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A LEITURA ONLINE E SUAS SIMILARIDADES COM O PROCESSO DE LEITURA TRADICIONAL, UMA BREVE ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO LEITOR
Elaine Aparecida Ferreira dos Santos1
Paula Cristina Pereira2
Edirléia Márcia da Silva3
Deise Moreno Franco4

RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise das semelhanças existentes entre os tipos de leitura, o já tradicional com materiais físicos e a leitura online que vai além de arquivos em pdf ou word. Procurando trazer também informações desse novo tipo de leitor, que faz uso da tecnologia para se informar. O texto aborda as dificuldades e vantagens dessa nova categoria de leitores de uma maneira sucinta e objetiva com o intuito de responder alguns questionamentos que surgem durante todo o processo.
Palavras-chave: Leitura online, navegar, leitor.

1. Novos veículos de leitura
O mundo digital tem conquistado seu espaço na sociedade atual, a internet antes um privilégio para as classes mais altas agora se faz imprescindível da maioria das pessoas. O uso da internet com meio de informação passou por inúmeras mudanças em poucos anos, seu alcance e influencia é um fato. Agora devemos lembrar que os mais influenciados por essa nova visão de mundo são os jovens e adolescentes que nasceram já conhecendo e sabendo utilizar tais suportes de comunicação.
O senso comum classifica a internet como algo supérfluo apenas para se comunicar e distribuir informações, nada mais. No entanto, esse suporte tem invadido as casas e olhos de muitos jovens leitores, podemos considerar que navegar também é sinônimo de leitura e quando as questões são sobre leitura é claro que a linguística tem seus interesses pessoais.
A leitura é normalmente descrita como a construção de sentido a partir de um texto e como sendo um processo que envolve habilidades, estratégias e que deve levar em conta os aspectos socioculturais, como a situação de leitura, o objetivo do leitor, o texto e a autoria, entre outros. [...] a navegação raramente é tratada como um processo em si e, embora constantemente mencionada em estudos, raramente é definida. (COSCARELLI, p.63, 2016)
Essas duas competências têm suas distinções e semelhanças, podemos assim dissocia-las ou unifica-las de acordo com a competição de nossos interesses, afinal em análise esses são processos similares.
Isso se aplica quando no referimos a internet como um ambiente de estudo e pesquisa o oposto do que ocorre nos muitos aparelhos que usam a mesma de suporte, geralmente é utilizada para interação com outros indivíduos e distração, uma distração eficiente até demais, podemos sem medo afirmar que ela pode ser considerada a maior distração de todos os tempos. Todavia existem leitores e leitores, o foco é descrever aqui aqueles que se apropriam da internet como um objeto eficaz para a leitura e pesquisa.
2. Semelhanças e distinções entre os processos de leitura.
Paulo Freire (1975) define a leitura da palavra como um processo que envolve a leitura do mundo. É um conceito amplamente estudado, que envolve muitas perspectivas, desde as de aspectos sociais como as de fator cognitivo. E a internet que fez uma revolução no uso da linguagem tanto escrita, quanto falada, que é estudo de muitos linguistas e outros de áreas de estudo distintas que já se dedicaram a estudar os efeitos da internet nos estudos da linguagem, faz parte dessa modernidade no processo de leitura.
E antes de comparar os dois processos e encontrar suas similaridades é importante saber quais as características de cada um.
A leitura é basicamente um processo de representação. Como esse processo envolve o sentido da visão, ler é, na sua essência, olhar para uma coisa e ver outra. A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por intermediação de outros elementos da realidade. Nessa triangulação da leitura o elemento intermediário funciona como um espelho; mostra um segmento do mundo que normalmente nada tem a ver com sua própria consistência física. Ler é, portanto, reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos oferecem imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio desse mundo. (LEFFA, p.10, 1996)

Fica claro que ler não se trata apenas de decodificar e atribuir sentidos, mas envolve uma série de habilidades e percepções. Todo esse conceito está relacionado ao texto tradicional, entretanto nada impede que a leitura perpasse essas definições e seu próprio objeto de representação, o próprio Leffa afirma, reconhecer o mundo através de espelhos, ou seja, podemos também estar nos referindo as interfaces de um site ou ambiente virtual de leitura.
Quando nos referimos a textos online muitos pensam em documentos digitalizados, arquivos em PDF ou Word, mas um texto apresentado dessa maneira continua íntegro e igual, apenas sua fonte de leitura mudou.
“[…] a leitura na internet é mais complexa porque envolve lidar com diferentes tipos de conhecimentos prévios; conhecimento sobre a estrutura informacional dos sites e dos mecanismos de busca na web”. (Coiro & Dobler, 2007, p.229)
Estamos nos referindo aqui a um processo de leitura online que exige o uso da navegação. Essa navegação, tem relação com um conjunto de habilidades que contribuem para filtrar e atribuir informações em alta velocidade. Um leitor tradicional vai ativar seu imaginário para assim prosseguir no processo de leitura, no entanto o navegador atravessa esses limites, o mesmo tem que lidar com distintas informações por todo o seu objeto de leitura.
“A navegação está mais relacionada a busca de informação e as estratégias que o leitor/usuário desenvolve para explorar e manter-se localizado no conteúdo (o que não deixa de ser uma camada, embora mais superficial, da leitura) “. (Azevedo, 2013, p. 101)
Esse processo de navegação incluirá saber e reconhecer mecanismos de busca, selecionar palavras chaves, localizar-se nas várias camadas de um hipertexto, reconhecer elementos gráficos e linguísticos que sinalizem a presença de um link e selecionar conteúdos pertinentes ao seu objetivo de leitura.
Nesse veículo de leitura é importante e exige que o leitor seja proficiente e focado para buscar o que deseja.
A navegação efetiva nos ambientes virtuais requer que os usuários saibam onde estão, onde precisam ir, como chegar lá e quando eles chegaram. A navegação vista desse modo, descreve não apenas as ações comportamentais dos movimentos[...], mas também as atividades cognitivas. (Lawless e Schrader, p. 269, 2008)
Como percebemos estamos tratando de duas linguagens e ao contrário de algumas teorias a internet não representa uma ameaça para a língua, mas uma das suas muitas ramificações. A interação digital está a cada dia ultrapassando as interações sociais presenciais e não podemos deixar para escanteio um objeto de estudo que exige tanto de seu leitor. Associando as duas formas tudo se trata de navegação e leitura podemos muito bem navegar em um texto impresso e indagar sobre suas entrelinhas, seus sentidos, sua influência, quanto estar extasiado em busca de uma informação mais rápido que os que já pesquisaram em bibliotecas sabem que exige o mesmo tipo de atitude no navegador online, mas que em tempo acaba por ser mais lenta e dificultosa.
3. Condições de produção para o surgimento do leitor online.
Em se tratando do processo de leitura online praticado pelo indivíduo é importante fazer uma relação com o papel discursivo implicado a esse sujeito.
[...] podemos dizer que o sujeito da linguagem não é o sujeito em si, mas tal como existe socialmente, mas tal como existe socialmente e, além disso, a apropriação da linguagem é um ato social, isto é, não é o indivíduo enquanto tal que se apropria da linguagem uma vez que há uma forma social dessa apropriação. (ORLANDI, 1996, p. 188)
Uma das condições que tornam o sujeito leitor online diferente dos outros, é considerarmos o fato de que o mundo tem sofrido mudanças ao longo das décadas, o fato é que seu contexto histórico é completamente diferente daqueles que utilizam a leitura e pesquisa de maneira tradicional.
Considerando que o sujeito leitor possa ter entre 15 a 22 anos e de acordo do seu meio social, então ele se encaixa no papel discursivo da geração mais ágil, pessoas que nunca entraram em uma biblioteca para fazer uma pesquisa bibliográfica. Este sujeito só conhece a tecnologia e internet em sua totalidade, o meio em que estão inseridos não exige mais que usem os mesmos suportes e muito pelo contrário, diferente de séculos atrás onde a informação e leitura eram disponibilizadas apenas para as classes sociais em alta ou pela nobreza o presente século disponibiliza a informação a todos, independentemente de seu contexto ou condições de nascimento.
Considerações Finais
É imprescindível estar em constante diálogo com a leitura e informação, e quando se escolhe utilizar-se da tecnologia para fazê-lo é importante que o leitor saiba que ler é um processo que exige determinadas habilidades do indivíduo independente do veículo que ele escolha, mas na internet existe maneiras diferentes de aborda-las, com sua linguagem própria e distinções do tradicional, não podemos isolar a mesma do processo de produção de sentidos e muito menos desmerece-la.
Há muito que internet ultrapassou o âmbito de apenas distração ou suporte para uma interação social. Ela é a responsável por também contribuir na formação de leitores.
Referências Bibliográficas

ARAÚJO, Júlio César. Internet e Ensino: novos gêneros e desafios. Rio de Janeiro: Singular, 2009.
AZEVEDO, Ranielle Santos de. Ler e navegar. gov. br: Experiências de interação em um Portal da Transparência. 2013. Dissertação. (Mestrado em Linguística Aplicada). Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
COIRO Julie, DOBLER, Elizabeth. Exploring the online reading comprehension strategies used by sixth-grade skilled readers to search for and locate information on the Internet. Reading Research Quarterly. Vol. 42, nº 2 p.214-257, 2007.
COSCARELLI, Carla Viana. Navegar e ler na rota do aprender.In: COSCARELLI, (org).Tecnologias para aprender. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.
Freire, P. (1975). Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
LAWLESS, K.A; SCHRADER, P.G. Inclusão digital, 2008.
LEFFA, Vilson. J. Aspectos da Leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.
NAZZARI, Marinez Santina; COX, Maria Inês Pagliani. Heterogeneidade da linguística: gestos de interpretação esboçados por professores de português. In: DIAS, Marieta Prata de Lima. Língua e literatura: Discurso Pedagógico. São Paulo: Ensino Profissional, 2007.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, São Paulo: Pontes, 1996.