Transtorno do Deficit de atenção e Hiperatividade em crianças brasileiras de escolas públicas
Claudete Terezinha Barros Pereira
Ivete Aparecida Barros Santos
Daniela Rosa Rodrigues
Jayne Rosa Rodrigues
Karine Rosa Rodrigues
RESUMO
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica comum na infância, caracterizada por sintomas persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), estima-se que o TDAH afete entre 3% e 7% das crianças em idade escolar em todo o mundo, incluindo o Brasil. Este artigo discute o impacto do TDAH em crianças brasileiras matriculadas em escolas públicas, com foco em suas implicações educacionais e sociais.
Palavras-chave: Transtorno do Déficit de Atenção. Hiperatividade. Crianças em idade escolar. Implicações educacionais e sociais.
SUMMARY
Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is a common neuropsychiatric condition in childhood, characterized by persistent symptoms of inattention, hyperactivity and impulsivity. According to the American Psychiatric Association (APA), it is estimated that ADHD affects between 3% and 7% of school-age children worldwide, including Brazil. This article discusses the impact of ADHD on Brazilian children enrolled in public schools, focusing on its educational and social implications.
Keywords: Attention Deficit Disorder. Hyperactivity. School-aged children. Educational and social implications.
Introdução
Definição e Características do TDAH
O TDAH é diagnosticado quando os sintomas principais — desatenção, hiperatividade e impulsividade — são mais intensos e frequentes do que o normalmente observado em crianças da mesma idade. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define critérios específicos para o diagnóstico, como a presença de sintomas por pelo menos seis meses e a sua manifestação em mais de um ambiente (escola, casa, etc.).
Sintomas Comuns
Desatenção: dificuldade em prestar atenção aos detalhes, cometer erros por descuido, dificuldade em organizar tarefas, esquecer atividades diárias.
Hiperatividade: inquietação, dificuldade em permanecer sentado, movimentação excessiva em situações inadequadas.
Impulsividade: interrupções frequentes nas conversas, dificuldade em esperar a vez, comportamento impulsivo e perigoso.
Impacto do TDAH em escolas públicas
O ambiente escolar é um dos principais espaços em que os sintomas do TDAH se manifestam, e crianças que frequentam escolas públicas enfrentam desafios adicionais devido a fatores socioeconômicos e estruturais. No Brasil, as escolas públicas muitas vezes sofrem com a superlotação de salas de aula, recursos pedagógicos limitados e falta de suporte especializado, o que agrava as dificuldades de aprendizagem dessas crianças.
Desempenho Escolar
Estudos indicam que crianças com TDAH têm maiores taxas de reprovação, abandono escolar e dificuldades na aprendizagem em comparação com seus pares. A falta de um diagnóstico precoce e de intervenções adequadas contribui para o baixo desempenho escolar dessas crianças. Muitas vezes, o comportamento hiperativo e desatento é confundido com desinteresse ou falta de disciplina, levando à punição em vez de apoio.
Um estudo realizado por Rohde et al. (2005) apontou que o TDAH está presente em cerca de 5,8% das crianças brasileiras em idade escolar. Em escolas públicas, esse número pode ser ainda mais alto, uma vez que fatores como desvantagens sociais e econômicas podem aumentar o risco de problemas comportamentais.
Acesso ao Diagnóstico e Tratamento
Outro desafio significativo nas escolas públicas brasileiras é o acesso ao diagnóstico e ao tratamento do TDAH. A falta de profissionais de saúde mental especializados e de recursos nas escolas dificulta a identificação precoce do transtorno. Além disso, muitos pais não têm acesso a informações adequadas sobre o TDAH, o que atrasa a busca por tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a identificação precoce e a intervenção são essenciais para minimizar os impactos do transtorno no desenvolvimento cognitivo e social das crianças.
Muitos alunos com TDAH não recebem o acompanhamento médico necessário. A medicação estimulante, como o metilfenidato, é eficaz no manejo dos sintomas, mas há uma série de barreiras para o acesso a essa forma de tratamento, incluindo custos e estigmas culturais em torno do uso de medicamentos psicotrópicos em crianças.
Desafios no ambiente familiar e social
O ambiente familiar também desempenha um papel crucial no manejo do TDAH. Em muitos casos, pais de crianças com TDAH, principalmente aqueles em condições socioeconômicas desfavoráveis, têm dificuldade em acessar serviços de saúde mental ou em implementar intervenções comportamentais eficazes. Além disso, o estigma associado ao transtorno pode levar ao isolamento social da criança, tanto na escola quanto na comunidade.
Estigma e Exclusão
O estigma em torno do TDAH é uma questão persistente no Brasil. Muitas vezes, crianças com o transtorno são rotuladas como malcriadas ou problemáticas, e professores e colegas de classe podem não entender que seus comportamentos são parte de uma condição médica. Esse estigma pode aumentar o risco de exclusão social e bullying, o que agrava os problemas emocionais e comportamentais.
Estratégias de Intervenção
As intervenções para alunos com TDAH nas escolas públicas brasileiras devem ser múltiplas, envolvendo tanto ações dentro da sala de aula quanto suporte externo. Programas de capacitação de professores são essenciais para que eles possam identificar sinais precoces de TDAH e adaptar suas práticas pedagógicas de acordo com as necessidades desses alunos.
Capacitação dos Professores
Professores em escolas públicas geralmente não possuem treinamento adequado para lidar com alunos que têm TDAH. Capacitações que enfoquem estratégias comportamentais, como o uso de reforço positivo, organização de tarefas em pequenas etapas e a criação de rotinas claras, são importantes para ajudar na inclusão e no sucesso escolar dessas crianças.
Políticas Públicas
O governo brasileiro tem promovido algumas políticas de inclusão, como o Plano Nacional de Educação, que prevê a criação de mecanismos para atender alunos com necessidades especiais, incluindo aqueles com TDAH. No entanto, a implementação dessas políticas ainda enfrenta desafios significativos, como a escassez de recursos e a falta de monitoramento eficaz.
Conclusão
O TDAH é um transtorno que afeta significativamente o desempenho escolar e o bem-estar social de crianças, especialmente aquelas matriculadas em escolas públicas no Brasil. Para mitigar os efeitos desse transtorno, é essencial que haja um esforço conjunto entre escolas, famílias e o governo para garantir que essas crianças tenham acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado. Além disso, a conscientização sobre o transtorno, tanto entre educadores quanto na sociedade em geral, é fundamental para reduzir o estigma e promover a inclusão.
Referências
American Psychiatric Association. (2013). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Artmed.
Rohde, L. A., & Biederman, J. (2005). Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade no Brasil: uma perspectiva crítica. Revista Brasileira de Psiquiatria, 27(1), 1-2.
Organização Mundial da Saúde. (2001). Relatório sobre a saúde mental no mundo: novas perspectivas, novos desafios. WHO.
Mattos, P., Serra-Pinheiro, M. A., Rohde, L. A., & Pinto, D. (2006). A prevalência do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em crianças e adolescentes brasileiros: uma revisão crítica. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 55(2), 130-136.
Ministério da Educação (MEC). (2014). Plano Nacional de Educação 2014-2024.