BRINCADEIRAS QUE FAVORECEM O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES MOTORAS E COGNITIVAS DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL (3 A 5 ANOS)
Marcia Gabriela Schonton1
RESUMO:
O brincar, nas suas mais diversas formas, emprega toda a capacidade de expressão corporal que a criança tem ou que estabelece ao longo de sua interação com o meio. O lúdico favorece a afetividade da criança e auxilia no processo de aprendizagem, porque através dele o aluno desenvolve o emocional e o conhecimento através de brincadeiras. É brincando que a criança experimenta o mundo adulto e demonstra sua compreensão a partir dessas experiências vivenciadas. O brincar admite que corpo e cérebro estejam ligados, motivando e desafiando a criança na busca de novos conhecimentos e informações. O uso de jogos e brincadeiras como recurso na educação toma os conceitos mais compreensíveis e relevantes para as crianças, por ser uma das únicas formas de trabalhar com diferentes tipos de linguagens ao mesmo tempo. O estudo justifica-se visto que, a valorização da diversidade, o desenvolvimento de potencialidades e a criação de novas possibilidades pedagógicas podem ser propiciados às crianças a partir do brincar, compreendido e aplicado no ambiente educativo. A proposta desta pesquisa foi verificar a importância do brincar para o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças da Educação Infantil. O brincar admite que corpo e cérebro estejam ligados, motivando e desafiando a criança na busca de novos conhecimentos e informações. No presente estudo foi utilizado o método dedutivo e na coleta de dados foi utilizada a técnica de observação direta extensiva, através de questionários de múltipla escolha. Ao final da pesquisa pode-se perceber que as atividades lúdicas como brincadeiras e jogos, são fundamentais para o desenvolvimento, para a memória, a imaginação, a comunicação, o raciocínio e a criatividade da criança.
Palavras-chave: Brincar; Desenvolvimento; Educação Infantil.
1 INTRODUÇÃO
O brincar, nas suas mais diversas formas, emprega toda a capacidade de expressão corporal que a criança tem ou que estabelece ao longo de sua interação com o meio. “O brincar proporciona aquisição de novos conhecimentos, desenvolve habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo”. (MALUF, 2009, p. 44).
O lúdico favorece a afetividade da criança e auxilia no processo de aprendizagem, porque através dele o aluno desenvolve o emocional e o conhecimento através de brincadeiras.
Para Moyles et al. (2006), o brincar é uma atividade séria que deve ser respeitada pelo adulto, pois na mesma proporção em que este dedica toda a sua atenção ao trabalho, a criança o faz ao brincar, sendo este repleto de significados.
É brincando que a criança experimenta o mundo adulto e demonstra sua compreensão a partir dessas experiências vivenciadas. O brincar admite que corpo e cérebro estejam ligados, motivando e desafiando a criança na busca de novos conhecimentos e informações.
Assim, o estudo justifica-se visto que, a valorização da diversidade, o desenvolvimento de potencialidades e a criação de novas possibilidades pedagógicas podem ser propiciados às crianças a partir do brincar, compreendido e aplicado no ambiente educativo.
Dentro do exposto, o estudo busca verificar a importância do brincar para o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças da Educação Infantil. O brinquedo, a brincadeira e o jogo têm significados parecidos no dicionário. Kishimoto (2009, p. 7) diferencia brinquedo, brincadeira e jogo: “[...] brinquedo será entendido sempre como objeto, suporte de brincadeira; brincadeira como a descrição de uma conduta estruturada, com regras e jogo infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança (brinquedo e brincadeiras)”.
2 BRINCADEIRAS QUE FAVORECEM O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES MOTORAS E COGNITIVAS
Brincar é uma verdadeira forma de ajudar o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Moyles et al. (2006, p. 106) explicam que "o brincar é um processo no caminho para a aprendizagem, mas um processo vital e influenciável e é na implementação do currículo que o brincar mantém a sua posição, pois é no nascimento de muitos aspectos intangíveis que o brincar se sobressai".
O uso de jogos e brincadeiras como recurso na educação toma os conceitos mais compreensíveis e relevantes para as crianças, por ser uma das únicas formas de trabalhar com diferentes tipos de linguagens ao mesmo tempo.
Para Rau (2012, p. 50), "a utilização do lúdico como recurso pedagógico, na sala de aula, pode aparecer como um caminho possível para ir ao encontro da formação integral das crianças". O professor deve, então, estudar e entender a importância das brincadeiras na educação infantil. Hoje as crianças brincam menos, mesmo no tempo livre. As famílias preenchem o tempo com cursos extras. Isso não é negativo, desde que sobre tempo para atividades prazerosas. Por outro lado, quando a família incentiva a brincadeira, muitas vezes o faz somente com brinquedos industrializados, como aplicativos em tablets, jogos de computador e videogames. Assim, cabe aos educadores encontrar métodos que utilizem o lúdico, resgatar jogos e estimular a criação de construção de brinquedos com elementos naturais, fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e motor. O lúdico vem do latim ludus, que significa brincar. Neste brincar estão incluídos jogos, brinquedos e divertimento (OLIVEIRA, 2008, p. 22).
O lúdico é uma necessidade básica da personalidade do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, e caracteriza-se por ser espontâneo funcional e satisfatório. É tudo aquilo que leva um indivíduo somente a se divertir, se alegrar, passar o tempo. Ressaltamos que este estado de espírito acontece espontaneamente, não podendo ser provocado, talvez estimulado, ou seja, é quando o indivíduo não quer fazer aquela atividade, mas faz contra a sua vontade e, ao iniciar, vê que é prazerosa e acaba gostando (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2000, p. 35).
Para Marinho et al. (2007, p. 83), "o lúdico tem grande valor educativo e pode ser utilizado na escola como um dos recursos didáticos no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo com o desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas".
As atividades por ser a principal ocupação da criança, caracteriza-se pela maneira a qual ela se insere no contexto social desenvolvendo capacidades, como a imaginação, a criatividade e a sociabilidade, alem de ser uma forma promissora para compreender e dominar o mundo em que vive (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2000, p. 37).
Reconhece que a relação da criança com o seu mundo cultural, a princípio, é constituída de movimento, atividades lúdicas, criatividade e fantasia. Por isso, em qualquer atividade realizada com crianças pequenas, os jogos deveriam estar presentes (SANTOS, 1999, p. 44).
As atividades lúdicas (brincadeiras relevantes) obedecem segundo Vargas (1990, p. 29) a um impulso natural da criança que satisfaz às necessidades interiores. Trata-se de um valor intrínseco (dentro para fora) que acompanha todo sujeito em sua história de vida.
Desse modo, Vargas (1990, p. 30) ressalta que "a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança". Estas não são apenas uma forma de entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual
Já os brinquedos podem ser definidos de duas maneiras: seja em relação à brincadeira, seja em relação a uma representação social, representa uma realidade, coloca a criança na presença de reproduções de tudo que existe no cotidiano. Pode-se dizer que um dos objetivos é dar à criança um substituto dos objetos reais para que possa manipulá-los. Por intermédio do brinquedo, a criança irá explorar, experimentar e apreender o mundo dos adultos, bem como o meio onde vive a cultura e os valores aí vinculados (KISHIMOTO, 2010, p. 36).
De acordo com Vygotsky (1994, p. 71), "a criança desenvolve-se, essencialmente, através da atividade de brinquedo". Logo, compreendemos que o brinquedo é essencial para o desenvolvimento da criança, é por meio dele que ela começa a desenvolver noções básicas relacionadas ao meio social.
O brinquedo não só possibilita o desenvolvimento de processos psíquicos, por parte da criança, como também serve como um instrumento para conhecer o mundo físico e seus usos sociais, e finalmente entender os diferentes modos de comportamento humano, os papéis que desempenham como se relacionam e os hábitos culturais (SANTOS, 1999, p. 52).
Na mesma linha de pensamento, e acerca do tema, Kishimoto (2009, p. 44) classifica o brinquedo educativo, sendo aquele que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa. Este assume função lúdica e educativa, pois o brinquedo propicia diversão e prazer da mesma forma que ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.
Dentro dessa classificação, se enquadram os quebra-cabeças, brinquedos de tabuleiro, brinquedos de encaixe, par lendas para expressão da linguagem, brincadeiras com música, danças, expressão motora, gráfica e simbólica. Segundo Kishimoto (2009, p. 46), admite-se que o brinquedo represente certas realidades. O brinquedo coloca a criança na presença de tudo que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas.
A brincadeira constitui-se numa atividade em que o indivíduo, sozinho ou em grupo, procura compreender o mundo e as ações humanas nos quais se insere cotidianamente. Toda brincadeira possui regras que são definidas e respeitadas por aqueles que brincam e possui três características: a imaginação, a imitação e a regra. (WAJSKOP, 1998, p. 15).
Essas características estão presentes em todos os tipos de brincadeiras infantis, sejam elas tradicionais, de faz de conta, de regras e podem aparecer também nos desenhos como atividade lúdica (CORIA-SABINI, 2008, p. 31). Cada uma delas surge de maneira mais evidente ou em um tipo ou outro de brincadeira, tendo em vista a idade e o papel específico que exercem junto às crianças.
Para Santos (1998, p. 50), a brincadeira, embora fosse um elemento presente na história humana desde suas origens, só na atualidade adquire uma nova conotação, pois antes era vista como fútil e seu objetivo era somente a distração e o recreio.
Brincadeira é criar, desenvolver imaginação, confiança, autocontrole, cooperação, aperfeiçoamento do corpo e da mente, levando à estabilidade emocional, sem contar o quanto auxilia no desenvolvimento da linguagem, concentração e atenção. Por meio da brincadeira, a criança amadurece, realiza sonhos, extravasa seus medos, imita seus pais e o mundo adulto, testa seus limites e capacidades e sempre tem um brinquedo como instrumento de ação e de educação (SANTOS, 1998, p. 51).
No entendimento de Almeida (2004, p. 22), a criança, com a brincadeira, chega à fase intuitiva através de exercícios psicomotores e do símbolo, transforma o real em função das múltiplas necessidades do "eu", as brincadeiras passam a ter serenidade, sentido funcional e utilitário.
Contudo, o correr, o pular, entre outros exercícios, estimulam a coordenação motora ampla, e as atividades de rasgar papéis, pintar, rabiscar e outras, estimula os movimentos de coordenação motora fina, necessária para o processo de incorporação para a alfabetização (ALMEIDA, 2004, p. 22-23).
A partir disso é que a criança aprende mais depressa, pois quanto mais estimulada, mais terá vontade de descobrir novas situações, a linguagem verbal e escrita ao seu redor é muito mais rica, se explorada.
Brincadeira é tão importante quanto ao ato de estudar, ajuda a esquecer de momentos difíceis. Quando brincamos, conseguimos sem muito esforço encontrar respostas a várias indagações, podemos sanar dificuldades de aprendizagem, bem como interagirmos com nossos semelhantes. Brincar, além de muitas importâncias desenvolve os músculos, a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e além de tudo deixa qualquer criança feliz (MALUF, 2009, p. 19).
A criança reporta na brincadeira a sua própria vida, por meio dela ela estabelece o real. Para que as brincadeiras infantis tenham um lugar assegurado no dia a dia das instituições educativas, é essencial a desempenho do educador. É importante que a criança tenha um espaço físico para brincar.
Para Schmidt (1994, p. 81), "o tempo que a criança tem à disposição para brincar deve ser considerado, ou seja, é importante dar tempo suficiente para que as brincadeiras surjam, se desenvolvam e se encerrem".
O adulto deve ausentar-se do comando por momentos e viabilizar à criança não só a oportunidade de brincar, como também a de escolher seus próprios brinquedos, na medida do possível, assim como mediar a organização do espaço e a conservação de seus brinquedos, procurando lugares adequados para que ela possa guardá-los.
Por sua vez, segundo Silva (1999, p. 36), "não se deve restringir a liberdade da criança no que se refere às brincadeiras e nem tampouco interferir na sua atividade, pois isso pode ter repercussões desagradáveis".
A brincadeira caracteristicamente espontânea não necessita obrigatoriamente de objetos prontos, a criança cria e transforma uma tampinha em uma panelinha com facilidade e brinca.
A brincadeira funcional, que domina o primeiro ano de vida, a brincadeira imaginaria ou simbólica é aquela que a criança incute o significado as ações, a brincadeira construtiva é a relacionada à alegria de realizar algo, brincadeira solitária quando a criança brinca sozinha, a observativa quando ela apenas observa, a paralela que brinca ao lado da outra criança, a associativa em que a criança coopera com a outra para realizar algum objetivo (TEIXEIRA, 1983, p. 4).
O autor afirma que "a brincadeira é a estrada real para a compreensão dos esforços do ego infantil para chegar a uma síntese, é a função do ego uma tentativa no sentido de sincronizar os processos corporais e sociais com o eu" (TEIXEIRA, 1983, p. 6).
Quando a criança brinca, ela costuma relacionar as coisas e as pessoas de uma forma não envolvente e inconstante, ela é movida unicamente pela paixão, se entretém e é imune a qualquer medo de consequências sérias, é pura diversão, por isso, quando o tempo é levado em conta, o divertimento desaparece. Não só o desenvolvimento emocional, o cognitivo e demais domínios são estimulados ao brincar, seja em que esforço for.
O brincar é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório motor e de simbolismo, uma assimilação da real a atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, brincando, elas cheguem a assimilaras realidades intelectuais que, com isso, permanecem exteriores à inteligência infantil (VARGAS, 2005, p. 30).
Já Teles (2009, p. 10) classifica as brincadeiras como: funcional, imaginária ou simbólica e construtiva. Brincadeira funcional é aquela que domina no primeiro ano de vida, quando a criança encontra prazer na observação de seus próprios movimentos. A brincadeira imaginária ou simbólica é aquela em que a criança incute significado às ações, devendo fazer de conta em relação a qualquer coisa. E, por fim, a brincadeira construtiva é aquela que está relacionada com a alegria de realizar algo para a consecução de algum objeto.
Teles (1999, p. 17) cita ainda que "segundo o conteúdo social, podemos falar em brincadeira solitária, observativa, paralela e associativa". Por brincadeira solitária, compreendemos como aquela em que a criança brinca sozinha, ela tende a apenas observar. A paralela é quando ela brinca ao lado de outra criança. E, por fim, a brincadeira associativa, que é aquela que a criança coopera com a outra para realizar algo para a consecução de algum objetivo. Só a criança um pouco mais velha é capaz de participar de brincadeiras associativas (TELES, 2009, p. 18).
Pode-se contar também com as brincadeiras tradicionais infantis, que são consideradas como parte da cultura popular. Esta modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar (BENJAMIN, 2004, p. 51). Dentro destas se enquadram a amarelinha, jogar pedrinhas (cinco Marias), empinar papagaio, pular corda, cantigas de rodas, pião entre outros.
As brincadeiras de faz de conta, também chamadas de simbólicas, são as que deixam mais evidente a presença da situação imaginária. Elas permitem não só a entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras (TELES, 2009, p. 19).
Brincadeiras de construção enriquecem a experiência sensorial estimulam a criatividade e desenvolvem as habilidades da criança. Construindo, transformando e destruindo, a criança expressa sua imaginação e seus problemas, desta forma ela está expressando suas representações mentais, além de manipular objetos (MALUF, 2009, p. 22).
De forma geral, todas as classificações de brinquedos e brincadeiras devem ser adotadas na escola, para adquirir uma melhora no desenvolvimento motor, afetivo, cognitivo e social da criança.
Quanto ao jogo, ele está presente em todas as formas de expressão da sociedade, na arte, no teatro, na música, no desporto, na dança etc e é por intermédio do jogo que a criança expressa valores e proporciona oportunidades para a assimilação de ideias e formação de princípios.
O jogo vem do latim jocus, que significa gracejo, zombaria. O ato de jogar é tão antigo quanto a própria história do homem. É uma atividade livre, fundamentalmente lúdica, contendo regras não convencionais de caráter competitivo ou não, e que possui uma característica principal, a espontaneidade, e possibilita a expressão de vivências cultural de forma intensa e total (ANTUNES, 2003, p. 32).
Segundo Lopes (2000, p. 33), o jogo para a criança é o exercício, é a preparação para a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades.
Negrine (2001 p. 42) conceitua jogo como "tudo aquilo que diverte, sem causar estresse, constitui-se em atividade lúdica. Entretanto, umas têm melhor qualidade que outras, quando vistas a partir do nível de envolvimento nas relações".
Huizinga (1998, p. 10) diz que toda ação humana é jogo. Ferreira (1999, p. 23) conceitua que o jogo "é também conhecido como uma atividade física ou mental organizada por sistemas de regras que definem a perda ou ganho".
No Brasil, o lúdico, o jogo, o brinquedo e a brincadeira assumem formas indistintas. De acordo com Freire (1997, p. 116), "existe muita confusão a respeito dos termos brinquedo, brincadeira, jogo e lúdico. As definições destas palavras em nossa língua pouco se diferenciam. Brincadeira, brinquedo e jogo significam a mesma coisa".
O jogo incide numa simples apropriação funcional num exercício das ações individuais já aprendidas; gera ainda sentimentos de prazer, tanto pela ação lúdica em si quanto pelo domínio destas ações (NEGRINE, 2001, p. 44). Contudo, jogos são atividades que possuem tempo, espaço e regras.
É uma atividade que tem valor educacional intrínseco, sendo utilizado como recurso pedagógico no processo ensino-aprendizagem, alcançando sucesso entre muitos educadores. Através do jogo, a criança obtém coordenação neuromuscular, zna normas de conduta e aprende a viver em grupo (RODRIGUES, 1997, p. 36).
Em relação a isso, pode-se identificar que os objetivos do jogo aplicados na escola são: contribuir para o desenvolvimento de elementos cognitivos, contribuir na aquisição de elementos motores-psicomotricidade e padrões de movimentos e propiciar o lúdico.
Com função educativa, o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo (LIMA, 1991). Está no cotidiano das pessoas, por isso os profissionais de educação física precisam compreender e respeitar o jogo das pessoas em diferentes culturas e modos de jogar tanto dentro quanto fora da escola, a fim de contribuir para o desenvolvimento pleno do ser humano.
Jogar e aprender são ações extremamente relacionadas, pois, na medida em que é lançado um desafio para as crianças, elas jogam com possibilidades, colocando limites que se colocam em suas situações, vivenciando experiências, capacidades de se organizar evoluindo e adquirindo novos conceitos e, assim, chegando à aprendizagem.
Diante ao exposto, percebe-se a brincadeira como possibilidade educativa fundamental na educação da criança e voltada à composição da imaginação e criatividade, das habilidades cognitivas e motoras, superando as ideias conservadoras que quem reconhece o brincar na escola como distração, sem relevância na formação humana da criança.
2.1 Materiais e métodos
Na realização da pesquisa foi utilizada a pesquisa bibliográfica desenvolvida mediante material já elaborado, principalmente livros e artigos científicos. Utilizou-se também a pesquisa descritiva que segundo Gil (1999) visa a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.
Também foi realizada a pesquisa de campo. A pesquisa foi realizada em uma escola municipal de Alta Floresta-MT e envolveu dez professores, com faixa etária de 21 e 50 anos, pertencentes à escola em estudo.
Foi utilizado o questionário, como instrumento para avaliar a opinião dos pesquisados. O questionário contém perguntas abertas e fechadas que foram tabuladas para obtenção das informações. Os questionários foram entregues aleatoriamente aos pesquisados, no mês de abril contendo em anexo uma carta de apresentação com os motivos da pesquisa, bem como orientações sobre o preenchimento do questionário e o resguardo da identificação do pesquisado.
2.2 Resultados e discussão
A pesquisa tem origem na seguinte problemática: os professores da escola pesquisada utilizam o brincar como ferramenta educacional? Diante desta problemática levantaram-se hipóteses, chegando aos seguintes resultados:
A hipótese básica “o brincar auxilia no desenvolvimento cognitivo e motor da criança, na opinião dos professores”, foi confirmada de acordo com as respostas dadas na pergunta n° 12, em que 100% dos pesquisados responderam que o brincar auxilia no desenvolvimento cognitivo e motor da criança.
A criança que brinca está desenvolvendo sua linguagem oral, seu pensamento associativo, suas habilidades auditivas e sociais construindo conceitos de relações de conservação, classificação, seriação, aptidões visuo-espaciais e muitas outras (VYGOTSKY, 1989, p. 19).
A presença de atividades lúdicas na escola proporciona grandes possibilidades para o constante desenvolvimento dos aspectos cognitivos e psicomotores da criança e os resultados de sua utilização podem ser notados a médio e longo prazo.
Segundo os pesquisados 100% confirmam que “o brincar auxilia no desenvolvimento afetivo do aluno”. Para o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 38), a concepção de brincadeira organiza-se na direção de enriquecer a identidade das crianças, uma vez que, ao brincarem, experimentam diferentes formas de ser e pensar, ampliando suas concepções sobre as coisas e pessoas, desempenhando, através da brincadeira, vários papéis sociais ou personagens. O RCNEI (BRASIL, 1998, p. 39) afirma ainda que na brincadeira as crianças vivenciam a elaboração e negociação de regras de convivência e constroem um sistema de representação ligado a sentimentos, emoções e outras características humanas.
Para Oliveira (2008, p. 160), “a brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais” Assim, quando a criança está brincando espontaneamente, mostra seus sentimentos, medos, curiosidades, interesses e necessidades. Não só os conteúdos ensinados tomam-se mais interessantes, porque vêm acompanhados de linguagens, como esse momento se toma uma forma de conhecer seu perfil afetivo, social e econômico.
De acordo com 100% dos pesquisados “as atividades lúdicas contribuem para a socialização do aluno na opinião dos professores”. Sobre essa questão, Arce (2006, p. 104) salienta que a psicologia histórico-cultural postula a dialética do processo de desenvolvimento infantil e destaca o quanto a brincadeira torna-se conteúdo central para a criança, considerando que ela vivência situações sociais mediadas pela atividade do brincar para poder avançar no seu processo de desenvolvimento. Para a autora:
A passagem de um estágio [de desenvolvimento] para outro é marcado não por uma simples evolução, mas, sim, por uma revolução que trará mudanças qualitativas na vida da criança. Este processo não pode ser assepticamente separado da inserção da criança na sociedade e do efeito que esta produz em seus interesses, motivações e em seu desenvolvimento intelectual (ARCE, 2006, p. 107).
Assim, a brincadeira é uma atividade infantil que leva a crianças interagir entre si de maneira diferenciada e, por meio dessa interação, a criança apropria-se da cultura humana. Segundo Coria-Sabini (2008, p. 32), afirma que “brincando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo. Jogando com amigos, aprende a conviver, ganhando ou perdendo, procurando aprende regras e consegue uma participação satisfatória”.
O lúdico na escola pode ajudar muito as crianças a desenvolver sua sociabilidade e, mais amplamente, desenvolver uma compreensão positiva da sociedade e adquirir mais habilidades.
Segundo os pesquisados 100% confirmam que “para os professores pesquisados o brincar é uma ferramenta educacional que contribui no desenvolvimento infantil”. A respeito do papel da brincadeira no processo de desenvolvimento da imaginação, Vygotsky (1994, p. 116) comenta que é na brincadeira e por meio da imaginação que a criança tem a possibilidade de realizar atividades presentes no mundo do adulto, as quais deseja fazer, mas lhe são impossíveis em função da sua pouca idade. Assim, é somente por meio da imaginação que a criança tem a possibilidade de representar ações do mundo do real que lhe são impedidas. Dessa maneira, fica evidente que o brinquedo "[...] é muito mais a lembrança de alguma coisa que realmente ocorreu do que a pura imaginação" (VYGOTSKY, 1994, p. 117).
Segundo Antunes (2003, p. 14) “a aprendizagem é tão importante quanto o desenvolvimento social e o lúdico constitui uma ferramenta pedagógica ao mesmo tempo promotora do desenvolvimento cognitivo e do desenvolvimento social”. Portanto, as atividades lúdicas como brincadeiras e jogos, são fundamentais para o desenvolvimento, para a memória, a imaginação, a comunicação, o raciocínio e a criatividade da criança.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término deste estudo percebe-se que o brincar auxilia no desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. Constatou-se ainda que, brincar é uma ferramenta educacional que contribui no desenvolvimento infantil.
Sabe-se que a criança é um ser ativo e está em constante transformação. Durante os primeiros anos de sua vida, diversas habilidades podem e devem ser estimuladas para que o seu desenvolvimento e aprendizado sejam integrais, de forma que aconteçam no âmbito psicológico, sensório-motor, social, afetivo, físico, entre outros.
O brincar desenvolve um papel importante dentro dessa formação, pois, por meio dele, a criança é constantemente estimulada, suas habilidades são instigadas e, consequentemente, ela se desenvolve. Através do brincar, a criança aprende sobre os mais diversos conteúdos de uma forma prazerosa e divertida.
Sabe-se que para que as atividades lúdicas sejam eficientes, duas coisas são importantes, o preparo e o conhecimento do professor sobre o assunto e também o oferecimento, por parte da escola, de recursos para que a atividade seja proporcionada. Ainda que a escola não tenha espaço suficiente para recreação, existem diversas brincadeiras que podem ser adaptadas de acordo com a realidade da instituição.
Assim, sugere-se que o professor inclua em seu planejamento atividades lúdicas, pois as brincadeiras com regras, trocas geram conquistas, cognitivas, sociais e emocionais.
REFERÊNCIAS
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