AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Ivonete Vieira dos Santos
Roseane Sardinha Mulato Batista
Aline Gracieli da Cruz
Elizabethe Sabio
Samanta de Morais da Silva
Carine de Lima
RESUMO
A criança desde o momento do seu nascimento é envolvida por um universo de linguagens, dentre as quais está fundamentalmente a linguagem verbal. Essa questão pode ser verificada a partir de palavras usadas a princípio com o objetivo de mostrar o sentimento de carinho sentido pela mãe, pai, tias, avós, e por todos aqueles que usam as palavras para se comunicar com a criança. O presente trabalho tem por objetivo compreender que as múltiplas linguagens fazem parte da vida das crianças na Educação Infantil. Trabalhar as múltiplas linguagens na educação infantil pode contribuir com o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais, o que desencadeou a formulação do problema da pesquisa.A metodologia utilizada na realização da pesquisa em primeiro momento através da revisão de Literaturas, releitura de textos e matérias já estudadas e aprofundamento dos conhecimentos teóricos. Utilizou-se também a pesquisa bibliográfica: por meio de pesquisas realizadas via internet, revistas e livros. Conclui-se as instituições de Educação infantil devem desenvolver uma proposta pedagógica norteada pelas múltiplas linguagens, reconhecendo e compreendendo a criança em sua totalidade. As múltiplas linguagens são de fundamental importância, pois contribuem no desenvolvimento integral da criança oportunizando a elas novas vivências, como se expressar melhor e explorar mais o ambiente no qual está inserida.
Palavras-chave:. Educação Infantil. Múltiplas Linguagens. Práticas Pedagógicas
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo analisar e relatar as linguagens na Educação Infantil as diferentes aprendizagens em relação as reorganizações do conhecimento, e este processo e protagonizado pelas crianças.
A criança já foi tratada como um ser incapaz e/ou um adulto em miniatura, sem ser considerada suas especificidades, suas singularidades e era por meio do convívio com os adultos que aprendia seus hábitos e conhecimentos. Antigamente o cuidar era a forma de educação que predominava, onde a responsabilidade da educação era das famílias ou do grupo social que a criança estava inserida.
O olhar sobre as crianças começou a mudar a partir do século XVII, onde os pais começaram a dar mais atenção à área afetiva e social da criança. Somente a instrução oferecida em casa já não dava mais conta da atenção que a criança necessitava, desse modo, a escola começou a fazer parte do cotidiano das crianças.
Após as mudanças econômicas, políticas e sociais que houveram na sociedade devido à incorporação das mulheres ao trabalho assalariado e, ao novo papel que a mulher assumia, surgiram às creches e pré-escolas. Houve também o surgimento de ideias novas sobre a infância e o papel da criança na sociedade, onde argumentavam que por meio da educação as crianças se tornariam indivíduos produtivos e ajustados às exigências da sociedade atual em que viviam.
As situações de aprendizagens propostas na Educação Infantil quando voltadas à consideração das múltiplas linguagens se atêm de forma efetiva das necessidades das crianças, pois elas são a base do desenvolvimento das crianças. Ao mesmo tempo, criam um “mundo” de encantamento, interações, sentimentos, possibilidades e aprendizagens.
No decorrer do texto serão apresentados conceitos históricos da Educação Infantil, conceito de infância e o conceito de linguagens.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Conceitos históricos da Educação Infantil
Na Antiguidade, não havia estudos sobre a educação infantil, a criança devia ser corrigida e punida, para crescer e adequar-se aos padrões da sociedade. Na educação grega, período clássico, na infância as crianças eram consideradas seres com tendências selvagens a serem dominadas pela razão e o bem ético e político; no período medieval eram consideradas como a natureza pecadora do homem, onde a razão, reflexo da luz divina, não se manifestaria. Rizzo (2010, p. 12), afirma que nessa época a pedagogia era apenas um ramo da teologia, que indicava a doutrinação como meio de tornar boa a criança. É possível perceber a falta de preocupação com a educação e ao cuidado da criança, ela tinha apenas que se adequar ao mundo adulto.
Para a igreja, a educação das crianças, “(...) era dever dos pais e da família, e isso era tudo que importava saber a respeito do que fazer com as crianças e como lidar com elas, durante todo período da Antiguidade”. (RIZZO, 2010, p. 12)
Na Europa da Idade Média, a criança era um pequeno adulto, tratada pela sociedade como um ser humano deficitário, que deveria crescer, para trabalhar junto com o resto da família. Os rejeitados pelas famílias eram abandonados na roda dos expostos ou enjeitados. O recolhimento dessas crianças era feito por entidades religiosas e quando essas cresciam eram conduzidas a um ofício.
Novos modelos educacionais foram criados nos séculos XV e XVI, com novas visões sobre a criança e como ela deveria ser educada. Erasmo (1465- 1530) e Montaigne (1483-1553) sustentavam que a educação deveria respeitar a natureza infantil, estimular a atividade da criança e associar o jogo à aprendizagem.
Com a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, onde a mão de obra masculina estava mais escassa em função das guerras, as mulheres passaram a trabalhar fora de casa. A partir desse cenário, começaram a ser criadas instituições formais de atendimento à criança, no intuito de minimizar o problema da mortalidade infantil e também de atender os filhos dos funcionários das fábricas.
No Brasil, o desenvolvimento do conceito de infância e a preocupação com sua educação seguiram os conceitos da Europa. A educação era responsabilidade da família e desenvolvida entre crianças e adultos do seu meio social.
A atenção com a infância, no Brasil, surgiu a partir do final do século XIX, quando foram promulgadas as primeiras leis de amparo à criança e 15 criadas as primeiras instituições. Antes desse período, para aqueles que não tinham as famílias, existia a casa dos expostos, criada para acolher crianças abandonadas.
A Educação Infantil no Brasil passou por diversos processos históricos, dentre eles os movimentos pela democratização da escola pública e as lutas sociais por creches e pré-escolas, ao longo de muitos anos para o seu reconhecimento. O sentimento de infância tardou a surgir. No período colonial, a educação das crianças, menores de 7 anos, era de responsabilidade da família, pois “a ideia de infância estava ligada à ideia de dependência”,
Com as transformações sociais, econômicas e políticas, no decorrer dos tempos a relação entre cidade e campo, que antes era de articulação através do exercício do poder político e religioso, passa a ser comandada pela articulação capitalista. Essas transformações, segundo Meira (2003), impõem uma reflexão acerca da responsabilidade social sobre a criança. Assim, surgem as creches, com o papel assistencialista para atender as mães trabalhadoras, apenas com a função de cuidar dos filhos das mães trabalhadoras.
É o que afirma Castro (2006, p.8). “Ao longo do tempo visão assistencialista de Educação Infantil vem sendo mudada a partir da década de 90, no qual novas diretrizes foram estabelecidas, e também, pela consciência social sobre o significado da infância e o reconhecimento do direito da criança à educação em seus primeiros anos de vida”
Aos poucos, o poder público começou a assumir a responsabilidade por essa escola que se consolidou com a Constituição de 1988: “O dever do Estado com a educação será efetiva mediante a garantia de [...] Atendimento em creche e pré-escola as crianças de zero a seis anos de idade”, (Art 208, IV). Assim, os pequenos passaram a ser reconhecidos como cidadãos e ganharam o direito de ser atendidos em suas necessidades especificas para se desenvolverem. Rios (2002) afirma que após a promulgação da Constituição de 1988, cria-se o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), de 13 de julho de 1990, que veio reafirmar os direitos constitucionais da criança e o do adolescente.
Em 1996, o Ministério da Educação promulga a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 9.394/96, segundo a qual a educação até 6 anos de idade, ficou definida como a primeira etapa da Educação Básica. As creches atenderiam crianças na faixa etária até três anos e as pré-escolas de quatro a seis anos. Essas teriam como finalidade, segundo a legislação, de acordo com Nogueira (2004, p,25), “[...] O desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais complementando a ação da família e da comunidade”, (Art. 21); essa divisão foi alterada em maio de 2006, com a sanção presidencial da Lei Federal. 11.114, que define que as crianças com 6 anos completos devem ser matriculadas no 1° ano do Ensino Fundamental.
Dessa forma, a Educação Infantil passou a atender crianças até 5 anos de idade, vale ressaltar que reconhecer o direito das crianças de 0 até 06 anos de idade a educação não implicou o estabelecimento de políticas específicas de recursos financeiros, que viessem a beneficiá-las. Segundo Fazenda (2003), a LDBEN (Lei de Diretrizes e BASE DA Educação) reafirma o contido na Constituição, atribuindo aos municípios esta responsabilidade, destacando o ensino fundamental como etapa prioritária. Somente em 2006 foi aprovado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) para atender à educação básica em seu todo. As crianças de 0 a 03 anos estavam excluídas, depois de muita luta e de grande movimento nacional fez se valer o direito dessas crianças a educação garantido no texto constitucional.
2.1 Conceito de infância
Para entender como se deu o processo do desenvolvimento da concepção de infância, é importante analisar as mudanças e destacar que a visão que se tem de criança hoje é algo que foi historicamente construído ao longo dos anos.
Dessa maneira, é possível observar os contrastes em relação ao sentimento de infância presente em determinados momentos da história. Algumas atitudes que hoje parecem um absurdo, como o tratamento indiferente à criança pequena, há alguns séculos atrás era considerado como algo normal.
Por mais estranho que pareça, a sociedade nem sempre viu a criança como um ser especial e único, dotado de particularidades e cuidados especiais. Por muito tempo a tratou como um adulto em miniatura.
Philippe Ariès, um grande historiador francês, problematizou o conceito de infância e fez uma análise de três períodos distintos (que vai do século XIII ao século XVIII e do século XVIII à atualidade). Ele afirma que não havia distinção entre o mundo adulto e o infantil, as crianças viviam em meio ao universo dos adultos. Falavam e se vestiam como eles, jogavam os seus jogos e até participavam de suas festas.
Já no segundo período (séc. XVIII) houve uma significativa mudança. A sociedade passou a separar as crianças dos adultos e então surgem as primeiras instituições escolares. Por fim, no terceiro período (atualidade), a criança já começa a ocupar o seu verdadeiro espaço e acontece então a consolidação do conceito de infância que conhecemos hoje, embora muitos progressos ainda estivessem por acontecer.
Segundo Macedo (2006) As instituições escolares, por muito tempo, organizavam seus espaços e rotinas diárias embasadas nas ideias assistencialistas, ou seja, a principal função da escola não era transmitir conhecimentos por meio de informações e conteúdos didáticos, o principal objetivo era cuidar, especialmente, de crianças de 0 a 6 anos.
Porém, com as diversas mudanças ocasionadas pelo desenvolvimento das grandes cidades e as diversas modificações socioculturais, as coisas foram mudando de figura.
Para modificar essa concepção assistencialista, houve uma mudança na educação infantil. Era necessário enxergar e assumir as suas especificidades e rever quais eram as responsabilidades da sociedade e o real papel do Estado perante as crianças pequenas.
A educação para as crianças pequenas deve promover a integração entre os diversos aspectos que as norteiam, como o aspecto físico, emocional, cognitivo, entre outros.
Hoje, sabemos que a criança é um ser dotado de particularidades e cuidados especiais, principalmente as mais pequeninas. Muitas pessoas, até mesmo a própria família, acreditam que as crianças de 0 a 3 anos não se expressam de forma nítida e relevante.!
Portanto hoje, depois de muitas lutas e conquistas a educação infantil se constitui um espaço educativo privilegiado de desenvolvimento e socialização para a vida da criança, que visa o Cuidar e o Educar de forma integral. Segundo Macedo (2006), a educação infantil se constitui em um legítimo espaço de construção da identidade e autonomia da criança, no qual o cuidar está inserido entre os objetivos pedagógicos.
A educação infantil representa a primeira experiência da educação escolar vivenciada pela criança, portanto, compreendemos que ela tem a tarefa de organizar as informações, as referências recebidas pela criança, de forma sadia, propiciando seu desenvolvimento integral.
2.2 Conceito de linguagens
O surgimento da linguagem ocorreu ao longo da história da humanidade, quando o homem precisou criar um sistema de símbolos e signos, para representar, registrar o que estava acontecendo. Franchi, (2002) pode‐se compreender a linguagem como instrumento de comunicação, pois, através dele, o ser humano comunica as experiências, estabelece ‘laços contratuais’, interage, compreende e influencia os outros com suas opções relativas ao modo peculiar de ver e sentir o mundo, com decisões consequentes sobre o modo de atuar nele.
As crianças em suas ações do cotidiano na Educação Infantil fazem o uso da linguagem em todos os momentos. Portanto, trabalhar as múltiplas linguagens na Educação Infantil contribui com o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais. As múltiplas linguagens estão expressas nas Diretrizes Curriculares da Educação Infantil (2010), o que representa sua relevância e obrigatoriedade de estarem inseridas na Educação Infantil e principalmente no cotidiano das crianças.
A Educação Infantil na educação básica, pois, tem o objetivo de ampliar relações sociais na interação das crianças com outras crianças, com adultos, além de conhecer seu corpo, espaço, brincar e expressar-se utilizando diferentes linguagens. As múltiplas linguagens ocorrem por meio de exploração do ambiente, brincando, imaginando, expressando suas emoções, pensamentos, desejos e sentimentos, e também, construindo significados. Faria e Salles (2007, p.61) ressaltam que,
As múltiplas linguagens ocupam um lugar fundamental, tendo em vista que cumprem o papel de mediadoras das relações entre vários sujeitos envolvidos nas ações realizadas [...], bem como possibilitam as interações das crianças com a natureza e com a cultura, construindo sua subjetividade e constituindo-as como sujeitos sociais.
As interações como um dos eixos citados nas DCNEI (
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil) têm como fundamentação teórica a proposta histórico-crítica, que considera a história do sujeito e suas relações sociais. Segundo Cardoso (2012), desde o nascimento a comunicação já está inserida na vida do indivíduo, sendo que cada um interpreta, interage e traduz a sua maneira de ver o mundo. A comunicação é desenvolvida primeiramente no meio familiar, e posteriormente na inserção na escola de Educação Infantil, um novo ambiente cercado de profissionais que estão prontos para acolher, compreender e principalmente ajudar a crianças a crescer e se desenvolver. Neste ambiente ela interage e se comunica de forma igual ou diferente que no âmbito familiar. Cardoso (2012, p.9) questiona, “Por que escolher uma concepção de linguagem?”. E relata que, “trabalhar a linguagem envolve a maneira de compreendê-la”.
Inserir as múltiplas linguagens no trabalho pedagógico na Educação Infantil é indispensável, pois, por meio delas as crianças terão possibilidades de explorar, brincar e se conhecer, tendo a disposição brinquedos, livros, materiais que estimulem a imaginação e incentivem os diversos modos de se expressar.
Segundo Barbieri (2012, p.28),“o acesso às várias linguagens artísticas na escola propícia a expressão singular de cada um, ao mesmo tempo em que exercita a participação coletiva.”. Barbieri (2012) ainda relata que, trabalhar com as múltiplas linguagens na educação infantil propicia a criança descobertas sobre o seu mundo de invenções, recebendo novos conhecimentos, e também, aprendendo a fazer novas coisas e estimular a imaginação.
O conhecimento na Educação Infantil acontece por meio da ação, da imaginação, do faz de conta e principalmente da interação com colegas e adultos que permeiam o fazer pedagógico cotidianamente. Cardoso (2012, p.14) afirma que, “é na interação que se constitui a linguagem.” Já, Barbieri (2012, p.18) ressalta que, “a imaginação e a criatividade das crianças não têm limites, o que favorece o desenvolvimento de sua potência e a exploração e apropriação de suas múltiplas linguagens, ampliando suas formas de expressão”. Desse modo, os autores afirmam que as interações devem fazer parte do desenvolvimento das crianças, e cabe ao professor, oferecer as mais diversas linguagens.
De acordo com Faria e Salles (2007, p.63), as múltiplas linguagens devem “ser pensadas e trabalhadas intencionalmente nas propostas pedagógicas [...] como objeto de conhecimento”. As autoras ainda relatam que as múltiplas linguagens devem ser trabalhadas nas relações entre criança e o meio onde está inserida, assim como as relações cotidianas tem que ter um compartilhamento de significados. Lembrando sempre que “as múltiplas linguagens devem ser trabalhadas como sistemas simbólicos que têm funções sociais e estruturas específicas, que possuem acervos culturais ricos e importantes.” (FARIA; SALLES, 2007, p.63).
Portanto, as múltiplas linguagens são indispensáveis na vida de crianças de 0 a 5 anos, pois, é por meio delas que acontecerá a apropriação do conhecimento, e, esse conhecimento deverá acontecer de diversas maneiras. Relatarei nos próximos subtítulos as múltiplas linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) e suas especificidades. As linguagens supracitadas pelos autores são a linguagem oral e escrita, a linguagem musical, a linguagem plástica e a linguagem corporal.
As linguagens orais e escritas são indispensáveis, pois possibilitarão que as crianças da Educação Infantil possam ampliar suas perspectivas de comunicação, compreensão, participação e acesso ao mundo da cultura falada e escrita. Com a linguagem oral a criança expressa seus pensamentos e se comunica, por meio dela, a criança estabelece relação consigo e com os outros. A linguagem oral é um meio eficaz de comunicação e interação social, lembrando que a linguagem oral não é apenas um vocabulário ou lista de palavras. Segundo Queiros (2015, p.126), “a linguagem oral deve ser considerada na Educação Infantil, na medida em que proporciona situações de fala, escuta e compreensão da língua por meio de situações e enunciados, ampliando as capacidades comunicativas das crianças”.
A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral acontecem gradativamente, e aos poucos a criança vai construindo frases e narrativas. Na Educação Infantil, é necessário um olhar mais crítico e pedagógico dos professores de modo que favoreça a apropriação e o desenvolvimento dessa linguagem, essencial para as interações (FARIA; SALLES, 2007).
De acordo com Gonçalves e Antonio (2008, p.05), “a linguagem é a mediação entre o sujeito e o ambiente, a fala é interação social. Quanto mais enriquecemos a linguagem das crianças mais tornaremos seu pensamento ágil, sensível e pleno.” De acordo com Queiros (2015), na Educação Infantil a linguagem oral deve ser inserida em situações de fala, escuta e compreensão da língua e, por meio disso, proporcionar à criança a ampliação de capacidades comunicativas. Segundo o RCNEI,
A ampliação de suas capacidades de comunicação oral ocorre gradativamente, por meio de um processo de idas e vindas que envolve tanto a participação das crianças nas conversas cotidianas, em situações de escuta e canto de músicas, em brincadeiras etc., como a participação em situações mais formais de uso da linguagem, como aquelas que envolvem a leitura de textos diversos. (BRASIL, 1998, p.127).
Devemos promover o contato com a leitura e a escrita por meio das múltiplas linguagens, e também, por meio de jogos, brincadeiras e principalmente a contação de histórias. Também é necessário proporcionar para a criança um ambiente onde ela tenha contato com livros, jornais, revistas, receitas, entre outros materiais que elas possam ver e tocar e que seja significativo para criança. Esse contato teria que ser por meio de práticas pedagógicas coerentes com a faixa etária da criança e de seu desenvolvimento cognitivo (QUEIROS, 2015).
Faria e Salles (2007, p.82) ressaltam que, “a linguagem escrita é um sistema de representação com símbolos, sinais e normas, convencionados em cada contexto histórico e cultural, criado pelo homem em função das suas necessidades.” As autoras ainda ressaltam que para haver a linguagem escrita na Educação Infantil, professores devem proporcionar situações em que a criança seja instigada e que haja curiosidade sobre esta linguagem. “Dessa maneira, é importante que se crie [...] um ambiente letrado que desafie as crianças a interagir com essa linguagem, compreendendo seus usos e funções”. (FARIA; SALLES, 2007, p.84). Nesse sentido, seria incoerente a instituição de Educação Infantil esconder as letras, porém não é papel da instituição alfabetizar.
Segundo Angelo (2013), professores da Educação Infantil devem proporcionar um ambiente que possibilite o aprendizado e exercício da linguagem. E também ressalta que a criança deve ser vista como sujeito de voz, e por meio do convívio com o outro, também se constitua como sujeito que “se produz na linguagem e que também a produz, na medida em que apreende o mundo e que o reinterpreta por suas ações.” (ANGELO, 2013, p.63).
A linguagem escrita também ocorre por meio do contato da criança com diferentes gêneros textuais como: poemas, receitas, advinhas, trava-línguas, entre outras. Por meio de histórias literárias oportuniza-se a inserção da linguagem oral e escrita, pois com as narrativas, as crianças terão uma gama de palavras e vocabulário a serem ouvidas e internalizadas. É nessa interação professor/criança/meio que acontece a linguagem oral e escrita.
A linguagem musical está inserida desde o nascimento da criança, pois, estamos inseridos em uma sociedade repleta de sons. Segundo o RCNEI, a música está inserida em todas as culturas, e em diversas situações. A música é uma linguagem e se traduz de formas sonoras diferentes, e é capaz de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos (BRASIL, 1998). “A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical.” (BRASIL, 1998, p.45). Para trabalhar a linguagem musical na Educação Infantil é necessário ir além de ensinar canções, é compreendê-la enquanto comunicação, interação, arte, sensibilidade, entre outros.
De acordo com o RCNEI, deve-se considerar a música como um meio de expressão e forma de conhecimento, pois, a linguagem musical é um excelente meio para ocorrer o desenvolvimento da expressão, autoestima, equilíbrio e autoconhecimento e principalmente a interação social (BRASIL, 1998). Lino (2007) relata que a tarefa principal da escola é educar esse ouvir, por meio de estratégias de representação, reflexão e percepção musical. O autor ainda ressalta que a linguagem musical ocorre por meio da organização do som. Os professores da Educação Infantil devem possibilitar em sua prática pedagógica um meio de descobertas e revelação dos imaginários infantis.
Outra linguagem importante no cotidiano da Educação Infantil é a plástica e o fazer artístico. Girardello et al (2012), ressalta que a arte e a imaginação devem estar na prática pedagógica de todas as escolas, e consequentemente de professores da Educação Infantil. “Uma escola que valoriza a arte como experiência e como conhecimento precisa de professores que compreendam o papel da imaginação nos processos formativos das crianças, na educação infantil”. (GIRARDELLO et al, 2012, p.160).
As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis. (BRASIL, 1998, p.85).
Desse modo, as artes plásticas para as crianças, são maneiras de se expressar, são suas criações, suas imaginações em ação. Faria e Salles (2007, p.76), ressaltam que “a aquisição da função simbólica possibilita às crianças compreender o mundo e se expressar também através da linguagem plástica e visual”. As autoras relatam que é importante que os professores possibilitem o desenvolvimento desta linguagem e que por meio dela a criança estabeleça uma relação de autoconfiança em suas produções e respeito a produções de outras crianças.
A linguagem plástica é importante na constituição do sujeito, e deve possibilitar as crianças, o acesso aos objetos e bens artísticos desenvolvendo e aprendendo a apreciar as obras de arte, e principalmente “o conhecimento e a utilização de diversos suportes, materiais, instrumentos e procedimentos que irão favorecer a sua expressão através dessa linguagem” (FARIA; SALLES, 2007, p.80).
Uma das linguagens que as crianças utilizam desde o nascimento é a linguagem corporal, que é identificada como movimento, expressão, manipulação de objetos, capacidade de controlar ações motoras e se descolar. Uma das primeiras conquistas das crianças é o movimento, por meio dele se conquista autonomia, noção de espaço e formação de identidade. Segundo Brasil (1998) o movimento é indispensável para o desenvolvimento humano e da cultura. Desde o nascimento o movimento está presente na vida da criança, e consigo traz a apropriação e possibilidades de interação com o mundo. Movimentando-se as crianças expressam emoções, sentimentos, pensamentos e ampliam suas possiblidades de uso significativo dos gestos e posturas corporais.
O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (BRASIL, 1998, p.15).
É necessário possibilitar situações que tenham significado e estimulem o domínio das possibilidades motoras das crianças, de modo que favoreça a autonomia (FARIA; SALLES, 2007). Portanto, a linguagem corporal para crianças da Educação Infantil é de extrema importância, por meio dela, eles se expressarão e se comunicarão, sendo por meio de gestos, mímicas ou expressões corporais.
As interações, os conhecimentos e o desenvolvimento que as múltiplas linguagens possibilitam às crianças na pré-escola são de suma importância e desse modo devem fazer parte do cotidiano infantil e das práticas pedagógicas de professoras e professores.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia utilizada na realização da pesquisa em primeiro momento através da revisão de Literaturas, releitura de textos e matérias já estudadas e aprofundamento dos conhecimentos teóricos. Utilizou-se também a pesquisa bibliográfica: por meio de pesquisas realizadas via internet, revistas e livros.
A pesquisa bibliográfica tem como foco conhecer as diversas contribuições científicas disponíveis sobre determinado tema. Ela também permite ao pesquisador estar em contato com o que já há de produção a respeito do seu objeto de pesquisa. Para Lakatos e Marconi (2010, p.166) “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O trabalho múltiplas linguagens pode ser realizado por meio de brincadeiras, músicas, dança, histórias, pinturas e colagem. Ao se promove as múltiplas linguagens compartilhando significados, formas de se expressar, de produzir sentidos múltiplos por meio da linguagem verbal, corporal, musical e visual. Cabe ao professor trabalhar com conteúdos diversos que abranjam desde cuidados básicos essenciais, até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento, organizando atividades diferenciadas, possibilitando o trabalho com várias linguagens, organizando materiais diferenciados, adaptando os locais utilizados e despertando o gosto pelo novo e diferente.
A importância das múltiplas linguagens para o ensino e aprendizagem das crianças no cotidiano da Educação Infantil, que com a utilização das múltiplas linguagens oferecemos às crianças oportunidades de alcançar o conhecimento, por meio de diferentes recursos, enriquecendo a prática pedagógica na Educação Infantil. As múltiplas linguagens são importantes, pois as mesmas proporcionam um desenvolvimento integral da criança. Trabalhar as linguagens corporal, musical, plástica, oral e escrita na sua prática pedagógica, por meio de gestos, brincadeiras, desenhos, dança, música, manipulação de objetos artísticos, pinturas, colagens, etc. Faria e Salles (2007, p.97) afirmam que, é importante que esse leque esteja aberto a novas possibilidades e que, em vez de nos empenharmos em delimitar ‘conteúdos mínimos’ [...] estejamos abertos para ‘possibilidades máximas’ de trabalho com as crianças, que têm na curiosidade a chave para adentrarem o mundo.
A importância de propor atividades onde se possa estar em contato com os mais variados objetos, texturas, formas, cores; tendo em vista que as crianças possam identificar variadas modalidades, como exemplo páginas da internet, dramatizações, observação de quadros, esculturas. A música também é uma grande aliada na prática pedagógica do professor. Essas linguagens são importantes no processo de ensino/aprendizagem.
De acordo com Lino (2007) é fundamental no trabalho pedagógico oportunizar um ambiente onde ocorram descobertas e revelações dos imaginários infantis por meio do fazer musical. O autor ainda ressalta que a linguagem musical deve estar presente no cotidiano da sala de aula.
Considera-se importante as múltiplas linguagens no cotidiano da Educação infantil, visto que as mesmas oferecem um desenvolvimento integral da criança, e também, é um meio das crianças se expressarem, comunicarem, e se desenvolverem. Por meio da pesquisa pode-se identificar quais são as múltiplas linguagens utilizadas na Educação Infantil, e também que algumas professoras não incluem determinadas linguagens no seu cotidiano. Percebe-se que algumas não sabem o real conceito de múltiplas linguagens, mas em alguns momentos relataram relevâncias de que as mesmas oferecem para o desenvolvimento da criança.
5. CONCLUSÃO
Considera-se importante as múltiplas linguagens no cotidiano da Educação infantil, visto que as mesmas oferecem um desenvolvimento integral da criança, e também, é um meio das crianças se expressarem, comunicarem, e se desenvolverem.
As múltiplas linguagens são de fundamental importância, pois contribuem no desenvolvimento integral da criança oportunizando a elas novas vivências, como se expressar melhor e explorar mais o ambiente no qual está inserida. As crianças precisam vivenciar novas experiências no espaço de educação infantil, ter oportunidade de desenvolver diferentes formas de sentir, pensar e solucionar problemas.
Com a pesquisa entende-se que as múltiplas linguagens na Educação Infantil podem proporcionar a expressão das crianças, e também, a construção de seus conhecimentos e principalmente, que se expressem de maneiras diversas, por meio da música, do movimento, da dramatização, da linguagem oral e escrita, e tudo isso tendo como ênfase o desenvolvimento integral da criança.
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