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A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM DE SINAIS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE CRIANÇAS COM SURDEZ

 

Mirian Inês Bays Fernandes

Fabiane Bays da Rocha


RESUMO


Esta pesquisa pretende analisar o aspecto cognitivo e a importância da linguagem de sinais para os surdos, de maneira que, se possa interferir positivamente em sua educação, definindo suas características e reais dificuldades, para a partir delas, traçar caminhos que facilitem a superação dessas dificuldades. Para tal, utilizou-se de pesquisas bibliográficas e estudos das obras de Vygotsky e sua teoria sócio interacionista do desenvolvimento e de muitos outros autores com o mesmo foco de superar preconceitos existentes nesta área e em relação ao proceder diante dos fatos. A pesquisa mostra que as mudanças a serem realizadas são muitas, mas que as dificuldades podem ser superadas quando se toma conhecimento da realidade e se propõe a melhorá-la. Esta pesquisa deixa evidente a importância da inserção da criança surda a linguagem de sinais e como procede seu desenvolvimento a partir daí, sendo comprovado que ocorre da mesma forma que com outras crianças, ou seja, a importância da socialização e da interação, sendo possível através de um olhar diferente.



INTRODUÇÃO

O enfoque desta pesquisa se deu em torno de analisar o desenvolvimento da criança surda na perspectiva histórico-cultural, para conhecer e intervir positivamente na formação integral da criança. Constatar a importância da linguagem de sinais em seu desenvolvimento; investigar as dificuldades; analisar os meios para a intervenção positiva e superar os preconceitos. Esta presente pesquisa anseia por descobrir como auxiliar o processo de desenvolvimento da criança com dificuldades auditivas e realizar um levantamento sobre como a linguagem de sinais se estabelece e auxilia neste desenvolvimento.

Identificar e analisar a importância do uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), para o desenvolvimento cognitivo e social e avaliar as dificuldades, quando a criança não tem acesso ou só é exposta a essa língua tardiamente.

A escola é um ambiente de socialização e conhecimentos, onde diversas culturas se encontram. Exatamente por esse motivo que os profissionais da educação devem estar preparados para colaborar e facilitar a aprendizagem. Nessa perspectiva entra a educação inclusiva, no qual a educação de surdos se insere.

Este trabalho visa entender como acontece o processo de aquisição de conhecimento das pessoas surdas, para guiar a prática pedagógica e construir um indivíduo desenvolvido físico, psicológico e socialmente, capaz de se integrar a sociedade sem dificuldades, uma prática que possibilite a construção de um indivíduo independente, com iguais chances de realização pessoal que pessoas ouvintes.

A presente pesquisa é uma maneira/tentativa de superar certos preconceitos a cerca deste tema. Entender as dificuldades e os motivos das mesmas é a base para a mudança de atitudes e de visões equivocadas e sem fundamentos que a sociedade tem.

Reconhecer as falhas e os acertos do sistema educacional, poder avaliar e se possível fazer mudanças positivas, no intuito de melhorar as condições do indivíduo surdo.

A realização deste trabalho cujo tema é “A importância da linguagem de sinais no desenvolvimento cognitivo de crianças com surdez” utilizou-se da pesquisa bibliográfica coletando informações de livros e textos eletrônicos, presentes em seu livro, no qual será feito uma análise de como ocorre o processo de desenvolvimento cognitivo tratando de uma criança privada da função auditiva, identificando também as dificuldades geradas para que sejam superadas. Para alcançar os objetivos propostos será analisada também a importância de inserir a criança surda ao contato, o mais cedo possível com língua de sinais.

Em primeiro momento será feita a análise de como ocorre o desenvolvimento cognitivo em crianças surdas, depois a importância para a mesma desenvolver uma linguagem própria, ou seja, a linguagem de sinais, e por fim a maneira como se deve proceder em ambientes escolares.


A IMPORTANCIA DA LINGUAGEM DE SINAIS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA


O aprendizado depende das relações sociais, segundo Vygotsky “aprendizado humano pressupõe uma natureza social especifica e um processo através do qual as crianças penetram na vida daqueles que a cercam”, (1984, p.99).

O desenvolvimento da linguagem depende do convívio da criança com seus familiares, e o seu desenvolvimento é mediado pela linguagem. Dessa maneira a criança surda que convive com familiares ouvintes, tem seu processo de aquisição de conhecimento prejudicado. A linguagem é essencial ao ser humano. Mas o potencial da criança surda é igual ao de uma ouvinte.

Carlos Skliar defende o sujeito surdo como um indivíduo com potencialidades (Skliar, 1998, p.26):

(...) potencialidade como direito á aquisição e desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua; potencialidade de identificação das crianças surdas com seus pares e adultos surdos; potencialidades de desenvolvimento de estruturas e funções cognitivas visuais; potencialidades para uma vida comunitária e de desenvolvimento de processos culturais específicos (...)”

Segundo Vygotsky: “as funções cognitivas e comunicativas da linguagem, tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais (Vygotsky, 1984, p.31)” Ou seja, a criança percebe o mundo não só através dos olhos, mas pela fala também. A partir desse estudo viu-se a importância da linguagem de sinais para pessoas surdas, visando o seu desenvolvimento cognitivo, psicológico e histórico-cultural.

A linguagem é um fator importantíssimo no desenvolvimento da criança, ou seja, o desenvolvimento de uma língua e a aprendizagem estão intimamente ligadas, de forma que uma não ocorre sem a outra.

Segundo Vygotsky, apud Moreira, é importante saber que linguagem não é só um fator de comunicação, mas também uma função reguladora o pensamento. Sendo assim o surdo necessitam de uma linguagem para expressar suas ideias, sentimentos emoções. Para que de fato se desenvolva cognitivamente.

Para Moreira:


O surdo percebe o mundo de forma diferenciada dos ouvintes, através de uma experiência visual e faz uso de uma linguagem específica para isso, a língua de sinais. A língua de sinais é antes de tudo imagens do pensamento dos surdos e faz parte da experiência vivida da comunidade surda. Como artefato cultural, a língua de sinais também é submetida à significação social e a partir de critérios valorizados, sendo aprovada como sistema de linguagem rica e independente.


Para Vygotsky apud Stoltz, são as funções psicológicas superiores, que diferenciam homens de animais. E para ele essas funções tem origem social, ou melhor, nas relações sociais. Essas relações não são diretas, mas mediadas por sistemas simbólicos, que se dividem em tipo físico e tipo psicológico. O que nos interessou no momento é o tipo psicológico, ao qual chamamos de signos.

Segundo Stoltz, 2011, “os signos são estímulos artificiais por meio dos quais o homem pode controlar e regular o seu comportamento... Somente quando interagimos com outras pessoas que já os dominam e são capazes de transmiti-los é que nos apropriamos deles.”

Partindo dos estudos de como ocorre o desenvolvimento cognitivo da criança, pôde-se entender qual é a importância da língua de sinais.

Os pais quando conversam com seus filhos, controlam as ações dos mesmos através da fala, e as crianças que ainda não dominam esse tipo de comunicação vão se apropriando dela e a partir daí aprendendo também a controlar o ambiente em que estão.

Segundo Vygotsky apud Rodriguero a criança vai dominando os instrumentos mentais produzidos pelo homem no decorrer da história, de maneira gradativa, a partir da convivência em sociedade e das interações com os adultos que a cercam. Para tal situação é necessário então uma forma de comunicação, para que a pessoa surda não se sinta isolada, e possa conviver em sociedade e que suas chances de sucesso sejam iguais a todas as pessoas.

Assim sendo quanto mais cedo à criança surda conhecer a língua de sinais, mais cedo e com mais facilidade será o seu desenvolvimento. Dentro de casa, no convívio familiar, pais e amigos devem estimular o uso da língua de sinais.

Então, a educação do surdo deve proceder primeiramente com o ensino da língua de sinais, é muito importante também que a criança frequente a educação infantil, na qual ela pode construir sua identidade e autonomia, estará interagindo e se socializando em meio a novos conhecimentos. Segundo Góes apud Rodriguero explica que a:

Deficiência não torna a criança um ser que tem possibilidades a menos; ela tem possibilidades diferentes, a linguagem não depende da natureza do meio material que utiliza, mas o que é importante é o uso efetivo dos signos, seja qual for à forma de realização, desde que possa assumir o papel correspondente ao da fala”

A melhor opção de ensino para a criança surda é o bilinguismo segundo Goldfield, 1997, p.160:

(...)pois a expõe a uma língua, de fácil acesso, a língua de sinais, que pode evitar o atraso da linguagem e possibilitar um pleno desenvolvimento cognitivo, além de expor a criança à linguagem oral, que é essencial para o seu convívio com a comunidade ouvinte e a sua própria família.”


Ou seja, ensinar a língua de sinais é o caminho mais viável, para não prejudicar o desenvolvimento cognitivo da criança, seguido da inserção da língua falada. Não há nada que impeça a criança surda de falar, seu impedimento está em ouvir e suas dificuldades maiores giram em torno do contexto social, pela falta de comunicabilidade, pois a sociedade não sabe a linguagem de sinais.

Não se pode excluir o surdo de ambientes sociais e sim incluí-los, mas devidamente, para que o surdo não se sinta a margem da sociedade, deve ter acesso a educação de qualidade, que diz respeito a interpretes em sala de aula e após, aulas especiais para que se desenvolva plenamente em todos os sentidos, para que realmente se integre a sociedade.

Depois de acompanhar e averiguar como é o desenvolvimento e as características importantes de aquisição do conhecimento em relação a crianças com dificuldades. Pode ser feito algumas reflexões de como proceder e auxiliar no que se refere á educação dos surdos.

Como já foi visto, esse processo de desenvolvimento é inteiramente ligado com a linguagem.

As crianças desde muito pequenas já balbuciam ou repetem algumas palavras, isto é possível, pois seu sentido da audição está em pleno funcionamento, e porque essas crianças têm contato com pessoas que dominam a fala, ou seja, possuem uma relação social.

Vygotsky diz que é muito importante e é através das nossas relações sociais e linguísticas é que são possíveis os desenvolvimentos. Segundo os seus pensamentos, Vygotsky (1889) diz: “a natureza do próprio desenvolvimento se transforma do biológico para o sócio-histórico. O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inato, mas é determinado por um processo histórico cultural e tem propriedades e leis específicas.”

As crianças que não escutam muito bem ou praticamente nada precisam desenvolver outros sentidos outras maneiras para se comunicar, e efetivamente se desenvolver. Nesse sentido viu-se a importância da língua de sinais, que é totalmente visual, usando as mãos, os gestos e as mímicas envolvendo o corpo.

As maiores dificuldades das pessoas surdas giram em torno do fato de que estão inseridas em ambientes com pessoas ouvintes e que não utilizam a língua de sinais, pois como já foi dito a linguagem é adquirida através do contato com o meio social, ou seja, a criança aprende a falar porque seus pais são ouvintes e utilizam a língua falada para se comunicar, e as crianças surdas utilizam dos sinais quando entram em contato com pessoas que as usam também.

Como foi evidente em seus estudos, Vygotsky diz que a linguagem é fundamental para a formação dos processos mentais. A língua, que é uma forma de comunicação também tem a função de regular os pensamentos. Através da internalização, que ocorre quando se observa no meio social e apropria-se, que é o que acontece com a fala. Pois segundo Vygotsky apud Andrade:

(...) a fala é usada imediatamente em todas as práticas e contextos sociais. Ao brincar, na escola e na vida cotidiana, a criança, sem este propósito ou consciência, aprende a usar a fala, a compreendê-la, a fixar sua atenção e a organizar a sua vida em função dela. Sem a fala, estas atividades se tornariam impossíveis.”

A Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, é reconhecida como a primeira língua para os surdos conforme a Lei N° 10.436 de 24 de abril de 2002 que diz:

Art. 1°É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Então, pode-se afirmar que LIBRAS é um idioma gestual-visual. E segundo Pereira 2002:

A língua de sinais preenche as mesmas funções que a língua falada tem para os ouvintes. Como ocorre com crianças ouvintes, espera-se que a língua de sinais seja adquirida na interação com usuários fluentes da mesma, os quais, envolvendo as crianças surdas em práticas discursivas e interpretando os enunciados produzidos por elas, insiram-se no funcionamento dessa língua.

A língua de sinais tornou-se uma ferramenta que promoveu o desenvolvimento cognitivo e social, visando uma qualidade de vida, referente a integração na sociedade, visto que a linguagem é um fator importantíssimo para a construção do indivíduo.

Com a aquisição da língua de sinais o indivíduo surdo tem maior independência, pois esse é o primeiro passo, adquirida a língua de sinais, o indivíduo esta pronto para aprender a ler e a escrever, ampliando seus conhecimentos.

Para Skliar (1997) é necessário:


Um modelo no qual o déficit auditivo não cumpra nenhum papel relevante, um modelo que se origine e se justifiquem nas interações normais e habituais dos surdos entre si, no qual a língua de sinais seja o traço fundamental de identificação sociocultural e no qual o modelo pedagógico não seja uma obsessão para corrigir o déficit, mas a continuação de um mecanismo de compensação que os próprios surdos, historicamente, já demonstram utilizar.

 

 

Segundo Vygotsky (1993) apud Andrade “ao falar sobre a surdez, afirma, inicialmente, que é necessária uma radical re-análise dos métodos de ensino, assim como das técnicas, propósitos e leis da educação de surdos, o que inclui uma questão crucial: a instrução na língua oral”.

Em termos de educação, ou sistema educacional, e em benefício do aprendizado das crianças surdas, foi levado em consideração o ensino bilíngüe, ou seja, inserir, por a criança em contato com outras crianças surdas para que se identifiquem com a língua de sinais e ensiná-la também a língua oral escrita.

Sem a língua de sinais, segundo Moreira:


(...) os surdos passam por muitas dificuldades no decorrer de suas vidas, tanto no aspecto social como no psicológico e acadêmico. Consideram que tais dificuldades estão diretamente relacionadas com a questão do desenvolvimento linguístico, porque ao sofrer um atraso de linguagem, mesmo aprendendo tardiamente uma língua, a criança surda sempre terá consequências como problemas emocionais, sociais e cognitivos, pois só com a linguagem simbólica é possível operar funções mentais superiores e o atraso na aquisição da linguagem produz retardo no desenvolvimento cognitivo. Esta relação entre desenvolvimento linguístico e cognição coloca o conceito de linguagem além da função comunicativa, mas também como função de regular ou organizar o pensamento, assumindo a linguagem um papel essencial para o desenvolvimento cognitivo.


Dessa forma, o indivíduo tem acesso e chances iguais de sucesso, pois favorece “seu encontro” dentro da sociedade. Ou melhor, dizendo, o indivíduo surdo consegue se ver pertencendo a um grupo, inserido na sociedade, não mais como alguns anos atrás, onde a pessoa surda foi vista como incapaz de se relacionar e conviver em sociedade e pior um indivíduo incapaz de se desenvolver, a margem de tudo e de todos.

Hoje vemos que tudo isso acontece por falta de informação e de estudos, porque o indivíduo surdo precisa apenas de outra metodologia para desenvolver suas aptidões. Segundo Kubaski e Moraes:


A aquisição da língua de sinais vai permitir à criança surda, acessar os conceitos da sua comunidade, e passar a utilizá-los como seus, formando uma maneira de pensar, de agir e de ver o mundo. Já a língua portuguesa, possibilitará o fortalecimento das estruturas linguísticas, permitindo acesso maior a comunicação.


Toda criança surda tem o direito a educação, e a professores fluentes na língua de sinais, condição relevante para seu desenvolvimento. A grande dificuldade do momento é a garantia desses direitos, pois não há muitos professores com Libras em seu currículo e dessa forma fica difícil disponibilizar o devido acesso a língua de sinais. Lacerda diz:


O objetivo da educação bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso ás duas línguas: a língua de sinais e a língua do grupo majoritário.


O ideal é que a criança surda disponha desde a educação infantil de um professor surdo para que realmente ela se aproprie da língua de sinais sem atrasos no desenvolvimento da linguagem.

A família da criança surda também deve participar ativamente desse processo, adquirindo também a língua de sinais para utilizar com a criança.

Por muitos anos a comunidade surda foi alvo de incompreensão, visto que a surdez era vista como maldição e até loucura. Até mesmo dentro do convívio familiar os surdos eram vistos como deficientes mentais, subjulgados e até muitas vezes abandonados. Moreira faz a seguinte reflexão:


Percebida e aceita a surdez como diferença o indivíduo surdo deve ser compreendido mais claramente em suas angustias, expectativas e demandas individuais e sociais. As barreiras comunicativas criam uma incompreensão das estruturas mentais do surdo embora se saiba que a pessoa surda é capaz de ter um desenvolvimento compatível e aprender habilidades como qualquer ouvinte. A ênfase não deve ser dada à falta / deficiência da audição, mas a dimensão linguística e cultural, ou seja, na diferença, porque nela se baseia a essência psicossocial da surdez. O surdo não é diferente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicológicas e culturais diferentes das dos ouvintes, baseadas na experiência visual que envolve uma diferença na questão de significado ou de formas de ser surdo e formas de ser ouvinte.


Seguindo a reflexão de Moreira podemos pensar da seguinte forma o surdo é uma pessoa que simplesmente percebe o mundo com os olhos. A diferença esta em como a pessoa surda se desenvolve.

A nossa sociedade esta no caminho certo de superar os preconceitos em relação à comunidade surda. Muitas mudanças precisam sair do “papel” para efetivamente se tornar uma sociedade acolhedora, garantindo todos os direitos de acesso à educação e vivencia em sociedade. Sobre a cultura surda, QUADROS, 2002 diz:

Essa cultura é multifacetada, mas apresentam características que são específicas, ela é visual, ela traduz-se de forma visual. As formas de organizar o pensamento transcendem as formas ouvintes. Elas são de outra ordem, uma ordem com base visual e por isso tem características que podem ser ininteligíveis aos ouvintes. Ela se manifesta mediante a coletividade que se constitui a partir dos próprios surdos.

E evidente que a nossa sociedade caminha para a superação dos preconceitos acerca da cultura surda, mas é necessário mais investimentos para dar qualidade e acessibilidade. Primeiramente na educação, com investimentos em conhecimentos e preparação de profissionais para sanar as dificuldades em torno dessa problemática sobre a educação bilíngue.

Para acabar de vez com a segregação das pessoas surdas, toda a sociedade não só a comunidade surda, mas os ouvintes também deveriam ter acesso a língua de sinais. Isso iria garantir a entrada de pessoas surdas em quaisquer ambientes da sociedade sem maiores dificuldades.

No entanto, essas mudanças/investimentos podem começar dentro da escola.

Apesar das práticas vigentes de uso da língua de sinais como a 1ª língua na educação dos surdos terem resultados positivos. Em seus estudos, Vygotsky não se e mostrava favorável á língua de sinais, mas sabia que a oralização, prática de ensino aos surdos a alguns anos atrás, não era adequada. Segundo Andrade, Vygotsky criticava com veemência os métodos de ensino da língua oral, opinando que o ensino da linguagem ao surdo estava calcado em bases antinaturais, apesar de duvidar que a língua de sinais fosse uma verdadeira linguagem a serviço da formação social dos e um instrumento para a mediação dos processos psicológicos superiores.

Mas os estudos hoje demonstraram que a língua de sinais propicia sim o desenvolvimento cognitivo das pessoas que dela fazem uso. Além de serem naturalmente adquiridas, seguindo a teoria de Vygotsky na qual a aquisição ocorre de forma semelhante ao indivíduo ouvinte que adquire a fala em contato com pessoas que se utilizam da fala fluentemente, o surdo adquire a língua de sinais na interação com outros surdos que á utilizam.

Segundo a Declaração de Salamanca:

As políticas educativas deverão levar em conta as diferenças individuais e as diversas situações. Deve ser levada em consideração, por exemplo, a importância da língua de sinais como meio de comunicação para os surdos, e ser assegurado a todos os surdos acesso a língua de sinais de seu país. Face as necessidades específicas de comunicação de surdos e de surdo-cegos, seria mais conveniente que a educação lhes fosse ministrada em escolas especiais ou em classes ou unidades especiais nas escolas comuns”.

Para Carvalho (2002) a escola é inclusiva quando:

Respeita as peculiaridades e / ou potencialidades de cada aluno, organiza o trabalho pedagógico centrado na aprendizagem do aluno, onde este é percebido como sujeito do processo e não mais como seu objeto e o professor torna-se consciente de seu compromisso político de equalizar oportunidades, na medida em que a igualdade de oportunidades envolve, também, a construção do conhecimento, igualmente fundamental na instrumentalização da cidadania.

Não é uma tarefa fácil de ser realizada, mas também não é impossível, apenas necessita de muita dedicação, superação e vontade para mudar a realidade de muitas crianças e adultos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Esta pesquisa procurou sanar algumas de muitas questões pertinentes à educação e em relação à educação especial envolvendo o desenvolvimento cognitivo da criança surda.

Pode-se observar através da pesquisa que ainda existem muitas lacunas, e muito que melhorar em termos de estrutura e metodologia quando se esta de frente a estas situações, que cada vez estão mais presentes.

É um grande avanço confirmar que a criança surda não é mais nem menos capaz que outras crianças. Apenas percebe o mundo de maneira diferente e desenvolve melhor os outros sentidos.

Cada criança é diferente por si só, havendo ou não dificuldades. O importante é apoiar, é fazer com que consiga superar as dificuldades. Não se pode esquecer ou fazer de conta que a criança, ou que o problema não existe, e deixá-la a margem da sociedade.

Ao contrario, a família, amigos e escola devem aceitar e buscar juntos, maneiras para que a criança tenha todas as chances de vitória, nos aspectos cognitivos e sociais.

Com esta pesquisa pode-se concluir que em especial, a criança surda precisa de uma linguagem própria para se desenvolver cognitivamente e criar estruturas psicológicas, criar símbolos e organizar os pensamentos, para tal é preciso que esteja inserida e que aprenda a linguagem de sinais e que faça parte de um grupo com as mesmas características, para que crie sua identidade própria, além de constatar também a importância para esta criança que ela também aprenda a língua portuguesa escrita. Para não ficar alheia as situações do cotidiano da sociedade.

Estas são algumas das observações e constatações realizadas e obtidas através da pesquisa, mas muito há o que se pesquisar e realizar em âmbito escolar e social. A sociedade, o sistema educacional e os profissionais da educação têm precisam buscar melhorias e garantir qualidade de ensino as crianças com dificuldades auditivas.

Esta pesquisa serviu para derrubar por terra certos preconceitos e falta de informação referente aos aspectos de aprendizagem de pessoas surdas, deixando claro o nosso dever como amigo, ou familiar ou como educador em garantir qualidade de vida e educação, com respeito as diferenças e fazer o possível para que tudo aconteça da melhor forma possível.




REFERÊNCIAS


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