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A Inteligência Artificial como ferramenta de elaboração e planejamento para os professores

Gisele Franco Rocha Gonçalves
Flávia Denardi Cavallari Surreição
Sandra Cristina Gomes Mariano
Silvia Maria Eufrásio Paes de Arruda

 

DOI: 10.5281/zenodo.15800093

 

 

Resumo

O avanço da Inteligência Artificial (IA) tem proporcionado novas possibilidades para o contexto educacional, especialmente no suporte ao planejamento e à elaboração de atividades docentes. Este artigo analisa os benefícios e os desafios do uso da IA na educação, com base em estudos acadêmicos recentes. São discutidos tanto os aspectos positivos quanto as limitações da integração dessa tecnologia nas práticas pedagógicas.

 

Palavras-chave: Inteligência Artificial. Pedagogia. Professores. Inovação. Tecnologia. Escola. Estudantes.

 

 

Abstract

The advancement of Artificial Intelligence (AI) has provided new possibilities for the educational context, especially in supporting the planning and development of teaching activities. This article analyzes the benefits and challenges of using AI in education, based on recent academic studies. Both the positive aspects and the limitations of integrating this technology into pedagogical practices are discussed.

 

Keywords: Artificial Intelligence. Pedagogy. Teachers. Innovation. Technology. School. Students.

 

 

1.INTRODUÇÃO

 

A revolução digital impactou de forma significativa o setor educacional. A Inteligência Artificial, nesse cenário, surge como uma ferramenta promissora para a melhoria das práticas pedagógicas. Conforme Luckin et al. (2016), a IA pode apoiar os professores ao automatizar tarefas rotineiras e permitir maior dedicação ao acompanhamento dos alunos

O ambiente educacional contemporâneo demanda soluções inovadoras para atender às necessidades diversificadas dos alunos. A Inteligência Artificial, nesse contexto, apresenta-se como uma aliada essencial na transformação das práticas pedagógicas (LUCKIN et al., 2016).O advento das tecnologias digitais provocou profundas transformações em diversos setores da sociedade, e a educação não foi exceção. Dentre as inovações mais impactantes, destaca-se a Inteligência Artificial (IA), que tem modificado significativamente as práticas de ensino e aprendizagem em todo o mundo. De acordo com Holmes, Bialik e Fadel (2019), a IA apresenta potencial para redefinir o papel do professor, permitindo a personalização do ensino e a automação de tarefas rotineiras. Ao mesmo tempo, possibilita que os alunos tenham acesso a métodos de aprendizagem mais dinâmicos e adaptáveis às suas necessidades individuais.

O uso da IA pelos professores vem crescendo em diferentes níveis de ensino. Ferramentas baseadas em algoritmos de aprendizado de máquina são empregadas para planejar aulas, identificar dificuldades de aprendizagem, avaliar o desempenho dos estudantes e oferecer recomendações pedagógicas personalizadas (Luckin et al., 2016). Ao automatizar atividades administrativas e repetitivas, como a correção de avaliações objetivas, a IA libera tempo para que o docente se concentre no desenvolvimento de práticas pedagógicas mais inovadoras e no acompanhamento individualizado dos alunos (Baker; Smith, 2019).

Por outro lado, os estudantes também se beneficiam das tecnologias de IA, uma vez que essas ferramentas podem proporcionar experiências de aprendizagem sob medida, adaptadas ao ritmo e estilo de cada aprendiz. Recursos como tutores inteligentes, plataformas adaptativas e assistentes virtuais tornaram-se cada vez mais presentes nas salas de aula e nos ambientes virtuais de aprendizagem (Woolf, 2010). Estas tecnologias promovem maior autonomia, flexibilidade e eficiência no processo de aquisição de conhecimento.

Entretanto, apesar dos inúmeros benefícios associados ao uso da IA na educação, existem também desafios e limitações a serem considerados. Entre as principais vantagens, destacam-se a personalização da aprendizagem, o aumento da eficiência do ensino e a democratização do acesso a recursos educacionais. Por outro lado, surgem preocupações quanto à desumanização das relações pedagógicas, à dependência excessiva da tecnologia e às questões éticas envolvendo a coleta e o uso de dados pessoais dos estudantes (Selwyn, 2019; Williamson; Eynon, 2020).

Portanto, enquanto a Inteligência Artificial oferece múltiplas oportunidades para aprimorar a qualidade do ensino e tornar a aprendizagem mais acessível e eficiente, seu uso consciente e crítico é fundamental para assegurar que seus benefícios sejam plenamente alcançados sem comprometer os valores essenciais da educação. A reflexão sobre as vantagens e desvantagens do uso da IA torna-se, assim, indispensável para orientar professores e responsáveis sobre a  inclusão em um mundo cada vez mais digitalizado.

 

 

  1. FUNDAMENTOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA EDUCAÇÃO

 

De acordo com Russell e Norvig (2010), a Inteligência Artificial refere-se a sistemas capazes de executar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. No contexto educacional, a IA está presente em plataformas de aprendizagem adaptativa, assistentes virtuais, e sistemas de avaliação automatizada.

A Inteligência Artificial (IA) tem se mostrado uma aliada poderosa para os professores na melhoria da qualidade das aulas e do ensino. Utilizando sistemas adaptativos, os docentes conseguem identificar as necessidades específicas de cada aluno, oferecendo conteúdos personalizados e intervenções mais eficazes (Luckin et al., 2016). Além disso, ferramentas de IA automatizam tarefas administrativas, como a correção de avaliações, permitindo que o professor dedique mais tempo à preparação de atividades criativas e interativas (Baker; Smith, 2019). Dessa forma, a tecnologia não apenas otimiza a gestão do tempo, mas também enriquece o processo de ensino-aprendizagem, promovendo um ambiente mais dinâmico e inclusivo.

A IA permite que professores ofereçam experiências de aprendizagem personalizadas, adaptadas ao ritmo e às dificuldades individuais dos estudantes. Conforme Woolf (2010), sistemas de tutor inteligente ajustam os conteúdos de acordo com o desempenho do aluno, promovendo um ensino mais eficaz.

 

 

  1. BENEFÍCIOS DA UTILIZAÇÃO DA IA NO PLANEJAMENTO DOCENTE E PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO

 

Segundo Woolf (2010), a IA possibilita a construção de experiências de aprendizagem personalizadas, ajustando conteúdos e atividades de acordo com as necessidades de cada aluno.

 

3.1 Agilidade na Correção e Avaliação

 

Baker e Smith (2019) ressaltam que as ferramentas baseadas em IA automatizam a correção de atividades, permitindo aos professores concentrar-se em estratégias pedagógicas mais complexas.

Conforme Holmes et al. (2019), sistemas de IA podem auxiliar na criação de planos de aula, baseando-se nos objetivos de aprendizagem e no perfil das turmas.

Ferramentas de IA automatizam tarefas repetitivas, como correção de testes objetivos e organização de registros acadêmicos. Segundo Baker e Smith (2019), essa otimização permite que o professor dedique mais tempo à interação direta com os alunos.

 

 

  1. DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA IA NO AMBIENTE ESCOLAR

 

4.1 Falta de Infraestrutura

 

Selwyn (2019) aponta que a indisponibilidade de recursos tecnológicos nas instituições de ensino é um dos principais entraves para a implementação eficaz da IA.

A presença da tecnologia no ambiente escolar tornou-se fundamental para uma educação de qualidade no século XXI. No entanto, a realidade brasileira ainda apresenta sérias deficiências quanto à infraestrutura tecnológica nas instituições de ensino, especialmente na rede pública. Esse problema afeta diretamente o acesso dos alunos a recursos digitais e limita o desenvolvimento de habilidades essenciais para a formação cidadã e profissional.

Segundo a pesquisa TIC Educação 2022, promovida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), embora a maioria das escolas brasileiras possuam algum tipo de conexão com a internet (94% no ensino fundamental e médio), essa conectividade nem sempre é adequada ou suficiente para o uso pedagógico. Em muitas instituições, a velocidade da internet está abaixo do mínimo recomendado pela Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, que sugere 1Mbps por aluno no turno mais movimentado (CGI.br, 2023).

Além disso, a escassez de equipamentos é um obstáculo significativo. Apenas 58% das escolas possuem dispositivos como computadores, notebooks ou tablets disponíveis para os alunos. Esse percentual é ainda menor em escolas da rede municipal, nas quais apenas 43% oferecem acesso a tais tecnologias (CNN Brasil, 2023). A disparidade é ainda mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste do país, onde muitas escolas não têm sequer laboratórios de informática ou conectividade básica (Anatel, 2023).

Outro aspecto crítico é a formação dos professores. De acordo com a mesma pesquisa, 75% dos docentes afirmam não ter recebido capacitação suficiente para integrar as tecnologias digitais ao processo de ensino. Isso demonstra que não basta investir apenas em infraestrutura física, mas também é necessário promover políticas públicas voltadas à formação continuada dos profissionais da educação (Fundação Telefônica Vivo, 2022).

Dessa forma, a deficiência tecnológica nas escolas públicas brasileiras aprofunda as desigualdades sociais e educacionais. Alunos que dependem exclusivamente da escola para acesso à tecnologia digital ficam em desvantagem em relação aos que possuem recursos em casa. A superação desse cenário exige um esforço conjunto entre governos, setor privado e sociedade civil, com investimentos que contemplem tanto a infraestrutura física quanto o capital humano.

Investir em tecnologia educacional não é mais uma opção, mas uma necessidade urgente para garantir o direito à educação plena e inclusiva. É essencial que as políticas públicas avancem para promover uma transformação digital consistente e equitativa nas escolas do Brasil.

 

4.2 Risco de Desumanização do Ensino

 

De acordo com Williamson e Eynon (2020), a utilização excessiva de tecnologias pode comprometer a dimensão humana do processo educativo.

O avanço acelerado das tecnologias digitais transformou profundamente a forma como as pessoas se comunicam, trabalham, aprendem e se relacionam. Apesar de seus inúmeros benefícios, o uso excessivo dessas ferramentas tem gerado preocupações quanto aos impactos sobre a dimensão humana — aquela que envolve as relações interpessoais, a empatia, o autoconhecimento e a saúde mental.

Um dos principais riscos associados ao uso excessivo de tecnologia é a deterioração das relações presenciais. A hiperconectividade pode levar à substituição do contato humano por interações mediadas por telas, resultando em vínculos mais superficiais e na diminuição da capacidade de escuta e diálogo. Sherry Turkle, professora do MIT, aponta que a tecnologia nos conecta mais, mas ao mesmo tempo nos torna menos disponíveis emocionalmente para o outro (Turkle, 2015). Ela afirma que a prática de estar constantemente online reduz o tempo de reflexão individual, essencial para o desenvolvimento da identidade e da empatia.

Além disso, a dependência tecnológica tem sido associada ao aumento de transtornos como ansiedade, depressão e isolamento social, especialmente entre os jovens. Estudos mostram que o uso excessivo de redes sociais pode gerar uma busca constante por validação externa e criar uma visão distorcida da realidade, prejudicando a autoestima e o bem-estar psicológico (Twenge, 2017).

A dimensão humana também é comprometida quando a tecnologia invade espaços de descanso e lazer. A cultura da produtividade contínua, alimentada por dispositivos móveis e plataformas digitais, faz com que muitos indivíduos estejam permanentemente disponíveis para demandas profissionais, reduzindo o tempo dedicado ao convívio familiar, à introspecção e ao autocuidado (Rosa, 2019). Tal dinâmica compromete a qualidade de vida e impede experiências fundamentais para a construção do sentido de existência.

Embora as tecnologias sejam ferramentas poderosas, é necessário refletir sobre o modo como são utilizadas. O equilíbrio entre o mundo digital e a vida real é essencial para preservar a saúde mental, os vínculos afetivos e a autenticidade das relações humanas. Portanto, o desafio contemporâneo não é rejeitar a tecnologia, mas integrá-la de forma ética, crítica e consciente à vida cotidiana.

 

4.3 Questões Éticas e de Privacidade

 

Cios e Zapala (2020) destacam preocupações éticas relacionadas à coleta e à utilização de dados pessoais dos estudantes pelos sistemas de IA.O uso de sistemas de inteligência artificial (IA) na educação tem crescido significativamente, oferecendo soluções para personalização do ensino, monitoramento do desempenho acadêmico e suporte à aprendizagem adaptativa. No entanto, essa inovação também levanta sérias preocupações éticas, especialmente em relação à coleta, armazenamento e uso dos dados pessoais dos estudantes.

Uma das principais preocupações é a privacidade. Sistemas de IA educacionais costumam coletar uma ampla gama de informações — desde dados básicos de identificação até hábitos de estudo, desempenho em avaliações, localização, comportamento online e até mesmo padrões emocionais. A utilização desses dados, muitas vezes sem o pleno conhecimento ou consentimento dos estudantes e seus responsáveis, pode violar princípios fundamentais de autonomia e autodeterminação informacional (Crawford & Paglen, 2021).

Outra questão ética relevante é a transparência. Frequentemente, as decisões tomadas por algoritmos — como recomendações de conteúdos, avaliações automatizadas ou intervenções pedagógicas — são baseadas em critérios pouco compreendidos por alunos, professores e gestores. Isso dificulta o questionamento ou a contestação de resultados, o que fere o princípio da accountability (responsabilização) em contextos educacionais (Selwyn, 2019).

Além disso, há o risco de discriminação algorítmica. Dados coletados por IA podem reproduzir e até intensificar desigualdades sociais, de gênero e raciais, caso os algoritmos sejam treinados com conjuntos de dados enviesados. Como alerta a UNESCO (2021), há um perigo concreto de que tecnologias educacionais automatizadas perpetuem exclusões e marginalizações já existentes, sob a aparência de neutralidade tecnológica.

Do ponto de vista da ética infantil, destaca-se a vulnerabilidade dos estudantes, especialmente crianças e adolescentes. Esses públicos não possuem plena capacidade de compreender as implicações do compartilhamento de seus dados e, portanto, merecem proteção especial conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/1990) e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD – Lei n.º 13.709/2018), que impõe restrições à coleta e ao uso de dados de menores.

Diante desses desafios, é fundamental que escolas, governos e desenvolvedores de tecnologias adotem políticas claras de governança de dados, com base em princípios de ética digital, proteção da privacidade, consentimento informado e equidade. A implementação de sistemas de IA na educação deve sempre priorizar o bem-estar dos estudantes, com uso responsável da tecnologia em consonância com os direitos fundamentais.

 

4.4  Suporte na Elaboração de Conteúdos e Planos de Aula

 

A IA pode apoiar a criação de planos de aula personalizados e a seleção de materiais pedagógicos adequados às necessidades da turma (HOLMES et al., 2019).

Uma das principais contribuições da IA nesse processo está na análise de dados educacionais. Sistemas baseados em IA conseguem processar grandes volumes de informações sobre o desempenho dos estudantes — como notas, participação, tempo de resposta em atividades, entre outros indicadores — e identificar padrões que muitas vezes passariam despercebidos pelo professor. Com base nesses dados, a IA pode sugerir conteúdos específicos, estratégias de ensino diferenciadas e recursos adaptados às necessidades de cada grupo ou estudante individual (Holmes et al., 2019).

Por exemplo, plataformas como o Khan Academy e o DreamBox Learning utilizam IA para recomendar exercícios que se ajustam ao nível de conhecimento atual do aluno, ajudando o professor a montar planos de aula mais focados em dificuldades reais da turma. Em outra frente, ferramentas como o Century Tech, utilizado em escolas do Reino Unido, empregam algoritmos para indicar sequências de aprendizagem personalizadas, combinando dados de desempenho com preferências de aprendizagem dos estudantes (Luckin et al., 2016).

Além da recomendação de conteúdos, a IA também pode auxiliar na organização da aula. Softwares com assistentes inteligentes, como o ChatGPT, podem colaborar com professores na elaboração de roteiros didáticos, criação de questões de avaliação compatíveis com os objetivos de aprendizagem e seleção de atividades baseadas na taxonomia de Bloom. Isso economiza tempo e permite que o professor se concentre no aspecto mais humano do ensino: o relacionamento e a mediação pedagógica.

Outro benefício importante é a atualização em tempo real dos planos de aula. À medida que os dados de desempenho dos alunos são atualizados, a IA pode sugerir ajustes automáticos no plano de ensino, garantindo que ele continue relevante e eficaz. Esse modelo dinâmico de planejamento é especialmente útil em ambientes híbridos ou de ensino remoto, onde o monitoramento contínuo do progresso do estudante é mais difícil.

Contudo, é essencial destacar que a IA deve atuar como apoio ao professor, e não como substituto. A sensibilidade pedagógica, o conhecimento do contexto local e a capacidade de adaptação às emoções e necessidades dos alunos continuam sendo competências humanas insubstituíveis. Portanto, o uso ético e consciente da IA na educação deve estar sempre vinculado à autonomia docente e ao respeito à privacidade dos estudantes.

 

 

  1. PROMOÇÃO DA INCLUSÃO EDUCACIONAL

 

Holmes et al. (2019) defendem que a IA deve ser integrada de forma mediada pelo docente, reforçando a sua função de apoio à aprendizagem, e não como substituta do professor.

Com o uso de tecnologias adaptativas, é possível atender alunos com deficiências, fornecendo recursos acessíveis e personalizados (SELWYN, 2019).

A incorporação da inteligência artificial (IA) no ambiente educacional tem gerado debates relevantes sobre seus potenciais e riscos. Entre os especialistas, há um consenso crescente de que a IA não deve substituir o papel do professor, mas sim atuar como ferramenta complementar, cuja eficácia depende fundamentalmente da mediação pedagógica do docente.

A mediação humana é essencial para garantir que a tecnologia seja usada de forma crítica, ética e adequada às necessidades específicas dos estudantes e do contexto escolar. Como afirmam Holmes et al. (2019), a IA pode oferecer suporte à personalização do ensino, fornecendo dados sobre desempenho, dificuldades e preferências dos alunos. No entanto, cabe ao professor interpretar essas informações e tomar decisões didáticas alinhadas aos objetivos educacionais e ao projeto pedagógico.

Além disso, a atuação docente é insubstituível na promoção de competências socioemocionais, empatia, senso crítico e valores humanos — dimensões que não podem ser plenamente contempladas por algoritmos. Como destaca Selwyn (2019), há um risco real de desumanização do processo de ensino-aprendizagem quando a tecnologia é implementada de forma automatizada e sem intencionalidade pedagógica.

Outro ponto central diz respeito à autonomia profissional do professor. A mediação docente garante que a IA seja integrada como uma aliada no planejamento, na avaliação e na gestão da sala de aula, e não como uma ferramenta que impõe padrões predefinidos de ensino. Luckin et al. (2016) defendem que a formação de educadores para o uso consciente da IA deve fazer parte das políticas públicas, a fim de que esses profissionais possam avaliar criticamente as soluções tecnológicas e adaptá-las às realidades locais.

A própria UNESCO (2021), em sua Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial, reforça a necessidade de que tecnologias digitais sejam utilizadas com responsabilidade e sob orientação humana, especialmente em ambientes que envolvem crianças e adolescentes. A organização destaca que a mediação docente é fundamental para garantir a equidade, a inclusão e a proteção de dados sensíveis.

Portanto, o uso de IA na educação só é verdadeiramente eficaz quando ocorre em parceria com o professor. A tecnologia deve estar a serviço da pedagogia, e não o contrário. Integrar a IA de forma mediada significa respeitar o papel transformador do educador e preservar os princípios fundamentais de uma educação humanizadora.

 

 

  1. MELHORIA NA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

 

A análise de dados realizada por sistemas de IA permite uma avaliação mais precisa do desempenho estudantil, possibilitando intervenções pedagógicas em tempo hábil (WILLIAMSON; EYNON, 2020).

 

6.1 Boas Práticas para a Integração da IA no Planejamento Escolar

 

- Promover a formação contínua de professores;

- Selecionar ferramentas tecnológicas de forma criteriosa;

- Realizar avaliações regulares do impacto das tecnologias;

- Garantir a proteção dos dados dos alunos e respeitar os princípios éticos

 

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A integração da Inteligência Artificial à prática docente pode potencializar significativamente a qualidade do ensino. Contudo, é fundamental que o uso dessa tecnologia seja acompanhado de reflexão crítica e formação continuada
A Inteligência Artificial oferece potencial para transformar o planejamento e a execução das práticas pedagógicas. Todavia, seu uso requer abordagem crítica e comprometimento ético para que os benefícios sejam efetivamente alcançados.

 

 

REFERÊNCIAS

 

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). (2023). Brasil registrou 9,5 mil escolas sem acesso à internet em 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anatel/pt-br/assuntos/noticias/em-2022-brasil-registrou-9-5-mil-escolas-sem-acesso-a-internet

 

Brasil. (1990). Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Brasil. (2018). Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018

 

BAKER, T.; SMITH, L. Educating for the Future: The Role of AI in Schools. 2019.
CIOS, K. J.; ZAPALA, R. Ethical issues in the use of AI in education. 2020.

 

CGI.br. (2023). TIC Educação 2022: pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras. Disponível em: https://cgi.br/noticia/releases/conectividade-nas-escolas-brasileiras-aumenta-apos-a-pandemia-mas-faltam-dispositivos-para-acesso-a-internet-pelos-alunos-revela-tic-educacao-2022/

CNN Brasil. (2023). Faltam dispositivos para acesso à internet nas escolas públicas, mostra pesquisa. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/politicas-publicas-focam-em-conectividade-nas-escolas-mas-faltam-dispositivos-para-acesso-mostra-pesquisa/

 

Crawford, K., & Paglen, T. (2021). Atlas of AI: Power, Politics, and the Planetary Costs of Artificial Intelligence. Yale University Press.

 

Fundação Telefônica Vivo. (2022). Pesquisa TIC Educação: aumenta o uso de tecnologias nas escolas, mas desigualdades persistem. Disponível em: https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/pesquisa-tic-educacao-do-cetic-br-mostra-aumento-no-uso-de-tecnologias-digitais-nas-escolas-e-diferencas-entre-as-redes-publicas-e-privada/

 

HOLMES, W.; BIALIK, M.; FADEL, C. Artificial Intelligence in Education. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2019.

LUCKIN, R.; HOLMES, W.; GRIFFITHS, M.; FORCIER, L. B. Intelligence Unleashed: An Argument for AI in Education. 2016.

 

Rosa, H. (2019). Ressonância: Uma sociologia da relação com o mundo. São Paulo: Editora Unesp.

 

RUSSELL, S.; NORVIG, P. Artificial Intelligence: A Modern Approach. 3. ed. Upper Saddle River: Prentice Hall, 2010.

SELWYN, N. Should Robots Replace Teachers? AI and the Future of Education. Cambridge: Polity Press, 2019.

 

Turkle, S. (2015). Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age. New York: Penguin Press.

Twenge, J. M. (2017). iGen: Why Today’s Super-Connected Kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy. New York: Atria Books.

 

UNESCO. (2021). Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000381137
WILLIAMSON, B.; EYNON, R. Historical threads, missing links, and future directions in AI in education. Learning, Media and Technology, v. 45, n. 3, p. 223-235, 2020.

WOOLF, B. P. Building Intelligent Interactive Tutors. Burlington: Morgan Kaufmann, 2010.Referências.