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JOGOS E BRINCADEIRAS NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA

 

Eliane Menegatti Berti
Karla Regina Tercal
Maria Solange Pinheiro de Sousa
Leidjane Nicolau Mendes
Neiva Brun

 

Resumo

 

Este artigo tem como intuito reforçar a necessidade de incluir o brinquedo, o jogo e a brincadeira na pré-escola, mudando a visão de que ambos não contribuem para a aprendizagem da criança e de que o professor que realiza tais atividades quer apenas poupar o seu tempo. No entanto, sabe-se que os jogos e brincadeiras são atividades de caráter lúdico, que por sua vez, favorece o cognitivo infantil, fazendo com que a criança seja capaz de construir a própria identidade e, conseguinte adquirir sua autonomia. Por vezes, as brincadeiras são momentos recriados do dia a dia dos adultos vivenciados pelas crianças, que misturados com sua imaginação se transformam em aprendizagem. Os jogos e brincadeiras contribuem de forma significativa para o progresso das capacidades de suma importância para a criança, tais como a coordenação motora fina e grossa, a socialização, a imitação, a memória, a criatividade, etc., sendo também, essenciais para promover suas competências e habilidades, preparando as crianças para as séries posteriores para a vida.

Palavras-chave: Aprendizagem; Identidade; Autonomia; competências; habilidades.

 

Introdução

 

Este artigo visa demonstrar a importância e a necessidade de incluir os jogos e as brincadeiras durantes as aulas para promover de maneira positiva a aprendizagem das crianças, fugindo da rotina de atividades impressas, criando um ambiente cheio de descontração voltada ao ensino/aprendizagem.

As brincadeiras, bem como os jogos e os brinquedos estão presente em nosso meio há muito tempo, antigamente não havia distinção entre jogos e brincadeiras de crianças e adultos e nem de menina e menino. Com o passar dos tempos, vieram as separações de coisas de crianças e coisas de adultos e, consequentemente a separação de brincadeiras de menina e de menino.

Os brinquedos, as brincadeiras e os jogos auxiliam as crianças na pré-escola tanto a oralidade quanto psicomotor, contribui também para a construção da identidade e autonomia da mesma por meio das reproduções vivenciadas no seu dia a dia.

O RCNEI traz os jogos as brincadeiras para a sala de aula de uma forma peculiar, visando a importa do desenvolvimento da criança, sobretudo, o faz-de-conta usando sua imaginação, criando situações que permitem experimentarem outros papéis, aventuras e tudo mais que sua imaginação permitir, além de aprender a conviver em sociedade e a importância de obedecer as regras estabelecidas em cada jogo e brincadeira.

 

JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA FERRAMENTA PARA A APRENDIZAGEM

 

Sabemos que as brincadeiras e os jogos estão presente em nosso meio desde a antiguidade e, de acordo com a autora Maria Viana (2015), a história de ambos é tão antiga a da própria humanidade, sendo comprovada por meio de descobertas arqueológicas, tendo como os brinquedos mais antigos o ioiô confeccionado em cerâmica na Grécia, os piões na Babilônia feito de argila, a pipa na China, etc., e os jogos na Roma Antiga realizada por crianças daquela época.

Brinquedos comuns como bonecas e brincadeiras de cozinha, etc., no passado, durante a Idade Média eram utilizadas como um meio para preparar as meninas no futuro. No Brasil, atualmente, os indígenas fazem uso do chocalho para espantarem os maus espíritos, função atribuída a este brinquedo desde do povos antigos, já para outras culturas o chocalho trata-se de um meio para entretenimento do bebê apenas.

De acordo com Viana (2015), os jogos eram visto como preparação para uma boa colheita, se a performance nos jogos gerassem bons resultados, posteriormente, haveria uma colheita abundante. Os jogos por sua vez, marcavam também as mudanças das estações, nascimento de novos membros da sociedade e até mesmo a morte os líderes, uma cultura marcada por jogos e brincadeiras comunitárias e religiosas em ocasiões importantes na época, envolvendo crianças e adultos, sem qualquer diferença entre feminino e masculino.

Viana (2015), ressalta, que com o passar dos tempos, os jogos e as brincadeiras foram perdendo gradativamente seu cunho religioso e comunitário, voltando todo e qualquer tipo de jogos e brincadeiras apenas para coisas de criança e não de adultos, colocando uma espécie de divisor entre o mundo infantil e o adulto.

Com o passar do tempo, os jogos e as brincadeiras foram paulatinamente sendo dissociados do seu caráter religioso e comunitário. Nesse processo, elas foram sendo apropriados pelas crianças, surgindo assim a ideia que impera na atualidade de que as brincadeiras e os jogos podem ser praticados coletivamente ou individualmente, mas só por crianças (p. 12).

 

Com o passar dos tempos, os brinquedos passaram a ser feitos com indicações para públicos determinados, ou seja, bonecas para meninas e carrinhos para meninos, com o intuito de prepararem as crianças para a fase adulta, onde a mulher cuida da casa e da família o marido trás o sustento do lar. Conforme as ideias de Viana (2015), hoje já não faz mais sentido ter separação entre brinquedos de menino e brinquedos de menina, acontecendo também com as brincadeiras e jogos, uma vez que nossa sociedade teve grande avanço, onde homens e mulheres realizam todo e qualquer tipo de atividades sem que haja a diferenciação dos gêneros.

O Referencial Curricular (RCNEI, 1998), tem o brincar como um instrumento fundamental na Educação Infantil, ressaltando a importância de oferecer as crianças ferramentas necessárias para que use sua criatividade. A criança usa a brincadeira como uma forma de linguagem relacionada a tudo o que não é brincadeira, reconhecendo a diferença entre o brincar e a realidade.

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre a brincadeira e a realidade imediata lhe ofereceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada (RCNEI, vol. 1 de 1998, p. 27).

 

A criança retrata em suas brincadeiras tudo o que vivencia no cotidiano, recriando alguns acontecimentos de acordo com os materiais disponíveis e o uso de sua imaginação, desenvolvendo sua autonomia através se suas ações em forma de brincadeira.

As crianças quando brincam, utilizam-se muito do faz-de-conta, representando outros papéis que difere daquilo que a criança realmente é, modificando seus atos de acordo com a realidade reproduzida na brincadeira, aumentando sua autoestima, sua capacidade de criação, suas habilidades e seu imaginário.

Os conhecimentos adquiridos da realidade pela criança, tornam-se em ideias para o brincar. Esses conhecimentos ocorrem por meio das cópias das ações dos adultos, de outras crianças e até mesmo de filmes, desenhos e programas de televisão, solucionando a sua maneira os problemas impostos pela própria brincadeira - reprodução da realidade vivida.

O brincar é essencial para o desenvolvimento das competências e habilidades da criança, é através da brincadeira que ela interage com o mundo adulto, ampliando sua imaginação acerca de suas vivencias, moldando sua identidade e autonomia por meio do brincar.

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (RCNEI, vol. 2, p. 22).

 

O RCNEI, enfatiza a importância do faz de conta, pois a criança amplia seu repertório de conhecimento, vivenciam a realidade de uma forma descontraída, criando e recriando por meio de sua imaginação um mundo repleto de fantasias.

Os jogos e as brincadeiras quando propostos em sala de aula devem promover as habilidades e competências no desenvolvimento da criança, permitindo que as crianças aprendam de maneira prazerosa sem que se sintam obrigadas. O professor dever elaborar as atividades de forma que contemplem todas as crianças, e que busque também por inovação para suas aulas.

De acordo com Luana Vignon e Marcos Saliba (2015), os jogos são capazes oferecer a criança inúmeros estímulos, contribuindo grandemente para a aprendizagem da mesma, bem como o desenvolvimento cognitivo, físico e psicológico. Os jogos por possuírem regras que devem ser seguidas, permite que a criança aprenda a controlar seus sentimentos, a tomar decisões e principalmente a trabalhar em equipe quando se faz necessário para que os objetivos dos jogos sejam alcançados.

 

O brincar na pré-escola por Gisela Wajskop

 

O tema brincadeira, quando retratada na educação, faz-se referência ao crescimento infantil estando presente na proposta curricular das escolas de diferentes formas, porém, a ideia inicial em todas as tendências pedagógicas eram sempre parecidas.

De acordo com Wajskop (2001) Vigotsky e seus colaboradores consideraram que as brincadeiras adveio através da educação e da cultura entre os povos, e com fundamento nas ideias de Platão e Aristóteles, a autora pode notar que desde os primeiros acontecimentos educacionais faz-se uso de brinquedos para o desenvolvimento da criança, sendo este, uma junção da brincadeira com os estudos, utilizando-se também de comidas, explorando as possibilidades de ensinar as crianças em todas as áreas do conhecimento, tendo a brincadeira uma maior estima no âmbito educacional, que antes, era vista apenas como um passa tempo e não como um meio de ensino/aprendizagem para as crianças.

No entanto, é apenas com a ruptura do pensamento romântico que a valorização da brincadeira ganha espaço na educação das crianças pequenas. Anteriormente, a brincadeira era geralmente considerada como fuga ou recreação e a imagem social da infância não permitia a aceitação de um comportamento infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si (WAJSKOP, 2001, p. 19).

 

Somente com a nova visão em relação a brincadeira, é que o espontâneo da criança passa a ser valorizada, notando que o faz-de-conta realizado pela criança, faz menção a realidade a qual se vive, reproduzindo o seu dia a dia em suas brincadeiras.

A educação verbal na pré-escola foi dissipada, dando lugar a educação sensorial na educação infantil, tendo como prioridade na aprendizagem da criança somente o básico, como cores, formas, higiene, bons modos, movimentos corporais, etc., ou seja, a inserção de atividades lúdicas por meio dos brinquedos, jogos e brincadeiras com o assegurando de que a criança continue sendo criança no período em que se encontra na escola, recebendo conhecimentos de forma indireta para que não sobrecarregue a mesma.

Para Wajskop (2001), “a brincadeira é um fato social” (p. 28), pois, é por meio da brincadeira que a criança coleciona vivencias, dando início a sua autonomia, criando e recriando a partir da realidade, mediatizadas pelos adultos, na sociedade em que se encontram inseridas.

É por meio das brincadeiras que as crianças socializam com meio, adquirindo novas experiências e exprimindo seus pensamentos, sem as pressões do cotidiano do mundo dos adultos, sendo a brincadeira também um espaço de repetição de regras e valores para as crianças.

Portanto, a brincadeira é uma forma de atividade social infantil cuja característica imaginativa e diversa do significado cotidiano da vida fornece uma ocasião educativa única para as crianças. Na brincadeira, as crianças podem pensar e experimentar situações novas ou mesmo do seu cotidiano, isentas das pressões situacionais. No entanto, é importante ressaltar que, pelo seu caráter aleatório, a brincadeira também pode ser o espaço de reiteração de valores retrógrados, conservadores, com os quais a maioria das crianças se confronta diariamente. [...]. (WAJSKOP, 2001, p. 30-31).

 

Vale ressaltar, que na maioria das vezes, as crianças em suas brincadeiras assumem o papel do adulto, recriando, assim, alguns acontecimentos presenciados pela mesma, sendo o protagonista da própria brincadeira.

 

Conclusão

 

Na maioria das vezes, os jogos e brincadeiras nas escolas são vistos pelos pais como uma forma de passar o tempo para os professores, por acreditarem que para os profissionais é mais fácil deixar a crianças brincar por conta, do que realmente ensinar a ler e as escrever, pois, não entendem a importância de se respeitar a fase em que a criança se encontra.

Os brinquedos, as brincadeiras e os jogos, tem papéis fundamentais na construção do ser da criança desde a antiguidade, sendo os mesmos de suma importância na construção de identidade a autonomia, permitindo que a criança viva por alguns momentos de uma forma diferente e, que reviva esses momentos quantas vezes ela achar necessário e quantas vezes seu imaginário permitir, é por meio das brincadeiras de faz-de-conta que a criança constrói um mundo repleto de fantasias, misturando-o com o mundo real no qual vive, assumindo por vezes o papel do adulto, criando novas possibilidades, adquirindo novas aprendizagens e novas experiências.

Na escola não é diferente, a criança se socializará por meio das atividades lúdicas ofertadas pelos professores, é através dos jogos que aprenderá respeitar as regras, é através das brincadeiras que aprenderá a se socializar com meio, é por meio dos brinquedos que aprenderá a compartilhar.

Assim sendo, conclui-se que os jogos e brincadeiras contribui de forma positivas para o desenvolvimento da criança intelectual da criança, bem como também para a coordenação motora tanto fina como grossa, além de não deixar as aulas cansativas, evitando assim, que todas as aulas sejam apenas lápis e papel.

 

Referencias

 

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1.

 

Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 2.

 

VIANA, Maria. Sou educador: educação infantil / Maria Viana. 1. Ed. – São Paulo: Eureka, 2015.

 

VIGNON, Luana. Guia do Educador: teorias pedagógicas: educação infantil / Luana Vignon, Marcos Saliba. 1. Ed. – São Paul: Eureka, 2015.

 

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola / Gisela Wajskop, 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. – (Coleção Questões da Nossa Época: v. 48).