Jogos cooperativos como inclusão social nas aulas de Educação Física
Rogéria Cristhina Pedroso Ávila
Tathiane Franciele Pedroso Correa de Almeida Ferreira
Claudinéia da Rocha Almeida dos Santos
Roseli Xavier dos Santos Souza
Andreza Ferreira da Silva Ramalho
Rosimari de Fátima Graciolli
Sueli Aparecida dos Santos
Fabiana Pereira
Angelita Peixer
RESUMO
A Educação Inclusiva representa, atualmente, um dos anseios de uma sociedade que ainda convive com a discriminação e o estigma. É fundamental que os alunos tenham garantidos a dignidade, o respeito e a integração no ambiente escolar. Este artigo tem como foco o estudo da inclusão social por meio dos jogos cooperativos, considerando que, na disciplina de Educação Física, ainda há um forte incentivo à competição, o que pode gerar exclusão social. Muitas vezes, esse cenário acaba afastando os alunos com menor habilidade, transformando-os em meros espectadores e priorizando apenas os mais aptos, enquanto os demais participam das atividades apenas de forma simbólica. Para abordar essa questão, foi realizada uma revisão teórica sobre os principais conceitos envolvidos, seguida de um estudo com os alunos, com o objetivo de levá-los a refletir criticamente sobre os valores associados à competitividade. A proposta é promover experiências com jogos que valorizem a interação, o companheirismo e a cooperação, contribuindo para a construção de uma prática mais inclusiva na Educação Física.
Palavras-chave: Inclusão social. Educação física. Jogos cooperativos.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo destacar a importância dos jogos cooperativos como ferramenta de promoção da inclusão social nas aulas de Educação Física, diante dos desafios enfrentados no cotidiano escolar. Para isso, é essencial promover a reflexão, o diálogo e a participação ativa de todos os envolvidos no processo educacional: alunos, professores, equipe escolar, pais e a comunidade em geral.
As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou de qualquer outra natureza. Diante da natural diversidade humana, torna-se necessário adaptar o processo de aprendizagem às necessidades de cada aluno, desenvolvendo uma pedagogia inclusiva, capaz de educar com êxito a todos.
A Educação Física não pode permanecer indiferente ao movimento da Educação Inclusiva. Cabe ao professor dessa disciplina promover a inclusão social por meio de jogos cooperativos, possibilitando que todos os alunos participem de forma ativa nas atividades corporais. É fundamental que sejam estabelecidas relações equilibradas e construtivas entre os estudantes, com o reconhecimento e respeito às diferenças físicas, de desempenho, pessoais, sexuais e sociais, sem qualquer forma de discriminação.
Essa área do conhecimento pode se tornar tanto uma aliada quanto um obstáculo à construção de uma escola inclusiva. A cultura esportiva competitiva, ainda dominante nas propostas curriculares, impõe um desafio adicional à inclusão, pois tende a excluir aqueles considerados menos capazes em contextos de competição. Essa lógica competitiva acaba sendo uma das principais fontes de exclusão.
A introdução de uma nova cultura, baseada nos jogos cooperativos, surge como uma alternativa para confrontar criticamente essa visão tradicional. O objetivo não é eliminar o esporte das escolas, mas sim ampliar as possibilidades didáticas, incorporando práticas que favoreçam a cooperação e a integração. Atividades fundamentadas na cooperação podem promover uma transformação qualitativa no ambiente escolar, fortalecendo o vínculo entre professor, aluno e comunidade.
É necessário refletir sobre como a inserção de elementos cooperativos nas práticas lúdicas pode representar um diferencial na formação dos alunos, contribuindo para sua vivência escolar de forma mais positiva e participativa. Todos devem ser encorajados a participar de atividades corporais que promovam atitudes de respeito, aceitação e solidariedade.
Assim, incluir os jogos cooperativos como conteúdo das aulas de Educação Física é fundamental para desenvolver a consciência de grupo. Cada aluno, com suas habilidades específicas, pode contribuir para que todos alcancem os objetivos comuns, sem que a ideia de “vencer a qualquer custo” prevaleça. O papel do professor é fundamental nesse processo: ele deve planejar e estruturar suas aulas de modo que todos os estudantes se sintam pertencentes e protagonistas no grupo, pois ser incluído, lembrado e aceito promove autoestima e bem-estar no ambiente escolar.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Durante décadas, a Educação Física escolar adotou um modelo centrado exclusivamente no corpo, na aptidão física e no desempenho esportivo, negligenciando aspectos fundamentais como o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo dos alunos. O foco principal das aulas era o Esporte-Rendimento, exigindo que os estudantes demonstrassem habilidades técnicas e elevado desempenho não apenas nas atividades escolares, mas também em jogos e modalidades esportivas específicas — o que, muitas vezes, os levava a serem tratados como verdadeiros atletas. Esse modelo contribuiu para a exclusão de muitos alunos, ao privilegiar métodos de ensino baseados na repetição mecânica e desconsiderar a diversidade de capacidades e interesses da turma, tornando as aulas monótonas e pouco inclusivas.
A Declaração de Salamanca reforça que “inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao exercício dos direitos humanos”. Esse documento ampliou o conceito de “necessidades educacionais especiais”, que passou a englobar, além das pessoas com deficiências, estudantes com dificuldades temporárias ou permanentes, aqueles que repetem anos escolares, que trabalham, vivem em situação de extrema pobreza ou estão fora da escola por qualquer razão.
Diante disso, é necessário promover uma discussão sobre a legitimidade da inclusão como uma mudança de paradigma no fazer pedagógico do professor de Educação Física. Muitos docentes ainda parecem ignorar os processos de exclusão que decorrem da prática esportiva tradicional, tratando as aulas como espaços reservados apenas aos mais habilidosos, com melhor desempenho físico, motor ou esportivo — o que contraria os princípios de convivência, integração social e vivência plena do corpo.
A Educação Física deve assumir um papel inclusivo, não podendo admitir que seus profissionais atuem como agentes de exclusão. Paradoxalmente, os alunos menos aptos, muitas vezes excluídos, são justamente os que mais necessitam da atuação acolhedora e transformadora do professor.
É papel do docente planejar e organizar suas aulas com intencionalidade pedagógica, de forma que todos os estudantes se sintam participantes, pertencentes e protagonistas no ambiente escolar. Ser lembrado, aceito e incluído é essencial para o fortalecimento da autoestima e do sentimento de valorização individual.
Como afirma Marcellino (2003, p. 80), essa abordagem mais ampla e sensível à diversidade é fundamental para que a Educação Física se consolide como um espaço de formação integral, em que o corpo seja vivido não apenas como instrumento de performance, mas como meio de expressão, socialização e construção de identidades.
De acordo com Marcellino (2003, p.80).
Através de uma pedagogia lúdica, a Educação Física tem maior possibilidade de atender as necessidades de seus educandos, uma vez que estando esses desprovidos da necessidade de competir, de se firmar em posições de destaque vivenciam um comportamento que os leva a se colocarem de maneira “natural” de frente as propostas que o professor apresenta, agindo assim com “naturalidade”.
Quanto mais prazerosas forem as atividades propostas, melhores serão os resultados alcançados por seus participantes. Nesse contexto, a atividade física se destaca por oferecer uma ampla variedade de práticas corporais que incorporam elementos de ludicidade e envolvimento. Os jogos cooperativos representam uma dessas práticas, surgindo como resposta à preocupação com o excesso de valorização da competição nas atividades físicas e esportivas.
É evidente que tanto a cooperação quanto a competição fazem parte da vida e têm seu valor, desde que não se perca de vista que, no jogo, "vencer" não deve ser o único objetivo. Quando a vitória é colocada acima de tudo, inclusive dos meios utilizados para alcançá-la, reforça-se uma cultura competitiva excludente e muitas vezes desumana.
Por outro lado, ao adotarmos uma perspectiva em que o ser humano é mais importante do que o resultado do jogo, contribuímos para a construção de um ambiente mais solidário e acolhedor. Essa postura é um passo importante para transformar o mundo em um lugar mais justo, respeitoso e humano.
Reinaldo Soler (2006, p. 110) define os Jogos Cooperativos como:
Jogos onde os participantes jogam com os outros, ao invés de uns contra os outros. Joga-se para superar desafios. Os jogos cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, gera pouca preocupação com o fracasso ou com o sucesso como fins em si mesmo. Eles reforçam a confiança mútua e todos podem participar autenticamente. Ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
Muitos jogos podem ser adaptados simplesmente ao se retirar a ênfase na competição e na definição de um vencedor, tornando-se, assim, experiências mais inclusivas. Para isso, é fundamental a colaboração de todos os participantes. Cooperar é diferente de competir, pois a cooperação exige o esforço conjunto em prol de objetivos comuns, ao invés de reforçar modelos tradicionais baseados em ganhadores e perdedores.
Não se trata de opor cooperação e competição, mas sim de ampliar nossa compreensão sobre as múltiplas dimensões que o jogo e o esporte oferecem enquanto manifestações da vivência humana. Há, sim, alternativas viáveis para jogar que vão além das formas estritamente competitivas — e reconhecê-las é essencial para promover experiências mais significativas, integradoras e educativas no contexto escolar e social.
De acordo com Soler (2003, p.46).
Educação Física não pode servir para separar, não podemos mais compactuar com pessoas que, a título de formar atletas, dividem, separam e excluem todos os que diferentes, lembrando que esses são os que mais precisam do professor e da atividade proposta.
A Educação Física escolar pode adotar uma nova proposta pedagógica baseada nos jogos cooperativos, oferecendo aos professores uma abordagem eficaz para promover a inclusão durante suas aulas. O principal objetivo dessa proposta é proporcionar aos alunos vivências em situações coletivas e cooperativas, permitindo que reconheçam o valor dessas experiências tanto no ambiente escolar quanto em sua vida cotidiana.
Ao incorporar os jogos cooperativos como parte do conteúdo curricular, busca-se que essas práticas resultem em ganhos significativos para o processo de ensino-aprendizagem, promovendo a participação ativa de todos os estudantes. Dessa forma, as atividades cooperativas podem ser planejadas de forma integrada aos conteúdos trabalhados pelo professor, contribuindo para uma Educação Física mais inclusiva, democrática e formadora de valores como solidariedade, respeito e colaboração.
CONCLUSÃO
A intenção deste trabalho é abrir caminhos para futuras oportunidades de aprofundamento e busca constante pelo conhecimento. Ao longo dos estudos, percebi que minhas atitudes em relação aos jogos estavam mais voltadas à competição do que à cooperação. Compreendi, então, que sempre haverá espaço para aprendizado e aperfeiçoamento, especialmente no que diz respeito à inclusão, que continua sendo um desafio persistente e que exige nosso comprometimento contínuo para avançarmos nesse processo.
Durante a implementação dos jogos cooperativos na escola, observei mudanças significativas no comportamento da maioria dos alunos. No início, houve certa resistência à aceitação dessa nova proposta. No entanto, com o tempo e a continuidade das atividades, os estudantes passaram a aderir aos jogos cooperativos de maneira mais natural e espontânea. As respostas aos questionamentos aplicados ao final do processo evidenciaram que os princípios da cooperação foram compreendidos pelos alunos.
É fato que a competição sempre fará parte da vida em sociedade. Contudo, os jogos cooperativos podem ser utilizados como ferramentas valiosas na formação do cidadão, pois ensinam a importância do respeito mútuo, da empatia e da união entre os participantes. Quando jogamos de maneira colaborativa, com o objetivo de ajudar uns aos outros, aprendemos a conviver melhor em sociedade e a construir ambientes mais solidários e inclusivos.
REFERÊNCIAS:
DICIONÁRIO INTERATIVO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. Declaração de Salamanca. Disponível em: < http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionário. asp?id=109 > Acesso em: 08. junho. 2011.
MARCELLINO, N. C. Lúdico, educação e educação física. 2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
SOLER, R. Educação Física: uma abordagem cooperativa. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.