O diagnóstico tardio do Autismo e seus impactos: desafios e implicações no desenvolvimento e no tratamento
Tamara Silva
RESUMO
O diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode acarretar uma série de desafios significativos no desenvolvimento de indivíduos afetados. Este artigo aborda os impactos do diagnóstico tardio, explorando as implicações sociais, emocionais, educacionais e de saúde, além de discutir as barreiras para o diagnóstico precoce e as estratégias para mitigação desses efeitos. A revisão bibliográfica sugere que a identificação tardia do TEA prejudica o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e comunicativas, limitando as oportunidades de intervenção precoce, fundamental para otimizar a qualidade de vida dos indivíduos com TEA.
Palavras-chave: Autismo. Diagnóstico tardio. Intervenção precoce. Impactos sociais e educacionais. Desenvolvimento infantil.
Introdução
Esse artigo fornece uma visão geral sobre os desafios do diagnóstico tardio do autismo e suas implicações. A inclusão de informações atualizadas sobre o impacto social, educacional e psicológico reflete a importância da intervenção precoce e da conscientização.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neuropsiquiátrica caracterizada por dificuldades no desenvolvimento da comunicação social e comportamentos repetitivos ou restritos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência do TEA tem aumentado globalmente, levando a uma maior conscientização sobre a necessidade de diagnóstico precoce. No entanto, o diagnóstico tardio ainda é uma realidade em muitos casos, o que pode resultar em uma série de impactos negativos no desenvolvimento e no bem-estar dos indivíduos afetados.
Este artigo visa explorar os impactos do diagnóstico tardio do TEA, enfatizando os desafios que surgem ao longo da vida de uma pessoa com autismo e as estratégias para minimizar esses efeitos.
Diagnóstico do Autismo: a importância da identificação precoce
De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma em cada 160 crianças tem transtorno de espectro autista. Atinge 70 milhões de pessoas no mundo, ou seja, 1 % da população vive com autismo (CAMELO et al.,2022).
O diagnóstico precoce do TEA é crucial podendo minimizar os prejuízos, pois permite a implementação de intervenções que favorecem o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Estudos demonstram que as intervenções realizadas antes dos 3 anos de idade podem melhorar significativamente o prognóstico dos indivíduos com TEA, proporcionando uma melhor adaptação ao ambiente social e educacional.
Contudo, o diagnóstico tardio, que ocorre frequentemente após os 4 ou 5 anos de idade, pode resultar em atrasos significativos no início das terapias, comprometendo as oportunidades de aprendizagem e socialização. Além disso, as dificuldades comportamentais e de comunicação tendem a se acentuar, dificultando a adaptação do indivíduo aos ambientes escolar e social.
Barreiras para o diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce do TEA enfrenta diversas barreiras, tanto em nível clínico quanto familiar e social.
Siklos e Kerns (2007) identificam quatro fatores que podem influenciar no atraso na realização do diagnóstico precoce: 1) a variabilidade na expressão dos sintomas do TEA; 2) as limitações da própria avaliação de pré-escolares, uma vez que essa população demanda instrumentos específicos e sensíveis aos comportamentos sociais mais sutis e próprios dessa faixa etária; 3) a falta de profissionais treinados/habilitados para reconhecer as manifestações precoces do transtorno; e 4) a escassez de serviços especializados.
Muitas vezes o que limita o diagnóstico precoce, são os sinais que podem ser interpretados erroneamente como comportamentos típicos da infância pois tratam-se de características comportamentais do TEA, tal como constam nos manuais de classificação e de critérios diagnósticos, como a falta de contato visual ou a preferência por brincar sozinho e dentre outros sinais variados que são ignorados . Além disso, a escassez de profissionais qualificados para realizar a triagem e o diagnóstico precoce em algumas regiões contribui para o atraso na identificação.
Outro fator relevante é a falta de conscientização dos pais e cuidadores sobre os sinais do TEA. Isso pode levar a uma demora na busca por ajuda profissional, resultando em diagnósticos tardios. A sobrecarga emocional e o estigma também podem influenciar a decisão das famílias de buscar um diagnóstico, o que agrava ainda mais a situação.
Impactos do diagnóstico tardio
Impactos no desenvolvimento cognitivo e social
A desinformação pode contribuir para o diagnóstico tardio do TEA pode dificultar o desenvolvimento cognitivo e social das crianças. Sem intervenções precoces, elas podem apresentar dificuldades mais acentuadas em habilidades de linguagem, comportamento e interação social. A falta de apoio adequado pode levar ao isolamento social, dificuldades acadêmicas e baixo desempenho em atividades escolares.
Além disso, a falta de estratégias eficazes de adaptação social pode resultar em problemas emocionais, como ansiedade, depressão e dificuldades de autoestima, que tendem a se agravar à medida que a criança envelhece.
O diagnóstico tardio do autismo desencadeia maiores impactos nas condições de vida do paciente e seus familiares, haja vista que o autista se submete aos acompanhamentos, com isso para obter um tratamento de alta qualidade é necessário preservar adaptação, habilitação e reabilitação do indivíduo (GOMES et al., 2019). Bem como, a falta do diagnóstico inicial tem trazido resultados insatisfatórios ao tratamento, posto que acarreta o desempenho cognitivo, funcionamento da memória operacional e controles emocionais perante a determinadas situações (MATTOS et al., 2022).
Impactos educacionais
No contexto educacional, o diagnóstico tardio frequentemente implica em uma falha na adaptação curricular e nas estratégias pedagógicas. Muitas vezes, os professores e a equipe escolar não estão preparados para lidar com as especificidades do TEA, o que pode prejudicar o aprendizado da criança. Além disso, a falta de suporte adequado no ambiente escolar pode resultar em frustrações tanto para a criança quanto para os educadores, dificultando a integração do aluno em atividades sociais e acadêmicas.
Impactos na saúde mental
A ausência de diagnóstico precoce e de acompanhamento adequado pode aumentar o risco de problemas de saúde mental ao longo da vida. Indivíduos com TEA diagnosticados tardiamente podem ter maiores dificuldades em lidar com as pressões sociais, resultando em estresse crônico e, em casos mais graves, em transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e transtornos de comportamento disruptivo.
Impactos familiares
O impacto do diagnóstico tardio não se limita ao indivíduo com autismo. As famílias também enfrentam desafios significativos, desde a falta de informações adequadas até o estigma social associado ao autismo. Além disso, o desconhecimento sobre o transtorno pode levar a sentimento de culpa e frustração, complicando a dinâmica familiar.
Estratégias para mitigar os impactos do diagnóstico tardio
Sensibilização e capacitação
Investir em programas de sensibilização e capacitação para profissionais da saúde e educação é fundamental para reduzir os casos de diagnóstico tardio. A formação de educadores e médicos em sinais precoces de autismo pode garantir uma identificação mais rápida e eficaz.
Apoio às famílias
É necessário proporcionar apoio emocional e informativo às famílias desde o momento do diagnóstico. Orientações sobre as opções de tratamento e estratégias de apoio social podem ajudar na adaptação e promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor para o indivíduo com TEA.
Adoção de modelo de intervenção individualizada
Cada indivíduo com TEA tem um perfil único, e as intervenções devem ser adaptadas às suas necessidades específicas. Programas terapêuticos individualizados, com foco em comunicação, habilidades sociais e comportamentais, são essenciais para minimizar os impactos do diagnóstico tardio.
Conclusão
O diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista pode ter sérias consequências para o desenvolvimento e a qualidade de vida dos indivíduos afetados. Embora o diagnóstico precoce seja fundamental para um prognóstico positivo, a superação das barreiras que dificultam a identificação precoce do TEA é um desafio que exige a colaboração de profissionais de saúde, educadores e famílias. A sensibilização, a capacitação e a implementação de intervenções precoces podem reduzir significativamente os impactos negativos associados ao diagnóstico.
Referências
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