Principais desafios na alfabetização: alunos com TEA em sala de aula e na Educação Inclusiva e Sindrome de Dawn
Fernanda de Oliveira Costa Ferareze
Keila Mara da Costa e Silva
RESUMO
Nas últimas décadas, a presença de estudantes especiais com Espectro Autista (TEA) e Síndrome de Down em salas de aula comuns tem aumentado, impulsionada por políticas inclusivas e pela valorização da diversidade nas escolas. Contudo, alfabetizar esses alunos ainda é um desafio, já que suas necessidades cognitivas, comportamentais e de comunicação exigem práticas pedagógicas adaptadas. Este artigo analisa as principais dificuldades enfrentadas pelos professores nesse processo e propõe métodos didáticos que promovam uma aprendizagem efetiva, respeitando o tempo e as particularidades de cada estudante. A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Síndrome de Down em salas de aula regulares tem se intensificado nas últimas décadas, impulsionada por políticas públicas e pela valorização da diversidade no ambiente escolar. No entanto, o processo de alfabetização desses estudantes ainda representa um grande desafio para educadores, devido às especificidades cognitivas, comportamentais e comunicacionais que demandam intervenções pedagógicas diferenciadas. Este artigo tem como objetivo discutir os principais obstáculos enfrentados por professores no processo de alfabetização de alunos com TEA e Síndrome de Down em contextos inclusivos, bem como apresentar estratégias didáticas que favoreçam uma aprendizagem significativa, respeitando o ritmo e as necessidades de cada estudante.
Palavras-chave: Alfabetização; Inclusão escolar; Transtorno do Espectro Autista; Síndrome de Down; Educação Especial.
Introdução
A inclusão escolar é um princípio garantido por legislações nacionais e internacionais, como a Constituição Federal de 1988, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006). Esses marcos legais asseguram o direito de todos os alunos à educação de qualidade, em ambientes que respeitem suas singularidades e promovam o desenvolvimento pleno. Nesse cenário, destaca-se a crescente presença de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas salas de aula regulares, o que demanda da escola e dos educadores um olhar sensível, atento e preparado para lidar com a diversidade.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação social e se caracteriza por padrões comportamentais repetitivos e interesses restritos. Essas características interferem diretamente na vivência escolar e, sobretudo, no processo de alfabetização — etapa essencial para o desenvolvimento da autonomia e da participação social. Alfabetizar um aluno com TEA vai além do domínio de conteúdos pedagógicos: exige práticas flexíveis, personalizadas e mediadas por estratégias que respeitem as necessidades cognitivas, emocionais e sensoriais do estudante.
Entretanto, observa-se que muitos professores ainda não dispõem do suporte necessário nem da formação adequada para atuar de forma eficaz em contextos inclusivos. A escassez de recursos pedagógicos, o tempo reduzido para planejamento individualizado e a sobrecarga de responsabilidades são fatores que dificultam a implementação de práticas verdadeiramente inclusivas e humanizadas.Diante dessa realidade, este trabalho tem como objetivo refletir sobre os principais desafios enfrentados no processo de alfabetização de alunos com TEA em turmas regulares, bem como propor estratégias que contribuam para uma prática pedagógica equitativa e significativa.
A metodológia adotada baseia-se em pesquisa bibliográfica e documental, com foco em estudos acadêmicos, legislações e experiências pedagógicas exitosas, visando embasar teoricamente as reflexões e propostas apresentadas. O desenvolvimento do trabalho abordará o panorama da inclusão escolar, as especificidades do TEA no contexto educacional, os obstáculos enfrentados pelos docentes e, por fim, sugestões de práticas pedagógicas acessíveis e eficazes no processo de alfabetização desses alunos.Com isso, pretende-se contribuir para o fortalecimento de uma educação inclusiva que valorize a singularidade de cada aluno e garanta o seu direito de aprender, crescer e se expressar em um ambiente escolar acolhedor, participativo e transformador.
Desenvolvimento
O Desafios na Alfabetização de Alunos com TEA em Salas de Educação Inclusivas
A alfabetização de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em ambientes inclusivos envolve uma série de desafios que exigem do educador conhecimento especializado, sensibilidade pedagógica e o uso de metodologias diferenciadas.Entre os principais entraves estão as dificuldades na comunicação social, a rigidez comportamental, as limitações cognitivas específicas e a carência de formação continuada dos professores.
Segundo Bosa (2002), indivíduos com TEA apresentam dificuldades em estabelecer interações sociais recíprocas, fator que interfere significativamente em práticas escolares que dependem do diálogo, da troca entre pares e da compreensão de instruções verbais.
Essas dificuldades comprometem não apenas a aprendizagem formal, mas também o engajamento do aluno nas rotinas escolares e nas dinâmicas de grupo, tão presentes no processo de alfabetização.Outro desafio recorrente é a rigidez de interesses e comportamentos repetitivos, que dificultam a adaptação a metodologias convencionais.
De acordo com Schwartzman (2011), o ensino de alunos com TEA precisa ser estruturado e previsível, com rotinas bem definidas e o uso de recursos visuais que favoreçam a compreensão e a organização do pensamento.
O uso de estratégias como o ensino estruturado, o método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children) e a comunicação alternativa são apontados como eficazes na promoção da aprendizagem desses estudantes (Mesibov & Shea, 2010).
Além das características inerentes ao transtorno, há também obstáculos no próprio ambiente escolar. A formação inicial dos professores, em muitos casos, não contempla os conhecimentos específicos sobre o TEA, o que compromete a qualidade da prática pedagógica. Conforme aponta Mantoan (2006), a inclusão efetiva depende não apenas da presença física do aluno na escola regular, mas da construção de um currículo acessível e de uma cultura escolar acolhedora e participativa.
A escassez de recursos pedagógicos adaptados, a ausência de profissionais de apoio e a falta de tempo para o planejamento individualizado são fatores que também interferem no processo de alfabetização. Muitas vezes, o professor encontra-se sobrecarregado, atuando com turmas numerosas e diversas, o que dificulta a aplicação de estratégias individualizadas que atendam às especificidades do aluno com TEA.
Diante desses desafios, torna-se imprescindível a implementação de políticas públicas que invistam na formação continuada dos docentes, no fortalecimento do atendimento educacional especializado (AEE) e na criação de ambientes pedagógicos acessíveis, colaborativos e afetivamente seguros. O sucesso da alfabetização de alunos com TEA está diretamente relacionado à capacidade da escola em acolher, adaptar e inovar suas práticas.
Desafios da Alfabetização de Alunos com TEA
Comunicação e Linguagem
Muitos alunos com TEA apresentam atrasos ou dificuldades significativas na linguagem receptiva e expressiva. Isso compromete a compreensão de comandos, a interpretação de textos e a produção escrita. Além disso, alguns estudantes podem ser não verbais, o que exige o uso de formas alternativas de comunicação.
Interação Social
As dificuldades de interação social impactam a aprendizagem colaborativa, dificultando a participação em atividades em grupo, rodas de leitura e dinâmicas coletivas comuns no processo de alfabetização.
Processamento Sensorial
Estudantes com TEA podem apresentar hipersensibilidade a sons, luzes, cheiros ou texturas, o que pode causar desconforto ou distração em sala de aula. Ambientes muito estimulantes podem prejudicar o foco e a atenção do aluno.
Rigidez Cognitiva e Resistência à Mudança
Crianças com TEA frequentemente apresentam padrões rígidos de pensamento e comportamentos. Mudanças na rotina escolar ou na metodologia de ensino podem gerar estresse e dificultar a adaptação às atividades propostas.
Falta de Formação Específicas dos Professores
Muitos professores da educação básica não possuem formação específica para trabalhar com alunos com TEA, o que dificulta a identificação das necessidades e a criação de estratégias adequadas para o processo de alfabetização
Estratégias Pedagógicas para Superar os Desafio, Adaptação Curricular e Metodológica É essencial adaptar os conteúdos e métodos de ensino conforme as necessidades do aluno com TEA.
Textos com apoio visual, jogos educativos, atividades com foco em interesses específicos e material multissensorial são recursos eficazes.
Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA)
Sistemas como PECS (Picture Exchange Communication System) e o uso de aplicativos digitais auxiliam alunos com limitações verbais a se expressarem, promovendo a participação ativa no processo de aprendizagem.
Rotinas Estruturadas
uso de agendas visuais e a manutenção de uma rotina previsível reduzem a ansiedade e aumentam o senso de segurança do aluno com TEA, favorecendo sua concentração nas atividades de alfabetização.
Plano de Ensino Individualizado (PEI)
A elaboração de um PEI com objetivos claros, metas adaptadas e acompanhamento contínuo é fundamental para garantir o desenvolvimento do aluno com TEA.
Trabalho Colaborativo
A atuação conjunta de professores, equipe de apoio, terapeutas e família é crucial. O diálogo constante favorece a compreensão das necessidades do aluno e possibilita intervenções mais eficazes.
Estratégias e Práticas Pedagógicas Inclusivas
Para garantir a alfabetização de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em ambientes inclusivos, é fundamental a adoção de práticas pedagógicas que articulem intencionalidade didática, conhecimento sobre o transtorno e respeito às particularidades de cada aluno.
Essas estratrategias devem ser fundamentadas em metodologias ativas, adaptativas e centradas no sujeito, promovendo a participação, o engajamento e a aprendizagem significativa.
Uma das abordagens mais reconhecidas no contexto do ensino a alunos com TEA é o ensino estruturado, cujos princípios são oriundos do programa TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children), desenvolvido na Universidade da Carolina do Norte.
De acordo com Mesibov e Shea (2010), essa metodologia organiza o ambiente de aprendizagem de forma clara, previsível e visualmente acessível, favorecendo a compreensão das atividades e a autonomia dos estudantes. Rotinas visuais, agendas pictográficas e instruções passo a passo são ferramentas essenciais nesse modelo.
Outra estratégia amplamente eficaz é o uso de materiais visuais e multissensoriais no processo de alfabetização. Alunos com TEA tendem a ter um estilo de aprendizagem mais visual do que verbal (Grandin, 2006), e o uso de figuras, símbolos, letras em relevo, aplicativos educativos e jogos pedagógicos pode facilitar a associação entre fonema e grafema, bem como o desenvolvimento da consciência fonológica.
A diferenciação pedagógica, conforme propõe Tomlinson (2001), também se mostra essencial nesse contexto. Isso implica planejar atividades que considerem diferentes níveis de complexidade, interesses e formas de expressão, permitindo que o aluno com TEA acesse o conteúdo por caminhos compatíveis com seu perfil cognitivo.
A utilização de recursos como histórias sociais, comunicação alternativa e aumentativa (CAA), tecnologia assistiva e sistemas de recompensa pode potencializar os processos de ensino e aprendizagem.
O trabalho colaborativo entre professores do ensino comum, profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e demais membros da equipe escolar é outro componente-chave.
Segundo Mantoan (2006), a construção de uma escola verdadeiramente inclusiva depende da articulação entre diferentes saberes e do comprometimento coletivo com o desenvolvimento de todos os alunos.
Esse trabalho em rede deve incluir também a família, que desempenha papel fundamental na construção de vínculos afetivos e na continuidade das estratégias pedagógicas no ambiente doméstico.
Por fim, é indispensável que o professor realize uma avaliação contínua e formativa, que vá além da mensuração do desempenho acadêmico. Avaliar o aluno com TEA requer sensibilidade para reconhecer avanços que, muitas vezes, são sutis, mas significativos no percurso individual da aprendizagem.
Observar o progresso nas interações sociais, na autonomia para realizar tarefas, no interesse por livros ou letras, por exemplo, são indicadores valiosos no processo de alfabetização.
Assim, investir em práticas pedagógicas inclusivas exige planejamento, formação, criatividade e compromisso ético. O sucesso na alfabetização de alunos com TEA depende da capacidade da escola de flexibilizar suas metodologias e de colocar o aluno no centro do processo educativo, respeitando suas singularidades e valorizando suas conquistas.
Considerações finais
A alfabetização de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em salas de aula inclusivas configura-se como um processo desafiador, mas profundamente necessário e viável. A efetivação desse processo demanda o reconhecimento de que a diversidade é uma característica intrínseca ao ambiente escolar e que, portanto, a prática pedagógica deve estar comprometida com a equidade, o respeito às singularidades e o direito à aprendizagem de todos os estudantes.
Para que a inclusão seja mais do que uma diretriz normativa e se concretize como uma realidade cotidiana, é imprescindível que os profissionais da educação estejam devidamente preparados para compreender e acolher as especificidades do TEA. Isso implica a adoção de estratégias pedagógicas individualizadas, que se fundamentem nas potencialidades dos alunos e considerem suas necessidades cognitivas, emocionais, comunicacionais e sensoriais.
Como ressaltam Smith e Strick (2010), práticas bem-sucedidas de alfabetização com alunos autistas envolvem adaptações curriculares, uso de materiais visuais, rotinas estruturadas e a mediação constante do professor, que atua como facilitador da aprendizagem.Além disso, o compromisso da escola com a formação continuada de seus profissionais é fundamental.
A capacitação docente para o atendimento à diversidade deve fazer parte de um projeto institucional permanente, que articule teoria e prática e promova o desenvolvimento de uma cultura escolar inclusiva. Essa formação deve contemplar não apenas aspectos técnicos, mas também éticos, afetivos e políticos da inclusão, como propõe Mantoan (2006), ao destacar que a inclusão não se limita a integrar o aluno com deficiência ao espaço físico da escola, mas exige uma profunda transformação nas concepções pedagógicas e nos modos de organização do ensino.
Outro fator relevante para o sucesso da alfabetização de alunos com TEA é a atuação colaborativa entre professores, equipe gestora, profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE), famílias e demais especialistas envolvidos no processo educativo. Essa articulação é essencial para garantir intervenções coerentes, contínuas e ajustadas às necessidades do estudante, favorecendo a construção da autonomia, da autoestima e da participação social.
Portanto, promover a alfabetização de estudantes com TEA em salas regulares é não apenas um direito garantido por lei, mas uma oportunidade de avanço pedagógico, social e humano. Investir em práticas educacionais inclusivas é investir em uma escola democrática, justa e capaz de transformar realidades por meio do acesso igualitário ao conhecimento.
Referências
SILVA, Maria Aparecida. Principais desafios na alfabetização de alunos com TEA em sala inclusiva e Síndrome de Down. São Paulo: Universidade Paulista, 2025.
MENDES, Enicéia Gonçalves.Educação Inclusiva: construindo sistemas educacionais inclusivos. São Carlos: Edufscar, 2006.
SCHWARTZMAN, José Salomão.
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