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EDUCAÇÃO FINANCEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

 

 

Claudia Sibeli Coelho Fiel1

Cristiane Mecabô Salmória2

Erci Fernanda Santana 3

Silvana Aparecida Tomazeli4

 

RESUMO

 

O presente artigo tem como objetivo central, debater de maneira conceitual sobre a importância da educação financeira na educação básica, bem como suas possibilidades e benefícios. De modo que foi possível concluir que a educação financeira é um conhecimento necessário para a grande maioria da população brasileira, que se encontra com dívidas e inadimplências devido ao desconhecimento financeiro. Em vista da necessidade de formar uma sociedade alfabetizada financeiramente, lançar mão de atividades de educação financeira na escola é um momento ideal para iniciar no indivíduo a consciência sobre a gestão de seu dinheiro, tornando-o um consumidor e um poupador consciente, no presente e para o futuro. A justificativa para a escolha do tema paira sobre sua contemporaneidade, além da expectativa de contribuir para o âmbito acadêmico. O método de pesquisa empreendido segue natureza qualitativa, com pesquisa do tipo bibliográfica.

 

Palavras-chave: Educação financeira; matemática financeira; educação básica.

 

ABSTRACT

 

This article has as main objective, debate conceptually on the importance of financial education in basic education as well as its possibilities and benefits. So it was concluded that financial education is a necessary knowledge for the vast majority of the population, which is in debt and defaults due to financial ignorance. In view of the need to form a financially literate society, to make use of financial education activities at school is an ideal time to start the individual awareness about managing their money, making it a consumer and a conscious saver, present and for the future. The rationale for the choice of subject hovers over its contemporaneity, beyond expectation to contribute to the academic environment. The research method undertaken following qualitative nature, with the bibliographical research.

 

Keywords: Financial education; financial math; basic education.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Em vista de um cenário mundial que lança à sociedade global como grande desafio do novo século, o realinhamento dos hábitos de consumo, a fim de preservar a integridade do planeta para gerações futuras, eliminar o analfabetismo financeiro é uma vertente de conhecimento cada vez mais essencial, indispensável para a formação de indivíduos desde a infância e juventude, para que se formem os adultos conscientes com seus gastos de amanhã.

Em vista do cenário supra exposto, desenha-se como objetivo central do presente artigo, debater de maneira conceitual sobre a importância do trabalho com a educação e a matemática financeira na educação básica, suas possibilidades e benefícios. A fim de traçar um caminho coerente para o desenvolvimento do tema, elencam-se como objetivos específicos: conceituar a matemática financeira e sua possível relação com situações cotidianas; abordar sobre os conceitos da educação financeira; e, debater sobre as alternativas de atividades de educação financeira que podem ser implementadas na educação básica. Sendo assim, a problemática de pesquisa a ser solucionada à finalização desse, paira sobre a questão: Qual é a importância, possibilidades e benefícios da educação financeira na educação básica?

O presente artigo justifica-se, pois pretende contribuir para o âmbito acadêmico oferecendo através da pesquisa em tela uma visão diferenciada acerca do tema, ampliando o material teórico, que poderá ser utilizado a fim de desenvolver estudos e pesquisas posteriores, estimular o aprofundamento sobre o tema, assuntos relacionados e demais vertentes científicas que possam originar-se a partir do interesse por este.

Sobre o método de pesquisa empreendido Lakatos e Marconi (1996, p. 15) definem que “Pesquisar não é apenas procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos”, através desta ótica é possível notar que a pesquisa é algo mais amplo do que se imagina em um primeiro momento.

Segundo Santos e Candeloro (2006) existem duas naturezas diferentes para uma pesquisa metodológica, são elas, qualitativa e quantitativa. Sendo assim:

 

A pesquisa de natureza qualitativa é aquela que permite que o acadêmico levante dados subjetivos, bem como outros níveis de consciência da população estudada, a partir de depoimentos dos entrevistados, ou seja, informações pertinentes ao universo a ser investigado, que leve em conta a ideia de processo, de visão sistêmica, de significações e de contexto cultural. [...] A pesquisa qualitativa é a que tem o objetivo de mensurar algumas variáveis, transformando os dados alcançados em ilustrações como tabelas, quadros, gráficos ou figuras. [...] Em geral, o instrumento de levantamento de dados mais adequado a este tipo de pesquisa é o questionário, em que questões fechadas correspondem a respostas codificadas. (SANTOS e CANDELORO, 2006, p.71-72).

 

Desta forma, a natureza escolhida para a criação deste trabalho é qualitativa, buscando assim, levantar todas as informações teóricas a fim de se chegar à conclusão, utilizando-se de abordagem exploratória através de pesquisa do tipo bibliográfica para colher e avaliar os dados, as pesquisas bibliográficas podem ser através de obras ou artigos científicos. (GIL, 2008).

 

DESENVOLVIMENTO

 

A matemática financeira e suas relações com a vida cotidiana

 

A Matemática Financeira é uma ferramenta útil na análise de algumas alternativas de investimentos ou financiamentos de bens de consumo. A ideia básica é simplificar a operação financeira a um Fluxo de Caixa e empregar alguns procedimentos matemáticos (ALMEIDA, 2004). Ou seja, é o corpo de conhecimento que estuda a mudança de valor do dinheiro com o decorrer do tempo (PUCCINI, 2007). O conceito de dinheiro surgiu quando o homem começou a ter noções sobre rentabilidade, ganhos e com isso poderia ganhar tempo e poupar trabalho excessivo. Esta noção nasceu junto com o desenvolvimento da agricultura, onde o homem, antes nômade, percebeu através da observação que poderia se manter fixo num local sem necessitar se locomover para conseguir alimentos.

O conceito de juros surgiu quando o homem percebeu a existência de uma afinidade entre o dinheiro e o tempo. As situações de acúmulo de capital e desvalorização monetária davam a ideia de juros, pois isso acontecia em razão do valor momentâneo do dinheiro (NOÉ, 2012). Portanto pode-se aferir que os juros numa certa unidade de tempo, calculada de acordo com a percentagem capital é denominada taxa de juros (IEZZI et al, 2005).

Assim, se um capital for aplicado a certa taxa por período, por vários intervalos ou períodos de tempo, o valor do montante pode ser calculado segundo duas convecções de cálculos: capitalização simples – através de juros simples - e capitalização composta – através de juros compostos (Id.). No regime simples, os juros gerados a cada período são sempre os mesmos e são dados pelo produto do capital pela taxa. Ou seja, o percentual dos juros é incidido apenas sobre o valor do montante principal (valor inicial aplicado ou emprestado). Assim, os juros gerados a cada período não incidirão novos juros.

No regime composto os juros em cada período são iguais ao montante do início do período multiplicado pela taxa, e esses juros são adicionados ao montante do início do período, gerando o montante do final do período. Ou seja, os juros gerados a cada período são incorporados ao valor principal do montante (valor aplicado ou emprestado no período) para o cálculo dos juros no período seguinte. Outra prática muito comum dentro da matemática financeira é o desconto simples.

É muito habitual, quando se compra algo pedir um abatimento do preço por unidade. Mas isso em geral é mais utilizado para compras simples e cotidianas que na sua maioria são pagas à vista – o que não impede o pedido de desconto para compras de alto valor. Este desconto simples pode ser subentendido como o valor a ser pago à vista – quando se faz uma compra e o pagamento pode ser feito ao longo de certo período (parcelado ou não), o acréscimo de taxas e juros é praticamente certo.

Mas a estratégia de marketing em se dar um “desconto para pagamento à vista” é muito comum. Como também é muito comum dar-se mais desconto para pagamentos feitos em dinheiro do que no cartão, pois, o uso do cartão (quer seja de crédito ou de débito) é passível de taxa pelo uso, e quando se faz uso do pagamento à vista em dinheiro é muito comum o abatimento do valor das taxas de utilização do cartão.

Pode-se notar, portanto, que as operações envolvendo dinheiro são de diversas origens e de variadas fontes além de serem feitas num certo período de tempo - há uma rede complexa envolvendo o capital e há sempre uma lógica ligando todos os trâmites. Trâmites financeiros em longo prazo também são baseados em cálculos que se enquadram dentro da matemática financeira. São investimentos em conta poupança, previdência privada e financiamentos de diversos tipos como imóveis, carros e mensalidade de ensino superior além de empréstimos e tantas outras transações que envolvem o dinheiro.

Através desta ótica é possível notar que a matemática financeira tem uma importância relevante, e deve ser aplicada aos jovens desde sua estadia nas escolas, desde o ensino fundamental que, como explica Santos (2007), são apresentados conceitos que tornam mais facilitada a absorção do ensino da matemática financeira propriamente dita:

 

Conhecer os conteúdos matemáticos que estão envolvidos nas atividades financeiras tais como os cálculos dos juros simples e compostos, os descontos, as capitalizações e amortizações de dívidas é sem dúvida, uma forma agradável de dar significado a diversos conteúdos importantes da Matemática do Ensino Fundamental e Médio, tais como: Razões, Proporções, Porcentagem, Funções, Progressões Aritméticas e Geométricas, entre outros”. (p.4)

Transportando a importância do ensino da matemática financeira para o âmbito real é possível notar que o fator de maior relevância paira sobre sua aplicabilidade no cotidiano, em relação ao consumo de qualquer item, se deve ser feito à vista, ou se a taxa de juros compensa realizada a prazo, entre outras operações. Atualmente ainda é possível notar que o processo de globalização cada vez mais acelerado traz mudanças no âmbito socioeconômico, ressaltando as discrepâncias existentes entre países sub e desenvolvidos, especialmente no que diz respeito à educação.

Os desenvolvidos produzem e propagam o conhecimento, enquanto a falta de recursos dos subdesenvolvidos os faz consumidores, tendo de pagar caro por este. Neste contexto, o conhecimento passa então a ser encarado como um ponto inicial para inovar produtiva e intelectualmente, já que quando não há renovação e divulgação, não há também aprendizado. Sobre esta questão Delors (1999, p. 72) explica:

 

No alvorecer do século XXI, a atividade educativa e formativa, em todos seus componentes, tornou-se um dos motores principais do desenvolvimento.Por outro lado, ela contribui para o progresso cientifico e tecnológico, assim como para o avanço geral dos conhecimentos, que constituem o fator decisivo do crescimento econômico”.

 

Levando em consideração o dito cenário, nota-se que a estatística, tal como a matemática financeira vem representando papel de extrema importância para aquisição de conhecimento, isto porque a ciência em questão visa oferecer técnicas e metodologias a fim de permitir que o ser humano construa pensamentos racionais, sujeitos a ocasiões de incertezas. Neste sentido, Toledo (1985, p. 13) define o uso da estatística como:

 

Cada vez mais acentuada em qualquer atividade profissional da vida moderna. Nos seus mais diversificados ramos de atuação, as pessoas estão frequentemente expostas à Estatística, utilizando-a com maior ou menor intensidade. Isto se deve às múltiplas aplicações que o método estatístico proporciona àqueles que dele necessitam”.

 

Triola (1998, p. 5) também discorre sobre as aplicabilidades da estatística:

 

Os fabricantes fornecem melhores produtos a custos menores através de técnicas de controle de qualidade. Controlam-se doenças com auxílio de análises que antecipam epidemias. Espécies ameaçadas são protegidas por regulamentos e leis que reagem a estimativas estatísticas de modificação do tamanho das populações. Visando reduzir as taxas de casos fatais, os legisladores têm melhor justificativa para leis como as que reagem à poluição atmosférica, inspeções de automóveis, utilização do cinto de segurança e da bolsa de ar, e dirigir em estado de embriaguez”.

 

Sendo assim, é possível e notável a importância da estatística para as realidades dinâmicas da sociedade, ao passo que favorece o Estado, oferece também à ciência e à pesquisa científica os meios mais concretos de averiguação de inúmeras e importantes finalidades. Concordando com este pensamento, Bogdan e Biklen (1994, p. 195-196) explicam:

 

O processo de quantificação produz taxas e medidas. Elas não aparecem naturalmente no mundo. As taxas e as computações representam um ponto de vista que os sujeitos tomam acerca das pessoas, objetos e acontecimentos. E ainda porque os sujeitos tomam uma atitude numérica em relação a certas categorias de pessoas, objetos ou acontecimentos, isso não quer dizer que haja um consenso natural no que diz respeito à forma de chegar a essas taxas e computações. Por exemplo, os atos de violência nas escolas estão dependentes da forma como as pessoas que compilam os números num dado tempo e lugar definem o fenômeno e realizam o seu trabalho. Não podemos gerar uma taxa de atos violentos até desenvolvermos uma perspectiva em relação a ações específicas que as tornem quantificáveis ou importantes para contagem”.

 

Os autores prosseguem dizendo que, ainda que a estatística não seja o único modo científico de tratar dados, é através dela que os estudantes terão capacidade de observar as relações que não poderiam ser visualizadas ou notadas de outro modo, que não através dela. Bogdan e Biklen (1994) explicam ainda que a estatística pode não revelar necessariamente as razões das relações, o que pode ser mais efetivo, muitas vezes, através de avaliações de natureza qualitativa, no entanto, explicam que é possível unir ambos os métodos de análise para uma eficácia maior.

O primeiro exemplo que os autores dão sobre as análises, é que comumente aplicam-se os questionários de questões abertas, podendo assim utilizar da observação em profundidade, visando à descoberta da razão por duas variáveis que se relacionam estatisticamente. Ainda há como utilizar de maneira rigorosa, um palpite que se parte de modo que uma avaliação quantitativa pode servir de meio para a realização de um estudo qualitativo. Sobre isto, Bogdan e Biklen (1994, p. 20) explicam:

 

A investigação de Charles Booth, um estatístico que começou a fazer levantamentos sociais relativos aos pobres de Londres em 1886 (Webb, 1926), seguiu a tendência da literatura emergente. O empreendimento de Booth revestiu-se de dimensões incríveis, prolongando-se por dezessete anos e dando origem a igual número de volumes escritos. O seu principal objetivo era o de descobrir quantos pobres existiam em Londres e quais as suas condições de vida. Ainda que a sua principal preocupação fosse documentar quantitativamente a extensão e natureza da pobreza em Londres , o seu trabalho contém descrições exaustivas e detalhadas das pessoas que estudou. Tais descrições foram recolhidas durante os períodos de tempo em que Booth viveu, anonimamente, entre as pessoas que observou, com objetivo de ter experiência direta das vidas dos seus sujeitos”.

 

Os métodos quantitativos ou qualitativos evidenciam que há a supervalorização isolada, o que levará impreterivelmente a desvalorização das ciências educacionais que devem dar atenção com os aspectos quantitativos, tal quanto com os qualitativos em igual proporção.

 

Educação Financeira: generalidades

 

D’Aquino (2008) explica que o capitalismo é um elemento intrinsecamente relacionado ao consumismo, sobretudo na sociedade contemporânea. Assim, no fomento de uma filosofia em que mais se importa o que se tem e não o que se é, a sociedade passa a sentir a necessidade de reconhecer todos os benefícios que o dinheiro pode proporcionar, passando a noção de que o dinheiro será um elemento que proporciona, todavia, uma satisfação apenas momentânea.

O autor enxerga na sociedade contemporânea, uma cultura cuja, desde muito cedo, ensina-se como gastar, porém, não se ensina como obter, tampouco como manter e a importância de preservar seu capital financeiro. D’Aquino (2008) ainda preocupa-se com a precocidade com que o dinheiro torna-se importante na vida de crianças e jovens, que são absorvidos por uma cultura de gasto desenfreado, sem saber como preservar esse dinheiro e somente reconhecendo seu valor – majoritariamente – mediante dificuldades financeiras que enfrentarão na vida adulta.

O autor explica que no Brasil, a educação financeira é um elemento ainda muito recente para a grande maioria da população. Isso porque não é um hábito do povo brasileiro planejar-se financeiramente, nem falar sobre dinheiro, compra, parcelamentos, etc., principalmente com as crianças. Além de tudo, o país passou por oito moedas diferentes em um período de 52 anos (1942-1994), sendo que dessas, seis foram alteradas em um período de duas décadas. D’Aquino (2008, p. 9) ainda explica que a existência de uma instabilidade econômica fez, durante longos anos, parte da rotina da população brasileira, cujos indivíduos carregam tais reflexos desse passado. “Numa economia sufocada pela inflação, qualquer tentativa de planejamento financeiro tinha resultados frágeis e desanimadores”.

O autor ainda ressalta que a inflação fora – e volta a ser – um fantasma que assombra o país, a oscilação veloz de preços fez com que os indivíduos tomassem por hábito a compra “agora”, antes que os preços se elevassem novamente. Tal cenário que fora resultante de um período de altas inflações acompanhado da ausência total de educação financeira na formação da sociedade. Assim, como o indivíduo não aprendeu a poupar suas finanças, precisa então passar por dificuldades para aprender. De modo que a educação financeira agora, demanda de um esforço múltiplo para ser ensinada.

Pereira (2009) explica que o marco central que possibilitou a educação financeira enquanto elemento concreto fora a queda da inflação. De modo que, em período mais recentes, os indivíduos notaram a importância do planejamento, do entendimento maior acerca de finanças pessoais, defendendo-lhes das armadilhas do mercado, organizando suas contas familiares no bojo de demais elementos que se incluem na educação financeira.

O autor também explica que o dinheiro é uma questão antiguíssima na sociedade. Explica ainda que no art. 208, inciso IV da Constituição Federal de 1988, bem como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a ação de educação infantil se apresenta como um complemento da família e comunidade. De modo que, torna-se responsabilidade também dos pais a educação de seus filhos desde o seu nascimento, incluindo então a educação financeira.

No âmbito legislativo, a aprovação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), fora um ponto em que se constata que, seria agora, bem como pouco a pouco, que o Brasil daria a atenção e importância devidas para a educação financeira. Instaurada por meio do Decreto nº 7.397/10, passou a ter como objetivo a promoção da educação financeira e previdenciária, contribuindo então para a consolidação da cidadania, eficiência e solidez do sistema financeiro brasileiro e da tomada de decisões mais autônomas e responsáveis por parte da população consumidora.

Pereira (2009) acredita então que a finalidade de fomentar a cultura de educação financeira no Brasil – que até a contemporaneidade é quase nula – paira sobre a ampliação do grau de entendimento que o cidadão terá para efetuar escolhas mais responsáveis no que concerne à administração de seus recursos financeiros, contribuindo para a eficiência e a solidez dos mercados financeiro, de capitais, de seguros, previdenciário e de capitalização.

Deste modo, mais do que aprender e compreender os preceitos e regras da matemática financeira, a educação financeira trata-se de fomentar nos indivíduos a consciência de preservar e valorizar seu dinheiro de maneira geral. Assim, diferencia-se a matemática financeira, que é uma disciplina capaz de aplicar uma série de regras, fórmulas e cálculos matemáticos, da educação financeira, que é uma disciplina mais subjetiva e empírica, cuja aprendizagem não se dá por regras, fórmulas e cálculos padronizados, mas sim, pela formação da cultura de economia do indivíduo.

Ainda tratando da educação financeira, Frankenberg (1999) explica que o ser humano tende a sofrer influências de emoções para a tomada de decisões financeiras, de modo que a primeira delas é aprendida por meio dos acontecimentos da vida, por meio de conhecimentos adquiridos e experiências. Para o autor, o ser humano é altamente dependente de questões fisiológicas, e que estas podem ser alteradas ou influenciadas de acordo com as escolhas feitas, impactando ainda os aspectos psicológicos.

Esses aspectos que são ainda mais complexos, demonstrando que a relação que os pais possuem com o dinheiro, influenciarão sobremaneira o modo como seus filhos lidarão e as escolhas que farão sobre o mesmo. Assim, se os pais tendem a gastar dinheiro sem o mínimo controle, certamente não terão como cobrar que os filhos ajam de maneira diferente. De modo que a ideia que se forma sobre o dinheiro na fase adulta se relaciona com o modelo de dinheiro que conheceu na infância e, por essa razão torna-se crucial educar financeiramente o indivíduo ainda quando criança.

 

Alternativas de conteúdos da educação financeira para o ensino básico

 

Kioyosaki (2000) acredita que a sociedade contemporânea equipara o dinheiro a um status de melhor qualidade de vida e segurança. Uma vez que, aquele que não se atribui do mínimo conhecimento acerca de uma administração adequada dessa ferramenta, certamente enfrentará alguma – ou muitas – dificuldades financeiras na vida. Para o autor, existe aí um alerta sobre a importância de dar início à educação financeira com a denominada “alfabetização financeira”. O autor explica que, além de fomentar o conhecimento e aprendizagem de letras, é fundamental que também o sujeito saber fazer a leitura e interpretação de números.

Para Kioyosaki (2000) um dos pontos mais cruciais da educação financeira é compreender a contabilidade. Sendo assim, é preciso ensinar o sujeito a diferenciar ativos e passivos em seu orçamento, sabendo que quem enriquece é aquele que acumula ativos, enquanto aquele que passará por maiores dificuldades financeiras, é porque acumulou passivos demais. O autor (p. 73) explica então que “Um ativo é algo que põe dinheiro no bolso e um passivo é algo que tira dinheiro do bolso”. E prossegue:

 

Estou muito preocupado pelo fato de que gente demais se preocupa excessivamente com dinheiro e não com sua maior riqueza, a educação. Se as pessoas estiverem preparadas para serem flexíveis, mantiverem suas mentes abertas e aprenderem, elas se tornarão cada vez mais ricas ao longo dessas mudanças. Se elas pensarem que o dinheiro resolverá seus problemas, receio que Terão dias difíceis. A inteligência resolve problemas e gera dinheiro. O dinheiro sem a inteligência financeira é dinheiro que desaparece depressa” (KIOYOSAKI, 2000, p. 74).

O autor então acredita que, no bojo da contabilidade, não se atribui grande importância aos números – diferente do que se imagina – mas sim, importa o que os números contam, o que mensuram. Assim como é com as palavras, pois, na aprendizagem da língua portuguesa, não são as palavras que tem maior peso na aprendizagem, mas sim, as histórias formadas por meio delas. De modo que a alfabetização financeira será então a capacidade que o indivíduo terá de ler os números e a história que contam.

 

Contabilidade é o que chamo de alfabetização financeira. Uma Habilidade vital se você quer construir um império. Quanto mais dinheiro estiver sob sua responsabilidade, mais acuidade é exigida ou a casa desmorona. A alfabetização financeira é a capacidade de ler e entender demonstrações financeiras. Isso lhe permite identificar os pontos fortes e fracos de qualquer negócio” (KIOYOSAKI, 2000, p. 125).

 

D’Aquino (2008) complementa esse pensamento explicando que a educação financeira será então pensada para muito além de alcançar a independência financeira, mas sim, será capaz de fomentar a habilidade de o indivíduo fazer escolhas responsáveis e adequadas quanto às suas finanças e os preceitos contáveis. Isso porque sua finalidade é a construção de bases para que, quando educada financeiramente ainda na infância, na vida adulta o indivíduo tenha consciência e conhecimento para lidar com o dinheiro de maneira correta.

Para a implementação da educação financeira nas escolhas, foi elaborado um documento a fim de apresentar um conjunto de princípios norteadores do ensino de educação financeira. O material didático em questão foi elaborado pelo governo federal e encaminhado, inicialmente ao ensino médio. Cuja proposta pedagógica do conteúdo é iniciada com a definição da educação financeira e com um modelo pedagógico que é apresentado a termos:

 

O modelo pedagógico foi concebido para oferecer ao aluno informações e orientações que favoreçam a construção de um pensamento financeiro consistente e o desenvolvimento de comportamentos autônomos e saudáveis, para que ele possa, como protagonista de sua história, planejar e fazer acontecer a vida que deseja para si próprio, em conexão com o grupo familiar e social a que pertence. Nesse sentido, o foco do trabalho recai sobre as situações cotidianas da vida do aluno, porque é nelas que se encontram os dilemas financeiros que ele precisará resolver” (BRASIL, 2010, p. 7).

 

O modelo pedagógico em questão, ainda se calca em duas dimensões conceituais que é denominada em dimensão espacial e temporal. A fim de justificar tal perspectiva é o fato de que o cotidiano ocorre sempre no espaço e no tempo determinados, fazendo com que a educação financeira se comprometa com tal cotidiano, assim, torna-se importante o estudo conforme tais dimensões. Assim, para ambas as dimensões conceituais, apresentam-se objetivos gerais a serem cumpridos por meio dos conteúdos da educação financeira.

Na dimensão especial os objetivos são: formar para a cidadania; ensinar a consumir e poupar de maneira ética, consciente e responsável; oferecer conceitos e instrumentos para a tomada de decisão autônoma baseada em mudanças de atitudes; e, formar disseminadores. Os demais objetivos dizem respeito à dimensão temporal e voltam-se para as articulações entre passado, presente e futuro, a saber: ensinar o planejamento de curto, médio e longo prazo; desenvolver cultura da prevenção; e, oferecer mudanças na condição atual. O último objetivo se encontra atrelado à perspectiva da proposta de que tais conhecimento e competências advém do estudo da educação financeira, fazendo com que estudante e seus familiares ascendam socialmente com tais práticas (BRASIL, 2010).

Assim, embora o próprio material didático oferecido conte com um caderno de alunos a fim de ensinar taxas de juros e demais elementos da matemática financeira. Silva e Powell (2013) explicam que é preciso ir além e inserir os alunos em atividades práticas que lhes possibilitem um contato simulado com os conceitos da matemática financeira, fazendo-os vivenciar situações de juros, poupança, parcelamentos, fazendo com que, por meio dessas atividades, seja desenvolvido um pensamento financeiro.

Campos (2012) então sugere que a produção de tarefas deve se doutrinar por algumas características que tem como objetivos atender aos interesses do professor. Tais objetivos de orientação para a elaboração das tarefas, são sugeridos pelo autor:

 

Estimulara produção de significados dos alunos;

Ampliar os significados que podem ser produzidos, permitir diferentes estratégias de resolução e possibilitar que elas se tornem objeto de atenção de todos;

Possibilitar que vários elementos do pensar matematicamente estejam em discussão, como a análise da razoabilidade dos resultados, estimativas, tomada de decisão, a busca de padrões nas resoluções, o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas;

Apresentar situações abertas que propiciem vários caminhos de resolução (p. 76).

 

O autor então finaliza dizendo que, sobre tais objetivos, a produção de significados que o professor pode estimular nos alunos, não paira somente sobre significados matemáticos, mas estão propostos a fim de permitir uma análise equilibrada sobre a aquisição de significados não matemáticos que os alunos conseguem produzir, já que esses também informam sobre o modo de operação dos alunos. Ao passo que também explica que a realização de atividades práticas é a alternativa mais viável e eficaz para a consolidação da educação financeira.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Através das pesquisas realizadas a fim de compor o presente artigo, foi possível compreender que a sociedade vive atualmente um sistema capitalista intenso, de modo que o dinheiro figura enquanto um bem necessário a fim de assegurar a sobrevivência do indivíduo. Em dado sistema de acúmulo de riquezas e a forma como ocorre, é possível notar um individualismo crescente, onde cada indivíduo torna-se cada vez mais responsável por quanto e como gasta seu dinheiro. Tal situação, certamente demanda de uma conscientização de indivíduos a fim de fazer com que saibam equilibrar esses gastos e minimizar os riscos de enfrentar dificuldades financeiras.

O crescimento econômico do país nos últimos anos passou a fomentar um aumento na oferta de crédito, porém, a crise econômica presente passou a elevar também os índices de endividamento da população, uma questão que se dá, em maior parte, porque os indivíduos não sabem como gerenciar o seu dinheiro, por puro desconhecimento de informações financeiras.

Seguindo essa linha de pensamento, é constatável que, quando possui acesso a uma base educacional sobre finanças, a população toma conhecimento sobre como gerenciar sua renda, tornando um hábito a questão de racionalizar sobre escolhas de consumo e preservação dos recursos financeiros. Tal hábito demanda de uma conscientização que, por sua vez, é necessária desde a infância, quando deve fomentar suas bases, educando a criança, desde o momento em que ela descobre o consumo, que a formação de um hábito saudável de consumo é que contribuirá para a sua situação financeira na vida adulta.

Assim, em alguns documentos oficiais a educação financeira passa a se tornar – de maneira gradativa e retarda – uma realidade na educação básica. De modo que algumas escolas passam a notar essa necessidade de formar consumidores para o futuro, mais conscientes sobre a necessidade de equilibrar quanto ganham e quanto gastam, minimizando o risco de inadimplência e gerando uma sociedade mais salubre em relação ao dinheiro.

Para tanto, é possível constatar então que a educação financeira na educação básica é uma realidade possível e benéfica, desde que trabalhada da maneira adequada. As pesquisas avaliadas demonstram algumas possibilidades que envolvem nas atividades em sala de aula as vivências cotidianas com o dinheiro e o consumo, oferecendo aos alunos a noção de como ocorre um processo de compra consciente, além de estimular a questão da poupança, fomentando o hábito de guardar dinheiro, mesmo que pouco, mas sempre.

Diversos trabalhos também explicam sobre a importância de inserir atividades lúdicas que envolvem a educação financeira, já que tal caráter tende a estimular e motivar os alunos na realização das tarefas. Desta forma, tornar a educação financeira uma prática comum, bem como conceituar e apresentar a matemática financeira de maneira mais estimulante e prazerosa aos alunos, certamente tornará ambas as disciplinas mais compreensíveis, fáceis e contribuirá para a formação de sujeitos alfabetizados financeiramente, capazes de tomar decisões coerentes em relação ao seu dinheiro, seja no presente, seja no futuro.

Conclui-se o presente artigo com a crença de que tanto objetivo geral quanto específicos foram atendidos, bem como a problemática de pesquisa foi solucionada. Contudo, como não era de intento, o assunto não fora esgotado, fora dado um primeiro e importante passo para o fomento de conhecimento e estímulo para o aprofundamento no tema, que pode ser feito em estudos posteriores, que visem corroborar, refutar ou complementar as constatações obtidas até o momento.

 

REFERÊNCIAS

 

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1 [Licenciatura Plena em Matemática ]

2 [Licenciatura Plena em História]

3 [Licenciatura Plena em Pedagogia]

4 [Licenciatura Plena em Ciências Biológicas]