Buscar artigo ou registro:

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: ABORDANDO O ENSINO FUNDAMENTAL

Tania Prestes Dias Alberici

Cleunice Maforte da Silva

 

Problematização/ Situação-problema

O interesse por pesquisar o tema, se desenvolveu devido ao fato de trabalhar numa instituição de ensino e logo no início da docência perceber que alguns alunos apresentam dificuldades de aprendizagem. Notou-se que o nível de dificuldades também é diferenciado, pois algumas possuem maiores dificuldades de entender e assimilar os conteúdos e atividades propostos do que outras crianças. Esse fato despertou o interesse em estar pesquisando sobre o assunto, no intuito de entender o que leva estas crianças a esse problema, bem como desenvolver uma proposta de trabalho que venha contribuir com o ensino aprendizagem desses alunos.

Justificativa

Deste modo, justifica-se o tema escolhido uma vez que o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de interiorização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Isto é, o aluno precisa reconhecer-se como parte do cotidiano em que vive e produzir seus textos a partir desta realidade, todavia sendo trabalhado diversos temas e diferentes formas de ensino desde o início de sua via escolar, sendo ele próprio o transformador de sua história como cidadão.

As dificuldades que muitos alunos possuem segundo Emília Ferreiro (1996), produzem complicações na aprendizagem escolar e incidem no diagnóstico das crianças com problemas de adaptação. Com o alargamento da escolaridade obrigatória, evidencia-se cada vez mais o insucesso escolar e cabe aos docentes contorná-lo, criando na criança o que Ferreiro, coloca como "o desejo de aprender".

Objetivo Geral

Pesquisar quais são os fatores que levam os alunos do 2º Ano “A e “B”” da Escola Municipal de Educação Básica “Belo Ramo”, SINOP-MT, a apresentarem dificuldades no processo ensino/aprendizagem.

Objetivos Específicos

Pesquisar e entender como a escola trabalha o processo de ensino/aprendizagem;

Verificar quais são as principais dificuldades apresentadas pelos alunos alvo da pesquisa;

Identificar o perfil dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem;

Observar como a escola, professores e demais colaboradores podem contribuir para que estes possam superar suas dificuldades de aprendizagem

 

Fundamentação Teórica

Segundo Vygotski (1962), o conhecimento é adquirido através da mediação de várias relações: a linguagem (sistema simbólico dos grupos humanos que fornece os conceitos), a cultura (universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real) e o processo de interiorização (que envolve uma componente interna e outra externa e que sendo interpessoal se torna intrapessoal).

Para Vygotsky a aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com intervenção de um adulto; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e potencial - potencialidade para aprender, que é a mesma para todas as pessoas), nas quais as interações sociais são fundamentais, estando então ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados. Assim, um conceito a trabalhar com a criança. Ex.: noção de frases e palavras requer sempre um grau de experiência anterior para a criança, que se inicia pelo reconhecimento do alfabeto e este é compreendido a partir de uma ligação com algum objeto que faz parte do dia-a-dia do aluno.

Deste modo, justifica-se o tema escolhido uma vez que o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de interiorização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Isto é, o aluno precisa reconhecer-se como parte do cotidiano em que vive e produzir seus textos a partir desta realidade, sendo ele próprio o transformador de sua história como cidadão.

As dificuldades que muitos alunos possuem segundo Emília Ferreiro (1996), produzem complicações na aprendizagem escolar e incidem no diagnóstico das crianças com problemas de adaptação. Com o alargamento da escolaridade obrigatória, evidencia-se cada vez mais o insucesso escolar e cabe aos docentes contorná-lo, criando na criança o que Ferreiro, coloca como "o desejo de aprender

 

Metodologia da Pesquisa

Esta pesquisa insere-se numa abordagem qualitativa, que segundo Ivani Fazenda, refere-se ao fato de não poder insistir em procedimentos sistemáticos que possam ser previstos em passos ou sucessões como uma escada em direção a generalização, o que significa dizer que neste tipo de trabalho a ordem do desenvolvimento deste e os resultados podem superar ou contrariar as hipóteses levantadas.

Utilizou-se a metodologia qualitativa por considerar ser esta a mais adequada para compreender os fenômenos na mudança de comportamento da criança.

Segundo Minayo (1992, p.10):

A metodologia qualitativa é aquela que incorpora a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais. O estudo qualitativo pretende apreender a totalidade coletada visando, em última instância, atingir o conhecimento de um fenômeno histórico que é significativo em sua singularidade.


A lógica da pesquisa qualitativa é diferente dos métodos quantitativos. De acordo com Oliveira (1997, p. 116-7):

A pesquisa qualitativa possui a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou transformação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.


A metodologia qualitativa é o caminho ideal para penetrar e compreender o significado e a intencionalidade das falas, vivências, valores, percepções, desejos, necessidades e atitudes.

 

4.1 Pesquisas bibliográficas


A pesquisa bibliográfica contemplou a primeira etapa da pesquisa, a mesma contribuiu com o embasamento teórico necessário para o bom conhecimento e entendimento de como ocorrem às dificuldades de aprendizagem por parte dos alunos da Educação Infantil na escola.

Neste trabalho buscou-se construir conhecimentos a cerca das dificuldades de aprendizagem e o resultado de metodologias indicadas por pesquisadores arrolados nesta pesquisa para o trabalho pedagógico com o aluno diagnosticado com este tipo de problema.

De acordo com Lakatos e Marconi (1999, p. 73):

 

 

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnéticas e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contado direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.


Depois de realizada através de leituras em livros, revistas e artigos da internet, adquiriu-se maior segurança para proceder à segunda etapa da pesquisa que foi o estudo de caso ou pesquisa de campo, momento em que possibilitou na prática obter dados sobre quais eram os fatores que contribuem com o insucesso na aprendizagem dos alunos.

4.2 Pesquisas de Estudo de Caso

Para Oliveira (1997, p. 124), “A pesquisa de campo consiste em observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis presumivelmente para posteriores análises”.

Para Barbosa (1999, p.58), o estudo de caso “pressupõe que um número limitado de casos é expressivo de uma situação social mais abrangente”.

O estudo de caso ou pesquisa de campo refere-se à prática da pesquisa. Para Ventura (2002, p. 79), a “pesquisa de campo deve merecer grande atenção, pois devem ser indicados os critérios de escolha da amostragem (das pessoas que serão escolhidas como exemplares de certa situação), a forma pela qual serão coletados os dados e os critérios de análise dos dados obtidos.”

Segundo Oliveira (1997, p.117-8), a pesquisa em que envolve o estudo de caso tem por objetivo:

Estabelecer uma série de compreensões no sentido de descobrir respostas para as indagações e questões que existem em todos os ramos do conhecimento humano, envolvendo o mundo social. Por tanto, para aqueles que se submetem a pesquisar há a necessidade de utilizar de uma série de conhecimentos teóricos e práticos além da capacidade de manipular as técnicas, conhecer os métodos e outros tipos de procedimentos, com objetivo de alcançar resultados para as questões e perguntas formuladas até a apresentação final do documento.


A metodologia qualitativa é o caminho ideal para penetrar e compreender o significado e a intencionalidade das falas, vivências, valores, percepções, desejos, necessidades e atitudes.

4.3 População e Amostra

O público-alvo da pesquisa são os alunos do Ensino Fundamental, (2º Ano “A” e “B”) da Escola Municipal de Educação Básica “Belo Ramo” do Município de SINOP-MT.

Inicialmente, serão observados todos os alunos juntamente com as respectivas professoras no intuito de identificar quais são os alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem. Após a identificação, os mesmos passarão a fazer parte do projeto que tem por objetivo contribuir com a superação das dificuldades e realização da aprendizagem por parte dos alunos.

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO

No presente capítulo são colocados os dados coletados no estudo de caso. Salientando que após identificar entre os alunos aqueles que apresentavam um nível maior de dificuldades de aprendizagem optou-se por realizar um maior aprofundamento, buscando conhecer de forma mais efetiva cada caso. Primeiramente, apresentam-se os dados de identificação e histórico de uma aluna e de sua respectiva família; em seguida encontram-se os dados referentes aos aspectos sócio-econômicos e culturais.

Os dados apresentados a seguir foram retirados da anamnese realizada junto à família da aluna alvo da pesquisa, sendo que os nomes tanto dos pais quanto da criança são nomes fictícios, pois tem como objetivo resguardar o direito de privacidade dos envolvidos no estudo.

5.1 Identificações do aluno

 

Nome: Amanda

Endereço: Rua 2, Lote 13.

 

Data Nascimento: 25/02.

Idade: 8 anos.

Sexo: Feminino.

Naturalidade: Sinop.

Obs. A autora possui registro de todos os dados da criança, porém exibimos aqui apenas as informações pertinentes ao entendimento do tema.

 

5.1.1. Antecedentes ao Nascimento

 

Segundo a mãe de Amanda, a mesma estava com 39 anos de idade quando a filha nasceu. Seu nascimento ocorreu sete anos após o casamento. Amanda é a quarta filha da família e depois dela nasceram mais 3 irmãos, totalizando 7 crianças.

Sua mãe declarou ainda que o nascimento da filha não foi acidental, que ela desejou muito que ela viesse ao mundo; também disse que nunca teve nenhum aborto e que a gravidez de Amanda foi normal, foram feitos os exames de pré-natal e também Raio-X durante a gravidez. O nascimento de Amanda foi parto normal e ela chorou muito ao nascer.

5.1.2 Desenvolvimento

Com relação ao desenvolvimento a mãe de Amanda disse que ela mamou no seio, teve boa sucção e o desmame foi progressivo. Porém, teve problemas ao desmamá-la, pois não podia beber leite de vaca.

Quanto à idade em que iniciou manter sua cabeça ereta foi aos 6 meses, sentou-se aos 7 meses e engatinhou também aos 7 meses. Iniciando a caminhar a partir de um ano de idade. Sempre gostou de chupar o dedo e que quando com raiva de algum irmão ou coleguinha a sua principal defesa era puxar o cabelo.

Referente à fala a mãe disse que a filha iniciou a dizer algumas palavras como ‘mama’ e ‘papa’ aos 10 meses. Declarou que desde pequenina havia observado que apresentava alguma dificuldade para falar. Disse não conhecer nenhum caso de dificuldade com a fala na família.

Com relação ao sono, sempre foi muito tranqüilo ao dormir, nunca percebeu que sua filha tivesse acordado chorando, assustada ou falando enquanto dormia, nem mesmo apresentou algumas manifestações de medo de escuro. Disse ainda que ela não seja sonâmbula, nunca presenciou sua filha ter nenhum pesadelo e que a menina dorme de boca fechada.

A mãe disse que a filha dorme geralmente às 22 horas da noite e acorda às 6 horas da manhã, totalizando uma média de 8 horas de sono diária. As refeições são realizadas em horários regulares, respeitando-se a espontaneidade dos mesmos.

Já no quesito saúde a mãe declarou que sua filha havia recebido as seguintes vacinas: BCG, Tríplice, Sabin, Sarampo, Febre Amarela. Quanto às doenças que Amanda já teve destacam-se: Catapora e Caxumba. Um problema que sempre reclamou foi de dores de cabeça. Disse também que sua filha nunca tomou remédio controlado e que também nunca foi consultada por um oftalmologista ou fonoaudiólogo, para tentar descobrir porque tem problemas com a fala. Falou ainda que sua filha nunca recebesse nenhum tratamento dentário, mas que escova os dente em média três vezes ao dia.

 

5.1.3 Aspectos afetivos e culturais

No dia-a-dia da sua convivência tanto familiar quanto social, a mãe de Amanda disse que ela sempre foi uma criança muito alegre, prestativa, disciplinada e carinhosa, principalmente com relação aos irmãos menores. Declarou também que sua filha tem muita facilidade em fazer novas amizades e brincar em grupo, porém prefere brincar com crianças do mesmo gênero, ou seja, meninas.

Amanda é uma criança que gosta de passeio, festa e de visitar os amigos. A brincadeira que mais gosta é casinha. Durante o período que não estuda adora assistir desenhos na Televisão. Gosta de ajudar nos afazeres domésticos, a religião da família é a evangélica e ela sempre vai à igreja.

O relacionamento familiar é ótimo, mora com seus pais e sempre viveu com eles. Seu comportamento mediante adultos é o comportamento normal de uma criança da sua idade, se respeitada, os respeita também, mas não gosta de ser contrariada ou que tirem sarro ou mexam com ela. Porém, quando briga ou sofre alguma frustração não reage de outra maneira a não ser chorando muito.

Com relação à sexualidade, a mãe declarou que os pais nunca falaram sobre esse assunto com nenhum dos filhos até o momento da realização da anamnese.

Referente à escolaridade, a mãe disse que Amanda começou a freqüentar a escola aos 3 anos de idade quando conseguiu uma vaga na Creche. A mãe declarou que tentou conseguir uma vaga desde que ela nasceu, mas só conseguiu quando ela já tinha três anos, acrescentou que a vaga ainda foi numa creche localizada bem longe de sua casa, ou seja, a mesma mora no Jardim América, mas só conseguiu vaga no CAIC, cerca de 8 km de sua residência. Com 4 anos a menina passou para a pré-escola no Centro Municipal São Cristóvão. Desde que iniciou na pré-escola sempre teve problemas, pois não conseguia desenvolver as atividades. Nunca houve abandono da escola nem mudança.

Amanda sempre gostou de ir para a escola e faz suas tarefas, mas sempre precisa de ajuda. O tempo que dispõe para as tarefas é o período da tarde, a mesma não possui ainda atividades extra-escolares. É uma criança que adora computador, mas que nunca teve acesso ao mundo informatizado, pois as escolas que ela freqüentou até hoje não possuem laboratório, e a família também não possui computador em casa.

5.1.4 Aspectos econômicos


Declarou a mãe de Amanda que mora em residência de Madeira, sendo uma casa alugada contendo 4 cômodos (cozinha, banheiro e dois quartos). A mesma disse que a casa possuía uma sala e apenas um quarto, como a família era numerosa, transformou a sala em quarto. Nele ela colocou dois beliches, onde dormem as 4 crianças maiores, dois menores dormem em colchões no chão e o bebe dorme no mesmo quarto dos pais.

Com relação à água é encanada e possui poço. Quanto à iluminação, possui energia elétrica e o registro de consumo é realizado em relógio individual. Já o escoamento sanitário é feito através da fossa e a coleta do lixo é realizada pela prefeitura municipal, apenas uma vez por semana.

Quanto aos eletrodomésticos que possui são: um ferro de passar, uma geladeira, um fogão e uma Televisão. A mesma não possui máquina de lavar roupas, tendo que lavar todas as roupas dos filhos no tanque e a mão.

O meio de transporte é a bicicleta.

No quintal possui um pomar com alguns pés de frutas como manga, fruta do conde, abacate e ingá. Também possui uma pequena horta e uma criação de galinhas.

5.1.5 Outras considerações


Na família não há nenhum caso de pessoas nervosas, porém há um sério problema com o alcoolismo do pai da criança. Também a avó que tem problemas auditivos.

Foi observado que a mãe é uma pessoa bastante insegura, demonstrando isso durante todo o tempo da realização da anamnese.

Com relação à Amanda mostrou ser uma criança muito tímida e parecia sentir muito medo.

5.2 Análise e Interpretação dos Dados


Analisando os dados presentes na anamnese pode-se dizer que Amanda é uma criança normal, pertencente a uma família grande (9 pessoas), mas com uma situação econômica de certa forma desequilibrada.

Ao mesmo tempo em que teve uma infância e desenvolvimento também normal. Pela declaração da mãe ela não tem medo, mora com os pais e tem um ótimo relacionamento familiar, sendo uma menina carinhosa, alegre e muito prestativa.

Mesmo possuindo sérias dificuldades de aprendizagem, gosta muito de ir para a escola e de estudar. Com relação às tarefas de casa, quem a ajuda é os irmãos mais velhos, a mãe disse não ter tempo, pois tem muitos afazeres domésticos para dar conta.

Embora a mãe não tenha deixado transparecer que sua família passa por sérias necessidades, decorrentes da situação financeira, durante o período escolar de Amanda, por várias vezes ficou comprovado que a mesma passa fome, pois o que o pai ganha com seu trabalho, muitas vezes nem chega a entrar em casa, sendo deixado na conta do bar.

Quanto aos demais alunos de 7 e 8 anos, os fatores que desencadeiam as dificuldades apresentadas, foram observados e constatados os seguintes fatos:

Dentre as meninas que apresentam mais dificuldades com leitura e escrita foi observado que estas apresentam muito sono durante a aula, não prestando a atenção devida aos conteúdos repassados. A busca de informações sobre o que as leva a sentirem tanto sono durante as aulas, foi que as mesmas costumam dormir muito tarde e de manhã sentem sono. Uma criança relatou que é a mãe deixa na casa de uma amiga para poder trabalhar numa lanchonete e quando a vem buscar já está muito tarde, a mesma durante as aulas geralmente apresenta um comportamento agitado, procurando sempre chamar a atenção dos demais colegas de classe. Outras crianças já são mais tranqüilas. Ou melhor, distraídas, chegando às vezes, a ter a impressão que as mesmas, de corpo permanecem em sala, mas o pensamento está bem distante do objetivo de aprendizado, pois ficam o tempo todo pensando no mundo da lua, não conseguindo se concentrar e aprender o que vem sendo estudado em sala.

Outro caso constatado de alunos com dificuldades na aprendizagem são dois irmãos somente por parte materna. O casal tinha um filho (hoje com 11 anos) e se separaram, depois de algum tempo voltaram e a mãe estava grávida do menor (hoje com 7 anos) sendo que o pai era outro homem. Devido a isso, o casal vive brigando e o filho menor acaba ouvindo do padrasto que não é filho dele, e que é um bastardo. Esse menino é muito agressivo com os colegas, agitado e sem limites, está sempre batendo nos colegas e querendo chamar a atenção dos professores e demais alunos. A mãe relatou que em casa ele não apresenta o mesmo comportamento, dizendo que na escola ele se sente livre das punições do padrasto.

Há ainda mais um caso em que a mãe espanca os filhos por motivos de fome, desemprego e separação do marido. Segundo declaração da professora a menina não tinha tantas dificuldades de aprendizado, porém após a separação dos pais e a falta de controle da mãe passou a não demonstrar mais o mesmo êxito que vinha tendo. A mãe, mediante os problemas que enfrenta acaba descontando tudo nos filhos. Certo dia em que estava programada a entrega de notas e boletins, a mãe foi levada por sua filha a sala de aula. Chegando lá percebeu que a professora que se encontrava na sala era a mesma do período oposto, esse fato a deixou tão nervosa que ela acabou batendo no rosto da filha em frente a todos os professores e pais que se encontravam no local. A menina não é agressiva, porém chora muito e suas dificuldades vêm se agravando conforme os problemas vivenciados no dia-a-dia de sua casa, prejudicando a sua aprendizagem.

Foi constatado também que alguns alunos demonstram desinteresse pelos estudos por não receberem apoio das respectivas famílias, as mesmas não buscam mostrar para eles que poderão ter melhores perspectivas de vida se estudar. Os pais não se interessam pelas tarefas dos filhos, não olham seus cadernos e não se preocupam se falta algum material. No entanto, questionam a escola do porque da falta de materiais e de estudar determinado conteúdo, chegando a tirá-los da escola. Outros pais chegam a declarar que só mandam seus filhos para a escola para poder receber a “bolsa família”, já outros porque o Conselho Tutelar esta de “olho”, ou seja, fazendo acompanhamento da família. Existem ainda alguns pais que retiram seus filhos da escola porque vão morar na fazenda ou no mato, ao serem questionados sobre o estudo de seus filhos, alegam que os mesmos precisam de casa e de comida e que não conseguiram emprego na cidade. Isso tudo, é demonstrado diante dos alunos, não há uma preocupação em poupá-los de certos comentários absurdos e que podem vir a prejudicá-los tanto na escola como futuramente na vida.

Todos esses problemas familiares acabam criando um bloqueio no aprendizado dos alunos, a falta de afeto, auto-estima e segurança as levam a não conseguir atingir os objetivos propostos que em suma é o aprendizado.

Ao analisarmos a família dentro do contexto social bem como as relações de convivência entre seus membros, sua organização e estrutura perceberam que a violência está presente em seus diferentes aspectos; interferindo diretamente no aspecto afetivo e emocional da criança.

A violência não se deduz ao conjunto de práticas objetivas, mas revela-se também através das representações que fazem dela. Assim, atualmente, é considerada não somente por atos violentos concretos, mas pelas percepções que se tem a seu respeito e as representações que possui na sociedade. Essas percepções e representações ocorrem a partir de excesso e de carência. Ocorre por excesso, quando a alteridade e as diferenças culturais são objetos de fantasmas e medos. Nesse sentido, atores sociais “são suscetíveis de ser diabolizados, a tal ponto que lhes é freqüentemente imputada uma violência virtual que seria quase natural, essencial, ao passo que na verdade ela mantém grande distância, se é que ela de fato existe.”

Tais percepções e representações também podem ocorrer por carência, “na medida em que se inscrevem no prolongamento de problemas sociais clássicos, ou que não questionam modalidades mais fundamentais da denominação, são suscetíveis de serem negadas ou banalizadas”.

Boulding (1981) indica que a violência proveniente de estrutura social serve de masco para a violência do comportamento. Isso se aplica “tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de determinadas pessoas a quem se negam vantagens da sociedade, tornando-as mais vulneráveis ao sofrimento e à morte”.

A violência já é uma das temáticas centrais da saúde pública por conta de sua magnitude e pelas suas repercussões no comprometimento da qualidade de vida das pessoas. No Brasil, até a década de 60, as violências ocupavam o quarto lugar no perfil de mortalidade geral, passando ao segundo lugar nos anos 80 e 90. Desde então, para as faixas etárias de 5 a 39 anos, as causas externas são a primeira causa de óbito. Em algumas cidades brasileiras, já se nota essa predominância a partir de um ano de idade.

A violência contra crianças e adolescentes se expressa de várias formas e, em muitas delas, as fronteiras entre a família e o seu contexto social nem sempre são tão nítidas.

Assim, se traduz pelas formas estruturais quando seus direitos mais básicos são muitas vezes violados, como o acesso á escola, á assistência de saúde, bem como pela ausência de cuidados necessários para o seu desenvolvimento. Ocorre também quando esses sujeitos são vitimizados, ou seja, quando as formas interpessoais de violência os atingem pelos maus-tratos que se materializam nos abusos físicos, psicológicos, sexuais e na negligência ou abandono.

A violência familiar é considerada a principal razão a qual crianças e adolescentes deixam as suas casas e passam a viver nas ruas. Isso, de certa forma, pode explicar situações em que esses sujeitos vivam não só um espaço de exclusão social como também o abandono familiar físico ou simbólico.

Alguns autores consideram a violência doméstica como “uma violência intra-classes sociais, que permeia todas as classes sociais enquanto violência de natureza interpessoal tem na família sua ecologia privilegiada.”

A violência familiar se constrói a partir do âmbito “intra-familiar”. Desse modo, focaliza-se uma forma de violência familiar, que embora afete de maneira ampliada interações familiares e seus membros, dirige-se às crianças e adolescentes.

Na literatura especializada, costuma aparecer à idéia de que a violência familiar se expressa de diferentes formas e em todas as classes sociais.

Levando e conta as diferentes formas de entender o que vem a ser família, analisadas, observamos à existência de várias fronteiras entre o que é e o que não é familiar, tornando mais complexa ainda a análise da questão.

As teorias a cerca da violência familiar também possuem uma historicidade e um amplo conjunto de amplificações ideológicas subjacentes sobre a família que pratica e vivencia tais atos e os vários personagens e papéis que são desempenhados nessas interações.

Finkelhor (1983) observa que a denominação de violência familiar não se traduz apenas por uma simples agressão ou agravo provocado por um membro familiar contra outro. Mas os atos violentos que ocorrem no interior da família são antes de tudo um abuso de poder, seja pela ruptura de elos e vínculos de confiança, seja pelo uso da força. O mais ilustrativo exemplo seria o abuso sexual. Nesse tipo de abuso podem ser conjugadas duas dimensões de poder: o masculino vitimizando o feminino e o mais velho vitimizando o mais novo. No âmbito dos maus-tratos físicos também ocorre o poder do mais forte vitimizando o mais fraco.

Isso exposto cabe constar que a violência manifestada de qualquer forma, seja ela direta ou indiretamente, por palavras, gestos ou atitudes, podem causar na criança não a sensação de não ser gostado, essa sensação gera insegurança, maior dependência emocional, o desejo de regredir, estagnar ou, então, o medo de conhecer, o desejo de ignorar, esquecer ou, em caso último, destruir, morrer. Do contrário, a sensação de ser gostado, amado, resulta em segurança, esta por sua vez traduz-se em autonomia, gosto de descobrir, conhecer, desejo de crescer, pensar, sonhar, criar, viver.

Embora já se tenha certeza sobre a importância da violência familiar na formação infanto-juvenil, muito ainda se desconhece sobre os mecanismos e influências que podem interferir nesse processo.

No que se refere ao atendimento a família pode-se considerar a família como eixo central da atenção nos casos de violência doméstica; vem-se discutindo sobre seu papel na forma de cuidados que oferece a sua prole bem como sua responsabilidade em promover “ambiente familiares saudáveis”.

O atendimento à família já está respaldado no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei Federal 8069/90, que se apóia em três eixos articulados entre si, formando o Sistema de Atendimento e Garantia de direitos. 1) Eixo de Promoção: responsável pela deliberação e formulação da Política de Atendimento (Conselho Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos Setoriais como os de Educação, Assistência Social e outros); 2)Eixo de Controle: vigilância dos preceitos legais(sociedade civil articulada em fóruns, frentes, pactos e ONGs de estudo e pesquisa): 3) Eixo de Defesa: responsabilização do Estado, da sociedade e da família pelo não atendimento ou violação dos direitos da criança e do adolescente ( Conselhos Tutelares, Ministério Público, Varas da infância e Juventude).

Porém, para que as políticas de prevenção e intervenção obtenham maior êxito, faz-se necessário confrontar os múltiplos modelos explicativos sobre violência cometida contra a infância e a adolescência. Articulando desde “a singularidade de cada caso, ao conhecimento acumulado no atendimento de milhares de famílias envolvidas na prática de maus-tratos.” No entanto, para que isso se efetivasse deveriam existir políticas públicas mais sérias e compromissadas em analisar e resolver os problemas existentes.

No caso de Sinop, o que se percebe é que as políticas públicas existentes, bem como o pessoal e os recursos disponíveis são insuficientes para efetuarem uma ação mais concreta, de modo a não liquidar de vez com o problema, mas pelo menos minimizá-lo, o que se percebe é que a cada dia que passa o mesmo vem se agravando mais e as escolas e professores não estão dando conta de ensinar as crianças e ao mesmo tempo resolver os problemas de suas famílias.

Em geral, famílias que convivem com a violência se encontram socialmente isoladas do que as que não apresentam esse padrão de comportamento, assim uma rede de suporte social pode contribuir para que ambientes familiares tornem-se menos violentos. Os serviços de atendimento a famílias que conseguem ter uma escuta empática no lugar de uma atenção burocrática, mecânica e fria, conseguem atuar e caminhar na solução dos problemas e na participação dos usuários na busca de soluções. Esses serviços devem pensar na condução de suas ações acerca dos princípios; a promoção da auto-estima, o potencial do grupo familiar o fortalecimento de vínculos, as dimensões éticas, estéticas e comunicativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Com o presente estudo foi possível identificar os principais fatores que influenciam no aprendizado da leitura e da escrita, bem como também foi possível verificar quais são os fatores que podem resultar em problemas ou dificuldades de aprendizado por parte dos alunos.

Enquanto teoria entendeu-se que as dificuldades que muitos alunos possuem na leitura e escrita produz complicações na aprendizagem escolar e incidem no diagnóstico das crianças com problemas de aprendizagem. A pesquisa bibliográfica possibilitou entender que existem quatro habilidades da linguagem verbal: a leitura, a escrita, a fala e a escuta. Dentre estas, a leitura é a habilidade lingüística mais difícil e complexa, pois este é um processo que compreende duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão.

Quanto aos fatores que influenciam de forma fundamental o processo de aprendizagem são: a) a saúde física e mental; b) a motivação; c) a maturação; d) a inteligência; e) a atenção e f) memória. Já as dificuldades de aprendizagem podem ter por base fatores como: a) orgânicos; b) psicológicos; c) pedagógicos e d) sociais.

Enquanto estudo de caso, constatou-se que os alunos que apresentam maiores dificuldades são crianças que pertencem às famílias de baixa renda, já que percebeu-se que os alunos apresentam dificuldades de leitura e escrita, mesmo recebendo uma refeição antes de entrar em sala de aula, vivem preocupados com a hora do recreio, até porque repetem duas e até três vezes a refeição que lhes é servida. A fome é um problema que atinge a aluna selecionada por apresentar maiores dificuldades de aprendizagem, bem como também outras crianças da escola.

Os demais alunos observados no decorrer do período de dois anos, pode se afirmar que os fatores que desencadeiam as dificuldades de aprendizagem dos mesmos são de origem social e psicológica, resultante dos problemas apresentados por seus familiares. Estes por sua vez levam os alunos a se sentirem inseguros e desmotivados, desconcentrando-se e não aprendendo de forma adequada os conteúdos que são aplicados.

A família é o primeiro e talvez o principal grupo social em que a criança vive. É nela que aprende a construir sua individualidade e independência. No caso de famílias que possuem problemas econômicos, psicológicos e sociais é muito importante o contato com outras famílias que enfrentam os mesmos problemas e do apoio da escola e dos órgãos competentes.

Os pais precisam estar conscientes e mobilizados para participar, apoiar e trabalhar em conjunto, com união e harmonia em prol do aprendizado de seus filhos. A escola, porém, não se encontra preparada nem possui o respaldo necessário para ajudar essas famílias, limitada trabalha dentro de suas possibilidades, preocupando-se apenas com o futuro da criança, ou seja, do aluno, uma vez que não compete a ela resolver a raiz do problema, que seria contribuir para resolver os problemas apresentados pelas famílias, como o caso do alcoolismo e da violência.

Concluí-se que a violência familiar pode trazer comprometimentos a crianças e a adolescentes que se diferenciam dos maus-tratos ocorridos fora da família. Em todas as formas de violência familiar, os maus-tratos ocorrem num contexto de violência psicológica e exploração, que é denominado, como “lavagem cerebral”. As vítimas não são apenas exploradas ou maltratadas psicologicamente. Seus agressores, mediante seu poder e a conexão familiar, controlam e manipulam a percepção da realidade de suas vítimas.

 

 

 

 

Cronograma:

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

ANO - 2012

MESES

 

MAR

ABRIL

MAIO

JUN

JUL

Leituras e Pesquisa bibliográfica

X

X

X

X

 

Levantamento de Dados

X

X

 

 

 

Análise e interpretação de dados

 

 

X

 

 

Dissertação do Trabalho de Conclusão de Curso

 

 

 

X


 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:

ALLIENDE, G. Felipe & CONDEMARIN, G. Mabel. Leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. 2. Ed. São Paulo: Cortez 1999.

DROUET, Ricardo. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 1990.

FAZENDA, Ivani (org.) Metodologia da pesquisa educacional. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 1997.

GOLDSTEIN, Sam & GOLDSTEIN, Michael. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da criança. MARCONDES, Maria Celeste (Trad.). Campinas/São Paulo: Papirus. 1994.

KATO, Ademilde Aparecida Gabriel. Os aspectos que podem influenciar o processo de aprendizagem: um estudo de caso. Monografia de Pós-Graduação – Especialista em Psicopedagoga Clínica e Institucional. Centro de Estudos Superior de Maringá. Maringá/PR, 2001.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 1999.

MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e Escola: sobre a formação do gosto. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MARTINEZ, Magda, GARCÍA, Madalena. & MONTORO, Jorge Aurélio. Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

MINAYO, M. C. DE. S, O Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde. 2. Ed. São Paulo-Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco. 1992.

MONTEIRO, Marisa. & SANTOS, Maria Auxiliadora. Psicologia da Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia cientifica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1997.

PIAGET, Jean. Sistema em que funciona a aprendizagem. In: GROSSI, Esther Pillar. Didática da Alfabetização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Vol. III 1981.

ROCHA João Guimarães & FIDALGO, Zenaide. Psicologia. In: CHIAPPINI, Ligia, (Coord.) et. al. Aprender e ensinar com textos. São Paulo: Cortez, 1998.

VIGOTSKY, Levi S. O texto e a construção dos Sentidos. São Paulo: Contexto, 1993.