Buscar artigo ou registro:

 

 

 

A educação infantil e a importância do hábito da leitura

Maria Estela Hernandes Carlotti[1]

 

DOI: 10.5281/zenodo.16645754

 

 

RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de esclarecer sobre a importância que o desenvolvimento da competência leitura exerce na aprendizagem dos alunos desde a educação infantil. Não aquela leitura mecânica, obrigatória, realizada apenas em sala de aula, mas uma leitura reflexiva, uma leitura que se transcende a escola e continua dentro do lar dos alunos. O aluno deve ser estimulado desde cedo criar esse hábito, para que cresça e se desenvolva como um bom leitor. Estamos rodeados de informações, internet, livros, revistas, jornais, artigos, e diversas outras fontes de conhecimento que podem ser consultadas e lidas pelas crianças. Este hábito não vem como um dom, ele precisa decorrer do processo de ensino-aprendizagem na escola, e também na convivência familiar. A prática da leitura proporciona um enriquecimento do vocabulário, uma melhor organização das ideias, o desenvolvimento da criatividade, entre outras contribuições. A escola e a família são educadores essenciais neste contexto, precisam motivar e elaborar estratégias que incentivem os alunos a adquirirem este hábito. Diversas atividades que possuem como objetivo promover nos alunos o interesse pela leitura, também são discutidas neste trabalho. Todas as áreas do conhecimento ensinadas na escola e também as tarefas e exigências do meio social necessitam da competência leitora, por isso se faz necessário à discussão sobre o seu incentivo. Para o alcance dos objetivos propostos pela pesquisa, utilizou-se consultas bibliográficas sobre autores que discutem assuntos relacionados aos benefícios e importância da leitura.  Este tipo de pesquisa nos permite explorar os conceitos e discussões de diversos autores e estabelecer assim um diálogo com o nosso tema em discussão.

 

PALAVRAS-CHAVE- Hábito da leitura. Aprendizagem. Educação Infantil.

 

 

ABSTRACT

This research aims to clarify the importance that the reading habit has on the learning of students in early childhood education. Not that compulsory mechanical reading, done only in the classroom, but a reflective reading, a reading that extends from school and continues into students' homes. The student must create this habit early on, so that a good reader can grow and develop. We are surrounded by information, the Internet, books, magazines, newspapers, articles, and various other sources of knowledge that can be consulted and read by children. This habit does not come as a gift for children, it needs to come from their teaching-learning process at school, and in their family, life learn to enjoy reading. The practice of reading provides vocabulary enrichment, better organization of ideas, and the development of creativity, among other contributions. School and family are essential educators in this context, they need to motivate and develop strategies that encourage students to acquire this habit. Several activities that aim to promote students' interest in reading are also discussed in this paper. All areas of knowledge taught in school and also the tasks and demands of the social environment need reading, so it is necessary to discuss their encouragement. To achieve the objectives proposed by the research, we used bibliographic queries about authors who discuss issues related to the benefits and importance of reading. This type of research allows us to explore the concepts and discussions of various authors and thus establish a dialogue with our topic under discussion. 

 

KEYWORDS: Reading Habit. Learning. Early Childhood Education.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Em toda a vida escolar, a leitura vai ser o instrumento mais importante para o desenvolvimento e a própria aprendizagem de todos os conhecimentos. Aprender a ler é essencial para prosseguir com sucesso os estudos. Esta pesquisa mostra uma discussão sobre a importância que a leitura exerce na aprendizagem dos alunos, não a leitura mecânica, obrigatória realizada apenas em sala de aula, mas uma leitura reflexiva, uma leitura que se estende da escola e continua dentro do lar dos alunos.

A importância da leitura torna-se ainda mais relevante quando se trata de crianças que estão em fase de compreensão da realidade através de textos, livros e atividades praticadas em sala de aula, ou seja, inicialmente na educação infantil. O hábito constante da leitura é que vai proporcionar as crianças o desenvolvimento da escrita, a capacidade de criticar, de ser criativo, autônomo, estar sempre motivado e superar com facilidade possíveis dificuldades que surgem na construção da aprendizagem. Este trabalho possui o objetivo de esclarecer as principais contribuições do hábito da leitura no processo de ensino-aprendizagem, mostrando ainda a importância que a escola e a família exercem no incentivo deste hábito:

 

O livro, dado o seu conteúdo, possibilita ao leitor situar-se no mundo e o auxilia a interpretar a realidade e os acontecimentos que o cercam, de maneira crítica, reflexiva e consciente. O mundo da linguagem leva à formação das ideias, dos valores e dos sentimentos que estão presentes na vida real. Os livros e os textos, se apresentados de maneira prazerosa, criativa e agradável, despertam interesse, entusiasmo e desejo de participação (FERNANDES, 2003, p.70).

 

 

Os alunos nos dias hoje estão cada dia mais desinteressados nos livros, com a chegada de tecnologias acessíveis a todas as camadas da população, a internet, videogame etc, tem preenchido o tempo livre das crianças, que acabam ficando sem mesmo aprender satisfatoriamente o processo de domínio do ato de ler.  

 

 

O HÁBITO DA LEITURA E A APRENDIZAGEM

 

No processo de ensino aprendizagem na educação infantil, a leitura e a escrita são os principais aprendizados dos alunos, o foco não é alfabetizar formalmente, mas criar condições para que a criança se interesse pela leitura e escrita. A aprendizagem deve ocorrer no contexto das interações e brincadeiras, como propõe a BNCC.   A mediação do professor é essencial para ampliar o repertório linguístico e cultural da criança.

Considera-se o ato de ler fundamental no processo de ensino e aprendizagem, pois a formação de leitores competentes e críticos contribui diretamente para o desenvolvimento de bons escritores. De acordo com a BNCC, a leitura deve ser compreendida em seu sentido amplo, indo além da simples decodificação de palavras, para alcançar a construção de sentidos, a análise e a interpretação dos textos em seus diversos gêneros e suportes. Assim, ao desenvolverem a leitura crítica — aquela que permite refletir, argumentar, posicionar-se e dialogar com diferentes perspectivas — os estudantes ampliam sua capacidade de expressão escrita, tornando-se sujeitos mais autônomos, criativos e conscientes em sua produção textual.

A leitura se faz presente desde cedo em nossas vidas. É necessário aprender a ler para compreender o que é transmitido no cotidiano. O ser humano é um ser social, que interage com os demais, e nesse processo de comunicação em meio à sociedade, a leitura é essencial.:

 

O indivíduo é um ser interativo, pois seus conhecimentos se estabelecem a partir das relações interpessoais e intrapessoais, ou seja, é um processo que se dá de fora para dentro. Desse modo, o ser humano se apropria de conhecimentos através da interseção entre aspectos da história pessoal e social. É nesse processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e o consequente desenvolvimento do indivíduo (PICANÇO, PEREIRA, 2019, p.3).

 

O que pretendemos abordar neste trabalho, não é o simples fato de aprender a ler, mas sim a importância de criar constante o hábito da leitura. Segundo Souza (2007, p.1) “Não basta apenas ler, mas é importante analisar, interpretar, conhecer para agregar valor à atividade ou necessidade que se tem”.

O autor Ferreira (2000, p.422) define leitura como sendo “um ato, arte ou hábito de ler, que significa percorrer com a vista o que está escrito, decifrando e interpretando as palavras”. Segundo Infante (2000, p.57) a leitura “é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade”.

Todos os que convivem no meio social são cidadãos que possuem direitos e deveres iguais, isso pelo menos é o que garante à Constituição, e como cidadãos as pessoas precisam possuir interpretação, criticidade, discernimento sobre diversas áreas que envolvem a vida em sociedade.

Mas estas características só ocorrem e são inseridas na vida de uma pessoa se houver uma boa formação educacional. A educação é um dos pilares que sustenta e faz progredir uma sociedade, para que uma criança cresça e tenha uma opinião formada conscientemente sobre os fatos e decisões do cotidiano, é essencial que possua conhecimento, e para adquiri-lo a criança precisa desde cedo, apoiado pelos agentes escola e família a conseguir obter não somente o aprendizado da leitura, mas sim o hábito de ler.

 

O conhecimento está disponível nas mais diversas fontes de informação, sejam formais – registrado - em livros, artigos, entre outros, sejam informais onde se destaca a conversa direta, face a face e se tem o acúmulo do conhecimento tácito ou implícito, fruto das experiências vivenciadas ao longo do tempo, da troca de informação, de conhecimento, - externalizados, mas não registrados (SOUZA, 2007, p. 4).

 

O aluno deve desde cedo criar esse hábito, para que cresça e se desenvolva um bom leitor. Estamos rodeados de informações, internet, livros, revistas, jornais, artigos, e diversas outras fontes de conhecimento que podem ser consultadas e lidas pelas crianças. Este hábito não vem como um dom para as crianças, ele precisa ao decorrer do seu processo de ensino-aprendizagem na escola e também na sua convivência familiar aprender a gostar de ler. Banberger, (1988, p.58) diz que “Só se atinge o objetivo do ensino de leitura – o desenvolvimento do gosto literário e da capacidade crítica – quando se começa com os interesses existentes, tentando constantemente expandir-lhes o horizonte”.

A prática constante da leitura tem a capacidade de desenvolver na criança diversas habilidades, isso ocorre gradativamente e aumenta de acordo com a intensidade do ato de ler. Um dos benefícios mais importantes que a leitura proporciona aos alunos é a capacidade de escrever melhor. Um processo desenvolve o seguinte, quanto mais uma criança for instigada a ler, mas ela vai aprimorando sua escrita, isso porque ao praticar o hábito constante da leitura, a criança vai conhecendo e armazenando diversas palavras que ainda não conhecia, além de aprender organizar melhor as suas ideias.

A diversidade de temas referentes à leitura e essencial na educação infantil. É importante para os alunos, desde muito cedo, serem incentivados a ler diferentes tipos de textos, abordando diversos temas, pois cada um possui características e vocabulários específicos e todo esse conhecimento vai sendo absorvido na mente dos alunos que começam a escrever melhor utilizando essas ricas informações.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001, p. 53-54):

 

O trabalho com a leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita. Não se trata simplesmente de extrair informação da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra [...] (BRASIL, 2001, p. 53-54).

 

O que podemos considerar é que: crianças pequenas e bem pequenas, quando submetidas a ambientes incentivadores do ato de ler, com frequência, consequentemente poderão tornar-se bons leitores e escritores. Este fato é observado em sala de aula quando os professores pedem para que os alunos descrevam algo proposto em uma atividade, e como resultado pode-se observar que as melhores escritas, com um vocabulário mais rico, com menos erros gramaticais e com as ideias mais bem organizadas são daqueles alunos que possuem maior hábito de leitura.

 

A leitura é um dos principais instrumentos para que o indivíduo construa o seu conhecimento e aprenda a exercer sua cidadania e também o exercício da fantasia e levando quem lê a construir um mundo imaginário, exercendo a reflexão crítica e promovendo o debate de ideias. Sabe-se também que a leitura é uma condição prévia para a escrita, pois bons leitores são bons escritores (PERUCHI et al 2010, p. 1).

 

Como os próprios autores descreveram, a leitura é essencial para adquirir conhecimento e com isso torna-se uma importante ferramenta para melhoria da escrita.

Outro benefício que a prática da leitura proporciona as crianças que estão iniciando os estudos é o desenvolvimento da criatividade, que é a capacidade que a criança tem de criar, de inovar.

E essa característica é de extrema importância para as crianças nas series iniciais, mas seu desenvolvimento começa muito antes na educação infantil. As crianças nesta fase da idade, estão em plena evolução cognitiva e o que mais exercitam neste momento é a imaginação. Começam a compreender coisas do cotidiano, questionam diversos fatos no ambiente familiar, ou seja, necessitam do desenvolvimento da criatividade. O ato constante de ouvir histórias desenvolve as ideias, fazendo com que as crianças cresçam e se tornem argumentativas, autoconfiantes e assim passam a observar tudo o que ocorre no dia a dia.

 

 

A FUNÇÃO DA ESCOLA NO HÁBITO DE LEITURA DOS ALUNOS

 

A escola é a principal responsável pelo ensino da leitura e escrita dos alunos. O ato constante da leitura é essencial para que a criança cresça e desenvolva reflexões sobre aquilo que lê. Pois não basta simplesmente ler o que está escrito se não houver uma compreensão crítica, uma reflexão. Para Cardoso e Pelozo (2007, p.1): “O ato de ler é imprescindível ao indivíduo, pois proporciona a inserção do mesmo no meio social e o caracteriza como cidadão participante. A criança aprende a ler antes mesmo de entrar na escola, nas situações familiares.”

Como um dos principais agentes formadores das crianças, a escola deve direcionar seus esforços por meio de estratégias e metodologias diferenciadas para despertar, desde os primeiros anos — seja na creche ou na pré-escola — o gosto e o hábito da leitura. É fundamental relacionar o aprendizado da leitura ao prazer, garantindo que os alunos sintam prazer durante as atividades didáticas, mesmo quando a leitura for conduzida pelo professor. Caso os estudantes percebam o processo como um esforço excessivo, tenderão a se afastar da prática, desenvolvendo apenas a leitura estritamente necessária, sem incorporar o hábito da leitura diária.

 

Nos primeiros anos de escolarização o discente precisa ser incentivado e instigado a ler, de modo que se torne um leitor autônomo e criativo. Cabe ao professor proporcionar momentos de leitura significativa, incentivando a formação do indivíduo crítico e reflexivo (CARDOSO, PELOZO, 2007, p. 1).

 

Os alunos da educação infantil precisam ser constantemente motivados e incentivados à prática da leitura, razão pela qual a escola desempenha um papel fundamental na formação e no desenvolvimento do hábito de leitura nas crianças. Para isso, é imprescindível que os educadores estejam capacitados e conscientes da importância desse processo, buscando estratégias eficazes para despertar o interesse dos alunos. Nos primeiros anos de estudo, enfrentam-se diversas dificuldades no processo de alfabetização, pois ensinar a criança a ler e escrever já é um desafio considerável. Além disso, cultivar nos alunos, além dessas habilidades básicas, o hábito, o interesse e o prazer pela leitura torna-se uma tarefa ainda mais complexa.

A gestão escolar deve atuar de forma motivadora, proporcionando condições favoráveis para o ensino e o incentivo ao hábito da leitura. Nesse sentido, é fundamental que haja planejamento e capacitação direcionados aos professores, pois, sem esse suporte, o estímulo à leitura torna-se bastante dificultado. Observa-se que muitos educadores adotam métodos mecânicos e exercem pressão sobre os alunos para que leiam, além de aplicarem atividades incompatíveis com a realidade dos estudantes. Para promover o hábito constante da leitura, é imprescindível que as atividades pedagógicas sejam adequadas à faixa etária dos alunos, pois, caso não despertem interesse, o processo de ensino pode ser comprometido.

Neste contexto observamos a real importância dos professores, que precisam adotar didáticas que despertem o interesse dos alunos e serem flexíveis as mudanças que ocorrem na sociedade moderna.

 

[...] grande parte das escolas brasileiras não tem desenvolvido um trabalho sistemático de leitura com a preocupação de se formar leitores, pois o livro é compreendido como instrumento necessário ao cumprimento de tarefas escolares, através de exercícios, privilegiando-se a memorização e a repetição do já ensinado (VALIO, 1996, p.20).

 

Na educação infantil, os alunos encontram-se em um momento de intenso desenvolvimento cognitivo, o que torna fundamental a presença de um mediador do conhecimento. Nesse contexto, o professor desempenha um papel essencial ao conduzir as crianças à prática constante do hábito de leitura, que será consolidado nas séries iniciais do ensino fundamental. Os educadores devem ir além do ensino do conteúdo programático, promovendo atividades e estímulos que incentivem atos de leitura e escrita, possibilitando a apropriação dessas práticas em seu uso social. Dessa forma, proporcionam elementos que levam o aluno a refletir sobre a escrita, habituando-o a perceber a leitura não apenas como uma obrigação, mas como uma necessidade e uma fonte de prazer.

 

 

A FAMÍLIA E SUA INFLUÊNCIA NO HÁBITO DE LEITURA

 

A família desempenha papel fundamental no desenvolvimento da competência leitora das crianças, sendo indispensável seu acompanhamento contínuo da trajetória escolar, bem como o apoio e a participação efetiva nas atividades educativas dos filhos. No entanto, observa-se que, atualmente, muitos pais adotam posturas distanciadas ou autoritárias, buscando estimular a leitura por meio de imposições, o que pode comprometer o interesse e a motivação das crianças. Assim, faz-se necessário que o ambiente familiar proporcione condições favoráveis e harmoniosas, incentivando a prática da leitura de forma prazerosa e significativa. Os responsáveis devem servir como modelos, demonstrando envolvimento e apreço pela leitura, criando situações propícias para que os filhos incorporem o hábito de ler de maneira espontânea e duradoura.

 

É na infância pré-escolar que se formam as atitudes fundamentais diante do livro. A criança que toma contato com o livro pela primeira vez ao entrar na escola, costuma associar a leitura com a situação escolar, principalmente se não há leitura no meio familiar. Se o trabalho escolar é difícil e pouco compensador, a criança pode adquirir aversão pela leitura e abandoná-la completamente quando deixar a escola. É conveniente então, que o livro entre para a vida da criança antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas (BARKER, ESCARPIT, 1987, p.7).

 

O universo da criança é marcado pelos brinquedos, pelos jogos, brincadeiras etc, neste cenário é preciso inserir o livro, que deve fazer parte da vida da criança não somente na escola, mas sim antes mesmo deste período, para que a criança se habitue a leitura com mais facilidade e adaptação, pois se a leitura se fizer presente para os alunos apenas enquanto estiverem estudando, quando terminarem seus estudos, possivelmente deixarão de cultivar esta prática compensatória.

A família exerce uma fundamental importância, não basta cobrar responsabilidade da escola, se em casa o ambiente não for favorável a leitura. Muitos pais querem ver seus filhos crescerem como amantes das letras, mas não contribuem para que isso aconteça, ou seja, não participam da vida escolar dos filhos e não servem como espelho, exemplo para as crianças.

Um método eficaz para estimular o interesse pela leitura nas crianças consiste no exemplo proporcionado pelos próprios pais. Ao perceberem o hábito da leitura no ambiente familiar, as crianças tendem a despertar a curiosidade, reconhecendo na família valores essenciais para sua formação. Assim, aliado ao processo educativo, o núcleo familiar configura-se como uma das bases fundamentais para a sustentação da sociedade.

 

Nos livros infantis, mais do que na maioria dos textos sociais, se reflete a maneira como uma sociedade deseja ser vista, e pode-se observar que os modelos culturais dirigem os adultos às novas gerações e que o itinerário de aprendizagem literária se pressupõe realizem os leitores, desde que nascem até sua adolescência. (COLOMER, 2003, p.14)

 

Muitas famílias concentram sua atenção apenas nas tarefas escolares atribuídas pelos educadores, especialmente nos deveres de casa. No entanto, a leitura restrita às atividades obrigatórias não é suficiente para formar leitores competentes; é fundamental que as crianças tenham acesso a leituras complementares. Para tanto, é necessário que o ambiente doméstico ofereça variadas fontes de leitura, diversificadas e adequadas à faixa etária dos filhos. Os pais devem, portanto, manter livros disponíveis em diferentes espaços da casa e praticar a leitura regularmente, servindo como exemplo para as crianças. A partir dos três ou quatro anos de idade, as crianças ampliam seu vocabulário e começam a construir suas primeiras frases, tornando a leitura, tanto em casa quanto na escola, um elemento essencial para o desenvolvimento linguístico e cognitivo nessa fase.

 

 

ATIVIDADES PARA PROMOVER O INTERESSE PELA LEITURA

 

Para que os conceitos teóricos discutidos nesta pesquisa tenham sentido e aplicabilidade, é imprescindível que sejam articulados com a prática pedagógica. É necessário promover atividades que propiciem aos alunos o contato direto ou indireto com os livros, sendo a escola e a família agentes fundamentais nesse processo. Conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), especialmente no campo da Educação Infantil, é essencial garantir experiências que estimulem a escuta, a fala, o pensamento e a imaginação por meio da literatura. A leitura deve ser inserida de forma gradual e significativa na rotina das crianças, de modo que se torne uma experiência prazerosa. Com o tempo, esse envolvimento natural com os textos poderá desenvolver nelas o desejo espontâneo de ler, a ponto de sentirem a leitura como parte essencial de seu cotidiano.

Banberger (1988, p.80) relata algumas dicas importantes para promover nos alunos o interesse pela leitura:

  1. a) Leitura em voz alta e relato de histórias. A leitura em voz alta e o relato de histórias que ofereçam vigorosa motivação para a leitura pessoal são empreendidos com facilidade na escola, nas bibliotecas, nas creches e nos jardins de infância. Ler em voz alta uma história até chegar a um trecho emocionante, de modo que a expectativa da criança seja de tal forma despertada que ela queira continuar lendo por conta própria, é um método que tem tido muito êxito.
  2. b) Amostras de livros com discussões. Na Casa de Livros Infantis de Moscou realizam-se amostras regulares de livros, em que o bibliotecário apresenta diversos livros interessantes ao mesmo tempo.
  3. c) Autores lêem trechos de suas obras. O contato pessoal com o autor aumenta o interesse.
  4. d) Cursos, reuniões e outros acontecimentos informa sobre o conteúdo da leitura das crianças. Os livros deveriam ser levados em maior consideração tanto no treinamento prévio do professor quanto quando no exercício da profissão. Assim como na educação dos pais, reuniões e seminários, geralmente combinados com exposições e discussões, são altamente recomendados, e o campo de ação não deve limitar-se ao trabalho na escola e na biblioteca, mas deve também incluir o trabalho em grupos de jovens, clubes e nos meios de comunicação de massa.
  5. Clubes do livro e de leitura. Em muitos países se envidam esforços para interessar as crianças pela leitura e dar-lhes a oportunidade de descobrir o material de leitura que lhes convém, através da sua inscrição como sócios de clubes do livro. Tais clubes são organizados de várias maneiras, que se adequam a diferentes condições.
  6. f) Exposições de livros. As melhores exposições são as que se combinam com acontecimentos como as leituras feitas por autores etc.

Além das grandes exposições representativas, realizadas anualmente durante a Semana do Livro e a Semana do Livro Infantil, convém organizar exposições menores nas escolas, bibliotecas, grupos de jovens e salas de aula. Quanto menor for o grupo a que se destina a exposição, tanto melhor se pode ajustar a escolha de livros aos interesses dos visitantes. Em algumas escolas, estudantes das séries mais adiantadas ajudam a organizar a exposição e apresentá-la aos seus pares. Para todas as finalidades práticas, geralmente cinco ou mais estudantes são responsáveis por um grupo de livros e estão preparados para dar informações sobre eles. É preciso, naturalmente, que tenham lido os livros em seu grupo, de modo que possam aconselhar de forma convincente os outros estudantes, no que se refere ao conteúdo, à emoção e às dificuldades que eles encerram.

Pequenas amostras de livros para uma ocasião especial como, por exemplo, a leitura recomendada para as férias ou livros sobre várias atividades das horas de lazer (livros sobre fotografia, esportes etc.) - interessam muitas vezes a jovens que ainda não chegaram a um bom relacionamento com os livros em geral.

  1. g) Ouvir ou olhar, ler e discutir. Os livros e os meios de comunicação audiovisuais não devem ser vistos como adversários, e sim como meios interagentes a que os jovens devem ser apresentados. Os meios de comunicação de massa oferecem “estímulos educacionais” , isto é, estimulam a imaginação, despertam a curiosidade e o desejo de aprender, mas é preciso complementar com livros o que se ouve ou que se vê. Eis aqui um exemplo prático: anuncia-se um programa de televisão sobre países em desenvolvimento. O professor ou o líder do grupo de jovens chama a atenção dos estudantes para ele e comunica que o programa será discutido. Em seguida solicita-se aos jovens que procurem livros sobre o assunto na biblioteca e leiam o que puderem a respeito do problema. Outra possibilidade: num programa, faz-se menção de livros apropriados para complementá-lo e anuncia-se a oportunidade de participar de uma discussão sobre o assunto, que será travada no rádio ou na televisão ou em centros de educação popular, onde todos podem participar ativamente. Tentativas desse gênero têm tido resultados muito positivos. Ainda que não se constate um grande sucesso no início, esse tipo de trabalho educacional deve ser paciente e sistematicamente desenvolvido. De qualquer maneira, as partes responsáveis não devem esquecer que uma única apresentação não basta e que o excesso de informações e de influências educacionais tende a deixar as pessoas insensíveis.

Até então, o aluno tem desempenhado, em grande medida, o papel de receptor passivo do conhecimento. No entanto, a partir do momento em que é estimulado a desenvolver atividades de reflexão individual e a participar da discussão de problemas, seus saberes deixam de ser meramente reproduzidos e passam a ser ressignificados. Esse processo favorece a construção do conhecimento de forma ativa e contextualizada, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa e autêntica. De acordo com Vygotsky (1998), a aprendizagem é potencializada na interação social e na mediação do outro, sendo o aluno protagonista do seu próprio processo formativo. Nessa perspectiva, a educação se configura não apenas como transmissão de conteúdos, mas como um espaço de construção crítica e consciente do saber.

  1. h) Propaganda de livros. De qualquer maneira, as informações acerca de livros frequentemente não ultrapassam o círculo dos interessados por leitura e bibliotecas. A propaganda feita pelas casas editoras costuma visar a livros isolados, e não ao livro em si mesmo. Há uma autêntica necessidade desta última em muitos países.

Os programas e certames de leitura realizam-se em conexão com essas campanhas. As crianças fazem uma lista de todos os livros que leram nos dias feriados, em cartões de leitura ilustrados, por exemplo.

A propaganda nas escolas, nas creches e nos jardins de infância oferece inúmeras possibilidades. Uma ocasião para tais programas, por exemplo, é o Dia Internacional do Livro Infantil, que em muitos países se comemora a 2 de abril, data do aniversário de Hans Christian Andersen. Infelizmente, inúmeras atividades planejadas para essa ocasião também só são eficazes onde já existe interesse pela leitura: na escola e na biblioteca. O rádio e a televisão, que têm um público tão grande dificilmente tomam conhecimento da ocasião,como também, não toma a imprensa.

Outras oportunidades de uma propaganda mais intensa dos livros são oferecidas pelos prêmios concedidos a livros infantis, como se costuma fazer em muitos países.

Para poderem promover hábitos de leitura, os livros precisam ser levados com maior frequência aos programas infantis e aos programas educativos, tanto direta como indiretamente. Esses programas incluem discussões sobre livros, filmes, exposições e relatórios sobre exposições, leituras e entrevistas com autores de livros infantis.

  1. i) Círculos de livros. Um grande problema, sobretudo nas áreas rurais, é que pouquíssimos livros estão à disposição dos alunos nas escolas, ao passo que as bibliotecas públicas são inadequadas e as bibliotecas pessoais das crianças são muito pequenas..

 

O clube do livro infantil coloca folhas especiais em cada caixa de livros, com informações sobre o conteúdo, a forma e o tema do livro, além de sugestões para discussão.

Os objetivos que se pretendem com a prática constante da leitura, é descrito por Bordini (1986, p.104-105):

 

Estimular atividades sensibilizantes, preparatórios; desenvolver as capacidades de ler e escrever, como forma de apreensão do mundo; aproximar o texto da realidade psicológica e social do aluno, como meio de refinamento cognitivo e emocional, bem como socializador; valer-se da tradição literária para o conhecimento da herança cultural, condição indispensável para a atuação inovadora e criadora do aluno em termos existenciais; apurar o senso crítico do jovem leitor em relação aos textos que consome, a fim de que estes lhe abram caminho para avaliação da realidade e de si mesmo, e para adoção de opções existenciais com base em seu julgamento (BORDINI, 1986, p. 104-105).

 

Incentivar os alunos a adotarem o hábito da leitura, é formar cidadãos conscientes, críticos, capazes de transformar a realidade. A gestão das escolas, juntamente com os professores, aliados a uma parceria com a família pode, e deve proporcionar essa conquista a todos os alunos.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Os professores da Educação Infantil enfrentam o importante desafio de preparar e despertar nos alunos o interesse pela leitura e pela escrita desde os primeiros anos escolares. Embora a alfabetização mecânica — caracterizada pela decodificação de símbolos — seja alcançada com êxito por grande parte dos alunos, este trabalho buscou evidenciar que a leitura, no contexto do processo de ensino-aprendizagem, deve ultrapassar esse aspecto técnico. É necessário promover uma leitura mais reflexiva e significativa, capaz de permitir que os alunos compreendam, formulem opiniões, façam inferências e expressem-se a partir dos textos lidos.

Essa abordagem mais ampla da leitura oferece inúmeros benefícios ao desenvolvimento das crianças. A partir dela, ampliam-se o vocabulário, a organização de ideias e a capacidade de expressão escrita. Além disso, os textos literários estimulam a imaginação e a criatividade, aspectos fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e emocional na infância.

Todas as áreas do conhecimento exigem competências leitoras para a efetiva construção do saber. Por esse motivo, o incentivo à leitura deve ser uma prática contínua e valorizada em todo o processo educativo. Crianças que desenvolvem o hábito da leitura tornam-se, com frequência, também melhores escritoras, mais críticas e autônomas em seu percurso escolar e pessoal.

Nesse contexto, tanto a escola quanto a família desempenham papéis indispensáveis. A escola, como espaço de formação integral, deve empregar estratégias e metodologias diferenciadas, voltadas ao estímulo da leitura desde a creche e a pré-escola, períodos marcados pelo desenvolvimento acelerado de habilidades cognitivas e linguísticas. A gestão escolar, por sua vez, precisa atuar de forma motivadora, garantindo condições favoráveis à implementação de práticas que promovam o gosto pela leitura.

Os professores, juntamente com as famílias, são os educadores que mantêm contato direto e constante com as crianças. Por isso, devem atuar como mediadores do conhecimento, utilizando-se de atividades lúdicas e experiências significativas que despertem nos alunos o prazer de ler. O diálogo, a escuta e a valorização das expressões infantis são ferramentas indispensáveis nesse processo.

A família, por sua vez, exerce um papel essencial na formação leitora das crianças. Acompanhar a vida escolar, participar das atividades e oferecer um ambiente favorável ao convívio com os livros são atitudes que fortalecem o vínculo com a leitura desde os primeiros anos de vida. É fundamental que o livro faça parte do cotidiano infantil não apenas no ambiente escolar, mas também no espaço doméstico — ainda antes da entrada da criança na escola —, promovendo familiaridade, afeto e interesse pela leitura.

O universo infantil é naturalmente marcado por jogos, brinquedos e brincadeiras, e nesse contexto, o livro deve ser inserido como mais um elemento de prazer e descoberta. Se o contato com a leitura ocorrer apenas durante o período escolar, corre-se o risco de que, ao final dessa etapa, o hábito leitor seja abandonado. Por isso, é necessário consolidá-lo como uma prática prazerosa, significativa e contínua.

Em suma, desenvolver o hábito da leitura desde a infância é uma ação de impacto profundo e duradouro. A leitura, por si só, amplia a imaginação, aprimora as habilidades linguísticas, estimula a criatividade, contribui para o desenvolvimento emocional e fortalece as competências comunicativas das crianças. Todos esses aspectos têm reflexos positivos no percurso acadêmico, pessoal e profissional, tornando a formação leitora um dos pilares essenciais da educação de qualidade.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BARKER, Ronald E. & Escarpit, Robert. A fome da ler. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas/MEC, 1987.

 

BANBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Ática, 1988.

 

BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo: Atlas, 1986. QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986 144p.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

 

BRASIL Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros

Curriculares Nacionais Língua Portuguesa, 3 ed., v.2, Brasília: MEC/SEF, 2001.

 

CARDOZO, G. C; PELOZO, R.C. B. A importância da leitura na formação do indivíduo. Disponível em:< http://www.revista.inf.br/pedagogia09/pages/artigos/edic09-anov-art03.pdf> Acesso em 15 de agosto de 2010.

 

COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário: narrativa infantil e juvenil atual/ Teresa Colomer; tradução Laura Sandromi.- São Paulo: Global, 2003.

 

FERNANDES, Dirce Lorimier. A literatura infantil. São Paulo, Loyola, 2003

 

FERREIRA NETO, A.  (Org.). Pesquisa histórica na educação física. Vol. 6. Vitória: Proteoria, 2001.

 

FERREIRA, A. B de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar. O minidicionário da Língua Portuguesa. 4º ed. Ver. Ampliada- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

 

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

 

INFANTE, U. Texto: Leitura e escritas. São Paulo: Scipione, 2000.

 

PERUCHI, I. M; GOMES J. P; CÉZAR M. A importância da leitura. Disponível em:< http://faculdadesdombosco.edu.br/v2.1/documentos/monografia_marcela.pdf> Acesso em: 17 de agosto de 2010.

 

PICANÇO, Z. F; PEREIRA, F. E. L. A importância da leitura e sua aplicação no ambiente escolar de jovens e adultos. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_aimportancia.pdf> Acesso em 24 de agosto de 2019.

 

Souza, Mestre Leila (2007) A importância da leitura para a formação de uma sociedade consciente. In Proceedings Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa da Informação - CINFORM, 7º, pages 01-11, Salvador - Bahia, Brasil.

 

VÁLIO, E.B.M. Múltiplas leituras: a formação de leitoresIn: Seminário Nacional Sobre Literatura Infanto-Juvenil, Livro Didático & Participação Da Comunidade Na Formação De Leitores, 1996, São Paulo. Anais... São Paulo: Fatema, 1996.

 

VIANNA, Ilca O. de A. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: E.P.D., 2001.

 

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

 

[1] O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

 

 

Direito à educação e deficiência intelectual: um breve estudo sobre a efetividade das políticas inclusivas no Brasil

Andréa Bezerra Ferreira
Flávia Micheli Ferreira Oliveira
Ladyane Peasion Gomes Sereparan
Lígia Mara Ormond Pereira
Maria José Nunes Mota

 

DOI: 10.5281/zenodo.16621066

 

 

Resumo:

Este artigo avalia o avanço e os desafios das políticas educacionais inclusivas para estudantes com deficiência intelectual no Brasil. A pesquisa, baseada em revisão bibliográfica e documental, aponta lacunas entre a legislação e a prática, destacando problemas como infraestrutura precária, formação docente insuficiente e desigualdade de recursos. Conclui-se que a inclusão efetiva requer práticas pedagógicas adequadas, investimento contínuo e uma cultura institucional que valorize a diversidade. O estudo também enfatiza o papel da formação continuada, da colaboração entre educadores e de recursos acessíveis para a concretização do direito à educação.

 

Palavras-chave: Educação Especial. Direito.

 

 

Introduçao

 

A educação especial no Brasil tem passado por significativas transformações, impulsionadas por um movimento global pela inclusão e cidadania plena. Essa transição de um modelo segregacionista para o inclusivo busca não apenas inserir estudantes com deficiência intelectual no ensino regular, mas reformular metodologias e ambientes para suas particularidades. Nesse contexto, políticas públicas são cruciais para remover barreiras e assegurar o acesso à educação de qualidade.

O estudo visa analisar a eficácia dessas políticas no Brasil, focando em marcos legais e iniciativas de promoção da participação de alunos com deficiência intelectual. A pesquisa aborda a fundamentação conceitual, o panorama jurídico (LDB, LBI, PNEEPEI), desafios práticos, e avanços e recomendações. A metodologia baseia-se em levantamento bibliográfico e documental (Lakatos e Marconi, 2017), valorizando teoria e evidências empíricas.

A deficiência intelectual implica limitações notáveis no intelecto e comportamento adaptativo antes dos 18 anos, conforme a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (2010). O diagnóstico considera a interação indivíduo-ambiente e exige apoio com metodologias flexíveis. No ensino, é crucial adaptar conteúdos, recursos, avaliações e usar tecnologias assistivas para o pleno desenvolvimento dos alunos com deficiência intelectual.

Nesse sentido, conforme a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde:

 

Transtornos de desenvolvimento intelectual são um grupo de condições de etiologias diferentes que se originaram durante o período de desenvolvimento, projetadas por funcionalidade intelectual e comportamento adaptativo significativamente abaixo da média, que estão aproximadamente dois ou mais desvios padrão abaixo da média (aproximadamente menor do que o percentil 2,3), com base em testes padronizados, normatizados e administrados individualmente. Quando testes desenvolvidos normatizados e padronizados não estão disponíveis, o diagnóstico de transtornos do desenvolvimento intelectual exige maior dependência do julgamento clínico baseado em avaliação de indicadores comportamentais comparáveis (WHO, 2025).

 

A educação inclusiva difere da mera integração, exigindo transformação das estruturas escolares para valorizar a diversidade e promover a igualdade (Mantoan, 2003). Esse princípio é sustentado pela valorização das diferenças, participação comunitária e respeito mútuo. A Constituição Federal de 1988 e a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) reforçam a educação como direito universal. No Brasil, a educação especial é regulamentada pela LDB (Lei nº 9.394/1996), que instituiu o Atendimento Educacional Especializado (AEE), pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI, 2008), e pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI, Lei nº 13.146/2015).

Apesar da sólida base legal, a prática escolar ainda não acompanha as normas inclusivas. Fontenele e Cantero (2024) apontam que a implementação das políticas é prejudicada por obstáculos estruturais e de formação. A efetividade depende de alocação orçamentária e monitoramento (Prieto, 2008; Sassaki, 2006). Werner (2023) destaca a falta de adaptações físicas, como rampas e sanitários, que impedem a autonomia de alunos com deficiência intelectual. A escassez de formação específica leva a práticas padronizadas e preconceituosas (Mantoan, 2022). A desigualdade na distribuição de recursos compromete a uniformidade das ações inclusivas, com municípios menores dependendo de repasses federais insuficientes (Pinto, 2012; Alves e Pinto, 2020).

O impacto das políticas públicas se reflete no aumento de matrículas de alunos com deficiência intelectual. Iniciativas de colaboração entre professores e projetos-piloto de formação continuada mostram resultados positivos (Diversa, 2020). Werneck (2000) enfatiza a comunicação acessível e materiais didáticos adaptados. Contudo, desafios em infraestrutura, formação docente, financiamento e barreiras atitudinais persistem. A consolidação da inclusão requer mais investimentos, formações específicas e respeito à diversidade. A educação inclusiva é um compromisso social que exige engajamento de gestores, educadores, famílias e comunidade. Sem essa mobilização, a inclusão permanece teórica.

A perspectiva pós-pandemia (Fontenele e Cantero, 2024) revela que a efetividade das políticas foi comprometida pela falta de infraestrutura e descontinuidade das práticas. A pandemia evidenciou a insuficiência de recursos tecnológicos e o abandono de estratégias adaptadas (Lopes, 2022 apud Fontenele e Cantero, 2024). Essa lacuna crítica aponta para a falta de comprometimento institucional em manter práticas inclusivas. O Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) é crucial, mas sua aplicação é dificultada pela formação inadequada de professores (Fontenele e Cantero, 2024; Miskalo, 2022). Siqueira (2018) corrobora esses desafios, citando escassa adesão docente e poucos profissionais qualificados também na escolarização profissional.

Fonseca (2019) aprofunda o histórico legislativo e conceitual da deficiência intelectual. Historicamente, a deficiência era vista sob ótica médica e segregacionista. Com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) (ONU, 2006), a deficiência passou a ser vista como característica humana, e barreiras (arquitetônicas, comunicacionais, atitudinais) como os verdadeiros impedimentos à inclusão. Essa mudança culminou na Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que adota o modelo social dos direitos humanos. O aumento contínuo de matrículas de alunos com deficiência no ensino superior reflete o impacto da LBI.

Concluindo esse artigo, as políticas públicas brasileiras para educação inclusiva são cruciais, mas a implementação efetiva enfrenta desafios de infraestrutura, formação e cultura institucional. A pandemia exacerbou fragilidades e a descontinuidade das práticas. Para consolidar a inclusão, é fundamental que as políticas públicas garantam não só o acesso, mas a permanência em ambientes que atendam às necessidades dos alunos. Isso exige comprometimento institucional, formação continuada de docentes e adaptação de estruturas e recursos. A inclusão é um compromisso social contínuo que demanda esforço coletivo para se tornar uma realidade tangível e duradoura.

 

 

Referências

ALVES, Thiago; PINTO, José Marcelino de Rezende. As múltiplas realidades educacionais dos municípios no contexto do Fundeb. Fineduca, Porto Alegre, v. 10, n. 23, p. 1–23, 2020.

 

AMERICAN ASSOCIATION ON INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL

DISABILITIES. Intellectual Disability: Definition, Classification, and Systems of Supports. 11. ed. Washington, DC: AAIDD, 2010.

 

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008.

 

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jul. 2015.

 

DIVERSA. Estudos de caso de educação inclusiva em escolas comuns. 2020. Disponível em: https://diversa.org.br/noticias/estudos-de-caso-deeducacao-inclusiva-em-escolas-comuns/. Acesso em: 23 jul. 2025.

 

FONSECA, Samira Andraos Marquezim. A inclusão no ensino superior das pessoas com deficiência intelectual. 2019. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2019.

 

FONTENELE, Raquel de Brito; CANTERO, Alba Maria Mendonza. Políticas públicas e práticas pedagógicas na educação inclusiva: desafios e lacunas na implementação no Brasil. Humanidades & Tecnologia (FINOM), v. 52, n. 1, p. 34-52, out./dez. 2024. DOI: 10.5281/zenodo.13910488.

 

LOPES, Mariana Moraes. Inclusão Escolar e Práticas Docentes na Pandemia Antes e Após o Retorno do Ensino Presencial. 2022. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2022.

 

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: O que é? Por quê?

Como fazer?. São Paulo: Summus, 2003.

 

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. A escola que queremos para todos.

Campinas: Unicamp, 2022.

 

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

 

PINTO, José Marcelino de Rezende. Financiamento da educação básica: a divisão de responsabilidades. Retratos Escola, Brasília, DF, v. 6, n. 10, p. 1–290, jan./jun. 2012.

 

PRIETO, Rosângela Gavioli. Atendimento escolar de alunos com necessidades educacionais especiais: um olhar sobre as políticas públicas de educação no Brasil. In: JESUS, Denise Meyrelles de; BAPTISTA, Claudio Roberto (Org.). Educação especial: diálogos e interfaces. Porto Alegre: Mediação, 2008. p. 11-28.

 

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7. ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.

 

SIQUEIRA, Maria Leilza Pires. Políticas públicas de educação inclusiva: desafios à escolarização profissional do público-alvo da educação especial. 2018. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

 

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994.

 

WERNECK, Cláudia. Comunicação acessível e inclusiva. Rio de Janeiro: Escola de Gente, 2023.

 

WERNECK, Cláudia. Ninguém mais vai ser deficiente: a inclusão é o futuro. Rio de Janeiro: WVA, 2000.

 

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). International Classification of Diseases for Mortality and Morbidity Statistics (ICD-11). Geneva: WHO, 2025.

 

 

 

Consciência fonêmica no 1º ano do Ensino Fundamental: estratégias para o desenvolvimento da leitura e escrita

Crislaine Vaz de Souza Faria

 

DOI: 10.5281/zenodo.16384776

 

 

Resumo

Este artigo apresenta uma proposta de atividade didática voltada para o desenvolvimento da consciência fonêmica em turmas do 1º ano do Ensino Fundamental I. A consciência fonêmica consiste na habilidade de reconhecer e manipular os fonemas que compõem as palavras, sendo um dos principais preditores do sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita. A partir de atividades práticas e lúdicas, como jogos com aliterações, identificação de sons e representação gráfica, busca-se estimular a percepção fonológica dos alunos, favorecendo a alfabetização e o letramento. O trabalho enfatiza a importância do planejamento pedagógico intencional e da mediação docente nesse processo de desenvolvimento linguístico.

 

Palavras-chave: Consciência fonêmica. Alfabetização. Leitura. Ensino fundamental. Fonologia.

 

 

Introdução

 

A alfabetização é um processo complexo que envolve diferentes habilidades cognitivas e linguísticas. Entre elas, destaca-se a consciência fonêmica, entendida como a capacidade de perceber, segmentar e manipular os sons da fala (fonemas). Essa habilidade é fundamental para o processo de aquisição do sistema alfabético de escrita, pois possibilita a compreensão da correspondência entre fonemas (sons) e grafemas (letras).

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o desenvolvimento da consciência fonológica, incluindo a fonêmica, é uma das competências essenciais nos primeiros anos do Ensino Fundamental. A escola, portanto, deve planejar atividades que favoreçam a escuta atenta, a discriminação auditiva e a reflexão sobre os sons das palavras, criando uma base sólida para a leitura e a escrita.

 

 

Desenvolvimento

 

Objetivo da Aula

A proposta de aula tem como objetivo principal desenvolver a consciência fonêmica dos alunos do 1º ano do Ensino Fundamental I, promovendo a habilidade de identificar, isolar e manipular os sons iniciais das palavras. Essa capacidade é indispensável para a alfabetização, pois permite que as crianças compreendam como os sons da fala se relacionam com as letras do alfabeto.

 

Estratégias e Atividades

 

  1. Introdução: Aliterações

A aula se inicia com uma atividade de aliteração, na qual os alunos devem identificar palavras que comecem com o mesmo som inicial. Essa atividade pode ser realizada em forma de brincadeira ou desafio, como, por exemplo, encontrar objetos na sala ou no livro que comecem com o mesmo som de uma palavra dada pela professora. A aliteração estimula a percepção auditiva e a atenção fonológica.

 

  1. Apresentação do Fonema

Em seguida, o professor apresenta o conceito de fonema, utilizando uma linguagem acessível. Explica-se que os fonemas são os sons que formam as palavras, e que cada palavra é feita de diferentes sons que podem ser percebidos separadamente. Exemplos simples e familiares são utilizados, como os sons iniciais das palavras “bola”, “pato” e “casa”.

 

  1. Identificando o Fonema Inicial

A próxima atividade utiliza cartões ilustrados com imagens de objetos cujos nomes começam com diferentes fonemas. As crianças sorteiam um cartão, nomeiam o objeto e enfatizam o som inicial. Essa dinâmica auxilia no reconhecimento auditivo e visual dos fonemas.

 

  1. Atividade Prática

Cada aluno recebe uma folha em branco e é convidado a desenhar algo que represente a palavra do seu cartão. Após o desenho, devem escrever os fonemas da palavra ao lado da imagem. Essa atividade integra expressão artística, consciência fonêmica e iniciação à escrita, promovendo um aprendizado significativo.

 

  1. Encerramento

A aula é finalizada com uma conversa sobre o que foi aprendido, reforçando que reconhecer e produzir fonemas é uma habilidade importante para quem está aprendendo a ler e escrever. A distinção clara entre os sons das palavras é um indicador do avanço no desenvolvimento da linguagem oral e escrita.

 

 

Conclusão

 

A atividade proposta demonstra a importância de trabalhar a consciência fonêmica de forma lúdica e estruturada nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ao reconhecer os sons que compõem as palavras, os alunos desenvolvem habilidades que são fundamentais para o processo de alfabetização.

O sucesso na leitura e na escrita depende, em grande parte, da capacidade de perceber e manipular os fonemas da língua. Cabe à escola e ao professor oferecerem experiências que estimulem esse desenvolvimento desde os primeiros contatos com o mundo letrado. Planejar atividades que aliem diversão e aprendizagem é uma estratégia eficaz para garantir o progresso linguístico e cognitivo dos estudantes.

 

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

 

CAPOVILLA, Fernando C.; CAPOVILLA, Alessandra C. Alfabetização: métodos e técnicas de ensino da leitura e da escrita. São Paulo: Memnon, 2004.

 

MOOJEN, Sonia Maria. Consciência fonológica: o que é e como desenvolvê-la. Porto Alegre: Artmed, 2004.

 

SCLIAR-CABRAL, Leda. Psicolinguística e alfabetização: o conhecimento da linguagem e seu uso na aprendizagem da leitura e da escrita. Florianópolis: UFSC, 2003.

 

 

 

Elementos Curriculares nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Contribuições para o Desenvolvimento Integral do Estudante

Crislaine Vaz de Souza Faria

 

DOI: 10.5281/zenodo.16385138

 

 

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar e refletir sobre os elementos curriculares fundamentais das disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A construção de uma base sólida nesses componentes é essencial para o desenvolvimento cognitivo, comunicativo e científico das crianças, promovendo habilidades que serão utilizadas ao longo de toda a trajetória escolar. Por meio de práticas pedagógicas contextualizadas e voltadas à realidade das crianças, busca-se estimular a curiosidade, o pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas. A proposta é garantir um ensino significativo, respeitando as fases do desenvolvimento infantil e assegurando o direito à aprendizagem de qualidade.

 

Palavras-chave: Ensino Fundamental. Currículo. Anos iniciais. Alfabetização. Educação básica.

 

 

Introdução

 

A educação nos anos iniciais do Ensino Fundamental constitui uma etapa decisiva na formação do sujeito. É nesse período que os alunos desenvolvem as competências e habilidades básicas que servirão de alicerce para a aprendizagem ao longo da vida. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o currículo escolar deve garantir direitos de aprendizagem e desenvolvimento, considerando as especificidades das crianças de 6 a 10 anos e proporcionando um ambiente de ensino estimulante e significativo.

Este artigo propõe uma reflexão sobre os elementos curriculares centrais das disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Naturais nos primeiros anos do Ensino Fundamental, destacando sua importância na formação integral dos alunos e os objetivos de aprendizagem que orientam a prática pedagógica nessa etapa.

 

 

Desenvolvimento

 

Língua Portuguesa

O ensino da Língua Portuguesa nos anos iniciais tem como principal objetivo desenvolver as habilidades de leitura, escrita, escuta e fala. É nesse momento que a criança começa a compreender o sistema de escrita alfabética, amplia seu repertório linguístico e aprende a se expressar de forma mais clara e organizada.

Além da alfabetização, é fundamental que os alunos tenham contato com diferentes gêneros textuais, narrativos e informativos, desenvolvendo a competência leitora e a capacidade de interpretar textos diversos. A prática pedagógica deve valorizar o uso da linguagem como forma de expressão, comunicação e construção de sentido, respeitando os conhecimentos prévios e as experiências culturais dos alunos.

 

Matemática

A Matemática nos anos iniciais busca desenvolver o raciocínio lógico, a resolução de problemas e o domínio das operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão). Os alunos são incentivados a identificar padrões, estabelecer relações numéricas, explorar formas geométricas e compreender medidas e grandezas de maneira concreta e contextualizada.

A aprendizagem da Matemática nessa fase deve estar ligada ao cotidiano das crianças, possibilitando que compreendam a utilidade dos conceitos matemáticos e desenvolvam autonomia na construção do conhecimento. Atividades lúdicas, jogos e situações-problema são estratégias importantes nesse processo.

 

Ciências Naturais

O ensino de Ciências Naturais tem como propósito despertar a curiosidade científica, estimular a observação e promover a compreensão dos fenômenos naturais que fazem parte do dia a dia das crianças. Nos anos iniciais, os conteúdos abordam temas como seres vivos (plantas, animais, corpo humano), os elementos da natureza (água, ar, sol), os ciclos da vida, os cuidados com a saúde e o meio ambiente.

A abordagem deve favorecer a investigação, a experimentação e a reflexão, de forma que os alunos desenvolvam atitudes de respeito e responsabilidade com a natureza e com o outro. O ensino de Ciências também contribui para a construção de valores, como a preservação ambiental e a valorização da vida.

 

 

Conclusão

 

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a organização curricular deve priorizar o desenvolvimento global da criança, promovendo experiências de aprendizagem que integrem diferentes áreas do conhecimento. Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Naturais desempenham papéis essenciais nesse processo, ao favorecerem o desenvolvimento da linguagem, do pensamento lógico e da compreensão do mundo natural.

É fundamental que o trabalho pedagógico respeite as fases do desenvolvimento infantil, valorize o brincar, a escuta ativa e o protagonismo das crianças. Um currículo bem estruturado, aliado a práticas docentes criativas e significativas, contribui para a formação de estudantes críticos, autônomos e preparados para os desafios do século XXI.

 

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.

SMOLE, Kátia; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: refletindo sobre o ensinar e o aprender. Porto Alegre: Penso, 2012.

LORENZETTI, Luiz João Vieira. Ensino de Ciências nos anos iniciais: fundamentos e práticas. São Paulo: Cortez, 2010.

 

 

 

 

A Importância dos Temas Transversais na Formação da Cidadania no Contexto Escolar

Crislaine Vaz de Souza Faria

 

DOI: 10.5281/zenodo.16384256

 

 

Resumo

O presente artigo discute a relevância da inserção dos temas transversais no currículo escolar como forma de contribuir para a formação cidadã dos estudantes. Com base na LDBEN 9394/96 e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), compreende-se que o objetivo principal da educação brasileira é a formação para o exercício da cidadania. Nesse sentido, os temas transversais, como ética, orientação sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, trabalho e consumo, são apresentados como instrumentos pedagógicos que dialogam com a realidade social dos alunos, promovendo uma educação crítica, reflexiva e transformadora. O artigo destaca ainda a importância da interdisciplinaridade e da contextualização regional para o desenvolvimento efetivo desses temas no ambiente escolar.

 

Palavras-chave: Temas transversais. Educação. Cidadania. Interdisciplinaridade. Currículo escolar.

 

 

Introdução

 

A educação, enquanto processo social e político, deve estar voltada para a formação integral do cidadão. A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) e a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) representaram marcos importantes na busca por uma educação mais democrática, inclusiva, crítica e participativa. No entanto, apesar das conquistas legais, muitas escolas ainda mantêm uma estrutura pedagógica centrada apenas nos conteúdos tradicionais, limitando-se a um modelo de ensino que pouco contribui para a transformação social.

Neste cenário, os temas transversais emergem como uma proposta inovadora para integrar questões sociais urgentes ao currículo escolar, promovendo uma formação mais contextualizada, ética e cidadã. Este artigo analisa o papel dos temas transversais na escola contemporânea e sua importância para o desenvolvimento de uma educação comprometida com os valores democráticos e com a construção de uma sociedade mais justa e plural.

 

 

Desenvolvimento

 

A Educação para a Cidadania

A LDBEN 9394/96 e os PCN colocam a cidadania como o eixo central da educação nacional. A escola, como espaço privilegiado de formação humana, precisa superar a visão conteudista e adotar uma prática pedagógica que vá além da mera transmissão de saberes, voltando-se para a construção de valores, atitudes e comportamentos sociais.

 

Os Temas Transversais e sua Aplicação

Os temas transversais representam um novo paradigma na educação, ao proporem a integração de conteúdos que perpassam todas as disciplinas escolares. Esses temas dialogam diretamente com o cotidiano dos alunos e com os desafios sociais do país. A seguir, apresentam-se os principais temas indicados pelos PCN:

 

Ética

A abordagem da ética deve partir da realidade dos estudantes, estimulando a reflexão sobre valores como respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo. A escola tem a responsabilidade de contribuir para a construção da autonomia moral dos educandos, auxiliando-os a se posicionarem criticamente diante das situações vivenciadas no contexto escolar e comunitário.

 

Orientação Sexual

Apesar de envolver temas de foro íntimo, a orientação sexual deve ser tratada com responsabilidade pedagógica, abordando assuntos como métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis, autoconhecimento corporal e respeito às diferenças. O objetivo é promover uma educação sexual que contribua para o desenvolvimento saudável e consciente da sexualidade dos alunos.

 

Meio Ambiente

O tema ambiental deve considerar não apenas os aspectos físicos e biológicos, mas também os sociais, culturais e econômicos. A educação ambiental propicia reflexões sobre o consumo sustentável, a preservação dos recursos naturais e a busca por uma qualidade de vida baseada no equilíbrio ecológico.

 

Saúde

A saúde escolar deve ser entendida em sua dimensão preventiva e formativa. Compreende desde noções básicas de higiene até a discussão sobre temas complexos como uso de drogas, gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis. O enfoque está na promoção da saúde como responsabilidade individual e coletiva.

 

Pluralidade Cultural

Esse tema visa valorizar a diversidade étnica, cultural e religiosa presente no Brasil. A escola deve reconhecer e respeitar as diferentes identidades culturais, promovendo o diálogo intercultural e combatendo qualquer forma de preconceito ou discriminação.

 

Trabalho e Consumo

Trabalhar esse tema é fundamental para preparar os jovens para o mundo do trabalho e para uma relação consciente com o consumo. Questões como desemprego, direitos trabalhistas, consumismo e sustentabilidade devem ser discutidas de maneira crítica e contextualizada.

 

Interdisciplinaridade e Flexibilidade Curricular

A transversalidade implica a superação da fragmentação do conhecimento escolar. Os temas transversais devem ser tratados de forma interdisciplinar, permitindo que as disciplinas dialoguem entre si e se articulem com a realidade social. Essa abordagem favorece uma aprendizagem significativa e a construção de uma visão de mundo mais ampla e crítica por parte dos alunos.

 

Além disso, os temas podem ser adaptados às especificidades locais e regionais, respeitando a diversidade cultural, social e econômica das comunidades escolares.

 

 

Conclusão

 

A incorporação dos temas transversais ao currículo escolar é uma estratégia fundamental para que a escola cumpra seu papel social de formar cidadãos críticos, éticos e participativos. Eles proporcionam uma conexão entre os conteúdos escolares e a vida cotidiana dos alunos, favorecendo uma educação mais humanizadora e transformadora.

 

Para que essa proposta se concretize, é necessário investimento na formação continuada dos professores, planejamento pedagógico integrado e comprometimento institucional. A educação para a cidadania exige, portanto, um novo olhar sobre o currículo, que considere os temas transversais não como conteúdos acessórios, mas como elementos centrais na construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática.

 

 

Referências

 

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais. Ética, pluralidade cultural, orientação sexual, meio ambiente, saúde, trabalho e consumo. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

 

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.