Incidência do câncer de próstata em Patos de Minas: um estudo retrospectivo dos dados do SINAN entre 2015 a 2022
Marielle de Souza Coimbra[1]
Orientadora: Dra. Eva Mendes Monteiro[2]
RESUMO
O câncer de próstata é um dos tumores mais comuns em homens, constituindo um grave problema de saúde pública mundial. Esta pesquisa estudou a prevalência de câncer de próstata em Patos de Minas, Minas Gerais, no período de 2015 a 2022, com base em informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O estudo teve como objetivo respeitar padrões e características dos casos apresentados, focando em elementos como a distribuição por idade, o estágio da doença e os tratamentos aplicados. A abordagem adotada consiste em uma revisão bibliográfica sobre o câncer de próstata, seguida pela obtenção de informações do SINAN sobre ocorrências em Patos de Minas no período de 2015 a 2022. Esses dados, abrangendo variáveis como idade, fase da doença e terapias, foram validados e examinados através de métodos estatísticos para verificar padrões de ocorrência e tendências ao longo do tempo. Além disso, converte-se uma avaliação qualitativa dos registros clínicos existentes, oferecendo um entendimento mais aprofundado das práticas de tratamento locais. Os resultados demonstraram que a maior parte dos óbitos ocorreu em homens com 70 anos ou mais, com uma prevalência entre brancos (57,1%) e pardos (32,1%), proporcionando possíveis desigualdades no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento. Uma análise revelou um aumento expressivo no número de óbitos entre 2019 e 2022. Os resultados indicaram que a maioria das mortes ocorreu em indivíduos com 70 anos ou mais, com uma predominância de brancos (57,1%) e pardos (32,1%), trazendo possíveis disparidades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento precoce. A avaliação indicou um crescimento notável no número de mortes entre 2019 e 2020.
Palavras-chave: Incidência. Diagnóstico. Tratamento. Mortalidade.
ABSTRACT
Prostate cancer is one of the most common tumors in men, representing a significant global public health issue. This research studied the prevalence of prostate cancer in Patos de Minas, Minas Gerais, from 2015 to 2022, based on information from the Notification Information System (SINAN). The study aimed to respect the standards and characteristics of the reported cases, focusing on elements such as age distribution, disease stage, and treatments applied. The adopted approach consists of a literature review on prostate cancer, followed by obtaining data from SINAN on occurrences in Patos de Minas during the 2015 to 2022 period. This data, encompassing variables such as age, disease stage, and therapies, was validated and examined through statistical methods to verify patterns of occurrence and trends over time. Additionally, a qualitative assessment of the existing clinical records was conducted, providing a deeper understanding of local treatment practices. The results demonstrated that the majority of deaths occurred in men aged 70 and older, with a prevalence among whites (57.1%) and browns (32.1%), suggesting possible inequalities in access to early diagnosis and treatment. An analysis revealed a significant increase in the number of deaths between 2019 and 2022. The results indicated that most deaths occurred in individuals aged 70 and older, with a predominance of whites (57.1%) and browns (32.1%), highlighting possible disparities in access to early diagnosis and treatment. The assessment indicated a remarkable increase in the number of deaths between 2019 and 2020.
Keywords: Incidence. Diagnosis. Treatment. Mortality.
Introdução
O câncer de próstata é uma das neoplasias mais comuns entre os homens, sendo um problema significativo de saúde pública em diversas partes do mundo. Este tipo de câncer é caracterizado pelo crescimento maligno das células da próstata, uma glândula do sistema reprodutor masculino responsável pela produção de parte do fluido seminal. O aumento da incidência desta doença nas últimas décadas pode ser associado a diversos fatores, incluindo o envelhecimento da população, avanços nos métodos de diagnóstico e mudanças nos padrões de saúde e comportamento. Em muitos países, incluindo o Brasil, o câncer de próstata tornou-se uma das principais causas de morte entre os homens, destacando a importância de estratégias eficazes de rastreamento e tratamento (Carvalho; Santos; Rocha, 2022).
Patos de Minas, uma cidade localizada no estado de Minas Gerais, apresenta um cenário peculiar no que diz respeito à saúde pública e à incidência de câncer de próstata. A realidade local pode refletir tanto as tendências gerais observadas em contextos mais amplos quanto peculiaridades regionais que influenciam o diagnóstico e tratamento da doença. A análise dos dados de saúde dessa região pode fornecer insights valiosos sobre o padrão de ocorrência da doença e a eficácia das intervenções existentes. Ao compreender melhor o contexto local, é possível adaptar estratégias de saúde pública para atender de forma mais eficaz às necessidades específicas da população.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) fornece um banco de dados abrangente que permite a análise detalhada de casos de câncer de próstata em Patos de Minas. A partir desses dados, é possível observar padrões de incidência, distribuição etária, estadiamento da doença e os tratamentos realizados. A análise de tais informações é importante para entender a magnitude do problema e para melhorar as práticas de saúde pública e os serviços médicos oferecidos à população. A compreensão desses padrões locais pode contribuir para a formulação de políticas e práticas de saúde mais direcionadas e eficazes. A questão central desta pesquisa é: qual a incidência do câncer de próstata em Patos de Minas no período de 2015 a 2022 e quais são os fatores associados a essa incidência?
A relevância desta pesquisa reside na necessidade de um entendimento mais aprofundado da epidemiologia do câncer de próstata em um contexto regional específico. Identificar padrões e tendências locais pode fornecer informações importantes para o desenvolvimento de estratégias de saúde pública mais eficazes e adaptadas à realidade de Patos de Minas. Com uma análise detalhada, é possível promover intervenções mais assertivas que possam impactar positivamente o diagnóstico precoce, o tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes.
O objetivo desta pesquisa foi analisar a incidência do câncer de próstata em Patos de Minas entre 2015 e 2022, identificando padrões de ocorrência e características dos casos diagnosticados. Esta análise visa fornecer informações detalhadas sobre a doença na região, contribuindo para a formulação de políticas de saúde mais eficazes e para a melhoria das práticas de rastreamento e tratamento do câncer de próstata.
Material e Métodos
A metodologia adotada para o estudo da incidência de câncer de próstata em Patos de Minas entre 201 e 2023 foi cuidadosamente planejada e executada para garantir uma análise abrangente e precisa. O estudo foi dividido em etapas distintas que incluíram uma revisão extensiva da literatura, a coleta e análise de dados primários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), e a interpretação crítica dos resultados obtidos.
A primeira etapa do processo metodológico envolveu a revisão da literatura existente sobre o câncer de próstata. Esta revisão foi realizada para contextualizar o estudo no panorama global e nacional da doença. Foram consultados artigos científicos revisados por pares, relatórios de organizações de saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA), além de diretrizes clínicas e estudos epidemiológicos relevantes. A revisão focou em aspectos como a prevalência do câncer de próstata, fatores de risco associados, técnicas de diagnóstico e opções de tratamento. Esse levantamento permitiu uma compreensão abrangente do estado atual do conhecimento sobre o câncer de próstata e ajudou a identificar lacunas e áreas de interesse para a pesquisa local.
A segunda etapa foi a coleta e análise dos dados do SINAN. O SINAN é um banco de dados gerido pelo Ministério da Saúde do Brasil que compila informações detalhadas sobre casos notificados de doenças, incluindo o câncer de próstata. Para este estudo, foram extraídos todos os registros de câncer de próstata referentes ao período de 2015 a 2022 para a cidade de Patos de Minas. A coleta de dados incluiu variáveis essenciais como idade dos pacientes, estágio da doença no momento do diagnóstico, tipos de tratamento realizados, e informações sobre comorbidades e histórico médico relevante. Os dados foram obtidos através de solicitações formais ao banco de dados do SINAN e foram validados quanto à completude e precisão.
A análise dos dados coletados foi realizada utilizando técnicas estatísticas descritivas e inferenciais. Inicialmente, foram gerados estatísticas descritivas para resumir as características dos casos diagnosticados, incluindo a distribuição por faixa etária, o estadiamento da doença e os tipos de tratamento utilizados. Para identificar tendências temporais e variações na incidência ao longo dos anos, foram aplicados testes de tendência e análises de séries temporais. A análise também incluiu a comparação dos dados de Patos de Minas com as taxas de incidência e características do câncer de próstata observadas em outras regiões e no contexto nacional.
Além da análise quantitativa, foi realizada uma revisão qualitativa dos registros clínicos disponíveis, sempre que acessíveis. Esta revisão permitiu uma análise mais detalhada dos métodos de tratamento e manejo adotados para os pacientes diagnosticados, proporcionando uma compreensão mais profunda das práticas clínicas na região. Os dados qualitativos foram integrados aos dados quantitativos para fornecer uma visão mais abrangente do impacto do câncer de próstata e da eficácia dos tratamentos em Patos de Minas.
Resultados e discussão
Aspectos epidemiológicos do câncer de próstata
O câncer de próstata é uma das neoplasias mais comuns entre os homens, sendo caracterizado por um crescimento maligno da glândula prostática. Os aspectos epidemiológicos dessa doença variam amplamente conforme a região geográfica e o desenvolvimento socioeconômico de cada país, o que contribui para diferentes perfis de prevalência e incidência. O estudo da prevalência refere-se ao número total de casos existentes em uma população em um determinado período, enquanto a incidência está relacionada aos novos casos diagnosticados durante um intervalo de tempo específico. Essas métricas são fundamentais para compreender a magnitude do câncer de próstata em diversas partes do mundo e guiar as políticas de saúde pública (Faria et al., 2020).
Nos países desenvolvidos, especialmente em regiões como América do Norte, Europa Ocidental e Austrália, observa-se uma das maiores taxas de incidência de câncer de próstata. Nos Estados Unidos, por exemplo, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, sendo responsável por uma parcela significativa de todas as neoplasias diagnosticadas. A prevalência é ainda maior em países nórdicos e na Austrália. Isso pode ser explicado, em parte, pelo acesso mais facilitado a sistemas de saúde eficientes, que promovem o rastreamento precoce da doença por meio de exames como o PSA (Antígeno Prostático Específico) (Luizaga et al., 2020).
O diagnóstico precoce aumenta o número de casos identificados e, consequentemente, contribui para o aumento da incidência. A mortalidade não segue necessariamente a mesma tendência de elevação, já que o diagnóstico precoce permite que os pacientes recebam tratamento adequado com maiores chances de sobrevida. Países em desenvolvimento da África Subsaariana, América Latina e Ásia apresentam menores taxas de incidência, em parte devido à subnotificação e ao menor acesso a métodos de rastreamento. Em países africanos, por exemplo, as taxas de incidência são mais baixas comparativamente aos países ocidentais (Ruths et al., 2022).
O câncer de próstata nesses locais é muitas vezes diagnosticado em estágios avançados, quando as opções de tratamento são mais limitadas e as taxas de mortalidade tendem a ser mais elevadas. Fatores culturais, barreiras de acesso a cuidados de saúde e a ausência de programas de rastreamento em larga escala influenciam essa discrepância entre incidência e mortalidade, o que torna o quadro da doença mais grave em muitas dessas regiões. Analisando as tendências temporais, pode-se observar que a taxa de incidência do câncer de próstata apresentou variações significativas nas últimas décadas. Durante o final do século XX, houve um aumento substancial na detecção de novos casos em países como os Estados Unidos, impulsionado pela introdução do teste de PSA, que se tornou amplamente utilizado na década de 1990 (Andrade et al., 2021).
O aumento inicial nos diagnósticos reflete, em grande parte, uma maior detecção de casos assintomáticos ou em estágios iniciais. A introdução desse exame possibilitou a identificação de uma parcela significativa da população masculina com tumores em fase precoce, alterando a trajetória da doença e suas estatísticas epidemiológicas. Após esse aumento inicial, em muitos países desenvolvidos, a taxa de incidência começou a se estabilizar ou até mesmo a diminuir, principalmente devido a debates sobre a eficácia do rastreamento populacional em massa e o potencial de sobrediagnóstico (Carvalho et al., 2022).
A estabilização ou queda na incidência em algumas regiões pode ser atribuída também a mudanças nas diretrizes clínicas para o rastreamento. Em anos mais recentes, muitos países revisaram suas recomendações para o uso do PSA, priorizando uma abordagem mais conservadora, com a realização de rastreamentos somente em grupos específicos de maior risco. Isso inclui homens com histórico familiar da doença, aqueles pertencentes a grupos étnicos mais vulneráveis, como afro-americanos, e indivíduos com sintomas associados à próstata. A revisão dessas diretrizes visou reduzir o risco de tratamentos desnecessários em pacientes com tumores de crescimento lento, que poderiam não impactar significativamente a qualidade de vida ou a sobrevida dos mesmos (Costa et al., 2022).
O envelhecimento populacional é um fator-chave, já que o câncer de próstata é mais comum em homens idosos, e a longevidade crescente em várias regiões do mundo pode contribuir para o aumento na prevalência da doença. A urbanização e mudanças nos estilos de vida, com dietas mais ricas em gorduras e menor prática de atividade física, também podem estar associados ao risco aumentado de desenvolver câncer de próstata em diversas regiões. A mortalidade por câncer de próstata, por sua vez, tem mostrado um declínio em várias regiões, particularmente em países desenvolvidos. Esse declínio pode ser atribuído aos avanços nas opções de tratamento, como a cirurgia, radioterapia e hormonioterapia, bem como ao diagnóstico precoce promovido pelos exames de PSA (Bravo et al., 2022).
A conscientização sobre a doença e as melhorias nos cuidados de saúde também contribuíram para aumentar a sobrevida dos pacientes. Nos países em desenvolvimento, embora a incidência seja menor, as taxas de mortalidade continuam elevadas, refletindo o diagnóstico tardio e a limitação dos recursos médicos disponíveis. Esses aspectos epidemiológicos revelam a complexidade do câncer de próstata em escala global. O impacto da doença varia consideravelmente conforme o contexto regional, o desenvolvimento econômico e o acesso à saúde. Enquanto países desenvolvidos enfrentam questões relacionadas ao sobrediagnóstico e tratamentos desnecessários, os países em desenvolvimento continuam a lutar com a subnotificação e a alta mortalidade decorrente de diagnósticos tardios (Evangelista et al., 2022).
Fatores de risco
O câncer de próstata é uma das neoplasias mais comuns entre os homens, e o seu desenvolvimento pode estar associado a diversos fatores de risco. Dentre eles, a idade é um dos mais significativos, pois o envelhecimento influencia diretamente o risco de desenvolvimento dessa condição. O aumento da idade resulta em mudanças biológicas e moleculares no corpo, incluindo mutações celulares e desequilíbrios hormonais que podem favorecer o surgimento do câncer. A partir dos 50 anos, o risco de câncer de próstata cresce substancialmente, sendo que a maioria dos casos é diagnosticada em homens com mais de 65 anos. Essa relação entre idade e câncer de próstata está ligada ao acúmulo de danos celulares ao longo da vida e à diminuição da capacidade do organismo em reparar essas falhas, facilitando a proliferação de células malignas na glândula prostática (Sant'Anna et al., 2022).
A genética tem função importante no risco de desenvolvimento do câncer de próstata. Homens que possuem uma história familiar de câncer de próstata apresentam uma maior probabilidade de desenvolver a doença em comparação àqueles sem essa herança genética. A presença de mutações hereditárias em genes específicos, como BRCA1 e BRCA2, aumenta o risco, embora essas mutações sejam mais comumente associadas a outros tipos de câncer, como o de mama. Homens com parentes de primeiro grau (pai, irmão) diagnosticados com câncer de próstata apresentam um risco duas vezes maior de desenvolver a doença. Se dois ou mais parentes próximos foram afetados, o risco pode ser ainda maior, sugerindo uma forte influência dos fatores genéticos na predisposição para o câncer de próstata. A presença de fatores hereditários também pode indicar um desenvolvimento mais precoce da doença, com maior probabilidade de diagnóstico em idades mais jovens (Queiroz et al., 2022).
Os fatores ambientais e o estilo de vida também tem função importante no risco de desenvolvimento do câncer de próstata. A dieta, por exemplo, tem sido amplamente estudada como um fator modificável que pode influenciar a probabilidade de desenvolvimento da doença. Dietas ricas em gorduras saturadas, carne vermelha e produtos lácteos parecem estar associadas a um maior risco de câncer de próstata, enquanto dietas que incluem uma alta ingestão de frutas, vegetais e alimentos ricos em antioxidantes podem exercer um efeito protetor. Nutrientes como licopeno, encontrado em tomates, e selênio têm sido investigados por seus potenciais benefícios na prevenção do câncer de próstata. Embora a pesquisa sobre dieta e câncer de próstata ainda esteja em andamento, existe um consenso crescente de que hábitos alimentares saudáveis podem ajudar a reduzir o risco (Nascimento et al., 2021).
A atividade física também é considerada um fator relevante no risco de câncer de próstata. A prática regular de exercícios físicos está associada a uma série de benefícios à saúde, incluindo a manutenção do equilíbrio hormonal, redução da inflamação crônica e melhora da função imunológica, que são fatores essenciais para a prevenção de doenças malignas. Homens que mantêm um estilo de vida ativo parecem ter um risco menor de desenvolver câncer de próstata em comparação àqueles com hábitos sedentários. O controle do peso corporal é importante, uma vez que a obesidade tem sido associada a um aumento do risco de formas mais agressivas de câncer de próstata. A gordura corporal pode alterar o metabolismo hormonal, levando ao aumento dos níveis de estrogênio e diminuição dos níveis de testosterona, o que pode criar um ambiente favorável para o crescimento tumoral (Paião; Costa, 2022).
A exposição a fatores ambientais também tem sido associada ao risco de câncer de próstata. Homens que trabalham em determinadas indústrias ou são expostos a produtos químicos específicos, como pesticidas, podem ter um risco aumentado de desenvolver a doença. Pesquisas sugerem que substâncias químicas que atuam como disruptores endócrinos podem afetar o equilíbrio hormonal e, consequentemente, aumentar a suscetibilidade ao câncer de próstata. A exposição crônica a poluentes ambientais, como partículas finas no ar, também tem sido correlacionada a um aumento na incidência de cânceres em geral, incluindo o câncer de próstata (Rego et al., 2020).
A testosterona, o principal hormônio masculino, é metabolizada na próstata e tem influência direta no crescimento celular dentro dessa glândula. Alterações no metabolismo hormonal, como uma queda acentuada nos níveis de testosterona livre ou um aumento nos níveis de di-hidrotestosterona (DHT), podem contribuir para a hiperplasia prostática benigna e para o desenvolvimento de células cancerígenas. A interação entre fatores genéticos, ambientais e hormonais demonstra a complexidade da etiologia do câncer de próstata (Nascimento et al., 2022).
Fatores como tabagismo e consumo excessivo de álcool também são estudados no contexto do câncer de próstata. Embora a relação entre tabagismo e essa neoplasia não seja tão clara quanto em outros tipos de câncer, alguns estudos indicam que homens que fumam têm um risco aumentado de desenvolver formas mais agressivas de câncer de próstata. O consumo de álcool, por sua vez, em níveis moderados, não parece aumentar significativamente o risco, mas o consumo crônico e em excesso pode estar relacionado a uma piora no prognóstico e no controle da doença (Oliveira et al., 2021).
Métodos de diagnóstico
O exame de PSA (Antígeno Prostático Específico) tem função importante no rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de próstata. O PSA é uma proteína produzida pela glândula prostática, e níveis elevados dessa substância no sangue podem indicar a presença de anormalidades, incluindo o câncer de próstata. O teste de PSA não é específico apenas para o câncer, pois níveis elevados também podem ser causados por outras condições, como hiperplasia prostática benigna ou prostatite. Ainda assim, a sensibilidade do teste permite que ele seja utilizado como um primeiro indicativo de que algo pode estar errado na próstata, justificando investigações adicionais (Demuner; Carvalho, 2021).
A utilidade do exame de PSA é frequentemente avaliada no contexto da sua capacidade de detecção precoce, o que pode aumentar significativamente as chances de tratamento bem-sucedido, especialmente em casos de cânceres em estágios iniciais. O exame de PSA, porém, tem limitações significativas, principalmente no que se refere à sua especificidade. Muitos homens com níveis elevados de PSA não têm câncer de próstata, e nem todos os homens com câncer de próstata apresentam níveis elevados de PSA. Essa variação nos resultados pode gerar tanto falsos positivos quanto falsos negativos, complicando o diagnóstico e a decisão sobre como prosseguir no tratamento (Reis; Ferreira; Nunes, 2023).
Há também a questão do sobrediagnóstico, uma vez que alguns cânceres de próstata são de crescimento tão lento que não representariam uma ameaça à vida do paciente, mas ainda assim poderiam ser tratados de forma invasiva, causando efeitos colaterais indesejáveis. O exame de PSA, embora eficaz em certos aspectos, precisa ser utilizado de maneira criteriosa, muitas vezes em combinação com outros métodos diagnósticos. O exame de toque retal complementa o teste de PSA como uma ferramenta essencial no diagnóstico do câncer de próstata. Esse exame clínico permite ao médico avaliar o tamanho, a forma e a textura da glândula prostática, detectando possíveis anormalidades, como nódulos ou endurecimentos que possam indicar a presença de um tumor (Carvalho; Santos; Rocha, 2022).
Embora alguns homens relutem em realizar esse exame por conta de constrangimentos, ele oferece informações valiosas, especialmente quando o câncer de próstata pode estar presente mesmo com níveis normais de PSA. O toque retal tem a vantagem de ser um exame rápido e de baixo custo, que pode ser realizado no consultório médico, e sua eficácia aumenta quando combinado com o teste de PSA. Ambos os exames juntos formam uma abordagem inicial robusta para o rastreamento do câncer de próstata, sendo uma prática comum em protocolos de triagem para homens a partir dos 50 anos ou antes, se houver histórico familiar de câncer (Faria et al., 2020).
A principal limitação do toque retal é que ele não consegue detectar tumores em áreas inacessíveis da próstata, nem pode avaliar a extensão exata do câncer, caso este esteja presente. A sensibilidade do exame depende da experiência do médico, sendo possível que pequenos tumores ou aqueles localizados em áreas difíceis de alcançar passem despercebidos. O toque retal tem uma função inegável na detecção precoce do câncer de próstata, especialmente quando utilizado em conjunto com outros métodos diagnósticos. Sua combinação com o exame de PSA aumenta significativamente a probabilidade de identificar o câncer de próstata em seus estágios iniciais, quando o tratamento tem maior chance de sucesso (Andrade et al., 2021).
A biópsia da próstata é o procedimento definitivo para confirmar o diagnóstico de câncer de próstata. Quando exames preliminares, como o PSA e o toque retal, indicam anormalidades, a biópsia se torna essencial para a análise histopatológica, permitindo determinar a presença de células cancerígenas e o grau de agressividade do tumor. A técnica mais comum utilizada para realizar a biópsia é a guiada por ultrassom transretal, onde pequenas amostras de tecido são retiradas da próstata por meio de agulhas finas e analisadas em laboratório. Esse procedimento, apesar de invasivo, é relativamente seguro e é normalmente realizado em ambulatório, sob anestesia local (Costa et al., 2022).
As técnicas de biópsia da próstata evoluíram para melhorar a precisão e reduzir os riscos associados. Além da abordagem transretal, a biópsia transperineal tem ganhado destaque, pois permite uma coleta mais precisa de amostras de áreas da próstata que podem ser de difícil acesso pelo método transretal. A biópsia transperineal também reduz o risco de infecções, uma complicação potencialmente grave associada ao método transretal. Independentemente da técnica utilizada, a biópsia é o único meio definitivo de determinar a presença de câncer de próstata, sendo um passo fundamental após a identificação de anormalidades nos exames iniciais (Evangelista et al., 2022).
A amostragem do tecido da próstata é analisada para classificar o câncer de acordo com o sistema de Gleason, que avalia a agressividade do tumor e ajuda a determinar o curso de tratamento mais apropriado. O procedimento de biópsia, embora essencial para o diagnóstico preciso, não está isento de riscos. As complicações mais comuns incluem sangramentos leves, infecção e desconforto na região pélvica. Em casos mais raros, pode haver complicações mais graves, como infecções que exigem hospitalização. Apesar desses riscos, a biópsia continua sendo a ferramenta mais eficaz para confirmar o câncer de próstata, e sua execução precisa é fundamental para garantir um diagnóstico correto e um plano de tratamento adequado (Queiroz et al., 2022).
Resultados da pesquisa
A análise dos óbitos por câncer de próstata em Patos de Minas entre 2015 e 2022, conforme o Gráfico 1, é mostrado uma predominância significativa entre os homens brancos, que representaram 57,1% dos casos, com 48 óbitos no total. A segunda maior incidência foi observada entre os homens pardos, que somaram 27 óbitos, correspondendo a 32,1% do total. A população preta teve uma menor incidência, com 6 óbitos, o que representa 7,1%. Não foram registrados óbitos entre a população amarela ou indígena, enquanto 3 óbitos (3,6%) não tiveram a cor/raça informada. Esses dados sugerem possíveis disparidades no acesso aos serviços de saúde e no diagnóstico precoce, considerando a predominância dos óbitos entre brancos e pardos.
Gráfico 1 - Relação de Óbitos por Cor/Raça (2015-2022).
Fonte: SINAN (2024)
Os dados do Gráfico 2 revelam que o câncer de próstata afeta predominantemente homens mais velhos. A maior concentração de óbitos ocorreu entre os indivíduos com 70 a 79 anos, que representaram 35,7% do total, com 30 óbitos. A faixa etária de 80 anos ou mais registrou 31 óbitos, correspondendo a 36,9%. Homens de 60 a 69 anos representaram 20,2% dos casos, com 17 óbitos. A incidência foi significativamente menor em faixas etárias mais jovens, com apenas 4 óbitos (4,8%) entre 50 e 59 anos e 2 óbitos (2,4%) em homens com menos de 50 anos. Esses dados reforçam a relação direta entre o envelhecimento e a maior propensão ao desenvolvimento de câncer de próstata.
Gráfico 2 - Relação de Óbitos por Faixa Etária (2015-2022).
Fonte: SINAN (2024)
O Gráfico 3 mostra a evolução dos óbitos por câncer de próstata entre 2015 e 2022, revelando uma variação considerável ao longo dos anos. O número de óbitos aumentou de forma consistente, passando de 5 casos em 2015 (5,9%) para um pico de 18 óbitos em 2019 e 2020, ambos representando 21,4% do total de óbitos no período. Após esse pico, o número caiu para 5 óbitos em 2021 (5,9%), seguido de uma leve recuperação em 2022, com 8 óbitos (9,5%). O aumento observado em 2019 e 2020 pode estar relacionado a fatores como melhorias no diagnóstico ou mudanças no comportamento de busca por serviços de saúde, enquanto a queda em 2021 pode ser associada à pandemia de COVID-19, que impactou o acesso ao rastreamento e tratamento da doença.
Gráfico 3 - Relação de Óbitos por Ano (2015-2022).
Fonte: SINAN (2024)
Os achados do presente estudo estão em consonância com outros trabalhos realizados no Brasil sobre a incidência e mortalidade do câncer de próstata. Andrade et al. (2021), em sua análise do perfil de pacientes atendidos em um centro de oncologia, destacaram que a maioria dos casos ocorre em homens brancos, o que corrobora com os resultados de Patos de Minas, onde 57,1% dos óbitos foram observados nessa população. Isso sugere uma possível influência de fatores socioeconômicos no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento. Bravo et al. (2022) também apontaram que, em revisões sobre câncer de próstata, a predominância de óbitos em homens brancos reflete tanto questões genéticas quanto desigualdades no acesso aos cuidados de saúde.
No que diz respeito à faixa etária, os dados de Patos de Minas são consistentes com os apresentados por Faria et al. (2020), que identificaram uma maior prevalência de câncer de próstata em indivíduos com mais de 60 anos. O envelhecimento é um fator de risco amplamente reconhecido para o desenvolvimento dessa neoplasia, o que explica a alta incidência observada em homens com mais de 70 anos. Carvalho et al. (2022) também destacaram que o aumento da longevidade da população brasileira está diretamente relacionado ao crescimento das taxas de câncer de próstata, confirmando a tendência observada no presente estudo.
O aumento significativo dos óbitos entre 2019 e 2020 pode ser explicado pela interrupção de serviços de saúde devido à pandemia de COVID-19, o que também foi identificado por Costa et al. (2022) em sua análise sobre o impacto da pandemia no diagnóstico e tratamento de câncer de próstata. Os autores argumentam que o acesso limitado aos exames preventivos durante a pandemia pode ter levado a um aumento no número de casos avançados e, consequentemente, de óbitos. Da mesma forma, Carvalho et al. (2022) observaram um aumento de diagnósticos tardios durante a pandemia, com uma consequente elevação na mortalidade, especialmente entre os homens mais velhos.
Evangelista et al. (2022), ao analisar a mortalidade por câncer de próstata em municípios com alto índice de desenvolvimento humano, encontraram resultados similares aos de Patos de Minas, com um aumento expressivo de óbitos em determinados anos. Esse padrão sugere que fatores ambientais e de estilo de vida, como sedentarismo e dieta rica em gorduras, podem influenciar a incidência da doença. Demuner e Carvalho (2021) reforçam a importância do diagnóstico precoce e do rastreamento contínuo como formas de reduzir a mortalidade, algo que pode ter sido comprometido pela pandemia e pelas barreiras ao acesso a exames, como o PSA e o toque retal.
Queiroz et al. (2022) também relataram que as disparidades raciais no acesso ao tratamento do câncer de próstata são uma constante nas diversas regiões brasileiras. A predominância de óbitos em homens brancos e pardos em Patos de Minas reflete essa realidade, onde homens com maior acesso a serviços de saúde, em geral, têm mais chances de serem diagnosticados, mas ainda assim, enfrentam desafios para a detecção precoce. Nascimento et al. (2021) destacam o papel fundamental de campanhas como o "Novembro Azul" para a conscientização sobre o câncer de próstata, mas enfatizam que o estigma social em torno do toque retal continua a ser uma barreira significativa para muitos homens, principalmente nas áreas rurais, onde o acesso a cuidados médicos especializados é mais limitado.
Ruths et al. (2022) analisaram o impacto da exposição a agrotóxicos em trabalhadores rurais como um fator de risco adicional para o câncer de próstata, algo que pode ser relevante para Patos de Minas, dada sua forte economia agrícola. A exposição a substâncias químicas em ambientes de trabalho pode aumentar a predisposição para o desenvolvimento de neoplasias, o que demanda maior atenção em regiões com forte atividade agropecuária. Rego et al. (2020) ressaltam a necessidade de monitoramento contínuo dessas populações, bem como de estratégias de prevenção específicas para esses trabalhadores.
Considerações finais
A maioria dos óbitos ocorreu em homens com 70 anos ou mais, o que reflete o perfil epidemiológico esperado para o câncer de próstata, em que a idade avançada é um dos principais fatores de risco. Os dados mostram uma maior incidência entre homens brancos e pardos, sugerindo a necessidade de atenção diferenciada aos fatores socioeconômicos que influenciam o acesso ao diagnóstico e tratamento precoce, fundamentais para reduzir a mortalidade.
A variação no número de óbitos ao longo dos anos, com um aumento significativo em 2019 e 2020, pode estar ligada à interrupção de serviços de saúde devido à pandemia de COVID-19, que impactou negativamente o rastreamento e o tratamento da doença. A queda subsequente de óbitos em 2021 e 2022 sugere que esse cenário de pandemia exigiu adaptações nos serviços de saúde, indicando a importância de estratégias mais resilientes que garantam a continuidade dos cuidados, mesmo em situações de crise sanitária.
O estudo evidencia que o câncer de próstata, embora tenha seus principais fatores de risco associados ao envelhecimento, também é influenciado por condições sociais que podem agravar a mortalidade. Assim, a implementação de programas de rastreamento contínuo e a expansão de campanhas de conscientização, especialmente em áreas rurais e em populações mais vulneráveis, são cruciais para a prevenção e o manejo eficaz da doença. Ao abordar essas questões de forma integrada, é possível não apenas reduzir a mortalidade, mas também melhorar a qualidade de vida dos pacientes diagnosticados com câncer de próstata em Patos de Minas.
Referências
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[1] Graduanda em Biomedicina FPM, 2024. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[2] Biomédica, Doutora em Ciências da Saúde, professor orientadora. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.