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A Importância da Ludicidade na Educação Infantil

Silvana Klein Simon[1]

Tânia Prestes Dias Alberici[2]

Cristina Souza Rodrigues Moraes[3]

 

Resumo

O presente artigo objetiva analisar a importância do brincar no desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil. Tem como finalidades específicas compreender o universo lúdico e o significado do brincar que se torna fundamental, pois é onde a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceitando as existências dos outros, estabelecendo relações sociais, construindo conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente. Ainda este estudo traz algumas considerações sobre os benefícios que o brincar proporciona no ensino-aprendizagem infantil. Deste modo, para realizar este trabalho, utilizamos a pesquisa bibliográfica, fundamentada na reflexão de leitura de livros, artigos, revistas e sites, bem como pesquisa de grandes autores referente a este tema. Assim, o estudo proporcionará uma leitura mais consciente acerca da importância da ludicidade na educação infantil.

Palavras-chave: Brincar, aprendizagem e desenvolvimento infantil, educação infantil.

 

Abstract

This article aims to analyze the importance of play in learning and development in early childhood education. Its specific purposes playful universe and understand the meaning of the play that becomes crucial because it is where the child communicates with itself and the world, accepting the existence of others, establishing social relationships, building knowledge, developing fully . Although this study provides some considerations about the benefits that play provides the child teaching and learning. Thus, for this work, we use the literature, based on the reflection of reading books, articles, magazines and websites as well as great authors of research regarding this topic. Thus, the study will provide a more conscious about the importance of playfulness in early childhood education reading.

Keywords: Play, learning and child development, early childhood education.

 

Introdução

 

O presente trabalho trata-se de um tema bem abrangente e muito estudado, a Importância da Ludicidade na Educação Infantil.

Durante o crescimento e desenvolvimento da criança a ludicidade auxilia no desempenho de sua aprendizagem, estimulando a criança de forma prazerosa a desenvolver atividades e habilidades motoras, cognitivas, afetivas e morais.

            É certo que, o ato de brincar é a forma da criança se expressar, demonstrar o que está sentindo e também absorver o que acontece ao seu redor. Na construção do saber, é importante que consideremos a diversidade de fatores que permeiam o processo e a necessidade de quebrar o que está posto de forma cristalizada para que se criem novas possibilidades.

A ludicidade e arte-educação se mostram, nesse contexto, recursos valiosos para repensar a prática pedagógica e propor transformações, principalmente por se configurarem como atividades criativas e formas próprias de sentir, pensar e agir.

            Nesse sentido, o objetivo primordial deste trabalho é conceituar o lúdico e demonstrar a sua importância para o desenvolvimento da criança, como forma de dar mais significado ao ato de educar. Assim, a pesquisa foi realizada utilizando-se o método bibliográfico que por meio de vários conceitos e discussões de autores que tratam sobre o tema, pode-se chegar à conclusão da grande importância e contribuição da ludicidade no ensinamento infantil.

 

1 Ludicidade

 

            Aprender com brincadeiras é muito mais prazeroso. Para Sneyders (1996, p.36) “Educar é ir em direção à alegria.” As metodologias lúdicas contribuem para que a criança aprenda com satisfação, contentamento e diversão, sendo interessante observar que a educação lúdica não se limita apenas à diversão, passatempo ou diversão superficial. Ela vai, além disso.

            As brincadeiras e jogos na infância contribuem para o desenvolvimento e formação do caráter social da criança, permitindo que a criança se conheça, desenvolva novas habilidades e potencialidades.

Segundo Cunha (1994, p. 36): “o adulto trabalhador de amanhã é, hoje, a criança que brinca muito. A criança que hoje participa de jogos e brincadeiras, saberá trabalhar em grupo amanhã. Se hoje aprende a aceitar as regras do jogo, amanhã será capaz de respeitar as normas sociais.”

Para as crianças, o mérito das atividades lúdicas se consagra “pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas mesmas, que podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhes são importantes e significativos (BRASIL, 1998, p. 49)”.

            Desenvolvendo atividades lúdicas as crianças associam o real com o imaginário e assim conseguem abrir caminhos para a resolução de problemas que para eles são considerados importantes.

De acordo com Pinto (2004, p. 64), as experiências lúdicas são ações com sentidos e significados atribuídos pelos seus praticantes. Isso significa que a ludicidade é a própria maneira de cada indivíduo sentir, pensar, decidir, agir e conviver, mantendo a coerência com as razões que os motivam.

 

2 O ato de brincar como contribuição para o desenvolvimento das crianças

 

Conforme cita Passos (2010, p. 22) o jogo, enquanto atividade lúdica contribui para a exploração de situações e permite que a criança organize e se estabeleça emocionalmente para enfrentar futuros desafios nas demais fases de sua vida. Os conflitos surgidos nos jogos pela imposição de regras contribuem para o autocontrole, bem como proporcionam prazer e entusiasmo para novos ensaios.

            Segundo Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Assim, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27):

O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.

 

Zanluchi (2005, p. 89) reafirma que “Quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas.” Assim, destacamos que quando a criança brinca, parece mais madura, pois entra, mesmo que de forma simbólica, no mundo adulto que cada vez se abre para que ela lide com as diversas situações.

Deste modo, é notório que a brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados.

E o jogo é um excelente recurso para facilitar a aprendizagem, neste sentido, Carvalho (1992, p.14) afirma que:

(...) desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos se mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, real valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante.  

Carvalho (1992, p. 28) acrescenta ainda que:

(...) o ensino absorvido de maneira lúdica, passa a adquirir um aspecto significativo e afetivo no curso do desenvolvimento da inteligência da criança, já que ela se modifica de ato puramente transmissor a ato transformador em ludicidade, denotando-se, portanto em jogo.

A infância é uma fase de descobertas, aventuras e magia para as crianças, desta forma, cabe aos professores de Educação Infantil usufruir e valorizarem os conhecimentos e a criatividade das crianças em sala de aula e com isso compreender a importância que existe no ato de elas explorarem, pesquisarem e criarem coisas novas, cabe também aso professores dar as condições que estimulem a criatividade da criança.

Como cita o grande escritor Gabriel Chalita: “ser professor é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes”. 

            Entende-se, dessa forma, que o ato de brincar precisa ser uma exigência no trabalho com a Educação Infantil, pois a brincadeira é a maneira singular com que a criança se relaciona com o mundo. Com o gesto lúdico, a criança constrói um mundo de imaginação a partir do mundo real: o seu mundo de faz de conta. Esse mundo nada mais é que a aprendizagem do modo de ser humano em um essencial estágio de sua existência: a infância.

 

3 A Ludicidade na Educação Infantil

 

Uma ferramenta muito importante para se trabalhar com as crianças é a Ludicidade. Trabalhar com o lúdico é bom e necessário, pois os professores podem utilizá-lo como instrumentos para prevenir, diagnosticar, mediar e intervir no desenvolvimento integral das crianças, ou até mesmo do grupo.

No entanto, para que isso aconteça, é preciso um planejamento adequado, de forma a efetivar o trabalho pedagógico, aliando o lúdico com uma proposta de aprendizagem e desenvolvimento significativa.

O exercício da ludicidade vai além do desenvolvimento real porque nela se instaura um campo de aprendizagem propício à formação de imagens, à conduta auto-regulada, à criação de soluções e avanços nos processos de significação. Na brincadeira são empreendidas ações coordenadas e organizadas, dirigidas a um fim e, por isso, antecipatórias, favorecendo um funcionamento intelectual que leva à consolidação do pensamento abstrato. A força motriz da ludicidade, o que a faz tão importante no complexo processo de apropriação de conhecimentos é a combinação paradoxal de liberdade e controle. Ao mesmo tempo em que os horizontes se ampliam conforme os rumos da imaginação, o cenário lúdico se emoldura segundo limites que os próprios jogadores se impõem, subordinando-se mutuamente às regras que conduzem a atividade lúdica (PIMENTEL, 2008).

Por meio das brincadeiras, a criança fantasia, imita os adultos e adquiri experiências para a vida adulta. O crescimento infantil é acompanhado pelas brincadeiras, pelos jogos simbólicos que ela mesma inventa para construir conceitos e entender o mundo ao seu redor. SEBER (1995, p. 55) define bem esse pensamento quando diz que: "a conduta de viver de modo lúdico situações do cotidiano amplia as oportunidades não só de compreensão das próprias experiências como também de progressos do pensamento".

Assim, o jogar e o brincar podem ser usados como ferramentas para o ensinar e o aprender. Se o professor aliar o lúdico aos conteúdos que deseja ensinar, irá despertar na criança o gosto em aprender coisas novas e significativas para sua formação.

Uma das principais características dos jogos, segundo DOHME (2003, p. 9) é que “... eles tem um fim em si mesmo, os jogadores entram no mundo lúdico e praticam diversas ações com vontade, às vezes, com extremo vigor, mas sabem que têm a garantia de voltar ao mundo real quando o jogo termina”. Na brincadeira, a criança experimenta inúmeras sensações que poderão ser usadas na sua vida cotidiana, além de desenvolver sua autoimagem e a do outro.

Independente de resultados, o interesse pela brincadeira se mantém pelo processo de brincar, o que não significa inexistência de um objetivo. O jogo tem por objetivo exercitar e desenvolver "todas as forças reais e embrionárias que nele existem" (VYGOTSKY, 1996, p. 79).

 Quando a criança brinca com um quebra cabeça, a princípio, o objetivo não é a montagem resultante, isto é, o produto, mas a própria coordenação de ações, o agir com as peças para uni-las e montar o desenho final.

Em qualquer jogo há sempre uma situação imaginária, por meio da qual a criança se propõe enfrentar um desafio - conforme os objetivos e as regras do jogo - desenvolvendo funções embrionárias e controlando seu comportamento num nível maior do que o habitual. Por isso, "a criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais" (VYGOTSKY, 1994, p. 113).

Abordando o brincar com vistas ao desenvolvimento social, DEVRIES (2004) destaca alguns exemplos de atividades que poderão ser aplicadas em salas de aula, dentre elas destacam-se: a) os jogos de grupos: Quem é? – Cobrindo quadro com uso de dados – Formando famílias; b) os jogos de faz-de-conta: criar uma loja – histórias – criando jogos com os temas já estudados; c) os jogos artísticos: preparar receitas – experiências – escultura – pintura / utilizando as mais diversas linguagens artísticas; d) os jogos de matemática e raciocínio espacial: blocos – tangrans,- gráficos; e) os jogos de alfabetização: diários - histórias - cartas - bilhetes.

FRIEDMANN (1996, p. 12) esclarece a questão do brincar, do jogar e do lúdico mostrando que:

...brincadeira refere-se à ação de brincar, ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada: jogo é compreendido como uma brincadeira que envolve regras: brinquedo é utilizado para designar o sentido de objeto de brincar: atividade lúdica abrange, de forma mais ampla, os conceitos anteriores.

 

            Os professores da educação infantil não devem suprimir de seu planejamento pedagógico as atividades lúdicas. Elas devem fazer parte do planejamento, pois o professor terá um direcionamento melhor sobre como, quando e onde realizar as atividades. Através do planejamento o professor tem condições de selecionar os procedimentos didático-pedagógicos que de fato favoreçam o crescimento, o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.

 

Conclusão

 

            Com o presente estudo, buscou-se analisar a contribuição do lúdico para o desenvolvimento infantil, assim, acredita-se que o lúdico é ao mesmo tempo estratégia e ação, pois implica em diferentes formas de relação do sujeito com o objeto, conduzindo o desenvolvimento e a transformação dos envolvidos no processo educativo.

            Verificou-se ainda que a colaboração do lúdico na aprendizagem infantil contribui para a interação da criança em sala de aula nas propostas apresentadas pelo educador, de forma a garantir o seu crescimento social e intelectual.

            Deste modo, é fundamental que os educadores adotem uma postura consciente da sua função/contribuição para o desenvolvimento sadio das crianças, aceitando a ludicidade como ferramenta essencial que favorece o desenvolvimento pessoal, cultural e social dos alunos.

É necessário ainda, sensibilizar os familiares para a importância das atividades lúdicas no crescimento, desenvolvimento e aprendizagem das crianças, para que em conjunto com a atividade escolar contribuam com esta fase de desenvolvimento.

Assim, conclui-se que a prática educativa deve contemplar as necessidades dos alunos, onde o educador deve estimular cada criança a observar, manipular materiais, vivenciar experiências estabelecendo relações significativas com o meio de aprendizagem para alcançar o conhecimento integral e proveitoso para a sua vida além do âmbito escolar, integrando-a na sociedade globalizada de forma lúdica e significativa.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

CARVALHO, A.M.C. et al. (Org.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

 

CHALITA, Gabriel. Pensador. Disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/MTQ4MDg0/. Acesso em 10 de setembro de 2014.

 

CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedoteca. São Paulo: Maltese, 1994.

 

DEVRIES, R. O currículo construtivista na Educação Infantil: práticas e atividades. Porto Alegre: Artmed, 2004.

 

DOHME, V. Jogando: o valor educacional dos jogos. São Paulo: Informal Editora, 2003.

 

FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.

 

OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

PASSOS, K. C. M. O lúdico essencial e o lúdico instrumental: O jogo nas aulas de Educação Física Escolar. (Dissertação de Mestrado) Rio de Janeiro: PPGEF/UGF, 2010.

PIMENTEL, Alessandra. (2008). A ludicidade na educação infantil: uma abordagem histórico-cultural. Psicologia da Educação, (26), 109-133. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14149752008000100007&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 19 de agosto de 2014.

 

PINTO, L. M.S. de M. Educação física: dos jogos e do prazer. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v.1, n.4, P.42, Ju.l./Ago. 2004.

 

SEBER, Maria da Glória. Psicologia do pré - escolar, uma visão construtivista. São Paulo: Moderna, 1995.

 

SNEYDERS, G. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

VYGOTSKY, L. S.; Luria, A. R. (1996). "A criança e seu comportamento". In: Estudos sobre a história do comportamento: o macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre, Artes Médicas, pp.151-238.

 

ZANLUCHI, Fernando Barroco. O brincar e o criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.



[1] Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Pós-graduanda em Alfabetização pelo Centro Universitário Barão de Mauá. 

[2] Graduada em Pedagogia pela Universidade Noroeste do Paraná - UNOPAR. Pós-graduada em Alfabetização pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. 

[3] Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.