EDUCAÇÃO INCLUSIVA DEFICIÊNCIA VISUAL
Ana Paula Fabricio Rukel
Elisangela Ferreira Pontes
Resumo:
A educação inclusiva já se tornou uma realidade no Brasil, ela tem sido tema de várias pesquisas por toda parte do país, assumindo um espaço central no papel da escola na superação da exclusão. Ao perceber que existem dificuldades não só nos espaços escolares como também fora dele, no que diz respeito a inclusão de alunos com deficiência visual, foi evidenciado que havia uma necessidade de confrontar certas práticas segregativas criando opções para vencê-las. Logo após a publicação em 2008 da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, foi dado maior importância na constituição das escolas inclusivas para o atendimento de estudantes com necessidades especiais. Assim sendo, neste trabalho discorreremos de algumas reflexões diante do papel da escola no desenvolvimento e apoio que a mesma deve oferecer aos estudantes com deficiência visual. Para isso, utilizamos várias pesquisas: de campo, bibliográficas e exploratórias abordando, entre outros assuntos, uma necessidade de salientar qual é a importância da escola regular no estímulo para incluir e não excluir.
Palavras-chave: Deficiência Visual. Educação inclusiva.
Abstract:
Inclusive education has already become a reality in Brazil, it has been the subject of several surveys throughout the country, assuming a central role in the school's role in overcoming exclusion. Noting that there are difficulties not only in school spaces but also outside of it, with regard to the inclusion of visually impaired students, it was evidenced that there was a need to confront certain segregating practices by creating options to overcome them. Soon after the publication in 2008 of the National Policy of Special Education from the perspective of Inclusive Education, it was given greater importance in the constitution of inclusive schools for the care of students with special needs. Therefore, in this work we will discuss some reflections about the role of the school in the development and support that it should offer visually impaired students. In order to do this, we used several field, bibliographic and exploratory studies, addressing, among other things, a need to highlight the importance of the regular school in stimulating to include and not exclude.
Key words: Visual Impairment. Inclusive education.
INTRODUÇÃO
A ideia do presente artigo com o tema: escola inclusiva: deficiência visual, surgiu da pesquisa e conhecimento do caso de um aluno de uma escola municipal no qual nasceu prematuro e foi submetido a um tratamento na uti neonatal sem serem tomados os devidos cuidados para a proteção de seus olhos, que foram atingidos pela luz do banho de luz (fototerapia) ocorrendo assim a queimadura da sua retina causando-lhe a cegueira.
Assim surgiu a curiosidade e necessidade de pesquisar e obter mais conhecimento a respeito desse tipo de deficiência. Buscando saber: como é o cotidiano de um aluno com deficiência visual? Quais as potencialidades que ele possui? Quais são suas características? Como está incluso este aluno em meio a comunidade escolar? Entre outros.
A inclusão de alunos com deficiência visual no sistema regular de ensino vem aumentando a cada ano, havendo, assim, a necessidade da escola de estar preparada para receber esses alunos de forma acolhedora e inclusiva.
Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), e com a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. As pessoas com deficiência passam a ter pleno direito de acesso e permanência no âmbito escolar, devendo ser proporcionada uma educação digna a todos os educandos.
Nesse sentido, a inclusão nas escolas ganhou grandes contribuições com a Constituição Federal (1988) que caracteriza, em seu Artigo 205, a inclusão como princípio de direito das pessoas com deficiência no âmbito social e escolar:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2013, p. 34).
Visando essa perspectiva de inclusão, a escola deve garantir a permanência e o acesso do aluno com deficiência visual nas classes regulares de ensino, do mesmo modo que assegura aos demais. Valorizando, acima de tudo, as diferenças de cada aluno, garantindo assim seus direitos e deveres
A visão que o cego tem do mundo é de uma riqueza única, incomparável e deve passar a ser vista como uma apreensão integral da realidade, não uma carência de visão, não uma castração de um órgão, mas a existência suficiente de um ser humano completo. (Monte Alegre, 2003, p.12).
O objetivo desta pesquisa é apresentar e analisar as infinitas possibilidades de aprendizagem de um aluno com cegueira e como a escola pode estar preparada para recebe-lo.
CEGUEIRA OU DEFICIÊNCIA VISUAL?
A cegueira é uma deficiência visual, ou seja, a limitação de uma das habilidades de percepção do mundo a sua volta, a visão. Há dois tipos de deficiência visual: cegueira e baixa visão. A cegueira engloba prejuízos da aptidão para o exercício de tarefas rotineiras exercidas de forma convencional, através do olhar, só permitindo sua realização de formas alternativas. A visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente. No jargão oftalmológico, usa-se a expressão 'visão zero'.
A baixa visão “cegueira parcial” é aquela em que estão os indivíduos apenas são capazes de contar dedos a curta distância ou os que percebem vultos, o indivíduo é capaz de identificar também a direção de onde vem a luz. Mais próximos da cegueira total, mas ainda considerados com cegueira parcial ou visão subnormal, estão os indivíduos que só têm percepções e projeções luminosas. Nesse caso, há apenas a distinção entre claro e escuro.
Em casos de baixa visão, recursos ópticos podem ser utilizados para maximizar o resíduo visual. O mesmo não ocorre com a pessoa cega.
Devido à tanta discussão sobre a deficiência, é comum a preocupação com os termos utilizados, para que não sejam pejorativos e vistos como preconceitos.
Por conta disso, algumas pessoas preferem o termo deficiente visual à palavra cego. Mas esses termos não são equivalentes. O termo deficiência visual é mais abrangente pois engloba não só a cegueira como também a baixa visão.
Utilizamos a palavra “cego” não por preconceito, embora muitos levem por esse lado pejorativo, usamos a palavra por seu termo descritivo. Pois segundo dicionário, cego é aquele que é privado de visão. O preconceito está em pessoas que julgam que o cego é um sujeito menos capaz.
AS POTENCIALIDADES DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL.
Um aluno com deficiência visual possui as mesmas potencialidades que o aluno sem deficiência, só que essas potencialidades devem ser trabalhadas com base em todo um trabalho pedagógico, envolvendo escola e família, e com a utilização de materiais didáticos que servirão de mediadores entre o processo ensino-aprendizagem, desse aluno.
Por exemplo um aluno com baixa visão, que sua visão se encontra estabilizada, então este não progredi para a cegueira. Com este aluno, podem ser utilizados recursos didáticos como materiais de caixa alta, computador adaptado, para que ele possa aprender ainda com a pouca visão que ele possui.
O aluno cego, em sua vida escolar, necessita de materiais adaptados que sejam adequados ao conhecimento tátil-sinestésico, auditivo, olfativo e gustativo – em especial materiais gráficos tateáveis e o braile.
A adequação de materiais tem o objetivo de garantir o acesso às mesmas informações que as outras crianças têm, para que a criança cega não esteja em desvantagem em relação aos seus pares, e assim também possa se desenvolver e demostrar suas potencialidades e habilidades podendo também ser incluída na sociedade. Pois segundo Lira e Schlindwein (2008), que discutem a inclusão da criança cega na escola por uma leitura vigostskiana, relacionam a linguagem e as funções psíquicas superiores para o cego:
A criança cega pode perfeitamente se apropriar das significações de seu meio e participar das práticas sociais, pois dispõe do instrumento necessário para isso – a linguagem. Além disso, a concepção de que, com o desenvolvimento das funções psíquicas superiores, o homem transforma sua relação com o mundo e nela introduz a dimensão semiótica, minimiza a dimensão da perda decorrente da cegueira. (Lira & Schlindwein, 2008, p. 187).
A pessoa cega percebe o mundo por meio de todos os outros sentidos menos a visão (tato, olfato, paladar, audição), e tendem a aguçar melhor esses sentidos, mas o significado das coisas lhe é transmitido, em sua maioria, por videntes que utilizam muito menos os outros sentidos e muito mais a visão como fonte de informação.
PROPOSTA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA
Como transformar a escola em ambiente de inclusão para todos?
• Adaptar o ambiente para que as pessoas com deficiência possam se locomover mais facilmente estimulando sua autonomia, na acessibilidade escolar, nos mobiliários, transportes, comunicação e informação;
• Favorecer o desenvolvimento do aluno criando situações de socializações estimulando afetividade com os demais alunos;
• Elaborar o planejamento de maneira que todos possam participar das atividades contribuindo para a construção de sua autoconfiança e criticidade;
• Desenvolver atividades que envolvam a participação da turma do aluno com deficiência juntamente com suas famílias e comunidade, como comemorações e festividades, é necessário fortalecer os laços familiares, preparando o aluno o trabalho e cidadania;
• Favorecer seus conhecimentos socioculturais e diferentes expressões e linguagens (corporal, cênica, musical, oral...)
• É indispensável que haja o Atendimento Educacional Especializado (AEE), espaço esse em que serão realizados trabalhos e atividades sobretudo direcionadas ao aluno com deficiência;
• Proporcionar aos professores e demais profissionais da educação uma formação continuada para o aprimoramento do Atendimento Educacional Especializado para inclusão escolar;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no estudo e na pesquisa realizada é possível afirmar que a inclusão dos alunos com deficiência visual na escola é de fundamental importância, sendo um fator determinante para o desenvolvimento desse aluno enquanto sujeito do processo-ensino aprendizagem.
A educação inclusiva deve ter a participação de todos no contexto escolar, reconhecendo e respeitando as peculiaridades de cada aluno. Portanto, cabe a escola não somente garantir o desenvolvimento de um futuro trabalhador, mas também garantir seu desenvolvimento integral para que seja um cidadão autocrítico, capaz de lidar com os desafios e dificuldades impostos pela sociedade atual, munido das ferramentas necessárias para o seu avanço.
Segundo (CODO e GAZZOTTI, 1999). Partindo da relação afetiva no ambiente escolar e das práticas pedagógicas inovadoras desenvolvidas pelo professor, o aluno com deficiência visual consegue construir bons vínculos no contexto educacional, estando aberto para receber novos conhecimentos se sentindo valorizado e, acima de tudo, incluso no processo educacional.
É necessário que o deficiente visual seja motivado a obter novas formas de buscar conhecimento e tornar-se independente, como na realização de cursos de Braille e encontrar ou aprender novas técnicas de se mover e se orientar, facilitando a inclusão, melhorando até mesmo a forma de comunicação e facilitando a aprendizagem.
Acreditamos que há a necessidade de criar políticas que garantam uma maior produção de matérias produzidos em Braille assim como o melhor preparo dos educadores para que entendam a importância desse sistema, instigando os alunos a usarem o Braille prazerosamente e que desenvolvam gosto pela leitura. Pressupomos que a inclusão do aluno cego na sociedade ainda possui muitos desafios a serem superados para realmente acontecer, porém, garantir que o cego tem o direito de ter uma educação de qualidade como os demais alunos é um grande avanço. Assim sendo, acreditamos que o incentivo ao estudo do Braille é de primordial importância para que a inclusão possa realmente acontecer.
Aprendemos muito durante nossas pesquisas. Descobrimos que uma deficiência não é capaz de diminuir a inteligência e sim fazer com que a pessoa desenvolva e apure muito mais os demais sentidos saudáveis. Ao estimular as demais competências do aluno fazemos com que se evidencie as demais habilidades e talentos elevando sua autoestima.
Concluímos também que o apoio familiar juntamente com a escola é necessário para incentivar a pessoa cega a descobrir e desenvolver as suas potencialidades, tornar-se mais independente e seguro no desenvolvimento da sua autonomia.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 dez. 1996. Disponível em URL: Acesso: em 05/11/2018
_______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 2013. Disponível em: Acesso: em 07/11/2018
CODO, Wanderley; GAZZOTTI, Andréa Alessandra. Trabalho e afetividade. In:
CODO, Wanderley (Coord.). Educação: carinho e trabalho: Burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da Educação. Petrópolis (RJ): Vozes, 1999.
http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/25869_12444.pdf
https://journals.openedition.org/pontourbe/1092
Lira, M. C. F., & Schlindwein, L. M. (2008) A pessoa cega e a inclusão: um olhar a partir da psicologia histórico-cultural. Caderno. Cedes, 28(75), 171-190.
Monte Alegre, P. A. C. (2003). A cegueira e a visão do pensamento. Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.