteúdos mentais. O mindfulness envolve a prática de direcionar a atenção para o momento presente, observando os pensamentos, emoções e sensações corporais sem julgamento. Ao cultivar uma consciência plena dos pensamentos intrusivos, os indivíduos podem aprender a reconhecê-los como eventos mentais passageiros e a desenvolver uma atitude de aceitação em relação a eles. Shafran, N., & Segal, Z. V. elucidam que:

 

A mindfulness meditation pode ser uma ferramenta útil para reduzir a ruminação e o ciclo de pensamentos intrusivos, ajudando os indivíduos a se tornarem mais conscientes de seus pensamentos e emoções sem julgamento. (Shafran, N., & Segal, Z. V., 2005, p. 334)

 

Uma das técnicas fundamentais no treinamento de mindfulness é a prática da atenção plena à respiração. Essa prática envolve simplesmente dirigir a atenção para a sensação da respiração entrando e saindo do corpo, observando-a sem tentar controlá-la. Ao focar na respiração, os indivíduos podem cultivar uma maior consciência do momento presente e desenvolver a capacidade de observar os pensamentos intrusivos sem se deixar levar por eles.

Além disso, a prática regular de mindfulness tem sido associada à redução da reatividade aos pensamentos negativos. Ao invés de reagir automaticamente aos pensamentos intrusivos com ansiedade ou desespero, os praticantes de mindfulness aprendem a responder de forma mais equilibrada e compassiva. Eles reconhecem que os pensamentos são apenas eventos mentais passageiros e que não precisam necessariamente levar a uma resposta emocional intensa.

Estudos científicos têm demonstrado que a prática regular de mindfulness pode ter uma série de benefícios para a saúde mental, incluindo a redução do estresse, ansiedade e depressão. Ao desenvolver uma maior consciência e aceitação dos pensamentos intrusivos, os indivíduos podem cultivar uma maior resiliência emocional e promover um maior bem-estar mental.

 

 

Estratégias práticas para lidar com Pensamentos intrusivos

 

Lidar com pensamentos intrusivos pode ser desafiador, mas existem várias estratégias práticas que os indivíduos podem utilizar no dia a dia para promover uma maior saúde mental e bem-estar emocional. Estas estratégias não apenas ajudam a interromper o ciclo de ruminação, mas também auxiliam no desenvolvimento de uma mentalidade resiliente e construtiva em face de pensamentos negativos.

 

Exemplos de exercícios e atividades

 

Prática de mindfulness: Reserve alguns minutos todos os dias para praticar a atenção plena. Isso pode envolver a observação consciente da respiração, o escaneamento corporal ou a prática de caminhar com atenção plena. Ao cultivar uma maior consciência do momento presente, os indivíduos podem aprender a observar os pensamentos intrusivos sem se deixar levar por eles.

Prática de Expressão criativa: Dedique um tempo regularmente para se envolver em atividades criativas, como pintura, desenho, música, poesia ou artesanato. A expressão criativa oferece uma maneira poderosa de processar emoções e pensamentos intrusivos de forma não verbal. Ao se envolver nessas atividades, você pode canalizar suas emoções de maneira construtiva e explorar questões pessoais de forma mais intuitiva. A expressão criativa também pode proporcionar uma sensação de realização e bem-estar, além de oferecer uma pausa bem-vinda dos pensamentos negativos.

Exercício físico: Pratique atividade física regularmente, como caminhada, corrida, ioga ou dança. O exercício físico não apenas promove a liberação de endorfinas, que podem melhorar o humor, mas também proporciona uma distração positiva dos pensamentos intrusivos e ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade.

 

Sugestões para desenvolver uma mentalidade resiliente

 

Praticar a Autocompaixão: Cultive uma atitude de autocompaixão em relação a si mesmo. Reconheça que os pensamentos intrusivos são uma parte natural da experiência humana e trate-se com gentileza e compaixão quando eles surgirem. Ao invés de se criticar ou se julgar, ofereça a si mesmo palavras de conforto e encorajamento.

Foco no Presente: Concentre-se no presente em vez de se preocupar com o passado ou o futuro. Use técnicas de atenção plena para ancorar sua mente no momento presente e afastar-se dos pensamentos negativos que podem surgir. Ao viver no momento presente, você pode reduzir a ansiedade e o estresse associados aos pensamentos intrusivos.

Buscar Ajuda Profissional: Considere buscar apoio de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou terapeuta. A terapia oferece um ambiente seguro e confidencial para explorar seus pensamentos e emoções, além de fornecer ferramentas e técnicas específicas para lidar com os pensamentos intrusivos. Um terapeuta qualificado pode ajudá-lo a entender melhor os padrões de pensamento prejudiciais, desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes e promover uma maior resiliência emocional. Ter um profissional de saúde mental como parte de sua equipe de apoio pode ser uma ferramenta valiosa no processo de lidar com os desafios apresentados pelos pensamentos intrusivos.

 

 

Conclusão

 

Ao longo deste artigo, os principais pontos discutidos forneceram uma visão abrangente sobre os desafios apresentados pelos pensamentos intrusivos e as abordagens práticas e comportamentais para lidar com eles de forma eficaz. Desde a compreensão dos pensamentos intrusivos e seu impacto na saúde mental até a exploração de estratégias como mudança comportamental, aceitação e compromisso, e mindfulness, uma variedade de ferramentas úteis foram apresentadas para enfrentar esse desafio com sucesso.

É crucial reconhecer que os pensamentos intrusivos são uma parte comum da experiência humana e não estão necessariamente ligados à fraqueza ou falha pessoal. No entanto, isso não significa que devemos simplesmente aceitá-los passivamente. Pelo contrário, ao adotar abordagens práticas e comportamentais, pode-se aprender a gerenciar esses pensamentos de forma construtiva e promover uma maior saúde mental e bem-estar emocional.

Enfatiza-se a importância de não apenas compreender os pensamentos intrusivos, mas também adotar uma abordagem proativa para lidar com eles. Recomenda-se a aplicação das estratégias discutidas neste artigo no cotidiano das pessoas e a buscar assistência profissional, caso julguem necessário.

Lembra-se que não há vergonha em buscar ajuda e que ter o apoio de um profissional de saúde mental pode ser extremamente benéfico no processo de lidar com os pensamentos intrusivos. Ao se trabalhar em conjunto para promover uma maior conscientização e compreensão sobre esse tema, pode-se contribuir para a construção de comunidades mais saudáveis, onde todos possam prosperar.

Neste contexto, é essencial lembrar que uma pessoa se define não pelos pensamentos, mas pelas ações. Ao adotar uma abordagem ativa na gestão dos pensamentos intrusivos e na promoção do bem-estar mental, os indivíduos estão demonstrando um compromisso genuíno com sua própria saúde emocional. Ao implementar estratégias práticas e comportamentais, podem-se transformar os padrões de pensamento e cultivar uma mentalidade resiliente e construtiva. Ao reconhecer que “somos o que fazemos”, pode-se capacitar a superar os desafios apresentados pelos pensamentos intrusivos e a viver uma vida mais plena e satisfatória.

 

 

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1 Advogado, Hipnoterapeuta e Psicanalista. Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior e em Psicologia Clínica. Mestrando em Educação. Diretor do Polo Sinop do Grupo Educacional FAVENI. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.