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Vantagens da contação de história na Educação Infantil

Sofia Torres Alencar

 

DOI 10.5281/zenodo.15419919

 

 

RESUMO

A contação de histórias na Educação Infantil configura-se como uma prática pedagógica de grande relevância, uma vez que atua diretamente no desenvolvimento global da criança — abrangendo aspectos cognitivos, afetivos, linguísticos, sociais e culturais. Além de promover o prazer estético e a ampliação do repertório simbólico, as histórias contribuem para a formação da identidade, do senso crítico e do gosto pela leitura desde os primeiros anos escolares. Este artigo tem como objetivo analisar, à luz de referenciais teóricos, as principais vantagens da contação de histórias no contexto da Educação Infantil, destacando suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem. O estudo foi desenvolvido por meio de revisão bibliográfica, abordando autores que defendem a importância da literatura infantil como ferramenta educativa. Os resultados apontam que, quando bem conduzida, a prática de contar histórias potencializa habilidades essenciais ao desenvolvimento infantil, promovendo uma aprendizagem lúdica, significativa e humanizada.

 

Palavras-chave: Contação de histórias. Literatura infantil. Educação Infantil. Desenvolvimento global. Aprendizagem lúdica.

 

 

Introdução

 

Contar histórias é um ato ancestral que acompanha a humanidade desde os primórdios, sendo um meio eficaz de transmitir conhecimentos, valores e tradições culturais de geração em geração. Na atualidade, a prática de contação de histórias permanece viva, adaptada aos diferentes contextos sociais e educacionais, especialmente no ambiente escolar. No âmbito da Educação Infantil, essa prática ganha um sentido ampliado, pois se revela como uma importante estratégia pedagógica capaz de promover o desenvolvimento integral das crianças de forma lúdica, prazerosa e significativa.

A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento das capacidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais das crianças de zero a cinco anos. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), a literatura infantil e as práticas de oralidade devem ser valorizadas nesse processo, pois proporcionam experiências que favorecem a escuta, a imaginação, a linguagem e a interação.

Segundo Abramovich (1997), contar histórias é um ato de generosidade, um presente que se oferece à criança, estabelecendo laços afetivos e ampliando horizontes. Através das histórias, as crianças acessam universos simbólicos que lhes permitem compreender melhor o mundo, suas emoções e suas relações interpessoais. Assim, o presente artigo se propõe a refletir sobre os benefícios da contação de histórias no contexto da Educação Infantil, evidenciando sua importância para a formação de sujeitos sensíveis, críticos e criativos.

 

 

Desenvolvimento

 

A contação de histórias como prática pedagógica

 

A contação de histórias, quando inserida intencionalmente no planejamento pedagógico, deixa de ser uma simples atividade de passatempo e se transforma em potente recurso didático. Ela possibilita à criança desenvolver habilidades linguísticas, cognitivas e socioemocionais por meio da escuta, da imaginação e da interpretação simbólica. Conforme Zilberman (2003), a literatura infantil introduz a criança no universo da linguagem escrita de maneira envolvente e afetuosa, criando pontes entre o mundo real e o imaginário.

É na interação com as histórias que a criança é provocada a pensar, refletir e estabelecer relações com sua realidade. De acordo com Vygotsky (1989), o desenvolvimento infantil ocorre por meio da mediação de instrumentos culturais, entre os quais a linguagem ocupa papel central. A contação de histórias, ao utilizar narrativas cheias de significado, símbolos e metáforas, atua como mediadora essencial no processo de construção do conhecimento.

Além disso, a prática de ouvir histórias fortalece a atenção, a escuta ativa, a memória auditiva e a capacidade de concentração — habilidades fundamentais para o processo de alfabetização e letramento. Quando associada a elementos visuais, como livros ilustrados, fantoches ou dramatizações, a contação torna-se ainda mais atrativa e eficaz, despertando o interesse das crianças e promovendo um aprendizado sensorial e integrado.

 

Desenvolvimento emocional e social por meio das histórias

 

Outro aspecto relevante da contação de histórias é sua capacidade de promover o desenvolvimento emocional das crianças. Os contos, fábulas e lendas, ao abordarem situações de medo, perda, superação e coragem, oferecem às crianças formas simbólicas de lidar com suas emoções e conflitos internos. Bettelheim (2002) destaca que os contos de fadas cumprem essa função ao proporcionar às crianças um espaço seguro para enfrentar dilemas humanos universais de forma simbólica.

Através da identificação com os personagens e das tramas envolventes, a criança experimenta sentimentos como empatia, compaixão, alegria e tristeza, desenvolvendo sua sensibilidade e maturidade emocional. Além disso, o momento da contação de histórias, quando realizado em grupo, contribui para a socialização, o respeito à vez do outro, a escuta coletiva e o diálogo — aspectos fundamentais para a convivência em sociedade.

O ambiente criado pela contação de histórias favorece ainda a construção de vínculos entre educadores e alunos, fortalecendo a relação afetiva e de confiança necessária ao processo de aprendizagem. Conforme Khalil (2018), o afeto é uma das bases do ensino-aprendizagem na infância, e a contação de histórias é uma prática que humaniza e aproxima.

 

Promoção do letramento literário e estímulo à imaginação

 

A literatura infantil, quando introduzida precocemente na vida da criança, desperta o gosto pela leitura, amplia o repertório linguístico e favorece o letramento literário. De acordo com Cademartori (1994), o contato com diferentes gêneros textuais desde a infância possibilita que a criança compreenda a linguagem escrita como forma de expressão, comunicação e criação.

A contação de histórias também ativa processos mentais complexos, como a antecipação de enredos, a inferência, a formulação de hipóteses e a interpretação simbólica. Esses processos, além de prepararem a criança para a leitura autônoma, estimulam sua criatividade e imaginação. Quando convidada a recontar uma história ou a criar novas versões, a criança desenvolve a linguagem oral, a expressão corporal e a autoria.

Vale ressaltar que o ato de ouvir histórias é, em si, uma experiência estética e cultural. Ele contribui para a formação do sujeito leitor e cidadão crítico, capaz de apreciar, interpretar e transformar o mundo à sua volta.

 

 

Considerações Finais

 

A contação de histórias na Educação Infantil não é apenas uma atividade lúdica, mas uma prática rica em possibilidades pedagógicas e formativas. Ela favorece o desenvolvimento integral da criança, promovendo avanços significativos na linguagem, no pensamento simbólico, nas relações interpessoais e na construção da identidade.

Para além do aspecto técnico, contar histórias é um ato de afeto, presença e escuta, que fortalece os vínculos entre crianças e educadores e valoriza a infância como tempo de encantamento e descobertas. Por isso, é fundamental que os profissionais da educação reconheçam o potencial dessa prática e a utilizem com intencionalidade pedagógica, sensibilidade e criatividade.

A escola, enquanto espaço de formação humana, deve assegurar momentos sistemáticos de contato com a literatura infantil, reconhecendo a narrativa como direito cultural e instrumento de humanização. Investir na formação de educadores-leitores e na ampliação do acervo literário nas instituições de ensino é investir na qualidade da educação e no futuro das crianças.

 

 

Referências

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

 

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

 

CADEMARTORI, Ligia. Literatura infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Ática, 1994.

 

KHALIL, Rejane. Educação Infantil: afetividade, brincadeira e aprendizagem. Curitiba: Appris, 2018.

 

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

 

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.