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A importância do lúdico para crianças com TEA - Transtorno do Espectro Autista

Felipe Stival Harter

Mariane Vechetin Begnami

Nathaly Servilha Harter

 

DOI: 10.5281/zenodo.15593996

 

 

RESUMO

O TEA afeta as capacidades de adaptação, comunicação, interação social e aprendizado daqueles que o possuem, dificultando a aprendizagem dessas crianças em escolas regulares. Sendo assim, o objetivo desse trabalho é analisar a importância do uso de métodos lúdicos em sala de aula para crianças com autismo. Para isso realizou-se uma revisão de literatura em uma base eletrônica de dados. Como as brincadeiras fazem parte da infância elas podem auxiliar no desenvolvimento integral das crianças, pois através delas os professores podem passar os conteúdos de uma maneira mais leve e dinâmica. Além disso, as atividades lúdicas permitem que alunos com TEA sejam acolhidos nos grupos sociais, uma vez que nesses momentos essas crianças conseguem formar vínculos com as demais. Essas atividades também desenvolvem a atenção, memória, percepção, sensação e expressão de sentimentos dos indivíduos.

 

Palavras chave: Transtorno do Espectro Autista. Atividades Lúdicas. Métodos de Ensino.

 

 

ABSTRACT

ASD affects the adaptation, communication, social interaction, and learning abilities of those who have it, making it difficult for these children to learn in regular schools. Therefore, the objective of this work is to analyze the importance of using playful methods in the classroom for children with autism. To this end, a literature review was conducted in an electronic database. Since play is part of childhood, it can aid in the holistic development of children, as through it teachers can convey content in a lighter and more dynamic way. Moreover, playful activities allow students with ASD to be welcomed into social groups, as during these moments, these children are able to form bonds with others. These activities also develop the attention, memory, perception, sensation, and expression of feelings of individuals.

 

Keywords- Autism Spectrum Disorder. Playful Activities. Teaching Methods.

 

 

Introdução

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento que afeta as capacidades de adaptação, comunicação, interação social e aprendizado, por essa razão as crianças com TEA que frequentam as escolas regulares costumam ficar isoladas das demais. Dessa forma é preciso encontrar meios para que essas crianças se desenvolvam de acordo com suas capacidades.

Esse trabalho busca então responder de que modo os professores podem trabalhar em sala de aula com crianças com TEA. Espera-se então encontrar soluções para essa questão, como comunicações alternativas, jogos e brincadeiras, pois são métodos mais leves e divertidos de ensinar e acolher os alunos na sala de aula, bem como inserir o aluno com TEA nas atividades e incentivá-lo a criar laços com os seus colegas.

O objetivo deste trabalho é analisar a importância do uso de métodos lúdicos em sala de aula para crianças com autismo. E tem como objetivos específicos:

1) Descrever o TEA e o que são atividades lúdicas;

2) Analisar os benefícios das atividades lúdicas para crianças com TEA.

Para atingir os objetivos, realizou-se uma revisão de literatura, buscando artigos, trabalhos acadêmicos e livros na base de dados do Google Acadêmico a fim de conhecer melhor sobre o tema. Esse trabalho é de extrema importância para a comunidade escolar e para os familiares de crianças com TEA, pois pode ser um norte para que eles consigam atender melhor essas crianças e acolhê-las nos mais diversos ambientes.

O artigo está dividido em três tópicos principais, no primeiro há uma descrição sobre o TEA e no segundo uma descrição sobre o que é o lúdico e seus benefícios, já no terceiro tópico há uma análise de como as atividades lúdicas podem beneficiar crianças autistas. Por fim, o artigo se encerra com algumas considerações sobre o conteúdo abordado.

 

 

Desenvolvimento

 

Transtorno do Espectro Autista

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento que impacta de maneira múltipla e variável a vida daqueles que o possuem, sendo notado antes dos três anos de idade. Esse distúrbio afeta diversas áreas, tais como a capacidade de adaptação, a comunicação, a interação social e o aprendizado (REZENDE, 2021). Esse distúrbio foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo médico Leo Kanner, que relatou o caso de 11 crianças que não demonstravam interesse nas outras pessoas e em possuir algum contato social, além disso, essas crianças também apresentavam resistência a mudanças, insistiam em realizar as mesmas atividades, apresentavam estereotipias motoras, não conseguiam dar boas entonações em suas falas, apresentavam linguagem com eco e confundiam pronomes (VOLKMAR; WESNER, 2019).

A Associação Americana de Psiquiatria (APA) lançou, no dia 18 de março de 2022, o DSM-5-TR (REVISADO), uma versão atualizada e revisada do DSM-5, de 2013.

 

 

Níveis de suporte e gravidade para o TEA:

 

Nível de suporte 1: Em geral, são pessoas que lidam com dificuldades para manter e seguir normas sociais, apresentam comportamentos inflexíveis e dificuldade de interação social desde a infância, mas isso não afeta suas interações; também apresenta dificuldades de organização e planejamento; o indivíduo precisa de pouco auxílio. Mesmo que tenham um nível maior de autonomia para algumas tarefas, vale lembrar que o autista de suporte 1 não é “menos” autista do que uma pessoa de suporte 2 ou 3 e continua precisando de terapias e acompanhamento profissional.

 

Nível de suporte 2 : Em geral, apresentam comportamento social atípico, rigidez cognitiva, dificuldades de lidar com mudanças e hiperfoco (interesse intenso por determinados objetos, pessoas ou temas- hiperfoco). O indivíduo apresenta transtornos de comunicação social, verbal e não verbal; deficiências na linguagem e restrições nas interações, comportamentos, organização e planejamento. Necessitando assim de auxílio em quase todas as tarefas do dia a dia.

 

Nível de suporte 3: indivíduo apresenta graves déficits nas habilidades de comunicação verbal e não verbal, nas interações sociais e cognitivas, e apresenta tendência ao isolamento, além de comportamentos inflexíveis, restritos e repetitivos como bater o corpo contra uma superfície ou girar. Necessitando assim de auxílio em quase todas as tarefas do dia a dia.

O Nível de suporte não resume a pessoa autista, porque o espectro se manifesta em cada indivíduo de forma diferente.

Não existe nenhum medicamento específico para curar os principais sintomas do TEA, porém podem ser utilizados medicamentos que estabilizam o humor, anticonvulsionantes, antipsicóticos, antidepressivos e outros que amenizem determinados sintomas (BRITO; VASCONCELLOS, 2016).

O ideal é que a intervenção em crianças com TEA seja realizada de maneira precoce, com foco na autonomia e independência; comunicação não verbal; aspectos sociais; flexibilização das atividades repetitivas e nas habilidades cognitivas e acadêmicas (MELLO, 2007).

Escolas regulares costumam ter atendimento especializado para essas crianças, individualizando o tratamento para cada uma e tornando a aprendizagem mais específica e eficiente. As intervenções psicoterapêuticas procuram induzir um equilíbrio no desenvolvimento e na educação, ensinando noções básicas de autoconhecimento, a tolerar frustrações; a facilitar o contato social e auxiliá-los a aceitar suas características e utilizar suas potencialidades. Sendo assim, é importante levar em consideração as particularidades intelectuais de cada criança para uma terapia mais adequada (LOPES, 2020).

 

 

O lúdico

 

A palavra lúdico vem do latim “ludus” que quer dizer “jogo”, porém seu significado vai além do jogar, ele inclui os brinquedos e o divertimento, elementos que dão oportunidades para que o indivíduo aprenda (SALOMÃO; MARTINI; JORDÃO, 2007). Dessa forma, as atividades lúdicas podem ser definidas como qualquer ação ou atividade que tem o objetivo de produzir prazer e divertimento a quem o pratica no momento da sua execução (LIMA, 2013).

É brincando e jogando que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor e seu modo de aprender, entrando em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Através da brincadeira, a criança reproduz discursos externos e os internaliza, de forma que construa seu próprio pensamento (DALLABONA; MENDES, 2004).

A brincadeira é uma atividade social humana típica da infância, que supõe contextos sociais e culturais onde a criança recria a realidade através de sistemas simbólicos próprios (LIMA, 2013). Através das atividades lúdicas a criança reproduz várias situações do seu cotidiano e pela imaginação as reelabora, combinando experiências passadas e novas possibilidades de interpretação e reprodução do real, levando em consideração suas afeições, necessidades, desejos e paixões (DALLABONA; MENDES, 2004). A ludicidade é uma necessidade do ser humano em todas as idades e não deve ser vista apenas como diversão, ela facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colaborando para a saúde mental e física (SALOMÃO; MARTINI; JORDÃO, 2007).

Vygotsky (1984, p 97) diz que

 

... a brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz.

 

Sendo assim, as atividades lúdicas contribuem para o desenvolvimento integral da criança, auxiliando nas áreas da inteligência, afetividade, motricidade e sociabilidade (NEGRINE, 1994). Brincando a criança abre espaço para pensar, avança no raciocínio, desenvolve os pensamentos, estabelecem contatos sociais, compreendem o meio, satisfazem seus desejos, desenvolvem habilidades, conhecimentos e criatividade. Por meio das interações que as brincadeiras e os jogos oportunizam, as crianças superam o egocentrismo, desenvolvem a solidariedade e a empatia, e, no compartilhamento de jogos e brinquedos, introduzem novos sentidos para a posse e o consumo (DALLABONA; MENDES, 2004).

Vygotsky (1983, p 105) diz que: “A brincadeira é uma das formas mais elevadas de atividade da criança, pois nela a criança se encontra no limite entre o real e o    imaginário, podendo desenvolver várias competências cognitivas e sociais.”

 

 

Benefícios do lúdico para crianças com TEA

 

O lúdico cada vez mais tem sido incluído nas escolas com o objetivo de realizar atividades em sala de aula de maneira mais dinâmica e divertida, pois essa metodologia tem a capacidade de promover a aprendizagem, instigar a curiosidade e motivar a construção do conhecimento através de jogos e brincadeiras (NASCIMENTO; BORGES, 2020). Além disso, o lúdico também é eficaz para inserir os alunos nas atividades, pois a brincadeira está dentro da criança e é a forma como ela busca descobrir o que está em sua volta (BISPO, 2020).

Sendo assim, o lúdico pode ser um meio para se trabalhar com crianças com TEA, pois ao desenvolver os aspectos cognitivos e de aprendizagem pode auxiliar a promover as capacidades de atenção, memória, percepção, sensação e demais aspectos relacionados à aprendizagem (LUZ, 2022). Brincando, a criança com TEA expressa seu entendimento do mundo, e, por não ter nada a reprimindo, libera todos seus sentimentos ao manipular os objetos (SILVA et al., 2019).

A principal vantagem do uso de jogos para crianças com TEA diz respeito a oportunidade que esses momentos oferecem para que essas crianças interajam com seus colegas, pois muitas vezes elas são excluídas dos ambientes sociais quando não conseguem se adequar às regras e aos comportamentos exigidos pela sociedade (SILVA et al., 2019). Porém, para que esse resultado seja atingido é importante que o professor faça as devidas intervenções para que a criança com TEA realmente interaja com seus colegas e com o ambiente, buscando apoio de um facilitador quando necessário (NASCIMENTO; BORGES, 2020). Dessa forma, as atividades lúdicas favorecem a formação de vínculos afetivos com colegas e familiares, pois estabelecem e aprofundam essas relações, tornando-as mais naturais, aumentando sua cognição e aperfeiçoando sua expressão de sentimentos (LUZ, 2022).

É importante que ao inserir atividades lúdicas na rotina das crianças com TEA momentos que estimulem a criatividade e o imaginário sejam inseridos, assim essas crianças podem despertar o interesse nas atividades diárias e a usufruir dos benefícios proporcionados pela vivência das experiências que os jogos e brincadeiras trazem (BISPO; RODRIGUES; SANTOS, 2021). No entanto, é importante destacar que a ludicidade só existe quando o processo envolve a criança de maneira natural (LUZ, 2022). Além disso, é importante que os jogos e brincadeiras sejam apresentados para elas utilizando treinamento visual, pois assim permite o desenvolvimento da comunicação por meio de imagens, amplia seu repertório comunicativo, aumentar seu engajamento nas atividades e no entendimento daquilo que precisa realizar e diminui comportamentos destrutivos (NASCIMENTO; BORGES, 2020).

Vale ressaltar, que quando se trata de crianças com TEA esse processo não é fácil, ele pode ser longo e frustrante para os pais, familiares e educadores, o que gera um baixo investimento por parte deles no brincar uma vez que acabam desacreditando da importância e da viabilidade desse método para o desenvolvimento da criança. Também é importante destacar que essas atividades devem ser utilizadas como alternativas complementares ao desenvolvimento da memória, atenção, percepção e linguagem da criança com TEA, não sendo consideradas um tratamento. O tratamento deve ser feito junto de profissionais qualificados, como psicólogos e educadores especiais (NASS et al., 2019).

 

 

A Ludicidade como Ferramenta Terapêutica

 

 

O uso de brincadeiras terapêuticas tem sido amplamente reconhecido como uma ferramenta essencial no tratamento de crianças com TEA.

 

  • Silva e Andrade (2012) explicam que: "A ludoterapia oferece um espaço onde as crianças com TEA podem expressar sentimentos e pensamentos que ainda não conseguem verbalizar. Ela é uma forma de comunicação alternativa, eficaz e adaptada" (Silva & Andrade, 2012, p. 88).
  • Flores (2015) sugere que: "A ludicidade, quando integrada ao tratamento terapêutico, facilita a interação da criança com o ambiente e oferece oportunidades para desenvolver habilidades sociais e emocionais em um contexto seguro e acolhedor" (Flores, 2015, p. 103).

 

Importância das Estratégias de Intervenção Lúdica

 

Para que a ludicidade seja realmente eficaz no desenvolvimento de crianças com TEA, ela precisa ser bem planejada e adaptada às necessidades da criança.

  • Schwartzman (2001) observa que: "A adaptação das atividades lúdicas às características individuais de cada criança com TEA é um aspecto fundamental para o sucesso do processo terapêutico" (Schwartzman, 2001, p. 212).
  • Gagnon (2008) argumenta que:
  • "Incorporar interesses específicos e preferências das crianças com TEA nas atividades lúdicas pode aumentar significativamente a motivação e o engajamento nas intervenções" (Gagnon, 2008, p. 156)

 

 

Desafios e Limitações

 

Apesar dos benefícios da ludicidade, existem desafios no processo de adaptação das atividades para crianças com TEA. Cada criança tem um perfil único e, portanto, a ludicidade deve ser abordada de forma personalizada.

A resistência a mudanças, tanto de situações como de ambientes e até mesmo de pessoas (equipe) em algumas situações aparecem também as dificuldades de comunicação, a falta de uma equipe interdisciplinar, de ambientes adequados e a necessidade de apoio constante podem ser barreiras significativas.

Em muitos casos a falta de acesso a outras terapias,  como terapias integrativas e complementares, terapias como ABA análise do comportamento, fonoaudiologia, terapia ocupacional, cognitivo-comportamentais as quais auxiliam muito no desenvolvimento tanto cognitivo, motor e social das crianças com TEA e além disso a formação adequada de profissionais que trabalham nos ambientes educacionais e também dos educadores é fundamental para garantir que as atividades lúdicas sejam realizadas de maneira eficaz e que atendam às necessidades de cada criança, tanto na adaptação quanto na aplicabilidade desta atividade.

 

 

Conclusão

 

As metodologias lúdicas representam um caminho efetivo para o ensino e inclusão de crianças com TEA. Ao transformar o aprendizado em algo prazeroso, acessível e respeitoso com as singularidades de cada criança, promovemos não apenas o desenvolvimento acadêmico, mas também a autoestima, autonomia e socialização. O lúdico, nesse contexto, deixa de ser apenas um recurso complementar e passa a ser uma estratégia pedagógica central.

Com esse trabalho pode-se notar que as brincadeiras são uma parte importante da infância e as atividades lúdicas auxiliam no desenvolvimento das áreas cognitivas e socioemocionais, da inteligência, afetividade, motricidade e sociabilidade. Além disso, essas atividades não podem ser utilizadas apenas como um instrumento de diversão, uma vez que elas facilitam a aprendizagem e o desenvolvimento integral dos indivíduos.

Crianças com TEA apresentam muitas vezes dificuldade em interagirem com as demais e se adequarem às regras e comportamentos que a sociedade exige, por essa razão de uma forma errônea e não inclusiva alguns educadores as deixam por ficarem isoladas em ambientes sociais até mesmo na sala de aula. Esse isolamento afeta o desenvolvimento dessas crianças, por isso momentos lúdicos durante as aulas permitem que as crianças criem vínculos com seus professores e colegas, tornando a interação social mais fácil. Além disso, as atividades lúdicas desenvolvem as capacidades de atenção, memória, percepção, sensação e expressão dos sentimentos.

 

Referências

 

APA. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: https://pebmed.com.br/american-psychiatric-association-apa-publica-atualizacao-do-dsm-5/

 

BISPO, M. L. S. F. Brincadeiras como ferramentas de aprendizagem. Anais do XIV Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade” – Educação, Sociedade e Práticas Educativas, set., 2020.

 

BISPO, M. L. S. F.; RODRIGUES, O. P. S.; SANTOS, S. S. O lúdico na aprendizagem do aluno autista na Educação Infantil. Anais do 10º Simpósio Internacional de Educação e Comunicação, mar., 2021.

 

BRITO, A. R.; VASCONCELOS, M. M. Conversando sobre autismo – reconhecimento precoce e possibilidades terapêuticas. In: CAMINHA, V. L. P. S.; HUGUENIN, J. Y.; ASSIS, L. M.; ALVES, P. P. (org.). Autismo: vivências e caminhos. São Paulo: Blucher, 2016. p. 23-32.

 

DALLABONA, S. R.; MENDES, S. M. S. O lúdico na Educação Inantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG, v. 1, n. 4, p. 107-112, jan./mar., 2004.

 

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LIMA, B. A. S. O brincar na Educação Infantil: o lúdico como estratégia educativa. 2013. 76 f. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

 

LOPES, D. D. TEA: manejos e intervenções. 47 slides. 2020. Apresentação em Power- point.

 

LUZ, R. M. O lúdico no processo de desenvolvimento educacional da criança com autismo. 2022. 29 f. Artigo (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Federal do Pará, Castanhal, 2022.

 

MELLO, A. M. S. R. Autismo: guia prático. 7ª ed. São Paulo: AMA, 2007. 104 p.

 

NASCIMENTO, A. L.; BORGES, F. V. A. O lúdico como fator estimulante para o desenvolvimento dos alunos com espectro autista nos anos iniciais. Coleção de Artigos Científicos do UNIFAFIBE, dez., 2020.

 

NASS, I. R.; ROSA, I. L.; ROCHA, K. D.; WECKER, L.; GASTALDO, L. P.; CARLESSO, J. P. P. A caixa de Max: atividades lúdicas para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Research, Society and Development, v. 8, n. 1, 2019.

 

NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Propil, 1994.

 

REZENDE, L. F. O trabalho pedagógico e a inclusão escolar para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 2021. 20 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Formação de Professores e Práticas Educativas) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Rio Verde, 2021.

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

 

 

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o dia a dia da Educação Infantil

Regiane Priscila Bueno

 

DOI: 10.5281/zenodo.15579492

 

 

RESUMO

O presente artigo busca realizar um breve levantamento sobre a educação infantil, a educação inclusiva e o transtorno do espectro autista (TEA) no dia a dia da sala de aula, vivida por professores, monitores e toda a equipe escolar e as dificuldades encontradas tanto para o aluno, equipe de apoio e profissionais da educação. As escolas não estão totalmente prontas para atender o público da educação especial, prédios e salas precisam de adaptações, profissionais da educação precisam de formações constantes e os monitores e serventes de treinamento e  cursos específicos para a deficiência com qual irão trabalhar, a implementação do plano de ensino individualizado (PEI) e às intervenções usadas no trabalho com o aluno TEA. Os desafios são complexos pois muitas instituições de educação ainda não se sentem preparadas para esse atendimento, além da conscientização do público escolar (famílias e comunidade) quanto ao direito de uma educação de qualidade para todos sem distinção.

 

Palavras-chave: Educação infantil. Transtorno do Espectro Autista. Educação inclusiva.

 

ABSTRACT

This article aims to provide a brief survey of early childhood education, inclusive education and autism spectrum disorder (ASD) in the day-to-day classroom experience of teachers, monitors and the entire school team, as well as the difficulties encountered by students, support staff and education professionals. Schools are not fully prepared to serve the special education population; buildings and classrooms need adaptations, education professionals need constant training and monitors and staff need training and specific courses for the disability with which they will work, the implementation of the individualized teaching plan (PEI) and the interventions used in working with ASD students. The challenges are complex because many educational institutions still do not feel prepared to provide this service, in addition to raising awareness among the school public (families and community) regarding the right to a quality education for all without distinction.

 

Keywords: Early childhood education. Autism spectrum disorder. Inclusive education.

 

 

Introdução

 

A inclusão de crianças com TEA na educação infantil, apresenta desafios que vão desde a falta de formação dos profissionais até a necessidade de adaptações curriculares e ambientais. Devido a falta de comunicação, interação social, sensibilidade sensorial, se faz necessário um ambiente estruturado demandando maior atenção e estratégias específicas.

Muitas escolas não possuem os recursos e apoio necessários para garantir a inclusão de crianças com TEA, como espaços adaptados e profissionais especializados, para enfrentar esse desafio se faz necessário que os profissionais da educação recebam formação continuada que discuta as características e as estratégias para lidar com o transtorno em diferentes níveis, adaptação de currículo e materiais pedagógicos, comunicação alternativa em alguns casos, criação de um ambiente inclusivo.

A escola deve ser um ambiente acolhedor e seguro para as crianças com TEA, com espaços adaptados e atividades que promovam a interação social. O apoio e colaboração entre a escola e a família é fundamental para garantir o sucesso da inclusão, com a família fornecendo informações sobre a criança e a escola oferecendo apoio no seu desenvolvimento. Em alguns casos é necessário o acompanhamento de profissionais especializados: terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e educadores especializados (sala de AEE), para garantir o desenvolvimento integral da criança.

A inclusão de crianças com TEA na educação infantil é um desafio complexo, mas também uma oportunidade para promover a diversidade e a inclusão social. Ao superar os desafios e implementar estratégias eficazes, é possível garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de aprender e desenvolver.

 

 

Educação infantil

 

A educação infantil é a primeira etapa da educação básica, abrangendo crianças na idade de zero a cinco anos, visando o seu desenvolvimento integral nos seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais. Na educação infantil as atividades desenvolvidas devem abranger atividades lúdicas, de cuidado, socialização, interação entre pares, promovendo o desenvolvimento de habilidades motoras, sociais e cognitivas; complementando o papel da família e da comunidade da qual a criança está inserida, possuindo papel fundamental para sua formação e desenvolvimento.

São cinco os princípios básicos que norteiam o processo de ensino e aprendizagem segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil: éticos, políticos, estéticos, cognitivos e socioemocionais; Segundo a UNESCO são quatro pilares que visam o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos cognitivos, sociais, emocionais e éticos:  aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

A educação infantil está dividida em duas etapas: creche (para crianças de 0 a 3 anos) e pré-escola (para crianças de 4 a 5 anos).  A base nacional comum curricular (BNCC) organiza a educação infantil em três faixas etárias: bebês (0-1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 6 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). O direito à educação infantil é de todos, sendo a sua matrícula em creches facultativa, enquanto a matrícula na pré-escola é obrigatória a partir dos 4 anos de idade.

 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/96), e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN) (Brasil, 2018,)

 

 

Educação inclusiva

 

(...) acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas (...). Deveria incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados (BRASIL, 1994, p.6).

 

 

A educação inclusiva significa todos na escola e todos aprendendo, está prevista em lei e para que a educação inclusiva se torne uma realidade, é fundamental que tanto as políticas públicas, a estrutura escolar e as práticas  pedagógicas sejam voltadas a atender às necessidades de todos os alunos, com e sem deficiência. Educação é direito de todos, independente da sua individualidade (necessidade, habilidades, características ou diferenças), criando assim um ambiente onde todos possam aprender juntos respeitando e promovendo um ensino de qualidade, respeitando a diversidade e criando espaços onde todos possam se sentir acolhidos.

 

Tradicionalmente, a educação especial tem sido concebida apenas ao atendimento de alunos que apresentam deficiências (mental, visual, auditiva, físico-motoras e múltiplas); condutas típicas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, bem como de alunos que apresentam altas habilidades/superdotação. Hoje (...) a ação da educação especial amplia-se, passando a abranger (...) dificuldades de aprendizagem relacionadas à (...) dificuldades cognitivas, psicomotoras e de comportamento (...) como (...) a dislexia e disfunções correlatas; problemas de atenção, perceptivos, emocionais, de memória, cognitivos, psicolinguísticos, psicomotores, de comportamento; e ainda fatores ecológicos e socioeconômicos, como as privações de caráter sociocultural e nutricional (BRASIL, 2001, p. 43-44).

 

A escola inclusiva ideal deve ser um espaço de aprendizagem onde todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem sejam preparados para atender às diferentes necessidades dos alunos e sejam feitas adaptações necessárias de: currículo, estratégias pedagógicas e métodos de avaliação. Garantindo acesso a todos, sem barreira física, social ou cultural, promovendo o desenvolvimento de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, que respeitam a diversidade e lutam por uma sociedade mais justa e igualitária.  Com o desenvolvimento de práticas pedagógicas mais inclusivas, todos os envolvidos nesse processo (alunos, familiares, professores e gestores) saem ganhando.

 

Se acreditarmos que o papel da escola é construir cidadania através do acesso ao conhecimento, isto só será possível se dentro da escola tivermos uma verdadeira representação do grupo social que está fora da escola: pessoas com diferentes credos, de raças diferentes, com saberes diferentes, pessoas sem deficiência (existem?) e pessoas com deficiência. A experiência de conviver com a diversidade, tão necessária para a vida, nunca será exercida num ambiente educacional segregado, onde a diversidade humana não esteja representada (BRASIL, 2006, p. 47).

 

A legislação brasileira reconhece a educação inclusiva como um direito fundamental e estabelece diretrizes para sua implementação:  o Plano Nacional de Educação (PNE), que entrou em vigor em 2014, estabelece metas para a disponibilização da educação básica especializada e adequada para crianças e jovens com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento.

 

Na perspectiva inclusiva, a concepção curricular contempla o reconhecimento e valorização da diversidade humana. Neste sentido, são identificadas e eliminadas as barreiras, deslocando o foco da condição de deficiência para a organização do ambiente. Ao promover a acessibilidade, os estabelecimentos de ensino superam o modelo de deficiência como sinônimo de invalidez, passando a investir em medidas de apoio necessárias à conquista da autonomia e da independência das pessoas com deficiência, por meio do seu desenvolvimento integral (BRASIL, 2015, p.11).

 

 

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 

 

A Educação Especial na Perspectiva Inclusiva contempla a identificação e a eliminação das barreiras, principalmente as de acesso aos conhecimentos, deslocando o foco da condição de deficiência de estudantes para a organização e a promoção da acessibilidade aos ambientes escolares (arquitetônica) e à comunicação (oral, escrita, sinalizada, digital), em todos os níveis, etapas e modalidades, visando a autonomia e a independência dos educandos. A educação especial integra a educação regular, devendo ser prevista no Projeto Político Pedagógico para a garantia da oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos educandos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento, com altas habilidades/superdotação, por meio do ensino do uso de equipamentos, recursos de tecnologia e materiais pedagógicos acessíveis, da oferta de tradução e interpretação da Libras, entre outros (BRASIL, 2016, p.36).

 

O transtorno do espectro autista (TEA) afeta o comportamento e pode apresentar-se de formas variadas,  os primeiros sinais podem ser notados em bebês, e os sintomas mais comuns incluem: dificuldade de interação social (interagir socialmente, manter contato visual, expressão facial, expressar emoções, fazer amigos),  dificuldade de comunicação (bloqueios para começar e manter diálogo, ecolalia, em alguns casos falta total de comunicação), alterações comportamentais ( apego excessivo às rotinas, movimentos repetitivos, sensibilidade sensorial (hiperfoco ou hipofoco), dificuldade de imaginação, interesses intenso por coisas específicas (bola, objetos que giram), uso não funcional de brinquedos.

Esses distúrbios são titulados como um espectro por se manifestarem em diferentes níveis de intensidade:

  • Suporte um: apresenta prejuízos leves, que podem não a impedem de estudar, trabalhar e se relacionar;
  • Suporte dois: têm um menor grau de independência e necessita de algum auxílio para desempenhar funções cotidianas, como tomar banho ou preparar a sua refeição;
  • Suporte Três: dificuldades graves e costuma precisar de apoio especializado ao longo da vida.

O TEA pode ser acompanhado por altas habilidades tais como: facilidade para aprender visualmente, atenção aos detalhes, exatidão, capacidade de memória acima da média e grande concentração em uma área de interesse específicos durante um longo período de tempo. Cada indivíduo dentro do espectro vai desenvolver o seu conjunto de sintomas variados e características bastante particulares.

 

 

Desafios do professor

 

O transtorno do espectro autista ainda é um mistério nos nossos dias atuais, quando um professor recebe uma criança laudada ou vê essa possibilidade como diagnóstico em um de seus alunos muitas perguntas são feitas e muitas ainda sem resposta fazem parte de seu dia a dia. Cada aluno é único e tem sua maneira de lidar com os desafios dentro da escola ou fora dela.

Dentro desse espectro cada um apresenta uma dificuldade ou uma habilidade, o grande desafio é justamente tentar compreender o "mundo deles" e estimular de maneira correta para garantir o processo de evolução que é muito longo e complexo. Toda a equipe escolar deve estar envolvida nesse processo de inclusão, realizando o trabalho em conjunto com a família, levando assim o professor a um maior conhecimento do caso com o qual está lidando e suas especificidades.

Muitas crianças laudadas com TEA possuem um diferentes estágios denominados suporte, alunos suporte um geralmente apresentam poucas características, já os alunos de suporte dois ou três; que frequentam as instituições de educação infantil, não são verbais, não possuem a noção de perigo, na maioria dos casos não são desfraldadas necessitando de auxílio no uso de banheiros, apresentação dificuldades de interação e socialização, dificuldades motoras, sensoriais, auto agressão e agressão de colegas. Necessitam de um monitor para realizar tarefas diárias: se alimentar, beber água, usar banheiro, se locomover, muitas vezes tem necessidade de se retirar da sala por fatores como barulho, agitação. Cada dia é uma nova luta que vem com conquista e também com algumas frustrações pois a grande maioria não apresenta inicialmente interesses nas atividades pedagógicas, brincadeiras, brinquedos, jogos e demoram para se adaptar a rotina escolar.

Para facilitar a inclusão em sala e facilitar sua socialização com os demais, necessitam de acompanhamento médico e de terapias indicadas a cada caso, possibilitando assim a inclusão em sala de aula e um desenvolvimento integral da criança.

Os primeiros dias em sala de aula podem ser frustrantes para o professor e assustador para a criança, levando ela a crises. Cada aluno tem especificidades muitos aceitam toque e tem contato visual e muitas vezes atende pelo nome, não é agressivo com os demais alunos; Já outras não aceitam toque, não gostam do barulho da sala, não apresentam contato visual, apresentam birras e crises constantes chegando a agredir colegas e funcionários da escola.

Muitas escolas infelizmente ainda tratam de forma diferente a criança ou negligenciando ou satisfazendo seus gostos, mimo em excesso também contribui para não desenvolvimento desejado da criança, causando birras. O trabalho com o aluno TEA exige responsabilidades, regras e rotina.

Muitas crianças não apresentam verbalização ou uma comunicação que se restringe a balbucios, sendo necessário uma maior atenção e até uma mudança curricular criando uma comunicação alternativa com imagens e fotos, alguns possuem ecolalia; se fazendo necessário nesses casos tratamentos especializados.

Muitos apresentam movimentos repetidos como balançar o corpo para frente e para trás, chacoalhar mãos e pés, costumam gostar de certos objetos em específico como rodas e objetos que giram, tem preferências por determinada cor.

Se faz necessário que o professor esteja atento ao seu comportamento e expressões corporais que muitas vezes expressam seu desejo, sua aprendizagem e até seu entendimento, cada criança se expressa de uma maneira, quando se trata de proibições por exemplo batem, mordem e se jogam no chão. A partir da observação diária o professor consegue entender seus momentos de crise e como acalmá-los, muitas vezes também é necessário que esse aluno faça uso de medicamentos.

Cabe aos pais muitas vezes recorrer ao poder público para a facilitar acesso às terapias e tratamentos.

O aluno apenas frequentar a escola não resolve todos seus problemas, é muito importante conscientizar e orientar pais e responsáveis quanto ao tratamento médico e terapias necessárias para cada caso.

A sala de recurso (AEE) também ajuda muito no dia a dia escolar, precisa-se entender que mais importante que conhecimento pedagógico esse aluno precisa de autonomia e de ajuda para realizar tarefas básicas como se alimentar, lavar as mãos, escovar o dente, beber água, usar o banheiro entre outros. A rotina é muito necessária para o aluno TEA e mudanças alteram o seu comportamento.

Normalmente crianças com TEA têm dificuldades para dormir e fazem uso de medicamentos, sendo necessárias adaptações na rotina escolar quanto a horários e períodos para frequentar a escola.

A inclusão do aluno TEA começa em casa, com a família motivando e compreendendo e tendo empatia para com essa criança incentivando sua ida e permanência na escola, informando a equipe escolar quanto aos seus gostos e necessidades, há necessidade de adaptações de horários que atendam a especificidade de cada um, muitos inicialmente precisam de um horário reduzido para se adaptar a rotina dentro da instituição escolar.

Na educação infantil, a relação do aluno com os pares é fundamental para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança, a interação com os colegas permite a aprendizagem de normas sociais, o desenvolvimento de habilidades sociais e a construção da identidade, resolução de conflitos e empatia.

Ao interagir com seus pares, a criança começa a construir sua identidade, a perceber seus pontos fortes e fracos, e a definir seu lugar dentro do grupo.

As relações entre pares são um espaço para a criança desenvolver habilidades como a comunicação, a colaboração, a cooperação, a tomada de iniciativa e a autoconfiança, têm um impacto significativo no desenvolvimento global da criança, incluindo o cognitivo, e socioemocional e o físico.

 

 

Estratégias de intervenção

 

Dentro do ambiente escolar a adaptação de um aluno com transtorno de espectro autista requer estratégias que envolve atividades adaptadas, criação e elaboração de rotina: salas adaptadas, criação de rotinas visuais, ambientes tranquilos e organizados, adaptação materiais e uso de materiais concretos para atender suas individualidades, salas adaptadas quando necessário criando um ambiente seguro e confortável para a criança.

A colaboração entre escola, família e profissionais de saúde se faz necessária para entender melhor o aluno e para saber de onde partir com o seu trabalho dentro da sala. A rotina ajuda o aluno a entender e seguir a sequência das atividades, reduzindo a ansiedade e aumentando a previsibilidade. é interessante manter um diálogo honesto com a família para se ter um conhecimento sobre os gostos e preferências da criança, seus pontos de apoio e escape para superação de futuras crises.

A escola pode adaptar materiais como pranchas de letras, números, formas, fotos de imagem, para torná-los mais acessíveis ao aluno, considerando suas dificuldades sensoriais e de comunicação. A comunicação professora aluno, precisa de uma linguagem clara e objetiva, com poucas palavras, falando pausadamente.

As atividades em etapas menores e sequenciais, facilita o aprendizado e o cumprimento das tarefas, promovendo um senso de conquista e segurança.

A escola pode oferecer suporte sensorial, como a utilização de abafadores de som, uniformes confortáveis e ambientes com menos estímulos visuais, para lidar com as sensibilidades sensoriais de alguns alunos autistas.

É importante promover atividades de socialização, como jogos e atividades em grupo, que facilitem a interação do aluno autista com seus colegas, mas sem forçar a interação e respeitando seus limites.

A criação de um PEI, que define metas e objetivos de aprendizagem individualizados para o aluno autista, é fundamental para o seu desenvolvimento escolar.

A colaboração entre escola e família é essencial para o sucesso da adaptação escolar do aluno com transtorno de espectro autista, com a troca de informações, a comunicação constante e o apoio mútuo.

A formação continuada dos professores para que estejam preparados para atender às necessidades individuais de cada aluno.

 

 

Plano Educacional individualizado (PEI)

 

[...] assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: I- Sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; II- aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena; III- projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia. (BRASIL, 2015).

 

O Plano Educacional Individualizado (PEI) trata-se de um documento individual personalizado que detalha estratégias de ensino para um aluno com necessidades educacionais específicas, garantindo um desenvolvimento adequado e inclusivo. elaborado por uma equipe multidisciplinar, visando atender às necessidades específicas de cada aluno, promovendo sua participação ativa na vida escolar da criança inclusa.

 

Art. 28-A Deverá ser adotado, no âmbito do sistema educacional inclusivo, o Plano de Ensino Individualizado – PEI, instrumento de planejamento individualizado, destinado a cada educando com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades ou superdotação, elaborado anualmente, em que constarão todos os esforços pedagógicos mobilizados para a aprendizagem do estudante. §1° O PEI deverá contemplar: I - a identificação do estudante; II - a avaliação do estudante; III - os objetivos mensuráveis de ensino, em termos de habilidades-alvo a serem desenvolvidas; IV – os programas de ensino aplicáveis para cada objetivo estabelecido; V – os recursos de acessibilidade utilizados para a execução dos programas; VI – o protocolo de conduta individualizado; VII – as diretrizes para adaptação de atividades e de avaliações. (BRASIL, 2020)

 

São Componentes do PEI:

  1. Avaliação Individualizada: que leva em conta as necessidades e potenciais do aluno, considerando aspectos acadêmicos, sociais, emocionais e físicos.
  2. Objetivos Educacionais Personalizados: metas específicas e mensuráveis para o aluno, com base na avaliação.
  3. Estratégias de Ensino: Metodologias e recursos adaptados às necessidades do aluno, como adaptações curriculares, apoio especializado e uso de tecnologias assistivas.
  4. Acompanhamento e Avaliação Contínua: Monitoramento do progresso do aluno, ajuste das estratégias e avaliação do PEI, que deve ser um documento vivo e em constante revisão.

O PEI permite ao aluno uma inclusão efetiva, fazendo com que a criança tenha a oportunidade de participar plenamente do processo de aprendizagem, adaptando-se às suas características individuais, garantindo seu desenvolvimento integral e participação ativa na vida escolar, oferecendo apoio especializado, recursos pedagógicos e uma comunicação ativa entre família escola e os outros profissionais envolvidos no processo educativo. É um instrumento fundamental para garantir uma educação inclusiva e individualizada voltada para o desenvolvimento integral e a participação ativa de todos os alunos, em especial aqueles com necessidades educacionais específicas.

 

 

Considerações finais

 

O ingresso da criança com ou sem TEA na educação infantil, precisa de atenção e cuidado de todos os envolvidos na comunidade escolar, por se tratar do primeiro momento longe da sua família, esse momento se apresenta cercado de muita insegurança para a criança e sua família, a adaptação é um momento delicado

 

“o ingresso na escola é um marco importante no desenvolvimento das crianças, não apenas para o aprendizado em si, mas também pelo desenvolvimento social e pela formação do ser humano como um todo” (Silva; Gaiato; Reveles, 2012, p. 52).

 

Todos os envolvidos na prática pedagógica (professores, gestores, monitores, serventes) possuem um papel expressivo na inclusão e na integração da criança, entendendo as especificidades, seus avanços e potencialidades. A inclusão é benéfica para todos os envolvidos nesse processo.

É muito importante discutir a inclusão escolar e a necessidade de adaptar a escola à diversidade de necessidades dos alunos, apresentando diferentes abordagens e estratégias pedagógicas que podem ser utilizadas na educação infantil com crianças com TEA.

Torna-se muito necessário pesquisas que possam ajudar no dia a dia escolar, trabalhos que envolvam a realidade, buscando conhecer realmente como é uma sala de aula e os desafios encontrados no dia a dia. Muitas escolas ainda sofrem com falta de monitores, professores especializados, falta material didático pedagógico, número excessivo de alunos em sala, escolas não adaptadas, desinteresse da sociedade e de muitas famílias quanto a importância da educação infantil na vida escolar da criança seja ela TEA ou não.

 

 

Referências

 

BRASIL. Saberes e Práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem, autismo. 2. ed. rev - Brasília : MEC, SEESP, 2003. disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/educacao%20infantil%203.pdf. acesso em: 11/03/25

 

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 9.394/96. disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm acesso em: 15/05/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1994. disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf acesso em: 20/03/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. disponível em: http://www.seduc.ro.gov.br/portal/legislacao/rescne005_2009.pdf acesso em: 17/04/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. 2007. disponível em:

http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.acesso em: 11/03/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília: MEC/Consed/Undime, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase acesso em: 24/04/25

 

BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP,

2001.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 acesso em: 08/05/25

 

BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil (1988). Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf acesso em: 08/05/25

 

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1990/lei-8069-13-julho-1990-372211-publicacaooriginal-1-pl.html.acesso em: 16/05/25

 

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm.acesso em: 16/05/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa de implantação da Sala de Recursos Multifuncionais: espaço para atendimento educacional especializado. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Brasília. 2006. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=9936- acesso em: 15/05/25

 

BRASIL. Medida Provisória Nº 1.025, de 31 de dezembro de 2020. Dispõe sobre o Plano de Ensino Individualizado – PEI, no âmbito do sistema educacional inclusivo. Brasília-DF, 2020. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=8921974&ts=1618945764007&disposition=inline acesso em: 22/05/25

 

BRASIL. Ministério da Educação. O Desafio das Diferenças nas Escolas. Boletim

  1. MEC, 2006.

 

BRASIL. Lei 13.146 de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília-DF, 2015. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm acesso em: 11/03/25

 

COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. artmed: Porto Alegre. 1995.

 

GAIATO, M.; Teixeira, G. O reizinho autista: guia para lidar com comportamentos difíceis. Inversos: São Paulo, 2018. disponível em: https://proinclusao.ufc.br/wp-content/uploads/2020/05/o-reizinho-autista.pdf acesso em: 29/04/25

 

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

 

LIMA, P. AVieira, T. Educação inclusiva e igualdade social. AVERCAMP: São Paulo,2006.

 

CUNHA, E, Autismo e Inclusão. psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. 3 ed. Rio de Janeiro. WAK editora, 2011.

 

GAUDERER, E C. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento: uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais. São Paulo: Sarvier, 1985.

 

PRATES, J.; LUDKE, R. Autismo e inclusão na educação infantil: um estudo sobre as crenças dos educadores. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Instituto de Psicologia. Porto Alegre, 2011.

 

SANINI, C.; Bosa, C., A. Autismo e inclusão na educação infantil: crenças  e autoeficácia da educadora. estud. psicol. (natal) [online]. 2015, vol.20, n.3, pp.173-183. issn 1413-294x. disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413294x2015000300173&script=sci_abstract&tlng=pt acesso em: 29/04/25

 

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Construir a Escola das diferenças: caminhando nas pistas da inclusão. In: O Desafio das Diferenças nas Escolas. Boletim 21. MEC, 2006.

 

 

 

 

Benefícios da musicalização para o ensino-aprendizagem de Línguas estrangeiras no ensino médio

Luize Queterine Kilker

 

DOI: 10.5281/zenodo.15420148

 

 

RESUMO

A musicalização é uma prática pedagógica que tem ganhado espaço no ensino de línguas estrangeiras, principalmente no Ensino Médio, etapa em que os estudantes vivenciam intensas transformações cognitivas e afetivas. Este artigo visa explorar os benefícios do uso da música como estratégia didática no processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, considerando aspectos como a motivação dos alunos, a ampliação do vocabulário, o desenvolvimento da pronúncia, da compreensão auditiva e da fluência verbal. Por meio de uma revisão bibliográfica, são analisadas as contribuições de autores como Gardner, Krashen, Fonseca-Mora e Paiva, que fundamentam a inserção da musicalização como recurso significativo para uma aprendizagem mais contextualizada, prazerosa e eficiente. Os resultados apontam que a música não apenas facilita o processo cognitivo de aquisição linguística, mas também promove o engajamento, a expressão emocional e a valorização da cultura da língua-alvo, favorecendo um aprendizado integral e humanizado.

 

Palavras-chave: Musicalização. Ensino de línguas. Ensino Médio. Motivação. Educação linguística.

 

 

1 Introdução

 

A aprendizagem de línguas estrangeiras, especialmente no contexto escolar, é um desafio que requer abordagens didáticas inovadoras, contextualizadas e centradas no aluno. Tradicionalmente, o ensino de línguas é baseado na memorização de regras gramaticais e listas de vocabulário, muitas vezes desarticuladas da realidade dos estudantes, o que gera desinteresse e frustração.

No Ensino Médio, esse cenário se intensifica, pois os alunos estão em um período de transição entre a adolescência e a vida adulta, marcado por novas demandas emocionais, sociais e acadêmicas. A musicalização, nesse contexto, surge como uma estratégia pedagógica que alia emoção, cultura, linguagem e ludicidade, criando condições propícias para o aprendizado de uma nova língua.

Este artigo tem como objetivo analisar os impactos positivos da musicalização no ensino de línguas estrangeiras no Ensino Médio, destacando sua contribuição para o desenvolvimento de competências linguísticas, cognitivas e afetivas, com base em aportes teóricos e exemplos práticos.

 

 

2 Fundamentação Teórica

 

2.1 A música como linguagem e meio de aprendizagem

 

A música é uma das formas mais antigas e universais de expressão humana. Ela comunica emoções, transmite histórias e conecta culturas. Para Gardner (1995), a inteligência musical é uma das oito inteligências múltiplas presentes no ser humano, podendo ser estimulada para favorecer a aprendizagem em diversas áreas do conhecimento.

No ensino de línguas, a música é capaz de integrar vários aspectos da comunicação, como entonação, ritmo, prosódia e expressão cultural. Segundo Medina (2002), as canções são ferramentas poderosas para ensinar estruturas linguísticas, vocabulário e contextos sociais de uso da língua de forma natural e envolvente.

 

2.2 Teorias da aquisição linguística e o papel da emoção

 

Krashen (1982), em sua teoria do filtro afetivo, destaca que fatores emocionais influenciam diretamente o sucesso na aquisição de uma segunda língua. Ambientes estressantes e métodos rígidos aumentam a ansiedade dos alunos, bloqueando o aprendizado. A música, por outro lado, reduz a tensão, eleva a autoestima e cria um ambiente seguro para experimentações linguísticas.

Fonseca-Mora (2000) argumenta que a melodia, o ritmo e os padrões repetitivos das canções ajudam na internalização da linguagem, ativando áreas cerebrais ligadas à memória de longo prazo e ao prazer, o que potencializa o processo de retenção e recuperação do conteúdo aprendido.

 

 

  1. Musicalização e Desenvolvimento de Competências Linguísticas

 

3.1 Compreensão auditiva e pronúncia

 

A escuta de músicas em língua estrangeira favorece o desenvolvimento da compreensão auditiva de forma contextualizada. Ao se deparar com diferentes sotaques, entonações e estilos musicais, o aluno amplia sua capacidade de entender a língua falada em situações reais.

A repetição melódica presente nas músicas contribui para a correção da pronúncia e entonação. Cantar uma canção estrangeira envolve a reprodução de fonemas e padrões linguísticos com ritmo e fluidez, facilitando o desenvolvimento da oralidade.

 

3.2 Vocabulário e estruturas gramaticais

 

Canções permitem a exposição constante a novas palavras e expressões idiomáticas. Atividades como completar lacunas nas letras, identificar tempos verbais, ou substituir palavras por sinônimos desenvolvem o vocabulário e o domínio das estruturas gramaticais.

Segundo Paiva (2009), as canções promovem a internalização inconsciente de regras linguísticas, muitas vezes sem a necessidade de explicações gramaticais diretas, favorecendo uma aprendizagem mais natural.

 

 

  1. Musicalização como Estratégia de Motivação e Inclusão

 

4.1 Engajamento e protagonismo do aluno

 

A música é parte do cotidiano dos adolescentes, estando presente em suas playlists, redes sociais, filmes e séries. Incorporar esse universo ao ambiente escolar torna o ensino mais atrativo, participativo e significativo.

Quando os alunos são convidados a escolher músicas, criar paródias ou apresentar performances em língua estrangeira, eles se tornam protagonistas do processo de aprendizagem, o que eleva sua autoestima e senso de pertencimento.

 

4.2 Inclusão e acessibilidade

 

A musicalização também pode ser uma estratégia inclusiva. Estudantes com dificuldades de leitura ou escrita, transtornos de aprendizagem ou déficit de atenção tendem a se beneficiar de atividades auditivas e interativas.

Além disso, a música pode aproximar culturas e valorizar a diversidade, contribuindo para uma educação intercultural e plural, essencial em um mundo globalizado.

 

 

  1. Aplicações Práticas em Sala de Aula

 

A seguir, apresentam-se sugestões de atividades práticas que podem ser utilizadas por professores de línguas no Ensino Médio:

  • Compreensão de letras: ouvir uma música e realizar atividades de interpretação, vocabulário e gramática com base no conteúdo da letra.
  • Cloze: entregar a letra com lacunas para serem preenchidas durante a escuta.
  • Tradução crítica: comparar versões oficiais e alternativas de traduções, discutindo sentidos culturais e conotações.
  • Produção de paródias: incentivar os alunos a reescreverem letras com novos significados ou temas estudados.
  • Karaokê educativo: trabalhar fluência, pronúncia e expressividade por meio de apresentações musicais.

Essas atividades não apenas desenvolvem habilidades linguísticas, mas também promovem criatividade, trabalho em grupo e valorização da identidade cultural dos alunos.

 

 

  1. Considerações Finais

A musicalização representa uma metodologia potente e multifacetada para o ensino de línguas estrangeiras no Ensino Médio. Por meio dela, os alunos se envolvem de forma mais autêntica, afetiva e significativa com a língua-alvo, superando as barreiras impostas pelos métodos tradicionais.

Com base na literatura e em experiências práticas, é possível afirmar que a música não apenas contribui para a aprendizagem linguística, mas também promove o desenvolvimento socioemocional, a motivação e a inclusão. Cabe ao professor reconhecer esse potencial e planejar o uso da música com intencionalidade didática, respeitando os níveis de proficiência, os objetivos curriculares e os interesses dos alunos.

Investir na musicalização como ferramenta pedagógica é investir em um ensino mais humano, criativo e eficaz, que dialogue com a realidade dos estudantes e os prepare para o uso significativo das línguas em contextos reais e interculturais.

 

 

Referências

 

FONSECA-MORA, M. Carmen. Aquisição de língua estrangeira e melodia: cantoria. ELT Jornal v. 54, n. 2, p. 146–152, 2000.

 

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: A teoria na prática. Porto Alegre: Artmed, 1995.

 

KRASHEN, Stephen. Princípios e Prática na Aquisição de uma Segunda Língua. Oxford: Pergamon Press, 1982.

 

MEDINA, Suzanne L. Usando música para melhorar a aquisição de um segundo idioma: Da teoria à prática. TESOL Jornal, v. 6, n. 3, p. 6-10, 2002.

 

PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. Aquisição de segunda língua e língua estrangeira. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009.

 

SCHMIDT, Richard. O papel da consciência na aprendizagem de uma segunda língua. Lingüística Aplicada, v. 11, n. 2, p. 129–158, 1990.

 

 

 

 

A importância do desenho no processo de alfabetização na primeira etapa da Educação Básica

Thalita Finisguerra Garlizoni Marques Barcellos[1]

Gislaine Cristina Ramos França

Daniela Cristina de Godoy Rangel

Fabiana Santos Paes

Leonardo Antônio de Pádua

 

DOI: 10.5281/zenodo.15558937

 

 

RESUMO

O presente trabalho almeja discutir e analisar a importância do desenho na primeira etapa da educação básica. Devido a isso, discute-se no decorrer do mesmo, alguns pontos importantes sobre como o desenho pode auxiliar a criança no processo de aprendizagem, as linguagens diferentes que as crianças utilizam nesse processo, o significado e importância do desenho para a criança no processo de alfabetização. Apresenta também que o desenho nessa etapa contribui de forma significativa não apenas na alfabetização da criança, colabora também no desenvolvimento da mesma em toda vida.

 

Palavras-chave: Educação básica, desenho, alfabetização.

 

 

ABSTRACT

The present work aims to discuss and analyze the importance of drawing in the first stage of basic education. Due to this, it is discussed during the course some important points about how the drawing can help the child in the learning process, the different languages that children use in this process, the meaning and importance of the drawing for the child in the literacy process. It also shows that drawing in this step contributes significantly not only to the child's literacy, but also contributes to the development of it in all life.

 

Keywords: Basic education, drawing, literacy.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Na vida de qualquer criança, a alfabetização desempenha um papel muito importante, pois, é através dela que a criança se desenvolve socialmente, cognitivamente e suas habilidades, além da construção de conhecimentos, isso através das experiências de vida de cada criança, em casa e na escola.

Durante o processo da alfabetização, cada criança leva com ela na escola as primeiras experiências grafadas no papel em forma de desenho, e é através do desenho que permite cada criança expor seus sentimentos, seus desejos, suas ideias, vontades e anseios.

Pode-se dizer então que, o desenho torna-se uma linguagem significativa, ou seja, ele torna-se um elo entre a criança e a descoberta do mundo. 

Existem muitas crianças que possuem o contato com a língua escrita no ambiente em que está inserida. Pode-se enfatizar a observação de cada criança no ambiente familiar sobre os materiais escritos, seja em produtos utilizados em casa, ver alguém escrevendo um bilhete, receitas, listas de compras, convites, entre outros. Diante disso, esse primeiro contato com a escrita e leitura possibilita a percepção de cada criança sobre a comunicação.

A participação e a inserção da criança no mundo letrado, inicia-se através do processo do compreender e adquirir a linguagem escrita dentro da realidade de cada uma.  Com isso, através de escritas presentes no cotidiano da criança, a mesma consegue construir significados sobre o que a mesma desenhou.

Assim sendo, este presente artigo tem como objetivo analisar a contribuição do desenho infantil no processo de aprendizagem, portanto, acredita-se que o assunto abordado neste artigo é muito importante para os docentes em sala de aula, pois, é de extrema necessidade conhecer a finalidade do desenho na educação infantil e sua importância e contribuição para o desenvolvimento da aprendizagem e para se construir o conhecimento da criança.  

Dessa forma, frente ao tema abordado, investiga-se sobre a contribuição do desenho infantil para o desenvolvimento da aprendizagem da criança.

O desenvolvimento deste estudo utilizou como metodologia pesquisa bibliográfica, centrando seu foco sobre as contribuições do desenho na educação infantil com base em alguns autores como: Derdyk, Vygostky e entre outros.

Para alcançar as propostas do presente artigo abordará sobre o significado do desenho na educação infantil e a importância do desenho na alfabetização.

Nas considerações finais conclui-se o presente artigo, a partir de uma reflexão sobre o tema abordado, análise das discussões teóricas, e enfim, como o desenho infantil contribui para o desenvolvimento no processo de aprendizagem da criança.

 

 

O desenho e seu significado na Educação infantil

 

Ainda em processo de aprendizagem, tanto no movimento motor quanto na oralidade, a criança utiliza um lápis, ou até um giz escolar, e espontaneamente por meio dos movimentos involuntários das próprias mãos, descobre um mundo ao colocar no papel seus primeiros traços.

Muito mais do que apenas traços, os mesmos revelam-se como algo precioso no universo infantil.  Inicialmente, quando a criança começa a manifestar seus primeiros traços no papel, não é uma coisa simples, para a criança é uma forma prazerosa de deixar uma marca registrada “o rastro de uma vareta na areia da praia, o risco do caco de tijolo no muro e na calçada, a marca do giz na lousa, os furinhos feitos com o dedo na massinha, a impressão da mão cheia de tinta no papel, a marca da ponta do dedo no vidro embaçado” (DERDYK, 1993, p.56).

Dessa forma, segundo a autora, é por meio de qualquer local ou por meio de brincadeira, e do lúdico que a criança vai se expressando e deixando sua marca do seu jeito, de acordo com sua história e vivencias no ambiente na qual está inserida.

Devagar, começam a aparecer no meio dos riscos dos desenhos da criança, detalhes, os desenhos vão tendo mais significados, pois “é o alvo de representações. Bichos, plantas, carros, prédios, sóis, árvores, gentes. A criança vai formando um repertório gráfico como num grande quebra-cabeça” (DERDYK, 1993 p.100).

Com isso, a criança vai evoluindo na aprendizagem ao colocar no papel, seus saberes com relação suas vivencias ao seu redor, por meio das cores dos lápis, das formas e traços, objetos a exploração do papel e entre outros.

Progressivamente a criança vai idealizando o seu próprio desenho, “uma figura que lembra uma música, que ela associa a um ritmo; nascem pontos que lembram o céu e as estrelas, mas que estão embaixo e se transformam em florzinhas que configuram construções quase abstratas. E vai o azul, e vai o amarelo” (DERDYK, 1993 p.100). Assim, nasce o desenho da criança.

Observa- se que ao desenhar a criança traduz e representa sua imaginação através do desenho grafado no papel. É um mundo mágico que a criança vive, ao desenhar, já para os adultos o desenho infantil “é como uma janela aberta para uma “terra incógnita”, um continente perdido, onde moramos há muito tempo, e que é o domínio de seres muito enigmáticos: as crianças. De nosso lugar de adulto, o que vemos por essa janela” (ARFOUILLOUX, 1988, p.128).

Portanto, para entrar nesse mundo mágico do desenho infantil “precisamos primeiramente arranjar um passaporte. Este passaporte seria a nossa própria vivência da linguagem: o ato de desenhar”. (DERDYK, 1993, p.49). De acordo com a autora, é necessário conhecer a criança para poder compreender a sua linguagem grafada no papel, ou seja, seu desenho.

Para obter um olhar sobre a grafia de cada criança no desenho é necessário viver essa linguagem instigante no mundo da mesma. Pois, são diversos questionamentos que surgem no pensamento sobre o desenho infantil inclusive sobre o significado do mesmo para a criança.

Para responder essa questão, precisa ter em mente que a criança se expressa através do desenho. É nele que a criança se comunica e expõe a seu jeito de ver tudo o que se passa ao seu redor, bem como suas vontades e desejos. Dessa maneira, a criança quando desenha, ela mostra “parte de si própria: como pensa, como sente e como vê” (LOWENFELD; BRITTAIN, 1977, p.19). De acordo com os autores, a criança em cada desenho registrado, demonstra um pouco como ela é.

O desenho infantil tem se tornado uma atividade gráfica de extrema importância para a criança, pois, o mesmo tem provocado alegria e encantos, “alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um longo processo vivencial e existencial” (DERDYK, 1993, p.51). Com base nessa frase da autora, pode- se destacar que o desenho vai além do que se imagina, pois, não há só o desenho grafado no papel, ela se organiza se recria e se inventa.

“A maneira como organiza as pedras e as folhas ao redor do castelo de areia ou como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na brincadeira da casinha” (MOREIRA,2009, p.16.)  Nesse processo de organizar, recriar e inventar entende que todo desenho é movido pelo desejo da criança manifestar suas expressões.

Com base nesse universo da grafia em movimento no papel de “ir vir, nomear, desenhar, olhar, rabiscar, narrar, colorir, cantar, mexer que faz com que o sujeito recrie, a todo instante, o significado do mundo em que se insere” (LEITE, 2003, p.141). No que diz a autora, cada criança mostra-se através do desenho, pois, a mesma cria novas possibilidades dentro da realidade que vivem.

O desenho para qualquer pessoa se configura como um código difícil de ser decifrado, porém no universo infantil “(...) provavelmente para a criança, naquele instante, qualquer gesto, qualquer rabisco, além de ser uma conduta sensório-motora, vem carregado de conteúdos e de significações simbólicas” (DERDYK,351993, p.57).  O desenho se torna um local com muitas oportunidades, que se contradiz o mundo real com o mundo imaginário no pensamento infantil. Durante esse processo interno, nascem diversos significados que com o passar do tempo vão se realizando.

Ao observar uma criança desenhando é uma aprendizagem para qualquer pessoa, pois, é a partir do desenho que a criança se desenvolve em todos os sentidos, e, o mesmo tem muito significado para a criança “o seu próprio canal expressivo” (MOREIRA, 2009, p.96).

Acredita-se que o desenho para cada criança possui diversos significados, isso, a partir do momento em que a mesma consiga vivenciar isso, ou seja, explorando seus limites e dificuldades e enfrentando obstáculos e medos. Com isso, através dos traços cada criança deixa marcada sua história, sua infância.

 

 

A importância do desenho na alfabetização

 

Cada criança leva dentro de si suas experiências e marcas através da primeira escrita, ou seja, o desenho. No meio infantil, essa linguagem gráfica se torna encantadora “dotada de prestígio por ser secreta, (...) exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança, e isso bem antes dela própria poder traçar os verdadeiros signos” (MÈREDIEU, 2006, p.10).

Sendo assim, segundo o autor, para o desenvolvimento de qualquer criança o desenho é um elemento fundamental, pois permite que a criança utilize sua imaginação, bem como, aprenda as regras e rotinas em seu contexto social, mas principalmente mostra-se como a primeira representação gráfica da criança. 

Através de materiais, sejam eles: lápis, papel, giz, lousa, ou qualquer outro, cada criança desde muito pequena, utiliza os mesmos para deixar registros gráficos de suas marcas, traços, ou até mesmo imitar uma escrita. O imitar da criança não é uma cópia, mas sim uma vontade que a mesma tem em grafar sua própria escrita. A imitação, surge não como uma cópia, mas revela o desejo da criança em produzir a sua própria escrita. Esse desejo de representação, surgem os primeiros registros que são transmitidos os conhecimentos das crianças.

Os desenhos ligados à criatividade expressam o que cada criança pensa, sente, na qual muitas vezes não conseguem falar, ou seja, ela coloca no papel suas ideias, seus sentimentos, curiosidades, etc. Com isso, “experiência gráfica é uma manifestação da totalidade cognitiva e afetiva, quanto mais à criança confia em si, mais ela se arrisca a criar e a se envolver no que faz” (OLIVEIRA, 1994, p.41). 

Segundo a reflexão da autora, cada criança usa subjetivamente seus conhecimentos, sentimentos, sendo por meio da exploração das suas próprias possibilidades, a mesma usa o desenho para viver suas próprias experiências. Dessa maneira, o desenho contribui para que a criança consiga se comunicar antes mesmo de aprender escrever de forma convencional.  

Sendo assim, podemos dizer que, o desenho se torna um instrumento muito importante contribuindo para o desenvolvimento da aprendizagem da alfabetização da criança. Durante esse trajeto, contempla-se diversas formas de linguagens ao brincar, ao cantar, ao dançar e etc, essas formas “são essenciais para a formação da identidade, da inteligência e da personalidade da criança” (MELLO, 2005, p.24).

Sendo assim, de acordo com a autora, o desenho na infância oportuniza para a criança vivencias com diferentes maneiras de linguagens. Com isso, a criança começa a compreender um significado maior e melhor em todos os sentidos, além da contribuição do desenvolvimento da aprendizagem da criança no início da alfabetização na primeira etapa da educação básica.

Observa-se que no processo do desenvolvimento da aprendizagem da criança que “quando pressionada no tempo e pela mecânica que a faz repetir formas sempre iguais, é que a criança rompe com o seu desenho”. Acontece realmente uma quebra, um corte e a criança para de desenhar” (MOREIRA, 2009, p. 70). De acordo com a autora, a partir do momento em que a criança começa a desenvolver sua aprendizagem a mesma abandona o desenho.

O desenvolvimento da aprendizagem é muito importante na vida social de cada criança, “verifica-se quase sempre uma diminuição da produção gráfica, já que a escrita – matéria considerada mais séria - passa então a ser concorrente do desenho” (MÈREDIEU, 2006, p.11). O autor Mèredieu, menciona sobre a disputa no método de impedir o desenvolvimento do desenho infantil, essa diminuição ocorre devido algumas metodologias no processo de alfabetização da criança.  Há casos em que algumas crianças se sentem desestimuladas devido á atividades que se tornam mecânicas durante o processo de alfabetização.  

Durante o processo educativo que normalmente a escola propõe alfabetizar exige memorização e repetição das letras, silabas, sendo assim, percebeu –se que esse método não é muito eficaz, pois, desperta na criança desinteresse em desenvolver alguns processos educativos, alem disso, a criança abandona o desenho, pois, esse método já passa a ser desprezado.

Destaca-se que “a perda do desenho, aparentemente vista como uma substituição de um código por outro, revela apenas a maneira como a criança é vista pela escola” (MOREIRA, 2009, p. 72). Segundo a autora, existem escolas que por exigência em alguns contextos sociais, insere antes do tempo, as crianças para serem alfabetizadas. Com isso, o tempo da criança é preenchido com diversas atividades que não são valorizadas, onde a criança não consegue expor suas expressões ou vivencias construída com suas experiências cotidianas.

O processo de aprendizagem não deve ser desqualificado, mas sim considerar a importância e as contribuições que o desenho traz no desenvolvimento da criança. Por isso, é dever da escola, dos profissionais da educação, utilizar as diferentes didáticas para que as crianças possam se expressar, a partir do desenho.  

Faz-se necessário, observar a necessidade de cada criança, oportunizando as mesmas, atividades lúdicas, para que aos poucos elas possam ser inseridas no processo de alfabetização tão complexo. Sem cobrar e exigir que cumprem algumas regras tradicionais, pois pode gerar um bloqueio quando a criança desenvolve o seu desenho.

Sendo assim, faz necessário a existência de atividades lúdicas presentes nos currículos escolares, e principalmente a intervenção dos profissionais da educação, nessa fase contribuindo para que a criança comece a expressar nos seu desenhar.  Caso isso não ocorra, o desenho infantil poderá ser substituído a métodos tradicionais, e regras ultrapassadas, devido as crianças ficam mais tempo em salas de aula com atividades repetitivas.   

Pode-se considerar, “(...) desenhar e o brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem das crianças” (VYGOTSKY, 1984, p.134). Segundo Vygotsky, a criança consegue se expressar por meio do desenho, onde o mesmo pode ser considerado como um elo no processo de alfabetização. Com base nisso, as crianças que iniciam a alfabetização através do desenho se desenvolvem com mais facilidade.

Sendo assim, as escolas, ao reconhecerem que o desenho da criança pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem na alfabetização na primeira fase da educação básica “(...) as suas hipóteses e desenvolver a sua capacidade intelectiva e projetiva, principalmente, quando existem as possibilidades e condições físicas, emocionais e intelectuais para elaborar estas “teorias” sob formas de atividades expressivas” (DERDYK,1993, p.54).

Desse modo, observa-se que a criança para começar a ser alfabetizada é muito importante que a mesma possa ter oportunidade de expressar suas opiniões, sentimentos, tirar suas dúvidas sobre o processo de alfabetização, sempre levando em conta suas vivências e conhecimentos fora da escola.  

Portanto, o professor se torna responsável em elaborar um local estimulante para a criança, não apenas no processo de alfabetização, mas também na aplicação do desenho na sala de aula. “Segundo a autora Edith Derdyk, observa que a partir do momento que o professor respeita e reconhece a criança” (...) o processo de aquisição linguagem gráfica, retomando as descobertas e frustrações que envolvem o ato de desenhar, revivendo operações mentais e práticas que são exigidas pelo desenho, surgirá uma forma inédita e pessoal de se relacionar com o universo infantil: a partir da experimentação e da investigação que nascem novos significados no encontro entre o adulto e a criança (1993, p. 50)

De acordo com a autora, é nítido o quanto é importante resgatar no momento da infância o desenho da criança, é também que o professor mergulhe no desenho dos alunos para encontrar caminhos que levem a contribuir para o início da aprendizagem da alfabetização, além de estimular o início da grafia das letras, e na linguagem particular da criança.

O professor deve ter um olhar especial e técnico para o desenho da criança, pois, o mesmo tem um significado importante para cada uma, dependendo da reação da relação desta linguagem gráfica, a criança começa a ter mais coragem para se expressarem criativamente. E caso os professores mostrarem uma insatisfação frente ao desenho da criança, ela pode se sentir desestimulada e frustrada.   

Dessa maneira, as contribuições do desenho no processo de alfabetização na primeira etapa da educação básica, certamente necessitam ser mais valorizadas e utilizadas na rede escolar. O desenho infantil carece de ser mais reconhecido para o desenvolvimento cognitivo e motor da criança, não apenas na escola, mas também na vida da criança.

Enfim, todo ser humano sente a necessidade de se expressar, frente a isso, não deve pensar que o desenho na educação infantil é apenas visto como uma forma da criança brincar ou ocupar se tempo, mas também como uma linguagem que contribuirá como base para o desenvolvimento gráfico, e para o início da aprendizagem da alfabetização na primeira etapa da educação básica.

 

 

Considerações finais

 

A intenção do presente artigo foi analisar as contribuições que o desenho traz para a criança na primeira etapa da educação básica no processo de alfabetização. Frente á isso, verificou-se o quanto é importante deixar com que a criança manifeste seus sentimentos por meio do desenho, pois, o mesmo além de auxiliar no desenvolvimento para a alfabetização, colabora também em todas as áreas da vida humana da criança. 

Dessa maneira, pode-se afirmar que o desenho da criança, descrito no decorrer do trabalho, é a uma das atividades em que a criança pode se expressar graficamente para se comunicar, por ser o início do processo de alfabetização. Sendo assim, a partir de estudos apresentados no decorrer do trabalho, conclui-se que o desenho na educação infantil, contribui de forma significativa não apenas no desenvolvimento da aprendizagem da criança, mas também auxilia a criança em todos os sentidos cognitivos e motores.  

Durante o desenvolvimento desse presente artigo, pode-se refletir sobre o quanto é importante a utilização do desenho infantil no processo da aprendizagem da criança. Dessa maneira, observa-se que quando a criança participa do processo de alfabetização, reproduz o ato de desenhar.  Isso acontece devido à importância que a escola dá ao sistema convencional da aprendizagem.   

Sem hierarquizar o desenho e a alfabetização, o presente trabalho pretende mencionar que estas duas linguagens, por serem tão diferentes, se completam e são importantes para a alfabetização da criança. Assim, entende- se que a alfabetização da criança, origina-se não apenas por uma só linguagem, mas sim da ligação das diferentes maneiras com que a criança se expressa.  

Sendo assim, não pode- se dizer que na vida da criança apenas um momento é importante, a alfabetização, sem destacar o papel do professor nesse trajeto.

Durante esse aprendizado, o professor se torna uma peça fundamental no momento que desenvolve as atividades, pois, deve se explorar os conhecimentos das linguagens diferentes prévias das crianças, além de valorizar os desenhos que as mesmas reproduzem partir de uma atividade proposta.

Frente a essa exposição, se torna necessário refletir perante alguns profissionais na área da educação, que dizem que o desenho infantil não tem valor como atividade.  No decorrer do trabalho, ressalta-se que o desenho que a criança produz, realmente não deve ser aplicado como apenas uma atividade de passatempo demitido de significados, mas sim como uma linguagem particular da criança.

Pois, vimos que o mesmo faz parte do desenvolvimento cognitivos e motores, sendo de extrema importância saber que é por meio do desenho, que a criança expressa seus sentimentos, sua criatividade, suas comunicações, e forma de pensamento.

Conclui- se por fim, que é fundamental que todas as escolas promovam o processo de alfabetização juntamente com os conhecimentos prévios das crianças, dentro do contexto social e cultural de cada uma, respeitando as individualidades, as brincadeiras e principalmente o tempo e jeito de aprender de cada uma. É por meio desse olhar que, valoriza o desenho da criança, e consequentemente, o mesmo contribui no processo de alfabetização em cada uma.

 

 

Referências

 

ARFOUILLOUX, Jean Claude. A entrevista com a criança: a abordagem da criança através do diálogo, do brinquedo e do desenho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

 

DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. São Paulo: Scipione, 1993.

 

LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo, Editora Mestre Jou, 1977.

 

MÈREDIEU, Florence. O desenho infantil. 11ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

 

MOREIRA, Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do educador.

13ª ed. SãoPaulo: EditoraLoyola,2009.

OLIVEIRA, Vera Barros de; BOSSA, Nádia (orgs.) Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis: Rio de Janeiro, 1994.

 

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins, 1984.

 

[1] Graduada em Pedagogia, e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

 

 

Vantagens da contação de história na Educação Infantil

Sofia Torres Alencar

 

DOI 10.5281/zenodo.15419919

 

 

RESUMO

A contação de histórias na Educação Infantil configura-se como uma prática pedagógica de grande relevância, uma vez que atua diretamente no desenvolvimento global da criança — abrangendo aspectos cognitivos, afetivos, linguísticos, sociais e culturais. Além de promover o prazer estético e a ampliação do repertório simbólico, as histórias contribuem para a formação da identidade, do senso crítico e do gosto pela leitura desde os primeiros anos escolares. Este artigo tem como objetivo analisar, à luz de referenciais teóricos, as principais vantagens da contação de histórias no contexto da Educação Infantil, destacando suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem. O estudo foi desenvolvido por meio de revisão bibliográfica, abordando autores que defendem a importância da literatura infantil como ferramenta educativa. Os resultados apontam que, quando bem conduzida, a prática de contar histórias potencializa habilidades essenciais ao desenvolvimento infantil, promovendo uma aprendizagem lúdica, significativa e humanizada.

 

Palavras-chave: Contação de histórias. Literatura infantil. Educação Infantil. Desenvolvimento global. Aprendizagem lúdica.

 

 

Introdução

 

Contar histórias é um ato ancestral que acompanha a humanidade desde os primórdios, sendo um meio eficaz de transmitir conhecimentos, valores e tradições culturais de geração em geração. Na atualidade, a prática de contação de histórias permanece viva, adaptada aos diferentes contextos sociais e educacionais, especialmente no ambiente escolar. No âmbito da Educação Infantil, essa prática ganha um sentido ampliado, pois se revela como uma importante estratégia pedagógica capaz de promover o desenvolvimento integral das crianças de forma lúdica, prazerosa e significativa.

A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento das capacidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais das crianças de zero a cinco anos. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), a literatura infantil e as práticas de oralidade devem ser valorizadas nesse processo, pois proporcionam experiências que favorecem a escuta, a imaginação, a linguagem e a interação.

Segundo Abramovich (1997), contar histórias é um ato de generosidade, um presente que se oferece à criança, estabelecendo laços afetivos e ampliando horizontes. Através das histórias, as crianças acessam universos simbólicos que lhes permitem compreender melhor o mundo, suas emoções e suas relações interpessoais. Assim, o presente artigo se propõe a refletir sobre os benefícios da contação de histórias no contexto da Educação Infantil, evidenciando sua importância para a formação de sujeitos sensíveis, críticos e criativos.

 

 

Desenvolvimento

 

A contação de histórias como prática pedagógica

 

A contação de histórias, quando inserida intencionalmente no planejamento pedagógico, deixa de ser uma simples atividade de passatempo e se transforma em potente recurso didático. Ela possibilita à criança desenvolver habilidades linguísticas, cognitivas e socioemocionais por meio da escuta, da imaginação e da interpretação simbólica. Conforme Zilberman (2003), a literatura infantil introduz a criança no universo da linguagem escrita de maneira envolvente e afetuosa, criando pontes entre o mundo real e o imaginário.

É na interação com as histórias que a criança é provocada a pensar, refletir e estabelecer relações com sua realidade. De acordo com Vygotsky (1989), o desenvolvimento infantil ocorre por meio da mediação de instrumentos culturais, entre os quais a linguagem ocupa papel central. A contação de histórias, ao utilizar narrativas cheias de significado, símbolos e metáforas, atua como mediadora essencial no processo de construção do conhecimento.

Além disso, a prática de ouvir histórias fortalece a atenção, a escuta ativa, a memória auditiva e a capacidade de concentração — habilidades fundamentais para o processo de alfabetização e letramento. Quando associada a elementos visuais, como livros ilustrados, fantoches ou dramatizações, a contação torna-se ainda mais atrativa e eficaz, despertando o interesse das crianças e promovendo um aprendizado sensorial e integrado.

 

Desenvolvimento emocional e social por meio das histórias

 

Outro aspecto relevante da contação de histórias é sua capacidade de promover o desenvolvimento emocional das crianças. Os contos, fábulas e lendas, ao abordarem situações de medo, perda, superação e coragem, oferecem às crianças formas simbólicas de lidar com suas emoções e conflitos internos. Bettelheim (2002) destaca que os contos de fadas cumprem essa função ao proporcionar às crianças um espaço seguro para enfrentar dilemas humanos universais de forma simbólica.

Através da identificação com os personagens e das tramas envolventes, a criança experimenta sentimentos como empatia, compaixão, alegria e tristeza, desenvolvendo sua sensibilidade e maturidade emocional. Além disso, o momento da contação de histórias, quando realizado em grupo, contribui para a socialização, o respeito à vez do outro, a escuta coletiva e o diálogo — aspectos fundamentais para a convivência em sociedade.

O ambiente criado pela contação de histórias favorece ainda a construção de vínculos entre educadores e alunos, fortalecendo a relação afetiva e de confiança necessária ao processo de aprendizagem. Conforme Khalil (2018), o afeto é uma das bases do ensino-aprendizagem na infância, e a contação de histórias é uma prática que humaniza e aproxima.

 

Promoção do letramento literário e estímulo à imaginação

 

A literatura infantil, quando introduzida precocemente na vida da criança, desperta o gosto pela leitura, amplia o repertório linguístico e favorece o letramento literário. De acordo com Cademartori (1994), o contato com diferentes gêneros textuais desde a infância possibilita que a criança compreenda a linguagem escrita como forma de expressão, comunicação e criação.

A contação de histórias também ativa processos mentais complexos, como a antecipação de enredos, a inferência, a formulação de hipóteses e a interpretação simbólica. Esses processos, além de prepararem a criança para a leitura autônoma, estimulam sua criatividade e imaginação. Quando convidada a recontar uma história ou a criar novas versões, a criança desenvolve a linguagem oral, a expressão corporal e a autoria.

Vale ressaltar que o ato de ouvir histórias é, em si, uma experiência estética e cultural. Ele contribui para a formação do sujeito leitor e cidadão crítico, capaz de apreciar, interpretar e transformar o mundo à sua volta.

 

 

Considerações Finais

 

A contação de histórias na Educação Infantil não é apenas uma atividade lúdica, mas uma prática rica em possibilidades pedagógicas e formativas. Ela favorece o desenvolvimento integral da criança, promovendo avanços significativos na linguagem, no pensamento simbólico, nas relações interpessoais e na construção da identidade.

Para além do aspecto técnico, contar histórias é um ato de afeto, presença e escuta, que fortalece os vínculos entre crianças e educadores e valoriza a infância como tempo de encantamento e descobertas. Por isso, é fundamental que os profissionais da educação reconheçam o potencial dessa prática e a utilizem com intencionalidade pedagógica, sensibilidade e criatividade.

A escola, enquanto espaço de formação humana, deve assegurar momentos sistemáticos de contato com a literatura infantil, reconhecendo a narrativa como direito cultural e instrumento de humanização. Investir na formação de educadores-leitores e na ampliação do acervo literário nas instituições de ensino é investir na qualidade da educação e no futuro das crianças.

 

 

Referências

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

 

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

 

CADEMARTORI, Ligia. Literatura infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Ática, 1994.

 

KHALIL, Rejane. Educação Infantil: afetividade, brincadeira e aprendizagem. Curitiba: Appris, 2018.

 

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

 

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.