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LEITURA E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

Celina Tardim Alves
Andréia Pereira da Silva
Cecília Tardim
Camila de Almeida Brito
Tatiane Lavínia de Souza
Romilda Alves Viana

RESUMO: Este estudo aponta para a necessidade de considerar a leitura, mais precisamente a aquisição da leitura, como um processo comunicativo desde os seus princípios, nos anos iniciais da escolaridade, sendo assim, tratamos do processo de planejar as atividades de forma a realmente integrarem as estratégias pedagógicas com as expectativas cognitivas e sociais dos educandos. Analisamos algumas considerações sobre o papel da escola, como a biblioteca e a prática de leitura na sala de aula, e o papel dos educandos, suas práticas de leitura e seu plano pedagógico para o desenvolvimento deste hábito nos alunos. Além disso, mencionamos que a leitura e o desenvolvimento de seu hábito diário pelos educandos, parte não somente da decodificação do texto, mas sim de uma interação entre os conhecimentos prévios do leitor, isto é, sua vida social e as competências e conhecimentos que possuem, com a busca de sentidos num texto a partir de uma leitura.

Palavras-chave: Leitura, introdução, educando


1 INTRODUÇÃO

Muitas vezes, no ensino tradicional, o leitor é um mero receptor das informações e ideias veiculadas pelo texto, ou seja, não há a sua interação com o texto, deixando lacunas abertas em direção à construção de sentidos, que de forma geral, o texto pode apresentar.
Sendo assim, o ensino de acordo com essa perspectiva tradicionalista não proporciona ao aluno, um leitor ou futuro leitor, uma visão de sentido real à leitura, já que os objetivos de uma leitura não são claramente determinados e especificados unicamente pelas palavras do texto, o que acaba limitando o estabelecimento de relações entre a leitura e a vida cotidiana do aluno, não cabendo neste espaço sua visão de mundo.
Além disso, queremos mencionar como muitas vezes é precária a exploração pedagógica dos diferentes gêneros, tipos de textos e meios em que costumam ser veiculados, no ambiente escolar, uma vez que acreditamos que a interação de diferentes suportes escritos, conscientemente manipulada, leva o aluno a estabelecer significados mais coerentes à leitura, ao mesmo tempo em que, amplia o seu campo de conhecimento e o hábito de ler.
Nossa preocupação é discutir nesse estudo quais atitudes direcionam o educador na formação de crianças leitoras, e considerar que o ensino de leitura deve estar associado a práticas que estimulem a compreensão do mundo, a criatividade, à autonomia, a curiosidade, a formulação de hipóteses de sentido, a verificação dessas hipóteses, a busca de significações e informações, o uso de estratégias, para que toda e qualquer leitura seja proficiente, significativa e proveitosa, pois a criança , segundo o período operatório concreto de Piaget, começa a desenvolver operações de pensamento lógico que podem ser aplicadas a problemas reais, concretos.
Essas operações, de acordo com Piaget (1983), são executadas não mais materiais, mas interior e simbolicamente, e são ações que podem ser combinadas de todas as maneiras psicologicamente e ainda reversíveis, fatores que são otimizados através de um desenvolvimento pedagógico eficaz, principalmente com relação a prática prazerosa da leitura no espaço escolar.
Para tanto mencionamos a importância da ação pedagógica que orienta o ensino da leitura na escola, com especial atenção à aprendizagem ou mesmo o aprimoramento da competência de leitura e ainda a preparação adequada dos educadores: suas habilidades e competências sobre a leitura no contexto escolar e extraescolar e sua prática social, para fim de servir como um exemplo a seus educandos.
Igualmente tratamos o quanto é importante o entendimento das estratégias de leitura, dos níveis de conhecimentos prévios e possibilidades de leitura, dos modelos de interação entre leitor e texto no processo de leitura; e também o uso e a adequação desses princípios a diferentes situações em que ocorre a interação do leitor com o texto dependendo do contexto em que o leitor está inserido, do gênero textual a ser trabalhado e da finalidade da leitura.
Por este motivo, analisamos também, o quanto um plano pedagógico apropriado pode assegurar uma prática de leitura eficiente e proficiente aos educandos, no espaço escolar, e também de que forma os procedimentos didáticos no ambiente escolar devem ser coerentes considerando os conhecimentos prévios dos alunos e proporcionando a eles conhecimentos linguísticos e estratégicos que os motivem e os auxiliem na leitura, para que haja uma determinada interação com o texto e a leitura seja significativa.
Acreditamos que a leitura, quando trabalhada pelos educadores de maneira que haja interação com o educando, tornar-se-á uma prática diária às crianças, jovens e adultos, mesmo para os alunos que não possuem um repertório linguístico e semântico tão amplo, principalmente aos alunos das séries iniciais, pois se considerarmos que estes já conseguem escolher os livros que querem ler, já são capazes de entender e compreender a manipulação dos livros, proporcionarão gradualmente um contato positivo dos alunos com a leitura, poderão desenvolver o gosto pelos livros e o hábito de ler.
Portanto, estratégias pedagógicas, como as quais abordamos, envolvem o aluno num processo automático e inconsciente que lentamente regula a sua relação de indivíduo e de leitor, através de sentidos presentes no texto que servirão na construção e, muitas vezes, reconstrução de saberes e competência do indivíduo como ser social e leitor.
Nesse sentido, abordamos alguns elementos escolares que estão envolvidos no desenvolvimento de alunos leitores: como a história da leitura, a prática de leitura do educador, a biblioteca escolar, a leitura em sala de aula, a prática escolar de leitura, o ensino da língua e da leitura, projeto para o desenvolvimento de leitores no âmbito escolar entre outros temas, para que mecanismos como decodificação de um texto não mais sejam prioridade na vida escolar de alunos e professores.
Para isso, o nosso trabalho baseia-se em pesquisas bibliográficas, estudos, pesquisas, seminários e reportagens que abordam a questão problemática da falta do hábito de ler e a importância da leitura significativa como prática diária no espaço escolar e fora dele.
Uma vez que, temos por objetivos compreender a importância da leitura para a criança desde a educação infantil, sua identificação com mecanismos e práticas em sua formação como leitores, e ainda, entender aspectos relacionados ao desenvolvimento do hábito de ler através da discussão do papel do professor e sua prática no que diz respeito ao desenvolvimento do hábito de leitura em seus alunos, partindo de sua sala de aula.
Temos a pretensão, neste trabalho, de conhecer as intervenções que o educador pode fazer para inserir a leitura como prática diária na vida do aluno, saber a importância de a escola formar leitores conscientes, pois a leitura é um meio para a interpretação da vida e do mundo, além disso ressaltar a leitura do mundo para a compreensão da leitura do texto e reconhecer que a prática de leitura forma cidadãos.

DESENVOLVIMENTO

Na instituição escolar tem-se o ensino da língua e da linguagem em que se espera que o aluno adquira o conhecimento sobre sua língua e também o hábito da leitura com atividades como leitura, interpretação e produção textual. No entanto, sabe-se que somente estes meios tradicionalistas não são motivadores do hábito de ler, uma vez que reduzem a leitura a uma simples atividade escolar e, na verdade, ela deve ser entendida como adensamento do conhecimento, ou seja, uma maneira pela qual o leitor aprofunda e amplia a sua percepção de mundo, em que, seus conhecimentos prévios se misturam a novas impressões adquiridas na leitura, transformando assim sua percepção de mundo.
Desta maneira, a leitura deve afastar-se de algo mecânico, sem fundamentação com a vida do indivíduo, a leitura deve gerar, proporcionar conhecimentos que podem ser escolares ou não-escolares, participar de forma ativa na vida do indivíduo. Sendo assim, a leitura promovida pela escola deve atender a diversos aspectos para não se tornar alvo de fracasso ou simplesmente uma rotina escolar, assim como afirma Silva (2000):

Ao ser institucionalizado, passando a responsabilidade da escola, o ensino da leitura perdeu sua naturalidade, caiu na esfera dos reducionistas e, de certo modo, transformou-se numa estafante rotina. Não mais se lê para melhor compreender a vida, mas para cumprir os artificialismos e pretextos impostos pela escola: treinamento da língua “culta”, análises gramaticais, inculcação de valores, respostas fechadas a exercícios de compreensão e interpretação, pesquisas vazias na biblioteca da cidade, horários, provas, notas, etc.¹ com isso, a interação entre os textos e os leitores foi ficando cada vez mais distorcida, afetada ou estereotipada, desviando-se de propósitos como a fruição significativa e prazerosa, a reflexão, a discussão, a produção de novos significados, etc. (SILVA, 2000, p. 22).

Podemos com isso afirmar que a leitura na escola, tem apenas o caráter secundário ao da escrita, apesar de andarem lado a lado, a escrita toma todo o tempo, enquanto a leitura é deixada sempre em segundo plano, ela, muitas vezes, no decorrer do ano letivo, é vista como uma atividade extra na aula. A leitura precisa ser compreendida como parte da vida, não só como uma atividade pedagógica, sendo assim, pode adquirir mais espaço durante as aulas e também fora do espaço escolar.
A leitura, portanto, é o caminho para o leitor ampliar seus horizontes, transformar os conhecimentos que já possui e adquirir outros conceitos para sua vida social, essa expectativa deve ficar bem explicitada e entendida pelos educadores, que já possuem em sua individualidade de leitor e querem desenvolver em seus educandos a prática da leitura.
Portanto, a leitura pode ser concebida dentro do ensino e da escola de maneira natural sem precisar de métodos e formas para seu desenvolvimento, acreditamos que basta professores e alunos sentirem o quanto a leitura pode contribuir para a melhora da condição social e cultural do sujeito, para adquirir mais espaço dentro do currículo escolar.
Vale ressaltar aqui que a instituição escolar, por muitas vezes, precisa demonstrar aos alunos os aspectos positivos da leitura, que são tão importantes para sua formação social, uma vez que, na sua vida familiar a leitura pode ainda ser algo estranho e negligenciado, pois a escola não tem como saber a realidade de vida de cada aluno.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNLP, 1998) tratam, não apenas, mas também, da importância da escuta de textos orais e escritos e atividade de leitura no ambiente escolar.
Isto quer dizer que, cabe ao professor proporcionar diferentes formas de se ler o mundo e também o acesso a diversidade de materiais escritos, ele é o referencial, o motivador, é nele que os alunos podem encontrar exemplos, por isso a escola é uma instituição que tem a capacidade de preservar e ampliar a prática de leitura, de formar leitores.
Desta forma, o foco do desenvolvimento da leitura escolar e do hábito de leitura cotidiana dos alunos em sua maioria, é responsabilidade do professor, uma vez que este precisa ter conhecimento prévio de vários livros para inserir, comentar e estigar a curiosidade dos alunos por esta leitura, em sua sala de aula.
São muitos os caminhos e os métodos em que os professores podem direcionar seus educandos, porém todos eles necessitam de uma reflexão teórica e também prática para que realmente a produção da leitura na escola dê satisfação ao aluno e ao professor.

2.1 LEITURA E PRÁTICA ESCOLAR

Para grande parte dos alunos a escola é o ponto de partida, é o início da convivência com livros, com a leitura em si. Desta forma, a escola deve abordar a leitura de modo em que o aluno se interesse por livros, para que isso leve o aluno a saber, a aprender com a leitura, a adquirir o prazer em ler e, consequentemente, a alterar a sua vida social.
Desta maneira, o professor quando faz uma atividade de leitura em sua sala de aula, não deve selecionar o livro para o aluno, pois os mesmos devem analisar para descobrirem qual livro mais interessa, uma vez que cada aluno pode se interessar por gêneros diferentes, sendo assim, se a escolha partir do adulto pode limitar o prazer do aluno em praticar a leitura.
Assim como afirma Freire (1995, p.45) “nada ou quase nada se faz no sentido de despertar e manter acesa, viva, curiosa, a reflexão conscientemente crítica, indispensável à leitura criadora, quer dizer, a leitura capaz de desdobrar-se na reescrita do texto lido”, pois muitas vezes, o aluno é despertado a ler pela capa ou pelo título do livro.
Em sua afirmação, Freire (1995) quer evidenciar que o que vale na leitura, muitas vezes é a vivência do aluno, ou seja, sua escolha de leitura, sua leitura e sua compreensão da leitura não se baseiam em escolhas feitas pelos docentes, mas sim pela sua leitura com relação à sua experiência de vida, a sua relação social, como um indivíduo no mundo.
Desta maneira, vale ressaltar que o papel da escola, portanto, é mostrar os caminhos que levam ao livro e não ao significado que os alunos vão encontrar na leitura, ou ainda, o significado que o livro tem, faz-se importante o educador saber que a interpretação da leitura e seu significado partirão do aluno, com relação a sua experiência de mundo.
Dentre as várias possibilidades de atividades que o docente pode utilizar em sua prática diária é de fundamental importância o contato das crianças com os livros desde muito cedo, esse contato não deve ser entendido pelo professor como algo que normalmente acontece em casa, em seu cotidiano ou de sua família, muitas vezes cabe o professor assumir seus objetivos e também suas responsabilidades, sem esperar que o aluno vá em busca de livros ou leituras apenas de forma autônoma, pois faz-se muito importante a criança ter o contato com o livro desde pequeno, é fundamental para tornar-se um aluno interessado pela leitura o contato direto com ela, diariamente.
Destaca-se, neste momento, também o fato de o aluno não ter acesso à biblioteca escolar ser o começo para não gostar da leitura, os professores não deixarem os alunos a vontade para terem acesso aos livros pode tornar-se uma forma de bloqueio no aluno para seu hábito de leitura, para o seu desenvolvimento como um leitor assíduo e a leitura como algo prazeroso.
Além disso, para propor atividades de leituras e ou momentos de leitura escolares ou extraescolares o professor deve ter plena consciência da realidade do aluno, uma vez que as classes não são homogêneas, tem-se alunos com diferentes realidades, diferentes religiões, diferentes condições financeiras e de moradia, diferentes culturas, com isso o professor deve ver cada aluno de um jeito, mas deve olhar todos com o mesmo intuito, o de ensinar o prazer da prática da leitura, com atividades envolventes e diferenciadas, sem que a falta de acesso a diferentes materiais escritos torne-se para o aluno um desprazer à leitura.
Para uma efetiva prática escolar deve-se ter em sala de aula o estímulo visual em primeiro lugar: levar aos alunos livros que prendam a atenção deles deve-se deixar as crianças terem livre acesso aos livros desde pequenos, terem livros expostos em sala de aula e visitas agendadas para conhecerem a biblioteca escolar. É de fundamental importância, também, que o professor realize esta atividade com prazer, entusiasmo e responsabilidade na construção de leitores.
Importância também tem quando o professor em sua prática escolar mostra-se interessado em ler junto com o aluno desde a fase inicial escolar, ele deve servir de exemplo aos alunos, sempre estar com livros e deixar os alunos rodeados de leitura e ainda deixar a criança à vontade para ler o que ela mais gosta o que mais chama a sua atenção e desperta o gosto por realizar diferentes leituras.
O professor leitor é o exemplo fundamental para o aluno, ele serve de estímulo, por este motivo, este deve também refletir sobre sua prática diária de trabalho e promover roda da leitura, ter o canto da leitura em sala de aula, usar todas as possibilidades possíveis para que o aluno sinta-se interessado pela leitura, uma criança estimulada poderá certamente ser um futuro leitor.
Segundo Porto (2001):

Nosso desafio é o de não ser um mero transmissor de conhecimentos, mas um professor que saiba ler criticamente o mundo e, a partir das suas sínteses pessoais, possa organizar programas pedagógicos que possibilitem o diálogo e interação com seus alunos... Várias são as discussões sobre as diferentes estratégias para a prática da leitura e a iniciação literária. No entanto, o que se conquistou até o momento ainda não é definitivo. Por isso, é necessário que se continue buscando uma mudança mais profunda, não só nas metodologias, mas na mentalidade docente. (PORTO, 2001, p.7).

O que talvez a autora está tentando dizer é que apenas direcionar caminhos ou promovê-los não são tão significativos quanto o valor pessoal que o educador pode demonstrar no trato com a leitura e sua prática em sala de aula e fora dela ou ainda com seus alunos.
Por vezes, os professores se relacionam bem com os livros e com a leitura, há alguns que afirmam que não gostam de ler, outros que não veem a leitura como lazer; outros que as poucas leituras que fazem são quase que, exclusivamente, para a preparação das aulas.
Assim, o educador é um mediador entre o aluno e o processo de aquisição da leitura, elemento impulsionador. O educador cria, em sua sala de aula, condições para que seus alunos possam ler. Dessa forma, ao conquistar o hábito da leitura, com prazer e autonomia, tanto o professor, quanto o aluno, estarão ampliando seus conhecimentos, compreenderão que ler é interpretar a vida social, ampliar a visão de mundo, reconhecer o outro e a si mesmo na leitura.

2.2 A LEITURA DO EDUCANDO E A PRÁTICA DE LEITURA DO EDUCADOR

A leitura deve ser uma atividade individual ou colaborativa, mediada e presente no cotidiano do ser humano, pois a cada dia este deve interpretar tudo que está ao seu redor, seja um texto oral, uma situação social ou até mesmo o texto escrito, assim como ressalta Kleiman (2005):

Na leitura, a prática é colaborativa quando o professor se carrega de fazer perguntas que orientarão o leitor iniciante, ou quando o professor lê uma história para todos. Nesses casos, aquele que já é letrado (e necessariamente conhece o código) ajuda aqueles que não conhecem ainda o código nem a função das ilustrações no livro, mas que têm familiaridade com a prática de contar histórias e cooperam escutando em silêncio. (KLEIMAN, 2005, p. 25)

Desta maneira, as práticas de leitura tão questionadas e cobradas dos educandos devem também ser motivo de questionamento para educadores, pois estes precisam necessariamente demonstrar que possuem um convívio com o mundo da leitura, para que, consequentemente, seja um motivador para a construção do hábito da leitura.
De forma geral, a prática da leitura não está pautada em decodificar um código emitido, sua dimensão exige outras competências.
Além disso, as pesquisas nessa área definem o ato de ler, como um processo mental de vários níveis de compreensão que muito contribui para o desenvolvimento do avanço cognitivo dos indivíduos. De acordo com Oliveira (2001, p.10): “O processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais exige grande atividade do cérebro, durante o armazenamento da leitura num número infinito de células cerebrais.”
Sendo assim, o processamento cognitivo da leitura, segundo Kleiman (2002), pode ser entendido pela percepção do material linguístico através dos olhos, passando por mecanismos mentais de agrupamento e lançado em seguida para a memória semântica.
Portanto, o comportamento do professor em sua prática pedagógica de leitura também pode fazer a diferença, ou seja, um professor que tenha o hábito de ler, que seja convicto da importância da leitura e que proporcione condições para a aprendizagem e desenvolvimento da leitura dos seus educandos certamente alcançará resultados positivos na formação de alunos leitores.
Por outro lado, se a leitura for desenvolvida e usada somente como um instrumento de avaliação, de decodificação de um código, na prática escolar, certamente fará com que ela não flua naturalmente entre os alunos e seja até mesmo um fardo que dificilmente proporcionará ao aluno um gosto pelo ato de ler.
Considerações que favoreçam a leitura de mundo dos indivíduos favorecem também o hábito de leitura, no entanto, mais uma vez é o educador, o professor que necessariamente deve compreender e fazer valer o significado da leitura do mundo, através de reflexões sobre as diferenças sociais e culturais que envolvem os educandos nos momentos de leitura e também de compreensão do texto lido, isto quer dizer que, deve-se afastar a ideia de que a leitura é apenas a decodificação de um código pronto e acabado, justamente pelo fato de ser possível realizar-se várias leituras de um único texto, ou seja, a leitura pode ser entendida como um processo que envolve também a compreensão do mundo.
Segundo Freire (2003), a leitura é um procedimento no qual o sujeito dispõe-se num trabalho ativo de interpretação e compreensão do texto, a partir de seus objetivos anteriores à leitura, de seu conhecimento sobre o assunto, ou ainda, sobre o autor e de tudo que este sabe sobre a linguagem. Desta maneira, a leitura não é um mecanismo de extrair informações, decodificar letras e palavras. A leitura é uma atividade que exige estratégias de interpretação, antecipação de ideias, inferências de conhecimentos prévios do sujeito sem as quais não é possível a realização de uma leitura proficiente.
Desse modo, é possível entender que a construção do conhecimento dos alunos sobre leitura se faz através da mediação, do estímulo e deve fazer parte do seu cotidiano, enquanto o educador reflete sobre o desenvolvimento do hábito de ler, para que a leitura se torne significativa e inerente ao aluno, assim como reforça Orlandi (2000, p. 45): “A leitura está inerente à vida do aluno, bem como pode ser usada como uma prática pedagógica para a construção do conhecimento”.
Por este motivo, os educadores, de modo geral, devem reavaliar os projetos que desenvolvem sobre a leitura ou sobre a maneira mais eficaz para conscientizar, incentivar e desenvolver a prática da leitura dentro e fora da sala de aula.
Segundo Freire (2003), a conscientização sobre a importância do ato de ler, considerando a leitura como a interpretação e compreensão do mundo, devem ser conduzidas para os níveis de compreensão de um texto, como nível de conteúdo visível, nível da situação social e nível do projeto de escrita do autor.

3 A LEITURA EM SALA DE AULA
No âmbito de desenvolver um espaço para a prática da leitura no espaço escolar e, principalmente, em sala de aula, o educador deve se questionar sobre o papel da leitura na vida social do indivíduo em formação. Uma vez que este precisa possuir esclarecimentos sobre o tema e também traçar objetivos para que efetivamente se desenvolva a prática de leitura nos educandos.
Segundo Freire (2003), o papel do educador não se limita a criar condições de leitura ou propiciar acesso aos livros. O educador deve, antes de tudo, dialogar com o leitor sobre sua leitura, não perder de vista o sentido, ou possíveis sentidos que o leitor dá a leitura, assim a leitura é um processo de elaboração interna daquilo que é externo e importante para o indivíduo.
Logo a motivação e a significação da leitura estão na vivência do sujeito, nas impressões prévia e concomitante, assim como argumenta Silva (2000), sobre o propósito da leitura:
Além da observação crítica e objetiva daquilo que ocorre na sua prática diária, o trabalhador-professor precisa de teorias que deem conta dos aspectos envolvidos no fenômeno da leitura. Sem a leitura crítica das práticas cotidianas e sem teorias de leitura, os cuidados com o cultivo do terreno pode não surtir efeito algum, técnicas voltados para a dinamização da leitura e para a educação dos leitores também avançam no tempo, de acordo com as descobertas nessa área específica de cultivo e com os desafios impostos próprios pratica ao longo da história. (SILVA 2000, p.20)

A partir destas visões da leitura, o educador poderá planejar e propor atividades que possibilitam a criação de um espaço para motivar o ato de ler. Sendo assim, existir-se-á reflexão sobre a prática no desenvolvimento do futuro leitor, isto é, a leitura em sala de aula será um instrumento importante e usado de maneira consciente para a ação educativa e oferecerá situações favoráveis para que os alunos gostem de ler.
Deve-se compreender, neste caso, que a convivência com o livro e a formação do leitor são incentivadas e embasadas pelo compromisso assumido pelo educador, e também que essas práticas pedagógicas ocorrem de maneira diferente numa escola particular, escola pública estadual ou municipal, de periferia ou do centro, com poucos ou muitos alunos.
No entanto, não podemos excluir que independente da realidade escolar ou do educando, as atividades de leitura estão presentes em todos os níveis socioeconômicos de nossa sociedade letrada, pois a realidade cultural do mundo de hoje está organizada pela escrita: propagandas, anúncios, identificações, informações, cartas, jornais, revistas, livros, documentos, rótulos entre outros. Por isso, a criança inserida em tal sociedade tem, desde muito cedo, oportunidade de interagir com o mundo escrito procurando entendê-lo e interpretá-lo.
Desta maneira, a leitura em sala de aula, deve ser instrumento para despertar no leitor o interesse pela palavra escrita, pelas mais variadas realidades do homem devem ser entendidas, tanto pelos educadores quanto pelos educandos, como um instrumento privilegiado através do qual se desenvolve a imaginação e o raciocínio crítico, como um meio de contato com outros mundos, um meio de ampliar horizontes, de desenvolver a compreensão do mundo e a comunicação entre as pessoas, uma vez que possibilita a aquisição de diferentes conhecimentos, conceitos e ainda pode despertar diversas emoções.
O professor como mediador é responsável por despertar a leitura e a formação da prática desta, deve entender que, a leitura não pode ser confundida com decodificação de sinais, com reprodução mecânica de informações, ou com respostas prontas a todos e quaisquer elementos escritos pré elaborados, pois enquanto um projeto de busca de significados, a leitura deve ser geradora de novas experiências para o indivíduo porque aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele, e a nós mesmos.
Não é somente ensinar e incentivar a leitura, é mais que isso, é mostrar ao educando que ele pode sim, através da leitura ver o mundo por outro olhar, mostrar ainda que tudo se transforma quando interpretamos o mundo a nossa volta através da leitura, com isso teremos no futuro: adultos leitores e mais que isso, adultos críticos sobre o mundo em que vice.

CONCLUSÃO

A inserção da leitura em sala é uma atividade a ser introduzida de forma lúdica e prazerosa, mostrando a criança como ler é bom e divertido, o educador deve ter a percepção das diferentes classes sociais e culturais de cada educando poderá apresentar, isso significa que terá de trabalhar de formas diferentes até obter um resultado coerente a todos os envolvidos nesse processo continuo de formação do leitor.
É importante sintetizar que as escolas encontram diversidades sociais e culturais, cabendo ao educador encontrar diversas formas, para solucionar essas problemas para tornar o educando de mero leitor, a um leitor assíduo, é uma tarefa árdua enfrentada todos os dias.
Encontramos contraste de realidades onde o educando tem por desafio fazer com que o educador desenvolva o habito da leitura, seja por prazer ou pela necessidade de estudar, o contato com o livro, o habito da leitura podem funcionar como um exercício de fixação notando possíveis fáceis diferentes de um mesmo assunto, descobrindo um mundo novo de conhecimento.

 

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