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A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS DE FADAS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

Renata Ferreira da Silva

Vanessa Ferreira Bezerra

Silvana Ferreira de Oliveira

 

RESUMO

 

 

O artigo tem como tema a contribuição dos contos de fadas no processo de aprendizagem das crianças, abordou de forma ampla a importância que a contação de história demonstra na dimensão pedagógica e em que aspectos pode favorecer o desenvolvimento infantil. Apresenta uma abordagem qualitativa, que favorece a reflexão, a análise e interação acerca das teorias e hipóteses levantadas. O questionamento que motivou a escolha desse tema foi: como o professor pode fazer a contação de história em sala de aula contribuindo significativamente para o desenvolvimento da criança. A partir da revisão literária, foi possível perceber que, embora a contação de história apresente-se como um rico meio para o desenvolvimento das habilidades da criança, os professores, geralmente, não tem consciência do seu valor como suporte no processo de ensino-aprendizagem.

 

Palavras-chave: Contos de fadas, contação de histórias, educação e aprendizagem infantil.

 

 

INTRODUÇÃO


Através dos contos de fadas, podemos aprender mais sobre os problemas enfrentados pela sociedade e refletir sobre esses temas. Podemos também, com os contos de fadas, trabalhar esses problemas e suas soluções com as crianças, dentro do contexto histórico infantil. Os contos têm ainda o papel de transmitir às crianças a essência das lutas enfrentadas contra a afrontosa desigualdade e o preconceito presentes em nossa sociedade.

Os contos favorecem o desenvolvimento da personalidade da criança, contribuindo para a descoberta de sua identidade e comunicação. Os contos de fada têm encantado milhares de crianças pelo mundo e pelo tempo afora. Não se pode negar o encanto que exercem sobre crianças e adultos, por isso é preciso aproveitar os contos para além do entretenimento.

A maneira como os contos de fada influenciam o aprendizado da criança abrange questões levantadas e a sua solução se baseará em compreender, por um lado, os processos de formação do conto de fadas e, por outro, o desenvolvimento da criança, na busca pela interface entre estas duas dimensões. Ainda hoje, com tantos avanços tecnológicos, brinquedos de última tecnologia, cinemas e filmes de ação rápidos e velozes há espaço para a fantasia dos contos. Esses continuam encantando geração após geração, perpassando diversas culturas. Ainda que, algumas vezes, admitindo diversas formas nestes meios de comunicação, a sua essência permanece a mesma.

Voltando o olhar para a escola, o intuito é esclarecer como o processo de ensino aprendizagem pode se beneficiar deste recurso, pois este é um dos espaços em que a criança passa mais tempo atualmente. Algumas vezes, cabe à escola a formação do indivíduo em aspectos que antes eram relegados à educação informal, nos diálogos com a família.

Os contos de fada, enquanto símbolos representam um farto material de compreensão da dimensão psicológica humana, através dos mitos que revelam aspectos internos e de visão de mundo e de homem (Carvalho, 1989). Desta forma, dentro do contexto escolar, os contos de fada merecem uma especial atenção já que .falam. da criança e de suas relações com o mundo.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

2.1 Origem dos Contos de Fadas

 

Para que seja possível uma maior compreensão sobre os contos de fadas é muito importante que se faça uma análise sobre a sua origem. No livro “Os sete contos de fadas” a autora Kupstas (1993) afirma que os contos de fadas são narrativas muito antigas e que, logo no começo, não se destinavam às crianças, eram mitos difundidos por inúmeros povos, como os Hindus, os persas, os gregos e os judeus. Essas primeiras histórias eram conhecidas como mitos e eram, na verdade, expressões narrativas de conflitos entre o homem e a natureza.

Segundo Coelho (2005), o mito perde-se nos princípios dos tempos e são narrativas que nos falam de deuses, duendes e heróis fabulosos ou de situações em que o sobrenatural domina. Na verdade, os mitos estão sempre ligados a fenômenos inaugurais como: a criação do mundo e do homem, a explicação mágica das forças da natureza etc.

Portanto, a autora mostra que desde os primórdios da humanidade, o homem deve ter nascido com certa consciência de que, para além dele e do mundo que o rodeava, deveriam existir forças misteriosas e invisíveis que tinham poder sobre todos os fenômenos.

Ainda de acordo com Coelho (2005), essa necessidade de contar histórias surgiu quando o homem primitivo sentiu a precisão de obter explicações racionais para o mundo. Sendo assim, ele começou a buscar no mito e nas narrativas fantásticas a compreensão de algumas coisas, por exemplo: eles pensavam que os relâmpagos eram armas dos deuses, as águas seriam controladas por sereias ou determinadas árvores ou plantas teriam surgido de algum ato mágico entre outros vários mitos criados pelo homem primitivo.

Assim, podemos perceber que os contos de fadas nada mais eram do que relatos de fatos da vida de pessoas simples, recheadas de conflitos, aventuras e muitas vezes não eram indicados a serem contados para as crianças. Esses relatos apenas serviam como entretenimento e só muitos anos mais tarde com a descoberta das fadas, que eram idealização de uma mulher perfeita, linda e poderosa, a qual era dotada com poderes sobrenaturais, assim as sociedade mais antigas sentiram a necessidade a de utilizar essas histórias alienadas também à educação, já que as crianças gostavam muito desses contos e a fantasia inserida neles, estava ajudando a formar a personalidade dessas pequenas pessoas.

Os contos de fadas existem a milhares de anos e é importante para a formação e a aprendizagem das crianças. Escutar histórias contribui de forma significativa para o início da aprendizagem e para que o indivíduo seja um bom ouvinte e um bom leitor, mostrando um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão do mundo. Assim, Coelho (2003), afirma que os contos abrem espaços para que as crianças deixem fluir o imaginário e despertem a curiosidade, que logo é respondida no decorrer dos contos.

Ao longo da sua história, o homem vem sendo seduzido pelas narrativas que, de maneira simbólica ou realista, direta ou indiretamente, relatam a vida a ser vivida ou a própria condição humana, seja relacionada aos deuses, seja limitada aos próprios homens. Portanto é possível perceber que desde os primórdios os contos de fadas encantam e reencantam. Coelho dá uma importante contribuição no que se refere ao valor dos contos ao longo dos séculos:

Os contos de fadas fazem parte desses livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas as idades. (COELHO, 2005, p. 21).

De acordo com Kupstas, os contos de fadas são de origem celta e surgiram como poemas que revelavam amores estranhos, fatais e eternos. Por volta do século II a.c até o século I da era cristã, o povo celta acrescentou, a tantas histórias bem antigas, a presença forte das fadas, que seriam mulheres iluminadas capazes de prever o futuro de outra pessoa, normalmente alguém especial a quem elas protegiam. Assim, a imaginação popular dotou-as de asas, varas de condão e diminuiu o seu tamanho, mas sempre as vendo como belas e bondosas. Os contos de fadas constituíram durante toda a Idade Média e Moderna para a literatura popular das populações européias em geral. A partir do século XVII, essas narrativas foram sendo reunidas e recontadas por escritores, como Perault, La Rontaine e os irmãos Grimm, que lhes deram um estilo mais elegante e as traduziram da tradição popular para como as conhecemos hoje.

 

2.2 OS contos de Fadas na formação da criança

 

Diante de tantos aspectos referentes à contribuição da contação de historias vistos no capítulo anterior é possível identificar vários aspectos relevantes que são abordados através dos contos de fadas e é possível observar que tem muitas funções como proporcionar um momento lúdico, movido de imaginação, apresentar a importância da contação de histórias como uma manifestação cultural.

Coelho (2005), afirma que através dos contos de fadas é possível despertar nas crianças o prazer em ouvi-las, e isso é importante para a formação de qualquer criança, pois estimula a criatividade, a imaginação, a brincadeira, a leitura, a escrita, a musica, o querer ouvir novamente, desenvolvendo dessa forma a oralidade nas crianças dessa faixa etária, considero ser este um importante e significativo veículo de comunicação entre elas.

Todos esses aspectos que contribuem para a formação do individuo são possíveis através da literatura e Coelho (2003), em seu livro o conto de fadas afirma que a literatura é sem duvida, uma das expressões mais significativas dessa ânsia permanente de saber e de domínio sobre a vida que caracteriza o homem de todas as épocas. Na verdade a autora também deixa claro em seu livro que literatura é arte e, como tal, as relações de aprendizagem e vivencia que se estabelecem. Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 163), “As vivências sociais, as histórias, os modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado”.

Através das histórias o contador pode despertar a imaginação dos ouvintes, transportando-os ao mundo da fantasia que está sendo criado ao seu redor. O fato de a criança gostar de ouvir histórias é muito importante porque ela constrói dentro de si muitas idéias através de descobertas, de outros lugares, outras épocas, outros modos de agir, além de ter a curiosidade respondida podendo esclarecer melhor suas próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas. É o começo para ser um leitor e para ser criativo nas suas produções orais, escritas etc. Percebe-se claramente que o trabalho com a Literatura Infantil pode ser muito rico e gratificante em todas as séries pois possibilita a interação do adulto com a criança e a interação entre as crianças no momento da contação de história.

Na verdade os contos de fadas, as fábulas, os mitos e outros, deixaram de ser vistos como fantasias, para serem pressentidos como portas que se abrem para verdades humanas ocultas.

É por meio dessa perspectiva que os contos de fadas, as lendas e os mitos etc. também deixaram de ser vistos como “entretenimento infantil” e vêm sendo redescobertos como autênticas fontes de conhecimento do homem e de seu lugar no mundo. (COELHO, 2005, p.17).

Bettelheim (2002), afirma que a vida intelectual de uma criança, através da história, dependeu de mitos, religiões, contos de fadas, alimentando a imaginação e estimulando a fantasia, como um importante agente socializador. A partir dos conteúdos dos mitos, lendas e fábulas, as crianças formam os conceitos de origens e desígnios do mundo e de seus padrões sociais.

Os contos de fadas, apesar de apresentarem fatos do cotidiano às vezes de forma bem realista, não se referem claramente ao mundo exterior, e seu conteúdo poucas vezes se assemelha com a vida de seus ouvintes. Sua natureza realista fala aos processos interiores do indivíduo (BETTELHEIM, 2002, p. 18)

Os contos de fadas falam de abandonos, de esquecimentos, de quem um dia foi significativo, marcante, falam também de crescimento, de buscas. De acordo com Fanny Abramovich, (2001) Perralt relata a tão bela e tão cheia de significados história da Bela Adormecida, a autora afirma que esse belo conto de fadas mexe com conteúdos emocionais, sexuais, sociais, que fala de apetites e de impedimentos vitais, que podem apenas ser retardados, adiados, mas que um dia são acordados e querem ser saciados.

Os contos de fadas não falam só de amor mais de muitas situações que vivemos na realidade e isso incentiva uma reflexão sobre os desafios que temos que enfrentar no dia a dia. Por isso é muito importante que as crianças saibam que os contos de fadas falam do lúdico,do mágico, mais também tratam de coisas reais.

Outro aspecto bastante relevante no processo de desenvolvimento das habilidades da criança é a relação social que ela mantém fora da escola, principalmente em casa, onde os pais devem criar o habito de contar historia de fazer com que a criança se interesse linguagem orla e escrita, tornando esse momento prazeroso e não algo obrigatório. Sendo assim BETTELHEIM, traz algumas considerações sobre a importância dos pais no processo de aprendizagem.

É exatamente tão importante para o bem-estar da criança sentir que seus pais compartilham suas emoções, divertindo-se com o mesmo conto de fadas, quanto seu sentimento de que seus pensamentos interiores não são conhecidos por eles até que ela decida revelá-los. Se o pai indica que já os conhece, a criança fica impedida de fazer o presente mais precioso a seu pai, o de compartilhar com ele o que até então era secreto e privado para ela (BETTELHEIM, 2002, p. 26 - 27).

A presença dos pais nesse processo de desenvolvimento da aprendizagem se faz necessária para que a criança possa adquirir mais confiança e assim desenvolver de uma forma mais harmoniosa suas habilidades. São através de atitudes simples que os pais podem proporcionar momentos de lazer e de desenvolvimento, assim as crianças, aprendem desde cedo a se sobressair na escola e na vida.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

No estudo monográfico houve grandes expectativas em relação ao tema escolhido e foi possível perceber que falar sobre a literatura infantil, principalmente dos contos de fadas, exige responsabilidade, leitura e muito compromisso. Esse trabalho foi construído com uma abordagem de referencial teórico, e procurou destacar as principais fontes sobre a origem, o desenvolvimento e a contribuição dos contos de fadas para a formação da criança ao longo dos séculos.

Buscou-se explicar de maneira breve, a contextualização histórica, dos contos de fadas onde e como surgiram, quais os principais autores e inicialmente a quem se destinavam. E foi possível compreender que os contos não nasceram voltados para as crianças e sim ao longo dos séculos tornara-se literatura voltada para a criança.

A pesquisa permitiu compreender que contar histórias não é apenas abrir um livro e ler um monte de palavras ou mostrar várias figuras as crianças e sim despertar sua curiosidade, estimular sua imaginação, desenvolver seu intelecto e suas habilidades, porque enquanto diverte a criança, o conto de fadas favorece o desenvolvimento de sua personalidade.

Foi possível entender que nas histórias o encantamento não vem do significado psicológico de um conto, ou seja, uma moral subentendida, mas de suas qualidades literárias, pois o próprio conto em si pode ser considerado uma obra de arte que pode ter um significado distinto em cada criança.

Outro aspecto bastante relevante identificado no decorrer da pesquisa é que as crianças se encantam pelos contos de fadas porque eles lhes dirigem para a descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais a formação do caráter.

Com base em todas as discussões realizadas no contexto teórico deste trabalho, tornou-se claro que os contos de fadas contribuem significativamente para o desenvolvimento das crianças, considerando o aspecto cognitivo e da construção da personalidade. Sendo assim, é possível retornar ao questionamento que guiou esta pesquisa: como o professor pode fazer a contação de história em sala de aula de uma forma lúdica, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da criança. Como a introdução ao tema, buscou-se explanar de maneira breve, sua contextualização histórica, ou seja, onde e como surgiram, seus principais escritores.

foi possível compreender que o trabalhar com a fantasia dos contos de fadas, é algo de fundamental importância no processo do desenvolvimento da aprendizagem das crianças, porque favorece a socialização e o desenvolvimento das habilidades. Os contos proporcionam a oportunidade de a criança utilizar seu inconsciente, condição básica para se conhecer o significado profundo da vida.

Portanto conclui-se que a força criadora e a sabedoria profunda presentes nos contos de fadas e seu conteúdo rico, ajudam as crianças a encontrarem o caminho para a realização pessoal e social.

 

REFERÊNCIAS

 

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil Gostosuras e Bobiches. 2º edição. São Paulo, Scipione,2001.

 

BETTELEIM, Bruno e ZELAN Karen. A Psicanálise da Alfabetização. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2002.

 

 

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF, 1998.

 

 

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil Teoria Analise Didática. 7º edição. São Paulo. Moderna, 2005.

 

 

KUPSTAS Márcia. et ali. Sete faces do conto de fadas. São Paulo. Moderna, 2003. (Coleção Veredas)