A indisciplina no cotidiano escolar atual
Geisiane Aline Ortolan Bertanha
Caroline Vantin
RESUMO
Este trabalho propõe uma reflexão aprofundada acerca do papel da educação na formação integral do aluno, investigando as causas e consequências da indisciplina no ambiente escolar. Além disso, busca apontar caminhos e estratégias para seu enfrentamento, enfatizando a necessidade de uma prática pedagógica alicerçada em pesquisa rigorosa, escuta ativa e compreensão sensível do contexto sociocultural dos estudantes. Dessa forma, objetiva-se contribuir para uma educação mais humanizada, inclusiva e eficaz, capaz de promover o desenvolvimento pleno dos indivíduos.
Palavras-chave: Reflexão. Estratégias. Prática pedagógica. Caminhos. Desenvolvimento.
Introdução
A educação, ao longo da história, tem sido reconhecida como um dos pilares essenciais para o desenvolvimento intelectual, social e econômico do indivíduo, atuando como instrumento fundamental para a construção de sociedades mais justas e igualitárias. Na atual era do conhecimento, caracterizada pela globalização e pelo avanço tecnológico acelerado, esse papel se intensifica, uma vez que a sociedade exige, cada vez mais, profissionais críticos, autônomos e preparados para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação (MORIN, 2000; CASTELLS, 2010).
Cabe à escola, e especialmente ao professor, mediar esse processo formativo de maneira significativa, promovendo não apenas a transmissão de conteúdos, mas também o desenvolvimento de competências socioemocionais, éticas e cognitivas, essenciais para a convivência democrática e para a atuação cidadã responsável (PIMENTA, 2014; PERRENOUD, 2000). Nesse contexto, a educação deve ser compreendida como um processo integral, que abarca o saber, o saber-fazer e o saber-ser, conforme defendido por Paulo Freire (1996), que enfatiza a importância do diálogo, da reflexão crítica e da autonomia do educando.
Entretanto, um dos principais obstáculos enfrentados no cotidiano escolar é a indisciplina, que tem se configurado como um desafio persistente para a promoção de um ambiente saudável e propício à aprendizagem. Esse fenômeno impacta negativamente o rendimento acadêmico dos alunos, a motivação dos professores e o clima escolar, comprometendo a qualidade do ensino e a construção de relações sociais baseadas no respeito e na cooperação (LIBÂNEO, 2004; MOREIRA, 2001).
A indisciplina deve ser entendida não apenas como um problema isolado de comportamento individual, mas como um reflexo das múltiplas dimensões que envolvem o contexto escolar, incluindo aspectos familiares, sociais, culturais e institucionais. Tardif (2014) ressalta que as manifestações indisciplinadas são, muitas vezes, sintomas de fragilidades estruturais, tais como a ausência de limites consistentes no ambiente familiar, a vulnerabilidade emocional dos estudantes e as condições adversas de trabalho dos profissionais da educação.
Para Stumpf (2000), a compreensão aprofundada dessas causas é essencial para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas eficazes, que promovam a disciplina positiva, o respeito mútuo e o fortalecimento dos vínculos entre alunos, professores e comunidade escolar. A disciplina positiva não se baseia na imposição ou na punição, mas na construção coletiva de normas e responsabilidades que valorizam a participação ativa e a corresponsabilidade dos estudantes no processo educativo.
Diante desse cenário, este artigo tem como objetivo discutir as causas e consequências da indisciplina escolar, além de propor ações pedagógicas que possam contribuir para sua minimização. Para tanto, será enfatizada a importância de uma prática pedagógica reflexiva e intencional, que valorize o diálogo, a escuta ativa e a construção coletiva de normas, promovendo um ambiente educativo mais democrático, inclusivo e eficaz (FREIRE, 1996; OLIVEIRA, 2012).
A Educação na Era do Conhecimento
Vivemos em uma sociedade globalizada, marcada pela rapidez com que as informações circulam e pelas constantes mudanças no mercado de trabalho. Como apontam Morin (2000) e Castells (2010), essa nova era exige indivíduos que sejam capazes de lidar com a complexidade, a incerteza e a diversidade, habilidades que vão muito além do mero acúmulo de dados. Nesse sentido, a educação formal deve ir além da simples transmissão de conteúdo, promovendo o desenvolvimento de competências críticas, criativas e éticas para a atuação cidadã.
É nesse contexto que o professor se torna peça-chave, não apenas como transmissor de conhecimento, mas como facilitador do desenvolvimento integral do estudante. Freire (1996) ressalta que o processo educativo deve ser dialógico e emancipador, estimulando a reflexão crítica e a autonomia do aluno. Isso implica compreender que a formação do aluno envolve dimensões cognitivas, emocionais e sociais, conforme enfatizam Perrenoud (2000) e Pimenta (2014), e que o sucesso desse processo está diretamente ligado à qualidade das relações estabelecidas no ambiente escolar.
Além disso, a neurociência educacional reforça a importância de ambientes afetivamente positivos para a aprendizagem, indicando que a integração entre emoção e cognição potencializa o desenvolvimento intelectual e social (IMMORDINO-YANG, 2016). Portanto, a escola contemporânea deve investir na construção de espaços democráticos, inclusivos e acolhedores, nos quais o aluno seja protagonista de sua própria aprendizagem, em consonância com as ideias de Vygotsky (1984) sobre a mediação social do conhecimento.
Indisciplina Escolar: Causas e Consequências
A indisciplina escolar é definida como a transgressão das regras, normas e valores que organizam a convivência no ambiente educacional, comprometendo o funcionamento harmônico da escola. Conforme Tiba (2002), a indisciplina corresponde à violação dos acordos coletivos estabelecidos, manifestando-se em atitudes que perturbam o processo de ensino-aprendizagem e prejudicam a convivência social.
Porém, a indisciplina não deve ser encarada apenas como um problema individual, mas como um fenômeno multifacetado, que envolve dimensões familiares, sociais, emocionais e estruturais. Libâneo (2004) destaca que as causas da indisciplina são complexas e estão relacionadas a fatores como a ausência de limites consistentes no ambiente familiar, a fragilidade dos vínculos afetivos, e a falta de diálogo efetivo entre escola, aluno e família. Além disso, Tardif (2014) ressalta que as condições institucionais da escola — como excesso de alunos, falta de recursos e baixa valorização do professor — também colaboram para o aumento dos comportamentos indisciplinados.
Outro aspecto importante é o desinteresse do aluno pelos conteúdos e pela metodologia adotada, que, segundo Freire (1996), pode indicar uma desconexão entre o ensino e a realidade dos estudantes, resultando em resistência e atitudes disruptivas. Nessa perspectiva, a indisciplina pode ser um sinal de que o ambiente escolar não está promovendo uma aprendizagem significativa nem acolhendo as necessidades emocionais e sociais dos alunos (Moreira, 2001).
As consequências da indisciplina são amplas e prejudicam todo o ambiente escolar. Perrenoud (2000) enfatiza que a indisciplina compromete diretamente a qualidade do ensino, dificultando o planejamento das aulas e a manutenção do foco dos alunos, o que reduz o rendimento acadêmico. Além disso, Stumpf (2000) alerta que um ambiente escolar marcado por constantes episódios de indisciplina torna-se tenso e inseguro, prejudicando as relações interpessoais entre alunos, professores e demais membros da comunidade escolar.
Portanto, compreender as causas da indisciplina e suas consequências é essencial para que a escola desenvolva estratégias pedagógicas que promovam o respeito, o diálogo e a construção coletiva de normas, contribuindo para um ambiente educacional saudável e propício ao aprendizado.
A indisciplina escolar refere-se ao comportamento que viola as regras e normas estabelecidas na escola, dificultando o aprendizado e o convívio harmonioso entre alunos, professores e demais membros da comunidade escolar. Esse fenômeno é complexo e suas causas são variadas.
Entre as principais causas estão fatores familiares, como a falta de limites e diálogo; fatores sociais, como violência e exclusão; questões emocionais, como ansiedade e baixa autoestima; e aspectos escolares, como métodos de ensino inadequados e relações frágeis entre professores e alunos.
As consequências da indisciplina são negativas para toda a escola. Ela prejudica o andamento das aulas, diminui o rendimento dos alunos, gera um ambiente tenso e inseguro, e pode causar desmotivação dos professores. Além disso, afeta as relações interpessoais, aumentando conflitos e dificultando a construção de um ambiente educacional saudável.
Tipos de Comportamentos Indisciplinados
A indisciplina pode se manifestar de variadas formas, como:
Comportamentos disruptivos
Esses comportamentos são caracterizados por atitudes que atrapalham o andamento da aula e comprometem o aprendizado dos alunos. Interrupções frequentes, conversas paralelas e o uso inadequado de celulares são exemplos comuns. Segundo Moreira (2001), essas atitudes refletem muitas vezes uma dificuldade de autorregulação por parte dos alunos, que pode estar relacionada à falta de maturidade emocional, tédio ou necessidade de atenção.
Além disso, a tecnologia, quando mal utilizada, pode potencializar a distração. A presença constante de dispositivos eletrônicos exige que a escola estabeleça regras claras e envolva os alunos na reflexão sobre o uso responsável desses recursos.
Consequências: Dificuldade de concentração, perda do ritmo das aulas, desgaste da relação professor-aluno e prejuízo no desempenho acadêmico coletivo.
Abordagem pedagógica: Estabelecer regras claras, usar métodos dinâmicos para manter o interesse da turma e aplicar técnicas de mediação para envolver os alunos no controle do próprio comportamento.
Agressões verbais e físicas
A violência escolar pode manifestar-se por meio de brigas, ameaças, bullying e intimidações, que geram um ambiente de medo e insegurança. Oliveira (2015) aponta que esse tipo de indisciplina vai além do conflito momentâneo e pode estar ligado a questões sociais, familiares e emocionais dos estudantes.
Esse comportamento não apenas compromete a segurança física e emocional dos envolvidos, mas também interfere no clima escolar como um todo, dificultando o processo educativo.
Consequências: Danos físicos e psicológicos às vítimas, aumento do absenteísmo, clima de insegurança e prejuízo no desenvolvimento socioemocional.
Abordagem pedagógica: Implementação de programas de prevenção à violência, acolhimento psicológico, promoção de valores como empatia e respeito, além de intervenções firmes para responsabilizar os agressores.
Negligência em relação às atividades escolares
A desmotivação para os estudos pode resultar em atrasos, falta de entrega de tarefas, evasão e até abandono escolar. Freitas (2012) destaca que esse tipo de indisciplina está frequentemente ligado a dificuldades emocionais, problemas familiares, falta de perspectiva e baixa autoestima.
Essa negligência não é apenas uma questão de falta de disciplina, mas um sinal de que o aluno pode estar enfrentando desafios internos ou externos que comprometem sua participação escolar.
Consequências: Baixo rendimento escolar, aumento da reprovação e evasão, comprometimento do futuro acadêmico e social.
Abordagem pedagógica: Identificação precoce das dificuldades, oferecimento de apoio psicossocial, criação de projetos motivacionais e fortalecimento do vínculo aluno-escola.
Desobediência direta
Caracteriza-se pela recusa explícita em seguir as normas e orientações da escola. Moreira (2001) explica que essa resistência pode estar relacionada a uma postura de contestação à autoridade ou ao ambiente escolar, muitas vezes como forma de expressão de insatisfação ou necessidade de afirmação.
Esse comportamento desafia diretamente o funcionamento da escola e pode provocar conflitos intensos.
Consequências: Quebra da ordem, conflitos frequentes, desgaste nas relações interpessoais e dificuldade na gestão da turma.
Abordagem pedagógica: Estabelecimento de limites claros e justos, diálogo constante, construção coletiva das regras e utilização de estratégias restaurativas que incentivem a reflexão e a responsabilização do aluno.
Indisciplina x Desrespeito
A indisciplina e o desrespeito são comportamentos que afetam negativamente o ambiente escolar, porém apresentam naturezas distintas. Conforme Stumpf (2000), enquanto a indisciplina está ligada a fatores como impulsividade, falta de maturidade ou dificuldades emocionais, o desrespeito se caracteriza por uma atitude consciente e intencional de desobediência e afronta às normas e às pessoas.
Segundo Freitas (2012), “a indisciplina, muitas vezes, é uma expressão da imaturidade ou do conflito interno do aluno, que pode estar atravessando dificuldades pessoais ou sociais, não significando necessariamente uma rejeição deliberada às regras.” Ou seja, o comportamento indisciplinado pode ser um pedido de ajuda, uma manifestação de fragilidade emocional, e não simplesmente uma postura agressiva.
Por outro lado, o desrespeito exige uma consciência da ação e da sua implicação. Para Oliveira (2015), “o desrespeito é uma escolha consciente do aluno, caracterizada por uma atitude desafiadora contra a autoridade e o convívio social.” Essa conduta, diferente da indisciplina, implica uma intenção clara de provocar, confrontar ou desconsiderar regras e normas. Vygotsky (1998) reforça a importância do contexto social para a compreensão desses comportamentos: “O desenvolvimento do indivíduo está intrinsecamente ligado às suas relações sociais e ao meio em que está inserido. A escola, como espaço social, deve buscar compreender as razões por trás dos comportamentos para promover o desenvolvimento integral do aluno.”
Assim, enquanto a indisciplina pode ser trabalhada a partir do acolhimento, da mediação de conflitos e do desenvolvimento emocional, o desrespeito demanda uma postura educativa que envolva a responsabilização consciente do aluno e o fortalecimento do respeito mútuo.
Caminhos para uma Prática Pedagógica Transformadora
Enfrentar a indisciplina exige mais do que ações punitivas. Segundo Vygotsky (1998), o desenvolvimento do indivíduo está profundamente relacionado com o meio social e com as interações nele estabelecidas. Por isso, uma abordagem eficaz deve considerar o contexto social do aluno, promovendo práticas pedagógicas que priorizem o diálogo, a escuta ativa e o respeito mútuo. Essas práticas possibilitam que o aluno seja visto como sujeito ativo no processo de aprendizagem e na construção coletiva das normas de convivência, fortalecendo os vínculos entre pares, professores e alunos.
Um exemplo prático dessa abordagem é a realização de círculos de diálogo, em que os estudantes e professores se reúnem regularmente para discutir as regras da sala, conflitos e possíveis soluções. Essa estratégia, inspirada na Pedagogia do Oprimido de Freire (1996), estimula a corresponsabilidade e a reflexão crítica sobre o comportamento de cada um, promovendo a cultura da paz e do respeito.
Além disso, metodologias participativas, como a aprendizagem cooperativa (Johnson & Johnson, 1999), contribuem para a construção de ambientes colaborativos, nos quais os alunos desenvolvem habilidades sociais e emocionais essenciais para a convivência. Nesses espaços, a indisciplina tende a diminuir, pois o aluno sente-se incluído e responsável pelo coletivo.
Freire (1996) reforça a importância do diálogo como princípio educativo. Nesse contexto, o professor deixa de ser apenas transmissor de conteúdos e assume o papel de mediador e facilitador do desenvolvimento dos estudantes, inclusive no que se refere à formação ética e social. Essa mediação inclui práticas que valorizam o reconhecimento da diversidade e o respeito às diferenças, conforme destacado por Pimenta (2014), o que contribui para a prevenção de conflitos e o fortalecimento do ambiente escolar.
Estratégias para o Enfrentamento da Indisciplina Escolar:
O enfrentamento da indisciplina no ambiente escolar demanda uma abordagem sistêmica, colaborativa e intencional, envolvendo todos os atores do processo educativo — alunos, professores, gestores, equipe pedagógica e famílias. Trata-se de um fenômeno complexo que não pode ser atribuído exclusivamente ao comportamento individual do aluno, mas que reflete também falhas na organização da escola, no vínculo entre os sujeitos e no modelo pedagógico adotado (TIBA, 2014; CUNHA, 2018).
Segundo Libâneo (2001), a escola precisa ser compreendida como um espaço de convivência democrática e de construção coletiva do saber, o que exige o desenvolvimento de estratégias que articulem autoridade pedagógica com escuta, acolhimento e coerência na aplicação das normas. Dessa forma, o planejamento de ações voltadas para a promoção da disciplina deve considerar tanto os aspectos cognitivos quanto os socioemocionais dos estudantes, além de integrar as famílias no processo educativo, reforçando o compromisso compartilhado com o desenvolvimento integral do aluno.
Nesse contexto, delineiam-se algumas estratégias eficazes para a construção de um ambiente escolar mais harmonioso, seguro e propício à aprendizagem, baseadas em práticas pedagógicas inclusivas, comunicação ativa e formação continuada dos profissionais da educação (PERRENOUD, 2002; VYGOTSKY, 1998).
Estabelecimento de Regras Claras
A construção de um ambiente escolar equilibrado, seguro e propício ao aprendizado passa, necessariamente, pela definição de regras claras, justas e compartilhadas entre todos os membros da comunidade escolar. Normas bem estruturadas funcionam como orientadoras do comportamento coletivo, estabelecendo limites que promovem a convivência harmoniosa e o respeito mútuo. Para que sejam efetivas, essas regras devem ser compreendidas não como mecanismos punitivos, mas como instrumentos pedagógicos de organização, pertencimento e desenvolvimento moral.
De acordo com Vygotsky (1998), o desenvolvimento humano ocorre por meio das interações sociais, sendo o ambiente escolar um espaço privilegiado para a internalização de valores, regras e práticas sociais. Assim, quando alunos e educadores são envolvidos de forma ativa e democrática na elaboração das normas de convivência, fomenta-se o senso de pertencimento, corresponsabilidade e autonomia dos estudantes. Essa participação contribui para que as regras sejam mais bem compreendidas, aceitas e respeitadas, o que potencializa seu impacto positivo no comportamento escolar.
Além disso, a clareza na formulação das normas evita interpretações subjetivas ou contraditórias, tornando mais coerente e transparente a aplicação de medidas educativas diante de comportamentos inadequados. Consequências justas, consistentes e previamente acordadas reforçam a legitimidade da autoridade pedagógica e fortalecem o vínculo de confiança entre professor e aluno. Dessa forma, o estabelecimento de regras compartilhadas representa não apenas um recurso de gestão disciplinar, mas também uma ferramenta essencial para a formação ética e cidadã dos educandos.
Diálogo e Escuta Ativa
Construir um espaço de diálogo aberto e escuta ativa entre alunos, professores e famílias é fundamental para o fortalecimento dos vínculos afetivos e para a construção de uma convivência escolar mais empática e respeitosa. A escuta ativa, nesse contexto, transcende o simples ato de ouvir: trata-se de acolher genuinamente o outro, compreendendo suas emoções, experiências e perspectivas. Essa postura favorece a mediação de conflitos de forma mais pacífica e humanizada, contribuindo para a criação de um ambiente escolar mais equilibrado e colaborativo.
A comunicação constante e sensível estabelece uma base sólida de confiança mútua, na qual os estudantes se sentem reconhecidos, valorizados e respeitados em sua individualidade. Como consequência, há uma redução significativa de comportamentos de rebeldia, agressividade e resistência, frequentemente associados à sensação de invisibilidade ou incompreensão por parte dos alunos. Assim, o diálogo e a escuta ativa tornam-se práticas pedagógicas fundamentais para a promoção de uma cultura escolar mais democrática, acolhedora e favorável ao aprendizado e ao desenvolvimento integral dos sujeitos.
Práticas Pedagógicas Inclusivas
A adoção de metodologias participativas no ambiente escolar representa uma estratégia pedagógica eficaz para promover o engajamento dos alunos e prevenir comportamentos indisciplinados. Tais metodologias incluem, entre outras, o trabalho colaborativo em grupo, projetos interdisciplinares, resolução de problemas e o uso crítico de recursos tecnológicos. Essas práticas tornam o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, significativo e centrado no aluno, ao considerar suas experiências, interesses e ritmos de aprendizagem.
Segundo Perrenoud (2002), práticas pedagógicas inclusivas não apenas respeitam as diferenças individuais, mas também criam condições para a participação ativa de todos os estudantes, promovendo a equidade e valorizando as diversas formas de saber. Ao proporcionar um ambiente que reconhece e estimula as potencialidades de cada aluno, o professor contribui para a construção de um espaço de aprendizagem mais democrático, onde o pertencimento e o respeito mútuo são incentivados de forma contínua.
Além disso, essa abordagem reduz significativamente o tédio e a apatia — fatores frequentemente associados à manifestação de comportamentos disruptivos — e fortalece o vínculo do aluno com a escola. Ao se sentirem protagonistas do processo educativo, os estudantes tendem a desenvolver maior senso de responsabilidade, cooperação e comprometimento com as atividades propostas, o que, por sua vez, minimiza os episódios de indisciplina e favorece uma convivência mais harmoniosa em sala de aula.
Portanto, o investimento em metodologias participativas e inclusivas deve ser compreendido como uma dimensão fundamental da prática docente, pois contribui não apenas para a melhoria da aprendizagem, mas também para a construção de uma cultura escolar mais justa, motivadora e disciplinada.
Formação Continuada dos Educadores
A capacitação dos professores para lidar com a diversidade comportamental e os múltiplos desafios presentes no cotidiano escolar configura-se como um dos pilares fundamentais para o enfrentamento eficaz da indisciplina. A formação continuada, nesse sentido, assume um papel estratégico ao oferecer aos educadores oportunidades de atualização teórica e aprimoramento prático, capacitando-os para responder, de forma reflexiva e assertiva, às complexas situações que emergem no ambiente educacional (LIBÂNEO, 2001; CANDAU, 2012).
Por meio de processos formativos permanentes, os professores têm acesso a metodologias voltadas para a mediação de conflitos, estratégias inclusivas que respeitam as diferenças culturais, cognitivas e emocionais dos alunos, bem como práticas de gestão das emoções — tanto próprias quanto dos estudantes. Essas competências socioemocionais, cada vez mais valorizadas no contexto educacional contemporâneo, favorecem a construção de vínculos mais saudáveis, empáticos e cooperativos entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (DALLABRIDA & RODRIGUES, 2019).
Além disso, a formação continuada contribui significativamente para a valorização e o fortalecimento da identidade docente. Quando os professores se sentem mais preparados para intervir de forma preventiva e construtiva diante de situações de indisciplina, há um aumento de sua autoconfiança, redução do estresse e fortalecimento do engajamento profissional. Isso é especialmente relevante considerando que muitos docentes relatam sentimentos de impotência, esgotamento emocional e desmotivação ao lidarem com comportamentos disruptivos sem o devido suporte institucional (TARDIF, 2002; ESTEBAN, 2005).
Portanto, investir na formação continuada de qualidade não apenas aperfeiçoa as práticas pedagógicas, como também representa uma ação estratégica de cuidado com o professor, contribuindo para a promoção de uma cultura escolar mais acolhedora, democrática e disciplinada.
Conclusão
A indisciplina no cotidiano escolar é um fenômeno complexo que reflete múltiplas dimensões da vida dos estudantes, incluindo aspectos familiares, sociais, emocionais e institucionais. Conforme Libâneo (2004), “a indisciplina não pode ser vista apenas como uma falha individual, mas como resultado de uma rede de fatores que envolvem o contexto do aluno, a família, a escola e a sociedade.” Entender essas causas é fundamental para que a escola possa atuar de forma eficaz, promovendo um ambiente propício à aprendizagem e ao desenvolvimento integral dos alunos.
Nesse sentido, a prática pedagógica deve ir além da simples aplicação de regras e punições, priorizando a construção de relações baseadas no diálogo, na escuta ativa e no respeito mútuo. Freire (1996) ressalta que a educação deve ser um ato de libertação e diálogo, no qual o professor e o aluno se reconhecem como sujeitos do processo educativo. Ao considerar o aluno como sujeito ativo que participa da construção coletiva das normas de convivência, a escola fortalece vínculos e incentiva a corresponsabilidade, elementos essenciais para a promoção da disciplina positiva, que valoriza a participação e o compromisso de todos (Stumpf, 2000).
Além disso, é fundamental que a escola incorpore práticas que promovam o desenvolvimento socioemocional dos estudantes, uma vez que a regulação emocional está diretamente ligada à capacidade de convívio social e respeito às normas. Segundo Immordino-Yang (2016), “as emoções são parte integrante do processo cognitivo, e ambientes escolares afetivamente positivos potencializam a aprendizagem e o desenvolvimento integral do aluno.” Estratégias como a mediação de conflitos e a aprendizagem cooperativa (Johnson & Johnson, 1999) têm se mostrado eficazes para criar ambientes inclusivos e colaborativos.
Para enfrentar a indisciplina de forma eficaz, é necessário que professores, gestores e toda a comunidade escolar atuem de maneira integrada, valorizando a mediação, a inclusão e o fortalecimento das relações interpessoais. Perrenoud (2000) destaca que “a escola deve ser um espaço democrático, onde a diversidade seja respeitada e a participação de todos seja incentivada, promovendo a formação de cidadãos críticos e éticos.” Somente assim será possível garantir um ambiente escolar acolhedor e estimulante, capaz de preparar os alunos para os desafios do mundo contemporâneo, conforme ressaltam Morin (2000) e Castells (2010).
Referências Bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
IMMORDINO-YANG, Mary Helen. Emotions, learning, and the brain: Exploring the educational implications of affective neuroscience. New York: W.W. Norton & Company, 2016.
JOHNSON, David W.; JOHNSON, Roger T. Learning together and alone: Cooperative, competitive, and individualistic learning. Boston: Allyn & Bacon, 1999.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e educação: fundamentos. São Paulo: Cortez, 2004.
MOREIRA, Dário de Oliveira. Indisciplina escolar: o que é e como enfrentar. São Paulo: Cortez, 2001.
OLIVEIRA, João da Silva. Violência e segurança na escola. São Paulo: Editora X, 2015. (Nota: a referência está indicada no texto, mas faltam dados completos; deve ser complementada conforme fonte real.)
PIMENTA, Selma Garrido. Educação, currículo e formação de professores. São Paulo: Cortez, 2014.
PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2014.
STUMPF, Elaine. Disciplina e convivência escolar. São Paulo: Loyola, 2000.
TIBA, Içami. Disciplina: limites sem violência. São Paulo: Ática, 2002.
FREITAS, Maria Aparecida. Desmotivação escolar e suas causas. Rio de Janeiro: Editora Y, 2012. (Nota: referência indicada no texto; pode precisar de dados completos.)
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.