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DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS PROFESSORES NO PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL NO ENSINO REGULAR

Francineide Oliveira de Sousa
 Alessandra Cristina dos Santos Greco
                Cristina Paula Falkowski Ferreira   
                Maria de Fátima dos Santo Macedo
                Wania Lucia Mendes


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo verificar as principais dificuldades encontradas pelos educadores para se trabalhar com alunos com deficiência visual. Para tanto, utilizaram-se métodos indutivo, monográfico e estatístico. A coleta de dados foi por meio da técnica de observação direta extensiva, com a aplicação de um questionário estruturado, contendo perguntas abertas e fechadas. Ao final da pesquisa, pode-se perceber que a maior dificuldade dos educadores para trabalhar com os alunos deficientes visuais é a falta de material didático específico. Constatou-se que o professor utiliza metodologia diferenciada em sala de aula para os alunos deficientes visuais. Verificou-se, ainda, que o espaço físico da escola não está adaptado para a acessibilidade dos alunos deficientes visuais, provocando transtornos a estes e que os professores não estão em via de formação continuada para atender os alunos deficientes visuais, influenciando no processo de aprendizagem dos alunos. Portanto, a inclusão do aluno portador de necessidades especiais é um procedimento, que envolve ingresso, permanência e sucesso, sendo que o sucesso envolve o rendimento escolar do aluno e sua interação social com a comunidade escolar.

Palavras-chave: Dificuldades. Inclusão. Deficiente Visual.
 
1 INTRODUÇÃO
 
Este artigo tem como tema as dificuldades do professor e aborda as principais dificuldades encontradas pelos educadores no processo de inclusão.
Atualmente a educação tem um grande desafio: transformar a exclusão em inclusão; para que os alunos considerados “normais” e ou com necessidades especiais possam ter direito à educação em sua totalidade, é imprescindível que a escola aprimore suas práticas, a fim de atender as diferenças e tornar possível a igualdade para todos.
Na Educação Inclusiva, a proposta é que não se retire a criança da classe comum e que, além disso, ela receba um atendimento elaborado, ou seja, de acordo com suas necessidades.
Para que haja uma inclusão satisfatória, a pessoa cega e a família deverão receber a ajuda necessária, com uma equipe organizada que deve envolver vários especialistas, tais como: oftalmologista, psicóloga, psicopedagoga, assistente social, professor itinerante e professores conscientes que favoreçam a inclusão.
O tema é relevante visto que faz-se necessário modificar a forma de pensar e de fazer educação nas salas de aula, de planejar e de avaliar o ensino, de desenvolver e aprimorar o educador.
A inclusão precisa ser atualizada no processo de educação para que os professores aperfeiçoem as suas práticas e para que gestores de escolas públicas e particulares se obriguem a um esforço de atualização e de reestruturação de suas condições atuais a fim de responderem às necessidades de cada um de seus alunos.
Deste modo, levanta-se a seguinte problemática: quais as dificuldades encontradas pelos educadores para o ensino-aprendizagem dos alunos deficientes visuais? Para tanto, partiu-se da hipótese de que a maior dificuldade dos educadores para trabalhar com os alunos deficientes visuais é a falta de material didático específico. Como hipóteses secundárias, o professor utiliza a mesma metodologia em sala de aula para todos os alunos, gerando dificuldades de aprendizagem; o espaço físico da escola não está adaptado para a acessibilidade dos alunos deficientes visuais, provocando transtornos aos mesmos e os professores estão em via de formação continuada para atender os alunos deficientes visuais, contribuindo no processo de aprendizagem dos alunos.
Enquanto objetivos, pretendeu-se identificar as principais dificuldades encontradas pelos educadores para se trabalhar com alunos com deficiência visual; averiguar se o professor utiliza metodologia diferenciada em sala de aula com os alunos com deficiência visual; investigar se, segundo os pesquisados, o espaço físico da escola está adaptado para a acessibilidade dos alunos deficientes visuais e verificar se os professores da escola pesquisada encontram-se capacitados para atender alunos deficientes visuais.
Espera-se que este trabalho aponte alguns enfoques que venham a contribuir para que os gestores e educadores de uma forma geral reflitam sobre suas práticas, de forma a garantir a todos os alunos com deficiência visual o direito de serem realmente incluídos nas salas de aula regulares.

DESENVOLVIMENTO

  Segundo o artigo 5º, caput da Constituição Federal de 1988, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. No entanto, na legislação as práticas sociais têm uma grande distância, vive-se numa sociedade que supervaloriza algumas formas em detrimento de outras.
Na sociedade em que “o perfeito”, “o belo”, “o normal” são definidos por padrões de grupos dominantes, os que não se enquadram em tais padrões ficam excluídos. São muitos os casos de exclusão existentes na sociedade e uma delas é a que acontece com pessoas com necessidades especiais.
Durante séculos na História da Humanidade, essas pessoas não tiveram oportunidade de se educar, vivendo, em regra, marginalizadas, socialmente, vítimas de preconceitos e discriminações generalizadas, sendo considerados, como afirma Lemos (2001, p. 10), “seres totalmente incapazes ao trabalho e à guerra”, “atividades essenciais de valorização do homem à época”.
Porter (2005) afirma que, na Idade Média, com o apogeu do Cristianismo, as pessoas com necessidades especiais passam a ser alvo de proteção, caridade e compaixão. Ao mesmo justifica-se a deficiência pela expiação de pecados ou como passaporte indispensável ao reino dos céus. Surgem, assim, as primeiras instituições asilares com encargo de dar assistência e proteção às pessoas deficientes.
Os tempos mudaram, apesar de descrenças, preconceitos e discriminações continuarem imperando, sobre as verdadeiras possibilidades de quem possui alguma necessidade especial o que certamente dificulta, não impedem a inclusão e as inúmeras conquistas alcançadas socialmente nas mais diferentes atividades da vida humana.
Assim, a educação para alunos especiais necessita ser de qualidade, não podendo ser feita de forma indiscriminada, ou seja, incluir por incluir. A pessoa com necessidades especiais precisão de uma boa educação para continuar lutando contra o preconceito e a discriminação que ainda sofre nos dias de hoje.
Para Porter (2005), na escola, o indivíduo passa a fazer parte do mundo do conhecimento e também a ser parte integrante de uma sociedade, onde será preparado para o futuro, ou seja, para o trabalho.
O trabalho é fundamental para que uma sociedade sobreviva e perpetue a espécie humana. Porter (2005) salienta que, quando os alunos com necessidades especiais passam a frequentar a escola, seus valores sociais ganham novas perspectivas e os estigmas relacionados à diversidade se transformam em respeito.
Atualmente é possível ensar em uma educação mais inclusiva, baseada em processos participativos, constituindo ciclos de aprendizagem mantidos por um currículo multicultural de uma instituição é um sonho, cuja realização vem resolver o problema da evasão e do fracasso escolar. Os problemas administrativos, muitas vezes, originam dificuldades que acabam sendo passadas ao aluno que se afasta da escola para evitar confrontos.
Deve-se atentar também para o fato de a escola estar inserida em um ambiente que está em constante transformação. Diferentes culturas, novas tecnologias, distintas pessoas estimulam a modificação dentro da escola. Portanto, a escola precisa estar sempre em sintonia com o ambiente externo, pronta para se adequar aos novos cenários.
De acordo com Fonseca (1997), ao entrar para a escola, o deficiente visual está em atraso com a aprendizagem da criança vidente pelo seu limitado contato com o mundo, pela falta de visão, embora isto seja passível de recuperação no que se refere à inteligência e aptidões para a aprendizagem.
Para Mazzotta (1992), apesar da incapacidade visual, os cegos, têm condições assim, de estruturar conhecimentos dos mais simples aos mais complexos, pela utilização plena dos sentidos remanescentes, sem que isso implique numa compensação sensorial.
Parte daí a importância da escola na vida do deficiente visual. Segundo Mantoan (1999), a criança cega entregue somente ao grupo familiar provoca uma inadequada situação, onde muitas vezes, os deficientes visuais agem como se fossem deficientes mentais em virtude de privação cultural e de experiência de vida que geralmente e infelizmente ocorre.
Conforme Morin (1996), um dos grandes desafios para a educação inclusiva nestes tempos mutantes é a formação de professores. Hoje se fala muito em atualização, capacitação, formação permanente em serviço, quando não em treinamento de professores. Um dos grandes desafios é rever a concepção de conhecimento, romper os limites positivistas, concebendo o conhecimento como uma construção dinâmica, como um recurso a ser mobilizado para desenvolver competências que permitam aos indivíduos interferir na sua realidade, identificando e resolvendo os problemas e os desafios colocados pela vida social, de forma autônoma.
Assim, quando o conhecimento é associado ao contexto social, está se desvendando a realidade, respaldando-a para uma escola da vida dos tempos modernos. Nos novos paradigmas para a educação inclusiva, não basta criar espaços, oportunidades e tecnologias de formação de educadores. O grande desafio é descobrir a formação necessária para a inserção da educação.
Construir uma educação capaz de ligar os conhecimentos às práticas sociais, orientada para a construção da cidadania, da autonomia e para a democracia, são aprendizados necessários aos educadores da atualidade.
A visão é uma parte fundamental da atuação total dos sentidos na manutenção do equilíbrio. Segundo Mazzotta (1992), a perda da visão afeta de 3 maneiras a mecânica do andar, perda do senso de justeza dos passos, diminuição do equilíbrio e deficiência dos reflexos de produção.
Mazzotta (1992), em seus estudos, assinala a importância dos dois componentes da mobilidade; a orientação mental e locomoção física. Orientação mental definida como habilidade do indivíduo para reconhecer seu meio ambiente e suas próprias relações temporais e especiais, locomoções física como o movimento do organismo para ganhar o espaço por meio de seu mecanismo orgânico. De natureza diferente, ambas as funções são necessárias para mobilidade.
O que se tem colocado em discussão, principalmente, é a ausência de formação especializada dos educadores para trabalhar com essa clientela, e isso certamente se constitui em um sério problema na implantação de políticas nas quais o sistema educacional, muitas vezes, favorece e estimula a discriminação e a exclusão social.
Por isso, as formações ministradas nas universidades deveriam dar mais importância a esse assunto. Visto que, de acordo com Gotti (1998), a universidade, além de oferecer cursos de aperfeiçoamento e de pós-graduação, também tem o dever de envolver-se e envolver os acadêmicos em pesquisa sobre o ensino. Não só aos alunos com necessidades especiais, mas, desenvolvendo métodos que facilitem a aprendizagem de todos os alunos, sejam eles especiais ou não. Portanto, o aluno com necessidades especiais deve cursar o ensino regular, porque é um cidadão com os mesmos direitos que outro aluno e porque ele necessita conhecer o ambiente social dos “normais” com quem ele conviverá sempre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou a reflexão sobre a necessidade de se abordar o tema inclusão do deficiente visual como um dos novos paradigmas da educação brasileira, legalmente amparado pela Lei nº 9394/96, o qual delega à família, à escola e à sociedade o compromisso para a efetivação de uma proposta de escola para todos.
Conforme resultados da pesquisa, atingiram-se os objetivos propostos, visto que, para os pesquisados, a maior dificuldade dos educadores para trabalhar com os alunos deficientes visuais é a falta de material didático específico. Constatou-se que o professor utiliza metodologia diferenciada em sala de aula para os alunos deficientes visuais. Verificou-se, ainda, que o espaço físico da escola não está adaptado para a acessibilidade dos alunos deficientes visuais, provocando transtornos aos mesmos e que os professores não estão em via de formação continuada para atender os alunos deficientes visuais, influenciando no processo de aprendizagem dos alunos.
Percebeu-se, também, que é um pretexto para que a educação se atualize, para que os professores aperfeiçoem as suas práticas e para que gestores de escolas públicas e particulares se obriguem a um esforço de atualização e de reestruturação de suas condições atuais a fim de responderem às necessidades de cada um de seus alunos.
Assim, espera-se que este estudo tenha evidenciado dados referentes à complexidade do tema inclusão para auxiliar no desenvolvimento das competências necessárias ao atendimento dos alunos com deficiência visual.


REFERÊNCIAS


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