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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

Débora Cristina Maria
Guterlandia Amorim Cantanhede
Elisangela do Livramento Amorim Lima Almeida
Patrícia Ferreira de Oliveira
Taís Regina Scheid


RESUMO:


O presente trabalho é destinado a interpretação e análise dos métodos de aprendizado da leitura e da escrita. Objetiva a busca pelo esclarecimento dos conceitos de alfabetização e letramento. Tem a pretensão de sanar as dificuldades na metodologia aplicada no contexto escolar no período de formação da escrita, além da adequação da interação professor/aluno a fim de que o processo ocorra de forma plena e atinja bons resultados. A metodologia utilizada foi a de pesquisa explicativa, com a busca da definição das formas de controle e observação das variáveis. Concluiu-se, portanto que é necessário conciliar os dois processos, visto que são inseparáveis. A fim de que seja garantida a plenitude do aprendizado e inserção do educando no contexto social.

Palavras chave: Leitura. Escrita. Processos. Aprendizado. Social.

 

 

INTRODUÇÃO


Iniciamos caracterizando os indivíduos alfabetizados e os letrados na medida de suas particularidades. A primeira classe é composta por sujeitos que sabem ler e escrever. Posteriormente, os designados letrados, são aqueles que além dessas características, possuem adicionada a capacidade de preencher adequadamente os requerimentos sociais da leitura e da escrita.
Um dos desafios dos docentes é alfabetizar letrando. Essa técnica pode ser descrita como a inserção das práticas que conduzem o aluno à informação através do processo de leitura e escrita.
O conceito de letramento está interligado ao de alfabetização. No entanto, devemos dispor as concepções de forma individual. Com o objetivo de que o aluno possa atingir êxito no processo de escrita.


Questões que nortearam este trabalho:
• Qual a melhor alternativa? A alfabetização ou o letramento?


1 Formação em Pedagogia. Leciona há 4 anos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Pós-graduanda em Alfabetização e Letramento.

• Como ocorrem esses processos?
• Quais são os objetivos dos métodos?
Atualmente as questões que envolvem a linguagem são objetos de estudo na tentativa de proporcionar seu uso eficiente. O letramento tem sido uma exigência no mundo globalizado, devido à facilidade no acesso ás informações que devem ser corretamente interpretadas.
Nessa perspectiva, o objetivo principal deste estudo é verificar os métodos a serem utilizados no ambiente escolar atualmente, visto que os docentes enfrentam dificuldades no processo de construção da leitura e da escrita.
Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico a pesquisa descritiva, realizada através da análise e correlação de fatos ou fenômenos sem a manipulação destes.

DESENVOLVIMENTO


A alfabetização objetiva a construção da escrita de modo individual. Em contrapartida, o letramento atinge um público mais abrangente, por meio de aspectos sociais e históricos através de sua metodologia. Ademais, busca colocar o aluno em contato com diversas formas de escrita, presentes no cotidiano.
Inicialmente, a alfabetização é o primórdio no processo de estruturação da escrita. Com foco no progresso de habilidades como a leitura, com caráter prático. No entanto, este processo possui metodologia distinta do letramento. A junção destes processos conduzirá á identificação do aluno com o objeto de estudo, despertando maior interesse.
Já o letramento tem como objetivo a organização das práticas escolares e o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem da língua e dos demais códigos, além de adicionar reflexões nas práticas educativas, com a função de adaptar e melhorar o processo de aprendizagem.
De acordo com o pensamento vigostskiano, língua e linguagem cumprem diferentes funções. Como práticas sociais contextualizadas comunicam, transmitem informações, favorecem a interação homem/mulher/mundo, dentre outros.

 

1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS


Segundo Soares (1999), observamos mudanças significativas em relação à concepção do que é a alfabetização na década de 80. Quem também contribuiu para este estudo foram as pesquisas de Emília Ferreiro. O resultado obtido foi de que a criança aprende a escrever num processo de interação e ação com a língua escrita, o que também acaba contribuindo sobre a relação fala e escrita por serem processos inseparáveis. A alfabetização é caracterizada como processo histórico social de múltiplas dimensões, abarcando as contribuições das ciências linguísticas, da psicologia da antropologia e da sociologia.
De acordo com a visão de Cláudia Maria Mendes (2002), este processo é responsável pela inserção da criança no mundo da linguagem escrita. Desenvolvendo no âmbito histórico e social, as possibilidades da humanidade, liberdade e universalidade do homem. Neste quesito, inserimos o letramento. Com base na caracterização do procedimento, reconhecido por englobar requisitos sociais da leitura e da escrita. O indivíduo letrado teria portando um relacionamento, mesmo que indireto, com a escrita. Sendo caracterizado como resultado ou consequência da apropriação da mesma. O processo possui importante papel social, descrito abaixo através da citação de Freire:

Alfabetização é a aquisição da língua escrita, por um processo de construção do conhecimento, que se dá num contexto discursivo de interlocução e interação, através do desvelamento crítico da realidade, como uma das condições necessárias ao exercício da plena cidadania: exercer seus direitos e deveres frente à sociedade global. (FREIRE, 1996, p. 59,)

1.2 METODOLOGIAS UTILIZADAS NOS PROCESSOS


O conceito de alfabetização tem sido pontuado por diferentes tipos de análises e enfoques. A preocupação central é como e quais os métodos a serem utilizados. Além de como direcionar para que o aluno aprenda sobre diferentes aspectos das diferentes áreas linguísticas, sociolinguísticas, psicolinguísticas. Possibilitando assim agregar o processo de letramento.

Algumas orientações iniciais no processo de alfabetização poderão ajudar o aluno a perceber regras que orientam a grafia das palavras. Sendo essas aliadas aos usos funcionais da escrita, mais eficazes que os tradicionais ditados e tarefas de cópias intermináveis.
Este processo é essencial para a constituição humana. Podemos dividi- lo em dois métodos:
Sintético: Das partes para o todo. Este meio estabelece a correspondência entre o som e a grafia.
Analítico: Do todo para as partes. Inicia-se a partir de unidades completas para fragmentá-las posteriormente.
De acordo com Ferreiro e Teberosky, ambos se apoiam em visões do funcionamento psicológico do sujeito. Além de proporcionar diferentes hipóteses de aprendizagens.
O que seria correto na visão de Ferreiro seria examinar através de qual método o resultado obtido causaria maior impacto positivo no contexto escolar. Com a intenção de colocar a criança em contato com a linguagem escrita. Visto que por si só, a estratégia utilizada não é capaz de criar conhecimento.
Já na concepção de Braggio (1992) os dois métodos, aparentemente distintos, têm as mesmas funções, visto que reduzem a linguagem e a aquisição do conhecimento ao nível sensorial e fisicamente observável. Ambos consideram a linguagem um sistema fechado, autônomo, construído de subsídios não relacionados entre si.
Nessa visão, a prática educativa do ensino da leitura e da escrita, proposta principalmente pelos materiais de alfabetização (cartilhas, por exemplo) são responsáveis por compor os métodos de alfabetização anteriormente citados. Apontam a aquisição da leitura e da escrita como um ato mecânico, no qual a forma precede o significado.
Contrapondo-se aos métodos acima descritos, Ferreiro e Teberosky (1989) realizaram estudos sobre a gênese dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita. Os resultados levaram a modificação da metodologia utilizada para a construção do conhecimento.
Para as pesquisadoras parece inadmissível que a aprendizagem da leitura e da escrita se dê por imitações e repetição. As apropriações da leitura e da escrita representam à antecipação de um conhecimento futuro. É importante

considerar as experiências que os alunos possuem. Por esse motivo é necessário que a instituição perceba e aproveite os saberes que o educando constrói no campo interdisciplinar cultural, social, e linguístico. Sendo este fato afirmado e citado por Freire:

Por isso mesmo pensar certo coloca os professores ou, mais amplamente a escola, o dever de não só respeitar os saberes dos educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, p. 30, 1996).


Freire salienta que é importante que os educadores respeitem os conhecimentos que os alunos trazem consigo para sala de aula. Com o objetivo de proporcionar educação de qualidade. Deste modo, a leitura deve partir do todo para posteriormente ser trabalhada de forma isolada.
O processo de alfabetização não deverá ter tempo pré-estabelecido, pois cabe ao aluno o tempo necessário para que possa ser instruído. No começo da interpretação da própria escrita a criança pode acompanhar seus desenhos e outros sinais que representam seu próprio nome. A hipótese de que o que escrevem são os nomes logo se generaliza progressivamente aos nomes de objetos. Porém o educador tem como função dar estímulos a essa criança através de novas alternativas para que tenha um desenvolvimento progressivo.
Os professores para as séries iniciais do ensino fundamental devem adaptar as ações pedagógica nas referidas séries. Objetivando o ensino da língua escrita. Devem estar conscientes de que seu púbico alvo são crianças em processo de alfabetização, ademais pode haver educandos em fase de aquisição, de desenvolvimento de habilidades de escrita e até mesmo em diferentes graus de letramento.
Essa intervenção didática deve ocorrer de forma coerente e dinâmica. Por este motivo, o professor necessita construir competências para a organização e execução de uma prática pedagógica. O que envolve reflexões críticas sobre suas ações.
É necessário que a formação do professor alfabetizador privilegie os aspectos ligados à importância da linguagem oral na alfabetização. A variação

linguística deve ser respeitada e tomada como ponto de partida nas construções da escrita. Este processo possui peculiaridades que envolvem o conhecimento linguístico, o uso da fala e sua relação abstrata com a escrita.
É indispensável que o professor alfabetizador possa compreender a dinâmica da aprendizagem. Conduzindo esse processo, desenvolvendo as funções psicológicas superiores da criança. De outro modo, a ênfase nos princípios da racionalidade técnica, pode limitar a escrita à mera habilidade motora, fragmentando e fossilizando o saber escolar.

1.3 EM BUSCA DE MELHORES RESULTADOS


Segundo Soares (1998), o ideal seria alfabetizar letrando. Ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita. Este modo proporciona atividades que exigem uma atenção a análise tanto quantitativa quanto qualitativa da correspondência entre segmentos falados e escritos.
Essas situações privilegiadas de atividades estimulam a aprendizagem da língua materna. Dessa forma o aluno aprende a ler, embora ainda não saiba de fato ler e escrever. Em ambos os procedimentos é necessário que o aluno deixe explícito o conhecimento adquirido em relação á escrita para a realização da mesma.
Para Ferreiro (1996 p.24) a alfabetização ocorre, em um ambiente social. Mas as práticas sociais assim como as informações sociais, não são recebidas de modo passivo pelas crianças. Atualmente, muitos professores ainda definem erroneamente o processo de alfabetização como sinônimo de uma técnica.
De acordo com as estudiosas Ana Teberosky e Emília Ferreiro (1985), é preciso diagnosticar o conhecimento prévio dos educandos. Para que se possa iniciar o processo de alfabetização. Afirmam também que as crianças não cheguem às escolas vazias sem ter construído sua própria percepção da língua. Há uma teoria que divide as fases da alfabetização em quatro: pré- silábica, silábica, silábica alfabética e alfabética. Este fato é comprovado pela citação do autor abaixo:

Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as


que terminam de alfabetizar na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Hoje outras crianças necessitam da escola para apropriar-se da escrita. (FERREIRO, 1985, p.23)


1.4 O PROCESSO ATUALMENTE


A alfabetização tem sido sem dúvida a principal preocupação de professores e gestores na primeira etapa do ensino fundamental. Muito se tem dito e escrito sobre as dificuldades da escola em alfabetizar as crianças e sobre como este fato tem se agravado nos últimos anos.
E, entre as causas da dificuldade, podemos apontar teorias desenvolvidas neste tema: a psicogênese, a psicolinguística e a sociolinguística. Na década de 1890, os estudiosos criticaram os métodos tradicionais de alfabetização. E acabaram induzindo os professores a deixarem de utilizar um método em seu trabalho e a progressão continuada. O que levou a escola a negligenciar a alfabetização no inicio do ensino fundamental. Visto que há um alargamento do tempo para que se atinja essa meta.
O letramento almeja atender uma nova realidade. Empenha – se em atualizar o processo de leitura e escrita, ultrapassando a fórmula mecânica. No entanto, é proveniente da alfabetização. É caracterizado por ser o uso da escrita no convívio social. São notáveis os benefícios de incluir as práticas de letramento aos métodos alfabetizadores.


CONCLUSÃO


Deste modo, chegamos a conclusão de que não podemos separar os dois processos. Visto que, a compreensão das letras é o primórdio para o letramento. Com base nos fatos de que este processo é o uso de modo social da leitura e da escrita.
Para a construção da capacidade crítica nos discentes, é necessário que haja a inclusão destes no mundo letrado. Por meio de práticas que valorizem a interação do letramento no mundo social o qual estejam inseridos. Respeitando o conhecimento que os alunos previamente adquiriram em suas práticas informais cotidianas.

Ao obter o conhecimento sobre o letramento, o método tradicional de aprendizado rígido e repetitivo é resignado. No ambiente escolar, os alunos devem construir um relacionamento com o caráter social da escrita de modo que desenvolvam composições consideráveis.
É importante registrar que a criança no seu dia-a-dia vivencia usos de escrita para comunicar alguma coisa, para auxiliar a memória e para registrar informações, e que da mesma forma recorremos à escrita através da leitura para também, obter-se informações e buscar entretenimento.
É função do ambiente escolar e dos genitores a transformação dos alunos em indivíduos alfabetizados e letrados. Visto que este processo se estende por diversas fases da vida estudantil. E se bem feito, traz consequências positivas que se estendem por toda vida do educando. Despertando a interpretação, sobressaindo-se em seu meio social, e visualizando sua importância como sujeito transformador.

 


REFERÊNCIAS


FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.284 pp.

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênse da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 40ª reimpressão, 1996 (Coleção Leitura).

HAMZE, Amelia. Alfabetização ou letramento? Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/alfabetizacao.htm. Acesso em 27 de out. de 2016