Sedentarismo e a importância da atividade física
Aparecida da Silva
DOI: 10.5281/zenodo.15426063
RESUMO
O sedentarismo é considerado um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e obesidade. A crescente urbanização e a adoção de hábitos de vida inativos contribuem significativamente para a redução da qualidade de vida da população. A prática regular de atividade física, por sua vez, é apontada por diversos estudos como essencial para a promoção da saúde física e mental, além da prevenção de enfermidades. Este artigo tem como objetivo discutir os impactos do sedentarismo na saúde pública e destacar a importância da atividade física como ferramenta preventiva e terapêutica. Através de revisão bibliográfica, fundamentada em autores como Caspersen et al. (1985), Matsudo et al. (2001) e Nahas (2006), o estudo reforça a urgência de políticas públicas e intervenções educativas que estimulem a adoção de estilos de vida ativos.
Palavras-chave: Sedentarismo. Atividade física. Saúde pública. Qualidade de vida Prevenção.
Introdução
O estilo de vida contemporâneo tem promovido uma série de transformações comportamentais que impactam diretamente a saúde da população. A crescente automatização das atividades cotidianas, associada ao uso excessivo de tecnologias e à redução de atividades físicas espontâneas, tem contribuído para o aumento significativo do sedentarismo em diversas faixas etárias. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), mais de 25% da população mundial adulta não atinge os níveis recomendados de atividade física, o que agrava os riscos de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs).
O sedentarismo caracteriza-se pela ausência ou insuficiência de movimentos corporais que promovam gasto energético significativo. Caspersen et al. (1985) definem atividade física como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto energético, sendo esta uma das principais estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças. Em contrapartida, o comportamento sedentário está associado ao aumento de comorbidades, à diminuição da capacidade funcional e ao comprometimento da qualidade de vida.
Estudos como os de Matsudo et al. (2001) e Nahas (2006) apontam que a atividade física regular não apenas previne doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes, como também contribui para o bem-estar psicológico, a melhora da autoestima e a socialização. Além disso, evidencia-se a importância de políticas públicas que incentivem a prática de atividades físicas nas escolas, ambientes de trabalho e comunidades, como forma de combater o sedentarismo de maneira ampla e sustentável.
Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo discutir os impactos do sedentarismo na saúde humana e enfatizar a relevância da prática de atividade física regular como fator fundamental para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida. Para tanto, será realizada uma análise teórica com base em literatura especializada, com o intuito de contribuir para reflexões e práticas mais eficazes no enfrentamento desse problema de saúde pública.
Desenvolvimento
O sedentarismo é reconhecido como um dos principais fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer. A inatividade física compromete não apenas o funcionamento do organismo, mas também o bem-estar mental e emocional dos indivíduos. No Brasil, essa realidade assume proporções alarmantes, conforme apontado pela Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2020), que revelou que aproximadamente 40,3% dos adultos não praticam atividades físicas suficientes para atender às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Victor Matsudo et al. (2001), ao estudar o panorama do sedentarismo no Brasil, introduziram o conceito de “doença do século”, ao considerar os impactos negativos da inatividade física sobre a população. A criação do programa Agita São Paulo serviu como modelo para campanhas públicas voltadas à promoção da atividade física, envolvendo escolas, empresas e comunidades. Esse tipo de iniciativa evidencia a importância das intervenções intersetoriais e contínuas para transformar hábitos culturais e estimular estilos de vida mais ativos.
Segundo Nahas (2006), a promoção da atividade física deve ser pensada de maneira integrada, considerando aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais. A prática de exercícios não deve se restringir a academias ou clubes privados, mas ser incorporada ao cotidiano das pessoas, como caminhar, pedalar, dançar ou praticar esportes recreativos. Isso demanda também o investimento em infraestrutura urbana adequada, com ciclovias, praças, parques, academias ao ar livre e calçadas acessíveis.
Além dos efeitos sobre a saúde física, a atividade física regular tem um papel fundamental na prevenção de doenças mentais, como depressão e ansiedade. De acordo com Barreto de Lima (2013), os exercícios físicos promovem a liberação de neurotransmissores como a endorfina, dopamina e serotonina, que contribuem para a regulação do humor e a sensação de bem-estar. Esses benefícios são particularmente importantes em um cenário marcado pelo estresse, pelo uso excessivo de telas e pelo isolamento social.
Pitanga (2008) acrescenta que os níveis de aptidão física estão diretamente associados à longevidade e à independência funcional em idosos. A prática regular de exercícios em idade avançada reduz o risco de quedas, melhora o equilíbrio, fortalece a musculatura e favorece a cognição. Nesse contexto, programas específicos para a terceira idade são fundamentais para garantir uma velhice mais ativa, autônoma e saudável.
Outro fator que merece destaque é a atuação da escola como agente formador de hábitos saudáveis. De acordo com Nahas (2010), o ambiente escolar deve ser um espaço de valorização do movimento, por meio de aulas de educação física significativas e projetos interdisciplinares que incentivem práticas esportivas, recreativas e de conscientização corporal. O estímulo precoce à atividade física favorece o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças e adolescentes, além de contribuir para a construção de uma cultura de saúde.
Apesar dos avanços em campanhas e políticas públicas, ainda há muitos desafios. A desigualdade social e o acesso limitado a espaços seguros para a prática de exercícios são obstáculos que afetam principalmente as populações de baixa renda. É fundamental que o Estado invista em estratégias comunitárias, formação de profissionais capacitados e parcerias com o setor privado, ampliando o alcance e a efetividade das ações.
Por fim, a abordagem do sedentarismo como questão de saúde pública deve considerar a educação para a saúde como elemento-chave. A conscientização sobre os riscos da inatividade e os benefícios da atividade física precisa ser reforçada por meio de campanhas permanentes, ações educativas nas escolas e políticas de incentivo ao esporte, ao lazer e à mobilidade ativa, como o uso da bicicleta e a caminhada.
Conclusão
O sedentarismo configura-se como um dos grandes desafios à saúde pública contemporânea, agravado pelas transformações sociais, econômicas e tecnológicas que reduziram drasticamente a mobilidade cotidiana da população. A inatividade física está intimamente ligada ao aumento da incidência de doenças crônicas não transmissíveis, comprometendo não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e a qualidade de vida.
Diante desse panorama, torna-se evidente que a atividade física deve ser compreendida como uma necessidade básica e acessível a todos, e não como um privilégio ou obrigação esporádica. A prática regular de exercícios, além de contribuir para a prevenção de enfermidades, favorece o equilíbrio mental, o convívio social, a autonomia funcional e o envelhecimento saudável.
Autores como Matsudo, Nahas, Pitanga e Barreto de Lima reforçam, com base em evidências científicas, que o combate ao sedentarismo exige uma ação integrada entre poder público, instituições educacionais, setor privado e sociedade civil. É preciso investir em políticas públicas que promovam ambientes favoráveis à atividade física, desde a infância até a terceira idade, com ações que contemplem infraestrutura, educação, incentivo fiscal e campanhas de conscientização permanentes.
Portanto, a superação do sedentarismo requer não apenas a mudança de comportamentos individuais, mas também a construção de uma cultura coletiva que valorize o corpo em movimento, o lazer ativo e a saúde como direito de todos. É nesse contexto que a atividade física se apresenta como uma ferramenta poderosa para transformar vidas e comunidades de forma sustentável e inclusiva.
Referências
BARRETO DE LIMA, A. M. Atividade física e saúde mental: uma abordagem neuropsicológica. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 18, n. 1, p. 89-96, 2013.
CASPERSEN, C. J.; POWELL, K. E.; CHRISTENSON, G. M. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health Reports, v. 100, n. 2, p. 126–131, 1985.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal. Rio de Janeiro: IBGE, 2020.
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MATSUDO, V. K. R. et al. Sedentarismo: fatores e consequências. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 9, n. 3, p. 41-47, 2001.
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NAHAS, M. V. et al. Promoção da saúde na escola: tendências internacionais e experiências brasileiras. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 15, n. 2, p. 119-124, 2010.
PITANGA, F. J. G. Epidemiologia, atividade física e saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
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