Buscar artigo ou registro:

 

A CRIANÇA, A ESCOLA, O LÚDICO E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

 

Eunice Souza dos Reis Giovani

Prof. Orientadora: Alexandra Magalhães Frighetto

Trabalho apresentado ao Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Curso (PED 0784) – Trabalho de Graduação

04/04/2016

 

 

RESUMO

 

Buscando explicitar melhor acerca da temática, este estudo tem como objetivo explicitar as questões sobre a ludicidade na educação infantil, visando que a ludicidade é uma das maneiras mais eficazes para envolver as crianças nas atividades de construção de conhecimento, contribuindo para a formação do cidadão, e são várias as suas manifestações: jogar, brincar, recrear, lazer. Enquanto se divertem, as crianças se conhecem, aprendem e descobrem o mundo. Para as crianças exercerem sua capacidade de criar é necessário que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas. A maneira como a criança brinca reflete sua forma de pensar e agir. A educação infantil implementada no espaço da escola não deve se limitar apenas a repassar informações, a compreender o ensino e a aprendizagem como fenômeno isolado, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade, a formar para a vida, desenvolvendo seu ato criador. Esse é o seu real objetivo. Para uma melhor sistematização de conhecimento, recorri a autores especialistas como: Romera (2007), Kishimoto (1996), Kramer (2007), Rosa (2001), entre outros.

 

Palavras-chave: Construção do conhecimento. Ludicidade. A criança e o brinquedo.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O presente Trabalho de Graduação tem como área de concentração “Metodologias de Ensino”. Apresentando o tema A Criança, a Escola, o Lúdico e a Construção do Conhecimento”. O mesmo se justifica pela sua importância, porque o lúdico é uma das maneiras mais eficazes para envolver as crianças nas atividades de construção de conhecimento, contribuindo para a formação de cidadão, e são várias as suas manifestações: jogar, brincar, recrear, lazer. Enquanto se divertem, as crianças se conhecem, aprendem e descobrem o mundo. “Os jogos e as brincadeiras propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica” (BRASIL, 2001, p. 27).

 

Os objetivos elencados para o mesmo buscam explicitar as questões sobre a educação e o lúdico, a escola e o lúdico, o educador e a ludicidade na educação infantil, e a criança e o lúdico. A metodologia adotada para o desenvolvimento deste trabalho é a revisão bibliográfica, trazendo posicionamentos de autores especialistas no assunto como: Romera (20007), (Brasil (2001), Kishimoto (1998), Santos (2001), Kramer (2007) entre outros.

 

O ser humano nasceu para aprender, apropriar-se do conhecimento, construí-lo e reconstruí-lo, desde o mais simples até os mais complexos. É isso que lhe garante a sobrevivência. Em todas as fases de sua vida o ser humano aprende coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Independente da cultura, raça, classe social toda criança brinca e todos os seus atos estão ligados à brincadeira.

 

Mas, como a escola concebe a atividade lúdica? Como a efetiva em seu contexto? Qual o papel do educador? Qual a importância da atividade lúdica na construção do conhecimento pela criança? Qual o valor educacional dos jogos?

 

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:

2.1 AS DIMENSÕES DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO

Não se pode negar que a vinculação do termo ‘lúdico’ à educação tem sido constante na área pedagógica, sendo imprescindível a explicitação das correntes que compreendem, de maneira contraditória, a sua efetivação no processo pedagógico. De acordo com Romera (2007, p. 139), diante das discussões a respeito do jogo, representado pelo lúdico na educação, existem duas principais correntes: a primeira “[...] defende uma função lúdica do jogo na qual ele propicia a diversão e tem um caráter essencialmente desinteressado [...]” e, a segunda, “[...] trata de uma função educativa do lúdico [...]”.

 

A primeira corrente considera o prazer proporcionado pela atividade lúdica a sua principal característica. Esta deve está vinculada à livre adesão daquele que a pratica não sendo permitido ao praticante visar qualquer possibilidade de produtividade. Os adeptos desta concepção não concordam com a ideia de sua utilização no campo pedagógico, portanto: [...] argumentam que o fato de se empregar o brinquedo com horário predeterminado, tendo um objetivo estabelecido a cumprir, visando a aspectos que não somente o do brincar por brincar, destituída atividade particularidades que a caracterizam (ROMERA, 2007, p.140).

 

Eles advertem sobre um aspecto importante que deve ser levado em consideração acerca do brinquedo – este não pode perder sua magia enquanto exerce função educativa. A partir do momento em que o brinquedo, a brincadeira e o jogo deixam de provocar alegria e prazer em detrimento da aprendizagem, deixa de ser brinquedo e passa a ser meramente material pedagógico (ROMERA, 2007).

 

A segunda corrente defende a função educativa da atividade lúdica. Há, portanto, a compreensão do papel motivador que o jogo estabelece, podendo esta motivação ser direcionada ao campo da aprendizagem no sistema educacional como também ser elemento facilitador e estimulador do processo de aprendizagem. Para os adeptos da segunda concepção “o jogo não se estabelece apenas pelo jogo, havendo uma intencionalidade que o acompanha” (ROMERA, 2007, p. 140).

 

De acordo com Kishimoto (1998) e Santos (2001) o equilíbrio entre as duas funções, lúdica e educativa, é o objetivo do jogo educativo. Portanto, deve haver uma estreita ligação entre o jogo e o trabalho escolar.

 

Kishimoto (1998, p. 23) revela ainda que:

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança. Nesse sentido, qualquer jogo empregado pela escola, desde quer espeite a natureza do ato lúdico, apresenta o caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo.

 

 

A autora defende a importância de se respeitar a natureza do ato lúdico, ao mesmo tempo em que defende também a sua aplicação, de modo consciente, no sistema educacional. Ao estudar o lúdico manifesto por meio dos jogos no desenvolvimento da humanidade, os estudiosos de ambas as correntes reconhecem ser o lúdico elemento motivador e instrumento de expressão tanto da cultura quanto da personalidade da criança.

 

2.2 A CRIANÇA E O LÚDICO COMO PARTE INTEGRANTE DA CULTURA INFANTIL

 

Toda uma gama de pensadores que estudam sobre a infância vê no brincar o espaço da criação cultural por excelência. Mas, deve-se a Winnicott a reativação de um pensamento, segundo o qual o espaço lúdico vai permitir ao indivíduo criar e entreter uma relação aberta e positiva com a cultura (BROUGÈRE, 1998).

 

Ainda, segundo Brougère (op. cit.), antes das novas formas de pensar nascidas do romantismo, nossa cultura parece ter designado como "brincar" uma atividade que se opõe a "trabalhar”, caracterizada por sua futilidade e oposição ao que é sério. Foi, nesse contexto, que a atividade infantil pôde ser designada com o mesmo termo, mais para salientar os aspectos negativos (oposição às tarefas sérias da vida) do que por sua dimensão positiva, que só aparecerá quando a revolução romântica inverter os valores atribuídos aos termos dessa oposição.

 

O brinquedo aparece, então, como um pedaço da cultura colocado ao alcance da criança. É seu parceiro na brincadeira. A manipulação do brinquedo leva a criança a agir e imaginar. Para as crianças exercerem sua capacidade de criar é necessário que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são oferecidas. Amaneira como a criança brinca reflete sua forma de pensar e agir.

 

Procurando entender melhor a infância na sociedade contemporânea, Kramer (2007) encontra na obra de Walter Benjamim interessantes contribuições acerca da visão peculiar da infância e da cultura infantil:

 

a) A criança cria cultura, brinca e nisso reside sua singularidade – as crianças reconstroem das ruínas, refazem dos pedaços, e através dos brinquedos e bonecas são atraídas pelos contos de fadas, mitos, lendas... A cultura infantil é, pois, criação e produção “[...] Nesse ‘refazer’ reside o potencial da brincadeira entendida como experiência da cultura” (p.16).Assim:

 

Ao valorizar a brincadeira, Benjamim critica a pedagogização da infância e faz cada um de nós pensar: é possível trabalhar com crianças sem saber brincar, sem nunca ter brincado? (KRAMER, 2007, p.16).

 

 

b) A criança é colecionadora, dá sentido ao mundo, produz história – como colecionadora a criança caça, procura. As crianças na tentativa de desvendar o mundo e conhecê-lo atuam sobre os objetos e os libertam de sua obrigação de serem úteis. Nesse aspecto:

 

Na ação infantil, vai se expressando, assim, uma experiência cultural na qual elas atribuem significados diversos às coisas, fatos e artefatos. Como um colecionador, a criança busca, perde, encontra, separa os objetos de seus contextos, vão juntado figurinhas, chapinhas, fronteiras, pedaços de lápis, borrachas antigas, pedaços de brinquedos, lembranças, presentes, fotografias (KRAMER,2007, p. 16).

 

c) A criança subverte a ordem e estabelece uma relação crítica com a tradição – Olhar o mundo a partir do ponto de vista da criança pode revelar contradição e outra maneira de vera realidade. Nesse processo, o papel do cinema, da fotografia, da imagem é importante para nos ajudar a constituir esse olhar infantil, sensível e crítico. Portanto:

 

Imbuir-se desse olhar infantil crítico, que vira as coisas pelo avesso, que desmonta brinquedos, desmancha construções, dá a volta à costura do mundo, é aprender com as crianças sem deixar de se infantilizar (KRAMER, 2007, p. 17).

 

 

d) A criança pertence a uma classe social – As crianças não formam uma comunidade isolada, elas são parte do grupo e suas brincadeiras expressam esse pertencimento. Elas não são filhotes, mas são sujeitos sociais, nascem no interior de uma classe, de uma etnia, de um grupo social. Assim:

 

Os costumes, valores, hábitos, as práticas sociais, as experiências interferem em suas ações e nos significados que atribuem às pessoas, às coisas e às relações. No entanto, apesar do seu direito de brincar, para muitas o trabalho é imposto como meio de sobrevivência (p. 17).

 

 

Cabe ressaltar que é através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos. Portanto, deve considerar a singularidade da criança e as determinações sociais e econômicas que interferem em sua condição, exige reconhecer a diversidade cultural e combater a desigualdade social de condições. Isto implica garantir o direito a condições dignas de vida, à brincadeira, ao conhecimento, ao afeto e a interações saudáveis (KRAMER, 2007).

 

2.3 A PROPOSTA LÚDICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Para compreender melhor a educação infantil e a importância da ludicidade é necessário buscar respostas para os seguintes questionamentos: Quais os avanços que teve a educação infantil em nosso país? Qual a compreensão que se tem sobre a importância da atividade lúdica na educação infantil? Essas atividades encontram- se vinculadas aos processos de ensino e aprendizagem das crianças?

 

Essas questões nos levam a refletir sobre a realidade da educação infantil e a formação destinada às crianças de 0 a 5 anos como também a importância do lúdico no seu processo formativo. Sabe-se que foi a partir da década de 80/90, com as conquistas asseguradas na Constituição Federal do Brasil (1998) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (1996), que tornou a educação infantil integrada ao sistema da Educação Básica e trouxe grandes avanços no tratamento de situações que se referem à criança e ao adolescente.

 

Em referência a LDB 9.394/96, no seu artigo 29, explicita que a Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Este texto legal reflete a importância que os primeiros anos de vida têm para o desenvolvimento subsequente da criança, evidenciando a relevância do papel da Educação Infantil na formação do indivíduo.

 

A reflexão sobre a educação da criança e a inserção do aspecto lúdico nesse processo torna-se fundamental. Mas, esta reflexão não é nova. Conforme Kishimoto (1998), a importância do lúdico já fora destacada por Aristóteles, Platão, Qintiliano, Montaigne, Montessori, Declory, Freinet, Rosseau, que defendiam o papel do jogo na educação. A ideia fundamental era a da exploração da vertente lúdica do ensino e aprendizagem de crianças.

 

Para os pedagogos Montessori, Declory, Freinet, Froebel “a escola seria, então, uma espécie de oficina de brinquedos onde se encontrariam associados processos de aprendizagem como a imitação, a imaginação e a cooperação – processos fundamentais no jogo e no ‘pôr-se em jogo’(AMADO, 1992, p. 426)”.

 

Foi a partir do século XX, com Froebel, o criador do jardim-da-infância (Kindergarten), que o jogo passou a fazer parte da educação infantil. Segundo a concepção de Froebel, a criança é capaz de um autodesenvolvimento, portanto, é preciso construir um sistema educativo que permita a criança se desenvolver de maneira natural, sendo que a maneira privilegiada de consegui-lo será através do jogo, do brinquedo e da brincadeira. Trata-se de dá lugar ao jogo sem abandonar a iniciativa da criança.

 

Apesar dos avanços, em termos teóricos, o brincar das crianças ainda não é reconhecido no contexto de muitas escolas de educação infantil. Inexiste, ainda hoje, no contexto destas instituições uma proposta pedagógica que incorpore o lúdico como eixo de trabalho tampouco um espaço físico para o desenvolvimento de tal atividade. São poucas, ainda, as escolas que investem neste aprendizado.

 

A visão de que a escola não é local de brincadeira permeia a compreensão de muitos pais e professores acerca do ensino destinado à criança. As situações permeadas de ludicidade não soam como produtivas nem como ferramenta de preparação de seus filhos. Assim, o brincar é compreendido como perda de tempo. De acordo com Dohme (2003), essa separação entre o aprender e o brincar tem a anuência dos pais. Para estes, o aprendizado está vinculado a um fazer incessante por meio do qual a criança execute intermináveis tarefas.

 

Nessa direção, faz-se importante considerar que um dos maiores desafios da educação escolar contemporânea é substituir o paradigma tradicional, com seu modelo técnico-racionalista, positivista, fragmentada, homogênea, previsível e linear por outro paradigma, inovador, crítico, reflexivo, integrador e holístico (BEHRENS, 2005).

 

A educação infantil implementada no espaço da escola não deve se limitar apenas a repassar informações, a compreender o ensino e a aprendizagem como fenômeno isolado, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade, a formar para a vida, desenvolvendo seu ato criador. Esse é o seu real objetivo.

 

Para Rosa (2001), a educação escolar na:

 

[...] tentativa de esvaziar os aspectos sensíveis da relação homem com o conhecimento e reduzi-lo às regras de uma aproximação estritamente racional com os produtos e produções da cultura nada mais é do que uma tentativa de desumanização de uma atividade eminentemente humana ou, numa palavra, a tentativa de desencantá-la (p.90).

 

 

Esse é o grande desgaste da escola quando efetiva em seu âmbito um ensino distante da realidade das crianças, relegando a brincadeira a simples recreação sem nenhuma intencionalidade educativa. Mas, qual o espaço do lúdico na escola?

 

Muito se ouve que a escola não é lugar de brincadeira, mas de estudo. A brincadeira, neste sentido, não é concebida como uma atividade séria que proporciona a aproximação do indivíduo ao conhecimento. O brincar não entra como elemento necessário no trânsito entre a tradição e a inserção no mundo (ROSA, 2001). Advém, então, outro questionamento: Como ensinar as crianças sem brincar?

 

Entende-se que a brincadeira não se opõe à ordem necessária ao aprender e ensinar. O brincar, em determinadas condições, possibilita “[...] criar um campo de experiências onde a cultura adquira real significado para o aluno” (ROSA, 2001, p. 111). Só assim, teremos superado a ideia de que a educação escolar se reduz ao ensinar e ao aprender, como atos isolados. A maneira como o brinquedo, a brincadeira e os jogos vêm sendo trabalhados nas escolas ainda não favorece um aprendizado significativo nas atividades pedagógicas. Essa realidade prejudica o aprender e o ensinar crianças na escola, pois sabemos que é:

 

Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e década um em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem (BRASIL, 2001, p.28).

 

 

Essa deve ser uma das preocupações da escola – reconhecera importância das atividades lúdicas como condição imprescindível para o aprendizado da criança e que se destaca como instrumento facilitador neste processo. E, para isto acontecer, deve-se superaras concepções técnico-racionalistas que buscam receitas prontas de como ensinar, o que vem a dificultar o avanço das atividades lúdicas na escola.

 

O lúdico está relacionado ao brincar, ao jogo e ao brinquedo, aspecto predominante na vida das crianças desde os tempos mais remotos da humanidade. Por isso, não deve ser visto meramente em seu caráter recreativo, mas sim instituído de intencionalidade, dando significado aos conteúdos escolares. A sua falta na escola prejudica no desenvolvimento e na aprendizagem da criança, por consequência, na sua construção de conhecimento.

 

É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características de papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis. Não há dúvida de que é no ato de brincar que a criança se apropria da realidade atribuindo-lhe significado.

 

O brincar exerce uma função essencial no processo educacional da criança, pois implica de forma prazerosa e significativa a construção de sua personalidade. É nos primeiros anos de vida que a criança irá compreender e se inserir em seu grupo, construir a função simbólica, desenvolver a linguagem, explorar e conhecer o seu ambiente.

 

A escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade da criança, pois desconsiderando estes aspectos, dificilmente contribuirá para a mudança de seus alunos. A negação do lúdico pode ser entendida numa perspectiva geral e, desse ponto de vista, está diretamente relacionada com a negação que a escola faz da própria criança.

 

O brincar exerce uma função essencial no processo educacional da criança, pois implica de forma prazerosa e significativa a construção de sua personalidade. É nos primeiros anos de vida que a criança irá compreender e se inserir em seu grupo, construir a função simbólica, desenvolver a linguagem, explorar e conhecer o seu ambiente.

 

A brincadeira é a melhor maneira de comunicar-se e relacionar-se com outras crianças, pois brincando ela aprende sobre o mundo que a cerca e tem oportunidade de procurar a melhor forma de inserir-se nele (KISHIMOTO, 1996).

 

Nesta compreensão:

 

Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são atividades fundamentais da infância. O brinquedo pode favorecer a imaginação, a confiança e a curiosidade, proporciona a socialização, desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da criatividade e da concentração (BATISTA; MORENO, PASCHOAL, 2000, p. 110):

 

A atividade lúdica na escola de educação infantil deve estimular a inteligência, a imaginação e a criatividade da criança como também possibilitar o exercício de concentração, atenção e engajamento, tendo uma relação direta com a formação da motricidade da criança, já que o controle consciente do movimento no jogo e na brincadeira é muito maior do que em outra atividade realizada por instrução.

 

O brincar na educação infantil tem uma função essencial no desenvolvimento da criança e na construção do seu conhecimento, principalmente nos cinco primeiros anos de vida, onde realiza tarefas que, segundo Kishimoto (1996), são essenciais: socialização, construção da função simbólica, desenvolvimento da linguagem, exploração e conhecimento do mundo físico.

 

Ainda, hoje, prevalece a indiferença de muitas escolas ao uso do lúdico no ensino das crianças. O brincar, numa visão conservadora, continua sendo tratado como uma atividade não séria e que não se enquadra nos padrões de ensino, priorizando a disciplina e o silêncio. A criança precisa ser obediente ao professor, passiva e imóvel em sala de aula, para que não haja bagunça.

 

Essa visão contraria os objetivos de uma educação ativa, crítica, autônoma, criativa e emancipadora, já que o brincar envolve conversa, interação entre os alunos e o professor, gerando movimentação em sala de aula. Quanto à seriedade do brincar Rosamilha (1979) expõe que o jogo infantil se diferencia do jogo adulto. O adulto pode ver o jogo como um passatempo ou um lazer. A criança já o vê como algo sério, já que se envolve integralmente na atividade de brincar.

 

A escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade da criança, pois desconsiderando estes aspectos, dificilmente contribuirá para a mudança de seus alunos. A negação do lúdico pode ser entendida numa perspectiva geral e, desse ponto de vista, está diretamente relacionada com a negação que a escola faz da própria criança.

 

A utilização da atividade lúdica no espaço escolar ainda é um grande desafio. Os professores precisam estar preparados para trabalharem de uma forma diferenciada daquela a que estavam acostumados, procurando aproveitar o máximo das contribuições que a proposta tem a oferecer.

 

Como é um desafio contínuo, apresenta algumas barreiras no meio do percurso, entre elas, os próprios alunos e as suas situações peculiares, os professores e o tempo para se dedicarem ao planejamento de uma proposta diversificada, a escola e sua estrutura curricular e física.

 

2.4 O FAZER LÚDICO-PEDAGÓGICO DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Uma proposta lúdico-educativa torna-se um desafio à prática docente. O educador além de planejar, organizar e aplicar os jogos precisa participar da atividade, sempre observando as interações e trocas de saberes estabelecidas entre eles. “[...] brincar e aprender ensinam ao professor, por meio de sua ação, observação e reflexão, incessantemente renovadas, como e o que o aluno conhece” (FORTUNA, 2001, p. 118).

 

Ao introduzir a atividade lúdica no contexto educacional o educador deve ter clareza de seus objetivos e saber o porquê de sua utilização. De acordo com Friedmann (1996), algumas questões devem ser levantadas como fazer um diagnóstico do comportamento do grupo, coletivo e individual, saber qual o estágio de desenvolvimento em que se encontram as crianças, conhecer os valores, as ideias, as necessidades e interesses, os conflitos e problemas das crianças, identificar os desafios cognitivos que os jogos podem propor às crianças.

 

O educador não pode desenvolver atividades lúdicas somente para preencher o tempo de aula quando não tem mais atividades e conteúdos para transmitir tampouco utilizar o jogo pelo jogo, sem um caráter didático-pedagógico. O educador precisa saber sobre o jogo, o lúdico e para que serve.

 

O brincar apresenta uma gama de possibilidades de aprendizagem para a criança. O papel do professor então é proporcionar situações lúdicas que atendam às necessidades de aprendizagem das crianças. Ele assume o papel de mediador neste processo de ensino e aprendizagem.

 

Os educadores precisam, portanto, repensar suas práticas em relação à efetivação do lúdico no contexto da educação infantil, creche e pré-escola, pois apesar dos discursos acerca da valorização e utilização do lúdico na escola, há uma parcela significativa de professores que se fundamenta no senso comum acerca da atividade lúdica, reduzindo-a meramente ao lazer. Neste aspecto:

 

A inclusão da ludicidade nos cursos de formação do educador infantil se faz necessária não só porque respalda teoricamente esses profissionais sobre a importância dos jogos e brincadeiras na infância, mas porque, através desses, o próprio professor terá condições de conhecer melhor seu aluno, a partir das brincadeiras e dos jogos que ele propiciará aos educandos (BATISTA; MORENO, PASCHOAL, 2000, p. 111-112).

 

A formação lúdica possibilitará ao educador conhecer-se como pessoa, saber suas potencialidades e seus limites, superar suas fragilidades e ultrapassar suas resistências em relação à importância da atividade lúdica para a vida da criança.


Na atualidade, devido às grandes transformações que estão ocorrendo na sociedade, faz-se necessário pensar num perfil de profissional capaz de atender as demandas de uma nova educação infantil, pois as crianças do século XXI são extremamente ativas, dinâmicas, curiosas, construtoras e encontram nas atividades lúdicas uma maneira de mostrar toda a sua criatividade, sua emoção, seu descontentamento, sua maneira de pensar e agir. É, nesta realidade, que é “[...] necessário um educador qualificado, comprometido com suas práxis e que junto da criança possa construir novos conhecimentos” (BATISTA; MORENO, PASCHOAL, 2000, p. 112). Este é mais um dos grandes desafios propostos para a educação infantil.

 

3 MATERIAL E MÉTODOS

 

Este trabalho de graduação foi realizado a partir de pesquisas bibliográficas feitas em diversos livros, revistas, sites da internet. As principais ideias dos autores especialistas no assunto foram referenciadas e comentadas no decorrer do trabalho.

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A atividade lúdica na escola de educação infantil deve estimular a inteligência, a imaginação e a criatividade da criança como também possibilitar o exercício de concentração, atenção e engajamento, tendo uma relação direta com a formação da motricidade da criança, já que o controle consciente do movimento no jogo e na brincadeira é muito maior do que em outra atividade realizada por instrução.

 

O brincar na educação infantil tem uma função essencial no desenvolvimento da criança e na construção do seu conhecimento, principalmente nos cinco primeiros anos de vida, onde realiza tarefas que, segundo Kishimoto (1996), são essenciais: socialização, construção da função simbólica, desenvolvimento da linguagem, exploração e conhecimento do mundo físico.

 

O brincar chega, então, à escola com o objetivo de facilitar a aprendizagem do aluno. O ambiente escolar deve estimular o aparecimento das potencialidades da criança, respeitando o tempo necessário para aprenderem.

 

O brincar apresenta uma gama de possibilidades de aprendizagem para a criança. O papel do professor então é proporcionar situações lúdicas que atendam às necessidades de aprendizagem das crianças. Ele assume o papel de mediador neste processo de ensino e aprendizagem.

Considerar que o ato de brincar é uma atividade específica e essencial da educação infantil, pressupõe o estabelecimento da relação entre a brincadeira infantil com a função sócio-pedagógica da educação infantil.

 

Diante dessa realidade muitos educadores discutem sobre a instalação de ambientes lúdicos1 que favoreçam o trabalho com crianças. O uso do lúdico na escola prevê a utilização de metodologias agradáveis e adequadas às crianças que façam com que o aprendizado aconteça dentro do seu mundo, das coisas que lhes são importantes e naturais de se fazer, que respeitem as características próprias das crianças, seus interesses e esquemas de raciocínio próprio.

 

A escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade da criança, pois desconsiderando estes aspectos, dificilmente contribuirá para a mudança de seus alunos. A negação do lúdico pode ser entendida numa perspectiva geral e, desse ponto de vista, está diretamente relacionada com a negação que a escola faz da própria criança.

 

Como é um desafio contínuo, apresenta algumas barreiras no meio do percurso, entre elas, os próprios alunos e as suas situações peculiares, os professores e o tempo para se dedicarem ao planejamento de uma proposta diversificada, a escola e sua estrutura curricular e física.

 

5 CONCLUSÃO

 

O lúdico é uma das maneiras mais eficazes para envolver as crianças nas atividades de construção de conhecimento, contribuindo para a formação do cidadão, e são várias as suas manifestações: jogar, brincar, recrear, lazer. Enquanto se divertem, as crianças se conhecem, aprendem e descobrem o mundo que o cercam.

 

Para Kozel (1996, p. 38), “Na Educação Infantil e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, o trabalho com o espaço acontece através de atividades envolvendo esquema corporal, brincadeiras e jogos que levam a criança a explorar o espaço e tudo o que ele contém.”

 

Conclui-se que é através de seus brinquedos e brincadeiras a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos. Portanto, deve considerar a singularidade da criança e as determinações sociais e econômicas que interferem em sua condição, exige reconhecer a diversidade cultural e combater a desigualdade social de condições. Isto implica garantir o direito a condições dignas de vida, à brincadeira, ao conhecimento.

 

Oferecer oportunidades para a criança brincar é criar espaço para a reconstrução do conhecimento (Jogo como elemento socializador). Ao criar um jogo o educador deve ter em mente, objetivos e estar atento aos desenvolvimentos da criança respeitando suas etapas, fazendo intervenções sempre que for necessário. É importante que a criança faça suas próprias descobertas através da manipulação, observação e exploração da atividade proposta. 

 

 

REFERÊNCIAS

 

AMADO, João da Silva. Função Educativa dos Brinquedos Tradicionais Populares. Revista Portuguesa de Pedagogia. Ano XXVI, nº 3, 1992, 393-433.

 

BATISTA, Cleide Victor Mussini; MORENO, Gilmara Lupion; PASCHOAL, Jaqueline Delgado. (Re) Pensando a Prática do Educador Infantil. In: SANTOS, Santa Marli Pires dos. (Coord.) Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis: Vozes, 2000.

 

BEHRENS, Maria Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC, 2001.

 

BROUGÈRE, Gilles. A criança e a Cultura Lúdica. Revista Faculdade de Educação. V. 24, n.2, São Paulo, jul/dez, 1998.

 

DOHME, Vânia. Atividades Lúdicas na Educação: O Caminho de Tijolos Amarelos do Aprendizado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

 

FORTUNA, Tânia Ramos. Formando Professores na Universidade Para Brincar. In: SANTOS, Santa Marli Pires dos (org.). A ludicidade como ciência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

 

FRIEDMANN, Adriana. Brincar: Crescer e Aprender – O Resgate do Jogo Infantil. São Paulo, SP: Moderna, 1996.

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a Educação Infantil. São Paulo, SP: Pioneira, 1996.

 

KRAMER, Sônia. A Infância e Sal Singularidade. In: BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos – orientações para inclusão de crianças de seis anos de idade. Brasília, DF: MEC/SEC, 2007.

 

ROMERA, Liana et al. O Lúdico no Processo Pedagógico da Educação Infantil: Importante, Porém Ausente. Movimento. Porto Alegre, RS, v.13, n. 02, p. 131-152, maio/agosto, 2007.

 

ROSA, Sanny S. da. Brincar, Conhecer, Ensinar. São Paulo, SP: Cortez, 2001.

 

ROSAMILHA, Nelson. Psicologia do Jogo e Aprendizagem Infantil. São Paulo, SP: Pioneira, 1979.