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A MODIFICAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ALTA FLORESTA DESDE O PROCESSO DE OCUPAÇÃO AOS DIAS ATUAIS
Schirlen Daiane Ribeiro Escudero
Maria Helena da Silva Ribeiro
Schilsen Carla Ribeiro

Este trabalho tem por finalidade conhecer e analisar as mudanças ocorridas no espaço urbano do município de Alta Floresta - MT. Fez-se necessário uma metodologia coerente com o tema, por abordar fatores histórico-sociais, optou-se pela pesquisa qualitativa. O processo de colonização do município ocorreu na década de 1970, quando o governo federal, visando à ocupação da Amazônia, a segurança nacional, e ainda, buscando resolver o problema da falta terras produtiva para a população rural da região Sul do país, lançou então a implantação de projetos de colonização privados. Alta Floresta foi a colonizada pela INDECO liderada por Ariosto da Riva. O espaço urbano de Alta Floresta modificou-se muito ao longo desses 40 anos, pois a paisagem era constituída de muita mata nativa, com pouquíssimas casas, poucas ruas e a ausência de infraestrutura. No início as construções eram simples, hoje é possível observar casas e prédios comerciais com modelos requintados. Com o aumento da população estão surgindo novos loteamentos e condomínios fechados, contribuindo assim para a perpetuação da segregação social. Sabe-se que um processo de reconfiguração de espaço envolve muito mais que meramente mudanças nas paisagens, mas sim fatores sociais, econômicos e culturais. Atualmente, Alta Floresta conta com dois monumentos, a estátua do colonizador Ariosto da Riva e o avião DC3, que fizeram parte da colonização do município e hoje fazem parte da paisagem urbana como monumentos históricos. A cada momento histórico, cada elemento muda seu papel. Isso significa que as variáveis do espaço mudam no movimento do tempo histórico.

Palavras-chave: Espaço urbano. Colonização. Alta Floresta.


INTRODUÇÃO

Ao falar-se da construção do espaço é preciso considerar que o mesmo é resultado de um processo histórico dinâmico que envolve transformações tanto físicas quanto sociais, econômicas e políticas, as quais se desenvolvem de acordo com as necessidades e peculiaridades de cada momento histórico. O espaço urbano, conhecido como cidade se origina e desenvolve-se tendo em vista essas considerações.
Nesse contexto, o surgimento das primeiras cidades só foi possível a partir do momento em que a relação entre os habitantes da aldeia transpassava a de cooperação para a de dominação, e é assim que começa existir a divisão entre zona urbana e zona rural. Nesse aspecto a organização da cidade sempre se baseou “(...) na exploração e privilegio que permite a classe dominante maximizar a transformação de o excedente alimentar em poder militar e esse em dominação política”. (ROLNIK, 1988, p.21).
Segundo Marx “o homem vive em busca de realizar e satisfazer suas necessidades, pois ele está inserido em um contexto social, histórico e econômico, ou seja, em um meio materialista-capitalista de produção”. (MARX, 1993, p.27).
Sendo assim, a colonização de Alta Floresta se insere no contexto do Programa de Integração Nacional (PIN) em 1973, onde apresentava- se como uma opção na busca de uma melhor qualidade de vida e na realização dos sonhos, onde os migrantes procuraram construir em plena Floresta Amazônica a sua nova morada, com novos desafios a serem encarados para promover as transformações sociais, econômicas e ambientais que se faziam necessárias.
O presente estudo visou de forma geral conhecer e analisar o as mudanças do espaço urbano do município de Alta Floresta. Tendo como objetivos específicos;
• Identificar as mudanças do espaço urbano,
• Saber como se deu o processo de ocupação do Estado de Mato Grosso,
• Compreender como foi processo de colonização de Alta Floresta,
• Identificar os elementos que fizeram parte da colonização do município e hoje fazem parte da paisagem urbana como monumentos históricos.
Esse estudo surgiu através do interesse em estudar e compreender a história do local, pois ao contrario das grandes revoluções onde se tem um líder a historia local é escrita e vivida por todos que se englobam nela onde todos são produtores e produtos responsáveis pelo processo. Conforme Martins (2002, p.41), "a historia local não é uma história de protagonistas, mas de coadjuvantes".
Para tanto fez necessário à busca de uma metodologia que fosse coerente com o tema, como se trata de um processo de mudanças do espaço urbano que aborda fatores histórico-sociais, optamos pela pesquisa qualitativa baseada em Lüdke e André (1986), pois essa pesquisa inclui uma serie de estratégias, tais como pesquisa documental, bibliográfica, campo e outras.
A apresentação desse trabalho encontra-se estruturada em capítulos, sendo que o primeiro refere-se ao conceito de espaço, o segundo trata do processo histórico da ocupação do Mato Grosso e o terceiro refere-se à modificação do espaço urbano de Alta Floresta desde o processo de ocupação aos dias atuais. Os capítulos estão organizados em tópicos, conforme o assunto em discussão

 

DESENVOLVIMENTO

2.1 Definição de Espaço

Qual é a definição do espaço geográfico? Não existe uma resposta pronta, pois ela se apresenta em diversas correntes do pensamento geográfico, com intuito de contribuir, através de alguns conceitos operacionais, para o estudo do espaço geográfico. Inicialmente o conceito de espaço foi concebido na geografia tradicional, seguindo-se após a sua concepção na geografia que emergiu da denominação revolução teórico-quantitativa. Em sequência porem a geografia fundada no materialismo histórico e dialético, finalmente, como a geografia humanística e cultural abordaram o espaço.
A geografia em suas diversas versões privilegiou os conceitos de paisagem e região, em torno deles estabelecendo-se a discussão sobre o objeto da geografia e suas identidades no âmbito das demais ciências. Como aponta Andrade (1986) “A abordagem espacial, associada à localização das atividades dos homens e aos fluxos, era muito secundária entre os geógrafos.” Em realidade, não se constituiu em um conceito chave na geografia tradicional. Mesmo assim Ratzel e Hartshornne desenvolveram alguns conceitos. De acordo com Moraes (1983), o espaço em Ratzel é visto com base indispensável para a vida do homem, encerrando as condições do trabalho, quer natural, quer socialmente produzido. Como tal o domínio do espaço transforma-se em elementos crucial na história.
O espaço de Hartshorne aparece como receptáculo que apenas contém as coisas. Para Hartshorne (1939), o tempo espaço é empregado no sentido de área que “é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito abstrato que não existe em realidade (...) a área, em si própria, está estacionada aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que as contém em tais localizações”.

Dentro da corrente geográfica teorético-quantitativa existiram vários autores que embasados no positivismo lógico da década de 1950 criaram um novo conceito para o espaço, pois consideravam o espaço sob duas formas que não são mutuamente excludentes. De um lado através das noções de planície isotrópica; que se resume em uma concepção de espaço derivada de um paradigma racionalista e hipotético-dedutivo. É nesse sentido que a noção de espaço relativo, apontada por Harvey (1996), foi muito importante nesta concepção de espaço, pois o espaço relativo é entendido a partir de relação entre objetos, relação estas que implicam custos; dinheiro, tempo, energia.
Santos (1996) afirma que o espaço geográfico é um sistema de objetos e um sistema de ações. Esta caracterização objetiva contrapor os elementos de composição do espaço (os objetos geográficos) aos condicionantes de modificação deste espaço (as ações humanas e dos processos físicos ao longo do tempo). Numa formulação sintética, Santos (1996) enfatiza a necessidade de libertar-nos de visões estáticas do espaço (tais como nos vem condicionando séculos de mapas), ao incluir a componente de processos variantes no tempo como parte essencial do espaço. Ele procura diferenciar o conceito de espaço do de paisagem, afirmando que "a paisagem é o conjunto de forma que num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homens e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima". (SANTOS, 1996, p.65).
Santos (1996) define espaço como uma instância da sociedade, ao mesmo tempo em que a instância econômica e a instância cultural ideológica. Isso quer dizer que o espaço é social, não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais, cujo cômputo nos dá a natureza. O espaço é tudo isso mais a sociedade.
Sendo assim a organização espacial é a expressão da organização econômica e social dos diversos grupos humanos que vão se construindo diversas paisagens de acordo com suas necessidades e, desta forma, a transformação do espaço.
Temos ainda a geografia humanística e cultural, que está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o universal e, ao invés de explicações, tem como base de compreensão a inteligibilidade do mundo real. Tuan (1983) afirma que o espaço no âmbito da geografia humanística considera os sentimentos espaciais e as ideias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir das experiências.

2.2 Espaço urbano

O espaço urbano, além de ser apreendido como fragmentado e articulado é também assimilado como um reflexo da sociedade. Observa-se que o espaço da cidade capitalista, por exemplo, reflete as desigualdades sociais, estando dividido em áreas residenciais segregadas. “Mas espaço urbano é um reflexo tanto de ações que realizam no presente como também daquelas que se realizam no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente” (CORRÊA, 1989, p. 8).
O espaço urbano também é apreendido como um condicionante da sociedade, por meio desse processo é que se dá a reprodução das condições e relações de produção, responsáveis pela reprodução de diferentes classes sociais e suas divisões.
A luta pelo direito à cidade e à cidadania gera conflitos sociais, tornando o espaço urbano cenário de grandes transformações. Conforme Corrêa (1989), o espaço urbano é, dessa forma, fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas.

PROCESSO HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DO MATO GROSSO

​ 2.1 Marcha para o Oeste

Inicialmente Mato Grosso viveu um longo período etno-histórico, onde tribos indígenas dominavam todo território. A organização social variava de tribo para tribo. O território que constitui hoje o Estado de Mato Grosso permaneceu com sua paisagem natural praticamente inalterada até o início do século XVIII.
Em 1937 criou-se a Marcha Oeste, onde foi o primeiro movimento promovido pelo o Governo Federal, objetivando a ocupação e colonizaçãodas das terras de Mato Grosso. Foi criada pelo governo de Getúlio Vargas para incentivar o progresso e a ocupação do Centro-Oeste, organizou um plano para que as pessoas migrassem para o centro do Brasil, onde havia muitas terras “desocupadas”, espaços “vazios”, onde não levaram em consideração os povos indígenas.
No início dos anos 1940 o Rio Araguaia e seus afluentes eram a última barreira natural ao progresso “civilizatório” que massacrava índios desde o descobrimento. Para além de suas margens escondiam-se mais de uma dezena de povos. Eram os últimos refúgios para dezenas de nações indígenas até então desconhecidas. Apesar disso, a região era classificada como um “vazio demográfico que precisava ser ocupado” e despertava o interesse de autoridades internacionais, além de garimpeiros, fazendeiros, políticos e, em especial, dos militares brasileiros.
O objetivo era desbravar uma parte do Brasil, até então desconhecida e isolada do contexto nacional, e realizar obras de infraestrutura para permitir sua ocupação por não índios e integrar economicamente o Centro-oeste ao Norte e Sul do país.

​ 3.2 Planos de Integração Nacional

Em 1960, com o aumento populacional no campo, nas regiões do Centro-sul e Nordeste do país, além de problemas sociais, econômicos e supostamente de segurança nacional, forçou-se a ocupação dos espaços “vazios”, o que acelerou o processo de ocupação do Estado de Mato Grosso.
O Governo Militar, objetivando minimizar os conflitos ocorridos nas diversas regiões brasileiras, planejou a abertura da Amazônia Legal, desencadeando um vigoroso processo migratório na direção do Centro-oeste e Norte do Brasil. O objetivo era fazer grande distribuição de terras na fronteira, para evitar redistribuições de terras apropriadas no restante do país. Não levaram em consideração as populações já existentes nessas áreas que estavam sendo chamadas de “espaços vazios”.
O espaço estava deixando de ser um direito de uso, tornando-se objeto de título de propriedade privada da terra, ou seja, a ocupação da área foi necessária para continuação da dinamização do processo de crescimento econômico no Sul e Sudeste do País.
A abertura das rodovias BR-163 (Cuiabá-Santarém) e BR-364 (Cuiabá – Porto Velho) trouxe a possibilidade de povoamento de terras, cujo acesso era improvável até então, iniciando-se a base para desencadear esse processo de colonização ao longo dessas rodovias, onde foram elaborados projetos de colonização oficial, objetivando o assentamento de pequenos agricultores em terras de propriedade do Estado. O projeto governamental objetivava, também, possibilitar a entrada de empresas particulares do ramo, capazes de atrair maior volume de colonos.
O Governo Federal passava por uma série crise econômica e não dispunha de dinheiro para financiar os projetos. Considerava que a solução para os problemas de posse de terra e produção agrícola era a exploração de mão-de-obra familiar na ocupação desses “espaços vazios”.
De acordo com Pannuti (2002), para desenvolver o projeto nacional de colonização dirigida o Governo chamou o INCRA, Instituto Nacional de Reforma Agrária, que era responsável pela execução do projeto. O INCRA na tentativa de reduzir os gastos públicos criou outra forma de colonização, o Plano Assentamento Conjunto. Neste caso, as tarefas e custos da colonização foram divididos entre a iniciativa privada e o Governo Federal. Sendo assim as Cooperativas que articulavam tudo. Entendia-se que se tratava de instituições mais confiáveis do ponto de vista do trabalhador rural.
Cada um dos PAC’s teve características próprias. De modo geral, as terras eram transferidas às cooperativas que as vendiam aos colonos através de um programa de credito fundiário. Era de responsabilidade das cooperativas toda instalação dos projetos, venda dos lotes, transferência e assentamento dos colonos.
Um desses projetos deu origem à cidade de Alta Floresta, cuja construção iniciou-se em maio de 1976. Por motivos empresariais a ocupação foi direcionada a ser composta por migrantes da região Sul do país, sobretudo do Estado do Paraná, para exploração agrícola.

3.3 O processo de colonização de Alta Floresta

A colonização de Alta Floresta se insere no contexto do Programa de Integração Nacional quando, em 1973, a empresa colonizadora INDECO S/A (Integração Desenvolvimento e Colonização) de propriedade de Ariosto da Riva, adquiriu por meio de licitações grandes extensões de terra no Norte de Mato Grosso com intuito de realizar um
(...) programa integrado de colonização num prazo de cinco anos para implementação de obras de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento dos projetos agropecuários, agroindustriais e de colonização (...) deveria ainda medir, demarcar, construir estradas, podendo só iniciar as alienações a terceiros após os órgãos competentes. (PRETI, 1993, p.28).

A implementação desse projeto teve inicio a partir do ano de 1973, quando a Rodovia Cuiabá-Santarém atingia o km 642. A partir desse local a INDECO iniciou a construção de mais de 150 km concluindo a rodovia até Alta Floresta. Esse trabalho foi interrompido quando as máquinas chegaram ao rio Teles Pires, ocasião em que se tornou necessário a construção de uma balsa para que pudesse dar acesso a outra margem do rio. As obras de terraplanagem tiveram inicio em outubro de 1975, os trabalhos de demarcação, medição e fixação das futuras rodovias foram realizados por topógrafos treinados para essa finalidade.
Os primeiros colonos que chegaram ao município já encontraram uma infraestrutura básica, como escola, hospital, consultório dentário, posto de gasolina, mecânica e armazéns. Estes colonos eram oriundos do Paraná onde vendiam suas pequenas propriedades e se deslocavam para essa região com o sonho de encontrar melhores condições para desenvolver atividades agrícolas, já que de acordo com a propaganda da colonizadora aqui encontrariam terras férteis e clima favorável ao desenvolvimento de uma agricultura diversificada e promissora.
O município de Alta Floresta foi criado em 18 de dezembro de 1979, através da Lei Estadual n.º 4.157. Alta Floresta em apenas quatro anos se tornou um município, fato esse certamente único na historia do país.


4. A MODIFICAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ALTA FLORESTA DESDE O PROCESSO DE OCUPAÇÃO AOS DIAS ATUAIS

​ 4.1 Mudanças do espaço urbano em Alta Floresta
A paisagem revela a realidade do espaço em um determinado momento do processo histórico, social e econômico. O espaço é construído ao longo do tempo, considerando a forma como vivem as pessoas, o tipo de relação que existe entre elas e que estabelecem com a natureza. Dessa forma o lugar mostra através da paisagem a história da população que ali vive, os recursos naturais de que dispõe e a forma como se utiliza tais recursos. Cada pessoa vê a paisagem a partir de sua visão, de seus interesses e de sua concepção.
A ocupação efetiva e duradoura da região de Alta Floresta veio com os programas modernos de colonização. O governo federal favoreceu eficazmente a ocupação da Amazônia mato-grossense. Alta Floresta teve por idealizador o Sr. Ariosto da Riva, hábil em se relacionar com o povo simples, mas também com os técnicos, cientistas e políticos.
No início da década de 1970, durante a intensa atividade seringueira na Amazônia, o empresário Ariosto da Riva adquiriu uma grande área no norte de Mato Grosso, com a intenção de instalar um novo projeto de colonização.
Abrir caminhos no meio da floresta tropical foi uma árdua missão, porém, em um processo arrojado e com a força e determinação de famílias vindas em sua maioria do Sul do país, no dia 19 de maio de 1976 fundou-se a município de Alta Floresta com o propósito de ter uma economia baseada na agricultura.
A fotografia mostra que no começo de 1976, Alta Floresta era apenas um projeto de cidade, onde Ariosto da Riva empreendeu a sua colonização, após o sucesso de Naviraí, Caarapó, Glória de Dourados e Suiá Missu.
De acordo com Ferreira (1997), Ariosto tinha como ideia estabelecer uma comunidade de fazendeiros cujas colheitas pudessem beneficiar a própria região, mas para isso ele sabia que tinha que fornecer a infraestrutura necessária para que essa comunidade pudesse realmente florescer.
Os colonos começaram a chegar em 1976, comparando os preços da terra o valor estipulado por Ariosto não era baixo, mas ele compensava com uma infraestrutura de estradas, escola, hospital, um mínimo de comércio de material de construção, de conserto de maquinas e equipamentos e outros serviços. (FERREIRA, 1997, p. 235).

Alta Floresta desenvolveu-se bastante, tratando-se de urbanização e colonização. Para conseguir atrair as pessoas para o projeto, Ariosto da Riva utilizou-se de propagandas e até mesmo, em alguns casos, de incentivos.
A paisagem e o espaço alteram-se no tempo em uma dança constante, para poder acompanhar as transformações da sociedade. A paisagem exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza.
Toda mudança, trazida pelo progresso de um determinado espaço modifica a paisagem. Sabe-se que paisagem é o espaço construído através da transformação do mesmo pelo homem (relação sociedade-espaço), tendo como causa a intencionalidade humana. Pode-se encontrar no espaço as paisagens nas formas "naturais" (rios, planaltos, planícies) e artificiais (casas, avenidas, pontes). Em geral, o espaço geográfico é o espaço ocupado e organizado pelas sociedades humanas. Espaço geográfico é tudo que o homem constrói e consome.
Alta Floresta apresentou nesse período as taxas de crescimento populacional e as taxas de imigração entre as mais altas de todo o Estado. Durante toda a década de 1980 Alta Floresta foi alvo de exploração garimpeira, mudando completamente o perfil de município agropecuário traçado originalmente pelo projeto de colonização da INDECO, transformando-se em polo regional de atividades ligadas ao garimpo em muito pouco tempo. A dificuldade para a estabilização do setor agropecuário liberou mão de obra e capital para os garimpos.
Percebe-se que o processo de mudança do espaço, da paisagem e do lugar foi rápido demais, faltaram informações e assistência para que essas modificações fossem feitas de uma forma adequada, vejamos as figuras abaixo:
 A população era de 49.233 habitantes em 2010, segundo o censo IBGE (2010). Atualmente, a comunidade, através de seus segmentos organizados, as instituições públicas e outras lideranças, buscam alternativas para a consolidação econômica do município, retomando-se a agricultura, a pecuária e o desenvolvimento do turismo, o que vem alavancando a economia da cidade e a tornando-a novamente um dos destaques do estado de Mato Grosso. Com a instalação de grandes usinas hidrelétricas na cidade vizinha de Paranaíta, muitos trabalhadores e suas famílias mudaram-se para Alta Floresta, o que fez com que muitos outros, atraídos pela boa fase que a cidade já vinha apresentando antes mesmo da instalação de tais obras, também viessem, aumentando consideravelmente o número de moradores. Porém, atualmente, boa parte deles já retornaram para suas cidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a discussão realizada ao longo deste estudo, nota-se que a colonização de Alta Floresta se insere no contexto do Programa de Integração Nacional quando, em 1973, a empresa colonizadora INDECO de propriedade de Ariosto da Riva, adquiriu por meio de licitações grandes extensões de terra no norte de Mato Grosso com intuito de realizar um programa integrado de colonização num prazo de cinco anos para implementação de obras de infraestruturas necessária ao desenvolvimento dos projetos agropecuários, agroindustriais e de colonização.
O espaço urbano de Alta Floresta se modificou muito nesses 40 anos de existência, pois a paisagem era constituída de muita mata nativa, pouquíssimas casas, poucas ruas e a ausência de infraestrutura básica como água encanada e luz elétrica. A arquitetura da cidade foi gradativamente sendo modificada ao longo do tempo. No início as construções eram simples, hoje observa-se casas e prédios comerciais de alvenaria com modelos requintados.
Com o aumento da população estão surgindo novos loteamentos e condomínios fechados, contribuindo assim para a segregação social. Pois a descentralização está associada ao crescimento da cidade, tanto em termos demográficos como espaciais. O processo de mudança do espaço envolve muito mais que meramente mudanças nas paisagens e sim fatores sociais, econômicos, culturais e até mesmo emocionais.
Atualmente Alta Floresta conta com dois elementos paisagísticos, a estátua do colonizador Ariosto da Riva e o avião DC3, que fizeram parte da colonização do município e hoje fazem parte da paisagem urbana como monumentos históricos.
A cada momento histórico, cada elemento muda seu papel, sua posição no sistema espacial e o valor de cada um deve ser tomado da sua relação com os demais elementos. Isso significa que as variáveis do espaço mudam no movimento do tempo histórico.
O homem vive em busca de realizar e satisfazer suas necessidades, pois ele está inserido em um contexto social, histórico e econômico, ou seja, em um meio materialista-capitalista de produção.

 

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