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Contos de fadas na alfabetização: aprendizagem, ludicidade e a contação de histórias

Bruna Xavier da Silva

 

DOI: 10.5281/zenodo.13904538

 

 

RESUMO

A finalidade do presente trabalho é de abordar a ludicidade trabalhada dentro da alfabetização a partir da utilização da contação de histórias como recurso com a finalidade de educar, alfabetizar e ensinar. No decorrer do processo de ensino-aprendizagem nos primeiros anos da educação fundamental, especialmente no que diz respeito à alfabetização, é fundamental implementar atividades e projetos que nasçam da diversão proporcionada pela ludicidade, pela leitura e pela narração de histórias. Isso facilita um aprendizado de qualidade e leva a resultados positivos ao longo dessa trajetória. Assim, ao integrar a ludicidade com contos de fadas, as crianças têm a oportunidade de aprender de maneira significativa e prazerosa, se sentindo mais confortáveis com temas envolventes que proporcionam momentos de descontração, prazer e aprendizado. Especificamente, a leitura de contos de fadas enriquece o conhecimento dos pequenos, favorecendo seu desenvolvimento ao proporcionar contato com diversas culturas, ampliar o vocabulário e estimular a imaginação, a curiosidade e o raciocínio.

 

PALAVRAS-CHAVE: Ludicidade. Alfabetização. Aprendizagem. Brincar.

 

 

ABSTRACT

The purpose of this work is to address the playfulness worked within literacy through the use of storytelling as a resource for the purpose of educating, teaching literacy and teaching. During the teaching-learning process in the first years of primary education, especially with regard to literacy, it is essential to implement activities and projects that arise from the fun provided by play, reading and storytelling. This facilitates quality learning and leads to positive results along the way. Thus, by integrating playfulness with fairy tales, children have the opportunity to learn in a meaningful and enjoyable way, feeling more comfortable with engaging themes that provide moments of relaxation, pleasure and learning. Specifically, reading fairy tales enriches children's knowledge, favoring their development by providing contact with different cultures, expanding vocabulary and stimulating imagination, curiosity and reasoning.

 

KEYWORDS: Playfulness. Literacy. Learning. To play.

 

 

Introdução

 

A finalidade deste trabalho é investigar a ludicidade, o brincar e os contos de fadas como ferramentas a serem empregadas durante o processo de alfabetização.

Ao ouvir narrativas, as crianças têm seu imaginário estimulado, ao mesmo tempo em que expandem seu conhecimento e vocabulário, despertando, assim, o gosto pela leitura. Isso facilita a aprendizagem desses alunos, já que tanto a leitura quanto as brincadeiras lúdicas ensinam de forma divertida, proporcionando prazer.

É fundamental oferecer essa diversão e esse contato com a leitura desde o início e ao longo de todo o processo de aquisição da leitura e da escrita nos primeiros anos de alfabetização, especialmente por meio dos contos de fadas, jogos, brincadeiras e brinquedos que promovam o desenvolvimento infantil e estimulem a imaginação. Isso ajuda os alunos a trilharem um caminho de descobertas no universo da leitura, aprimorando cada vez mais seus hábitos como leitores e escritores.

Assim, este artigo, com base em suas pesquisas bibliográficas e nos autores citados, discute o desenvolvimento dos alunos por meio da utilização da ludicidade e da leitura, ressaltando a relevância das brincadeiras, jogos e contos de fadas como instrumentos que facilitam a aprendizagem. Isso é essencial para alcançar bons resultados e atingir os objetivos estabelecidos para cada turma e faixa etária, além de promover interações positivas entre professores e alunos, bem como entre os próprios alunos.

Portanto, é possível observar a importância da interação social das crianças, mediada por leituras e brincadeiras. Compreendemos, assim, que é crucial desenvolver atividades que sejam significativas e que promovam o engajamento dos alunos, estimulando suas potencialidades e aprendizagens.

 

 

A Ludicidade propriamente dita

 

Sobre o conceito de “lúdico”, Menezes (2001) nos diz ser: “Qualidade daquilo que estimula através da fantasia, do divertimento ou da brincadeira. Trata-se de um conceito bastante utilizado na educação...”, teoria também defendida por Piaget, Montessori e Froebel quanto à ludicidade utilizada na educação e na aprendizagem.

Menezes ainda nos diz:

 

Hoje, existe um consenso de que o lúdico é fator determinante na aprendizagem da criança. O ensino utilizando meios lúdicos criaria ambientes gratificantes e atraentes servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da criança. Por isso, no âmbito do universo lúdico, foram criadas as brinquedotecas, os jogos educativos, os brinquedos pedagógicos e outros materiais. (MENEZES, 2001)

 

Além disso, conforme Menezes (2001), Vygotsky defendia que a ludicidade impacta o desenvolvimento infantil, incentivando a curiosidade e a criatividade por meio do uso de brinquedos, jogos e brincadeiras. Essa abordagem contribui para aprimorar a concentração, a linguagem e a autoconfiança das crianças, ensinando-as a agir de maneira adequada em diversas situações e a resolver problemas.

A ludicidade e o ato de brincar beneficiam a vida de todos, sejam crianças ou adultos, contribuindo tanto para a saúde mental quanto para a saúde física. Elas desenvolvem habilidades, formas de expressão, relações afetivas e conhecimentos sobre o mundo, sendo a ludicidade considerada uma ponte para diversas interações.

Assim, por meio das atividades lúdicas, os alunos começam a interagir e a se relacionar entre si, trocando experiências, socializando, formando conceitos e criando laços afetivos, o que os ajudará a se tornarem adultos equilibrados e competentes.

Portanto, é responsabilidade do professor pesquisar, criar situações e desenvolver atividades que ofereçam significado aos alunos, estimulando as crianças a compreenderem o momento adequado para brincar, respeitando a ordem das brincadeiras. É importante que se evitem atitudes autoritárias entre elas, promovendo o respeito mútuo e as regras dos jogos, para que possam brincar em harmonia e compartilhar a aprendizagem.

Assim, a ludicidade se torna uma facilitadora no processo educacional, ajudando as crianças a se expressarem, a compartilharem experiências e a aprenderem umas com as outras e com seu entorno, estreitando as relações entre alunos, professores e todos os envolvidos no processo de aprendizagem.

 

Fotografia 1 - Brinquedoteca em uma escola municipal em Taboão da Serra, SP – EMI Luca

 Fonte: otaboense.com.br

 

Importância do Lúdico e da Leitura no Ensino Aprendizagem

 

Para que a prática da brincadeira se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado e adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho. (Carneiro e Dodge, 2007, p.91)

 

Carneiro e Dodge (2007) destacam a relevância da capacitação dos profissionais da educação e a necessidade de estimular os alunos física e psicologicamente por meio da ludicidade da leitura. Essa abordagem é fundamental no currículo escolar, incentivando as instituições de ensino a reconhecer e integrar essa importância na rotina da sala de aula. Isso implica criar ambientes lúdicos e promover atividades de leitura que expandam o conhecimento dos alunos, desenvolvendo ações significativas e divertidas em que eles aprendam enquanto se divertem.

 

A partir dessa perspectiva, podem ser elaborados projetos com objetivos específicos a serem realizados em espaços adequados, como brinquedotecas e bibliotecas.

Para viabilizar isso, o currículo deve ser claro e objetivo, de fácil compreensão e implementação, para que todos na escola consigam aplicá-lo na prática. Dessa forma, os professores poderão, com base nesse currículo, adaptá-lo com atividades lúdicas e de leitura, incorporando-as à rotina dos alunos.

 

... a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. (SANTOS, apud SANTOS, 1997, p12).

 

Segundo Santos (1997), podemos entender que a ludicidade é uma parte integral da vida humana em todas as idades, transcendendo a simples diversão. Essa perspectiva deve orientar o corpo docente a reconhecer o verdadeiro papel da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem e na vida de seus alunos. Assim, é essencial que o currículo seja constantemente ajustado com base nos desafios e nas necessidades tanto da sala de aula quanto da comunidade na qual o aluno está inserido.

 

 

O brincar e as brincadeiras

 

Sobre o brincar e a aquisição de conhecimentos, Maluf (2003) nos fala:

 

O brincar proporciona a aquisição de novos conhecimentos, desenvolve habilidade de forma natural e agradável. Ela é uma das necessidades básicas da criança, e essencial para um bom desempenho motor, social e cognitivo. (MALUF, 2003, p.26).

 

Portanto, entendemos que as crianças desenvolverão suas habilidades e crescerão de forma geral, aprendendo de maneira divertida e agradável por meio da inclusão de brincadeiras, jogos e brinquedos na rotina de suas aprendizagens diárias na escola. Essa abordagem impulsionará o processo de ensino-aprendizagem, permitindo que os alunos avancem e se desenvolvam de maneira significativa em diversas áreas.

 

Que palavras lhe vêm à mente quando ouve falar em jogo ou brincadeira? Diversão, alegria, prazer devem ser algumas delas, não é? Pois é, o lúdico naturalmente induz à motivação e à diversão. Representa liberdade de expressão, renovação e criação do ser humano. As atividades lúdicas possibilitam que as crianças reelaborem criativamente sentimentos e conhecimentos e edifiquem novas possibilidades de interpretação e de representação do real, de acordo com suas necessidades, seus desejos e suas paixões. Estas mesmas atividades permitem, também, às crianças, o encontro com seus pares. No grupo, descobrem que não são os únicos sujeitos da ação, e que para alcançar seus objetivos precisam levar em conta o fato de que os outros também têm objetivos próprios que desejam satisfazer. (MEC, 2012)

 

 

As crianças criam e recriam situações, expressando sentimentos e buscando soluções para problemas, enquanto aprendem a respeitar os colegas, os adultos e os momentos adequados para cada situação — como saber quando falar e esperar a sua vez. Esse respeito mútuo e a aceitação das diferenças são fundamentais. O professor atua como mediador, proporcionando brincadeiras que permitam às crianças se expressarem livremente e serem quem desejam no mundo da imaginação, influenciando, assim, a formação das pessoas que elas serão no futuro.

 

Brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras de jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Dessa forma brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. (KISHMOTO, 1994, p.6)

 

Segundo Kishmoto (1994), o jogo é um sistema de objetivos e regras que faz parte do processo histórico de nosso contexto social. Assim, diferentes sociedades ao longo dos séculos geraram e continuarão a gerar diversos jogos, cada um com suas significações específicas, adaptáveis às regras de diferentes locais e características culturais.

Através dos jogos, os alunos aprendem a seguir regras e a desenvolver a paciência necessária para esperar a sua vez. Essa vivência os ensina que, na vida social e pessoal, também existem momentos que precisam ser respeitados, reforçando a importância de valorizar os outros, lidar com perdas e enfrentar frustrações. Dessa forma, ao brincar, eles se divertem de maneira saudável e significativa.

 

 

Leitura: Contos de fadas na alfabetização

 

O que são contos de fadas? Os contos de fadas não são feitos somente de princesas e castelos. Contar histórias é uma qualidade que nós temos desde que os homens da pré-história começaram a se comunicar e contar seus próprios mitos com pinturas nas paredes das cavernas. Naquele tempo, não se via diferença entre texto e imagem. Tudo começa nas experiências reais do povo e na busca por coisas mágicas e fantásticas que ajudem as pessoas a enfrentarem seus problemas no dia a dia.” (CANTON, 2012)

Repletos de significados, os contos de fadas são estruturados de maneira simples, com estórias de fácil entendimento, o que se faz importante na leitura para a criança; sendo assim, os contos de fadas são bem compreendidos pelas crianças, e as estimula a sempre querer mais e mais leituras de histórias com essas características dos contos de fadas; assim, aos poucos, vão procurando por novas estórias, novas formas de estruturas textuais para aprimorarem aos poucos sua leitura e escrita

 

Os contos de fadas mantêm uma estrutura fixa. Partem de um problema vinculado à realidade (como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filhos), que desequilibra a tranquilidade inicial. O desenvolvimento a uma busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos. A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se desta estrutura, os autores, de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil e, de outro, transmitir à criança a ideia de que ela não pode viver indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo. (AGUIAR, 1990.)

 

Conforme Aguiar (1990), os contos de fadas apresentam características próprias que compõem sua estrutura, como situações inesperadas, fadas madrinhas, bruxas, príncipes e princesas, animais que falam, momentos engraçados, de perigo, romances, entre outros elementos que capturam a atenção das crianças, facilitando a memorização da leitura. É comum que as histórias comecem com o tradicional "era uma vez" na primeira frase.

Além disso, esses contos incluem situações que envolvem emoções afetivas ou conflitos entre pais e filhos, irmãos e outros membros da família, muitas vezes refletindo a vida real nesse aspecto, sempre com a busca por soluções para os problemas através da magia e da fantasia. Essas soluções fictícias podem ser aplicadas a situações reais vivenciadas pelas crianças. Nesse contexto, o professor deve incentivar os alunos a identificarem semelhanças e diferenças entre o mundo fictício e o real, promovendo a discussão sobre as experiências dos personagens e fazendo comparações com a realidade.

Observamos, então, que quando uma criança lê um conto de fadas, ela interage com a história, permitindo-se embarcar em sua imaginação, vivenciando situações fictícias de personagens que acredita serem reais. Dessa forma, através da leitura, os alunos desenvolvem sua capacidade imaginativa, criando cenários paralelos à realidade e aprendendo a enfrentar suas dificuldades e frustrações, assim como os desafios enfrentados pelos personagens, buscando soluções possíveis para os problemas. É nesse processo de interação com a narrativa que nasce o interesse pela leitura e os aprendizados associados a ela.

 

Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança. (BETTELHEIM, 2004, p-20).

 

Compreendemos, assim, que o impacto mencionado por Bettelheim (2004) sobre as crianças pode emergir a partir da influência que essas histórias exercem sobre a vida dos alunos. Isso ocorre quando as crianças, em contato com o texto, se identificam com os personagens e suas experiências, assimilando todo o conteúdo e as situações presentes nos contos de fadas: o respeito ao próximo, o cuidado e a valorização da natureza, além da conscientização de que são capazes de superar desafios, entre outros aspectos.

A esse respeito, Azevedo (2009) afirma

 

Assim, a suprema importância dos contos de fadas para as crianças em crescimento, reside em algo mais do que ensinamentos sobre as formas corretas de se comportar, eles são terapêuticos, porque o paciente encontra sua própria solução através da contemplação do que a “estória” parece implicar acerca de seus conflitos internos neste momento da vida. Tomando característica marcante dessa área, o poder de lidar com conteúdos da sabedoria popular e conteúdos essenciais da condição humana, por isso, eles vivem até hoje e continuam envolvidos no mundo maravilhoso, universo que detona a fantasia, partindo sempre de uma situação real e concreta, sempre lidando com emoções que qualquer criança já viveu. (AZEVEDO, 2009)

 

O contato e manuseio de livros e contos de fadas, seja por meio de leitura individual, coletiva ou narrada pelo professor, desperta questionamentos sobre novas palavras, expandindo o vocabulário e o conhecimento das crianças. Portanto, é essencial que o professor aproveite essa oportunidade para desenvolver atividades que envolvam essas palavras novas e variadas para

Além disso, como complemento ao uso dos contos de fadas e da leitura em geral, é conveniente criar um espaço coletivo na escola ou na sala de aula dedicada à leitura dos alunos. Na fotografia abaixo, observe-se uma sala de leitura colorida, atraente e acolhedora, que convida os alunos a desenvolverem cada vez mais o gosto pela leitura. Projetos e atividades coletivas especiais para a leitura são importantes e relevantes no currículo, oferecendo momentos específicos e específicos para essa prática.

 

Fotografia 2 - Sala de Leitura

Fonte: Prefeitura de Sorocaba, SP.

 

Durante os primeiros anos de vida da criança, são construídos e desenvolvidas maneiras particulares de ser e esquemas de relações com o mundo e com as pessoas. Elas vão construindo suas matrizes de relações a partir de sua interação com o meio: o seu comportamento emocional, individualização do próprio corpo, formação da consciência de si, são processos paralelos e complementares do desenvolvimento da criança (em seus primeiros anos) e é nesta fase que prevalecem os critérios afetivos sobre os lógicos e objetivos. (AZEVEDO, 2009)

 

 

Podemos concluir, como afirma Azevedo (2009), que a leitura tem um papel fundamental, sobretudo na vida social dos alunos, contribuindo para a construção do caráter, suas relações com o mundo, com as pessoas ao redor, com a natureza, amigos, familiares, e também com o próprio corpo, sentimentos e conflitos internos. Assim, por meio da leitura e da narração de histórias, o desenvolvimento do aluno se torna não apenas mais prazeroso, mas também muito mais significativo, agregando valores e aprendizagens que serão levadas para a vida.

 

 

Alfabetização nos anos iniciais

 

A alfabetização formal inicia-se no primeiro e segundo ano do ensino fundamental. A partir desse ponto, o aluno já é considerado um leitor e, com isso, começa a vivenciar um processo de interpretação de textos, que se desenvolve com base nesse pressuposto de que ele já possui as habilidades básicas de leitura.

Para os autores como Duffy, Sherman & Roehler (1977):

 

A leitura é um processo que se aprende reconhecendo e compreendendo palavras e frases que se apoiam mutuamente, despertando o interesse das crianças por materiais impressos, brincando e descobrindo significados, com isso, haverá uma melhoria da linguagem e comunicação das crianças com outras pessoas.” (Duffy, Sherman & Roehler, 1977)

 

Ao brincar, o estudante tem a oportunidade de aprender a maneira de identificar suas emoções e desenvolver suas emoções, ao mesmo tempo em que passa a levar em conta o ambiente e as outras pessoas. É fundamental ensinar às crianças não apenas a escrita das letras, mas também a linguagem e a comunicação. Durante o processo de aprendizagem, o educador deve transformar o lúdico em uma forma de arte, ou seja, um recurso que facilita e possibilita o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. 

De acordo com o dicionário online Dicio.com, “letramento” se refere ao: “Processo pedagógico de aquisição e domínio da capacidade de ler, escrever e interpretar textos; alfabetização: o nível de letramento dos alunos.”

Tfouni (1995) expressa sua opinião sobre o tema dessa forma:

 

Hoje, tão importante como conhecer o funcionamento do sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas, respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica. Assim, enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade. (Tfouni, 1995, p. 20)

 

Segundo Soares (2004), o termo letramento emergiu em 1980, sendo considerado essencial para a sobrevivência e a conquista da cidadania, especialmente no contexto das mudanças tecnológicas, políticas, culturais, sociais e econômicas. Dessa forma, o conceito de letramento expande a noção tradicional de alfabetização.

Quando uma história é lida para uma criança, está se encontra em um processo de letramento, pois está experimentando e se envolvendo com as práticas de leitura e escrita. É importante ressaltar que não se deve restringir a definição de uma pessoa letrada apenas ao domínio da técnica de escrita, mas sim considerar aquela que utiliza a escrita de maneira eficaz e sabe "atender às demandas de leitura e escrita impostas pela sociedade de forma contínua".

Atualmente, entende-se que letramento se refere ao domínio da leitura e da escrita; assim, uma pessoa letrada é aquela que detém essas habilidades e as aplica com competência em seu contexto social, tornando-se, portanto, tanto alfabetizada quanto letrada.

Os Referenciais Curriculares Nacionais sugerem que:

 

[...] os professores deverão organizar a sua prática de forma a promover em seus alunos: o interesse pela leitura de histórias [...]. Isto se fará possível trabalhando conteúdos que privilegiem a participação dos alunos em situações de leitura de diferentes gêneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, trava-línguas, etc. propiciar momentos de reconto de histórias conhecidas com aproximação às características da história original no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor. (BRASIL, 1998).

 

 

A educação infantil e a leitura

 

A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. (BRASIL, 1998)

 

Ou seja, A literatura desempenha um papel essencial na formação da autonomia e da identidade infantil. Assim, se as crianças tiverem acesso à literatura desde cedo, elas poderão se expressar por meio de sons, gestos e brincadeiras de faz de conta, o que mais tarde irá nutrir sua imaginação.

Compreendemos também que, além disso, a leitura permite que as crianças desenvolvam habilidades valiosas, como memória, imitação, atenção e imaginação. Esse contato com a literatura também contribui para o amadurecimento de suas habilidades sociais, por meio da interação com os outros, do aprendizado de regras e da exploração de diversos papéis sociais.

De acordo com o RCNEI, a rotina é vista como uma ferramenta que dinamiza o processo de aprendizagem, permitindo que as crianças compreendam melhor o tempo e o espaço. Um calendário estruturado e claro proporciona segurança, ajudando a direcionar as atividades tanto dos alunos quanto do educador, além de favorecer a antecipação de possíveis situações.

 

A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence.” (BRASIL, 1998)

 

A literatura precisa estar presente na rotina dos alunos, sendo uma prática comum no dia a dia escolar. No entanto, é importante considerar que crianças dessa idade têm dificuldades para manter a concentração em uma única atividade por muito tempo. Ao compartilhar uma história, o educador deve estar atento ao tempo, já que a atenção das crianças geralmente dura entre dez e quinze minutos por atividade. Assim, aos poucos, o professor pode estender o tempo das narrativas, estimulando o interesse das crianças por livros mais extensos.

 

É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, das dificuldades, dos impasses, das soluções, que todos atravessamos e vivemos de um jeito ou de outro, através de problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelos personagens de cada história (cada um a seu modo...). E assim consegue esclarecer melhor os nossos problemas ou encontrar um caminho possível para a resolução deles. (AGUIAR, 2001)

 

Ou seja, histórias infantis que são bem contadas podem ser ferramentas valiosas para ajudar a lidar com certos conflitos emocionais que as crianças enfrentam. Por isso, o professor deve cuidar para que esses conflitos não se tornem prejudiciais. Algumas narrativas podem tocar em questões emocionais profundas, impactando negativamente as crianças e causando desequilíbrios em sua personalidade, resultando em complexos futuros. Por esse motivo, a história contada na sala de aula ou mesmo isolada deve ser adequada à idade de cada turma de alunos.

 

O modo pelo qual os contos de fada resolvem esses conflitos é oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fadas, projetam inconscientemente partes delas mesmas em vários personagens da história, usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu. (CASHDAN, 2000)

 

 

Conclusão

 

Este trabalho visa promover uma reflexão sobre a prática de ensino, empregando a alfabetização através de histórias de fadas. A experiência demonstrou que os estudantes se mostram fascinados ao ouvir o educador narrar uma história a partir de um livro como ferramenta de leitura.

Esse "fascínio" se torna mais claro quando os componentes da narrativa, como os personagens que mantêm uma conexão com as crianças, são considerados.

Como professor, é fundamental cultivar o hábito de ler para os alunos, reconhecendo que os livros vão além da mera diversão infantil, oferecendo uma variedade de benefícios. Após essa prática, podemos afirmar que a literatura voltada para crianças estimula diversas habilidades e processos de desenvolvimento, pois transforma a forma de pensar dos pequenos e influencia suas emoções de maneira direta.

É fundamental também que o educador reconheça o papel significativo da literatura no ambiente escolar e na vida das crianças como um todo. Dessa maneira, é essencial fomentar o hábito de ler dentro da sala de aula.

Ao empregar a leitura no contexto escolar, é fundamental que estejamos atentos a certos fatores: a clareza na fala, uma vez que uma boa dicção pode estimular a criatividade das crianças; a escolha de obras adequadas, sendo essencial que os livros contenham ilustrações que auxiliem na interpretação da história; além de ler e compreender as histórias apresentadas.

Refletir sobre o que foi lido e compartilhar seus pensamentos é uma característica de leitores ávidos, e isso é algo que se leva por toda a vida. É fundamental lembrar que cada criança possui seu próprio ponto de vista, e o papel do professor como educador é valorizá-lo.

A leitura precisa ser realizada tanto por educadores quanto pelos estudantes, pois é fundamental que todos tenham acesso aos livros para que a criança desenvolva o prazer pela leitura. Ao término de cada narrativa, é essencial que a criança leve o livro para sua residência, promovendo assim o envolvimento da família com essa forma de literatura.

Assim, ao proporcionar experiências práticas de leitura de obras literárias no ambiente escolar, é possível cultivar o gosto pela leitura nas crianças, fazendo com que elas desfrutem desse hábito. Dessa forma, desde a infância, têm a oportunidade de se conectar de maneira agradável e regular com os livros e com o prazer de escutar narrativas, acompanhadas de textos e ilustrações.

A atividade de narrar e escutar histórias estabelece um vínculo com a leitura e a literatura, um vínculo que pode se manter ou não ao longo do tempo. Portanto, é essencial que haja um incentivo constante ao longo da infância e da adolescência.

A literatura ajuda a criança a se preparar para entender as normas, valores e símbolos do mundo dos adultos. Durante a infância, a criança não apenas observa os conflitos sociais, mas também é resguardada pela fantasia de um universo fictício, onde todos os seus anseios podem se concretizar de maneira mágica.

Por meio dessa rotina de leitura no ambiente escolar, conseguimos criar uma conexão entre a relevância da leitura e o papel social que o educador desempenha na vida da criança.

Isso leva à compreensão de que o aprendizado envolve uma troca de saberes entre o indivíduo e o ambiente ao seu redor, enriquecendo-se por meio de reflexões sobre suas vivências, possibilitando às crianças o desenvolvimento das habilidades de ouvir e se expressar.

Este estudo revela que a leitura influencia diretamente as emoções tanto das crianças quanto dos professores, especialmente quando é aplicada de forma estratégica no ambiente escolar.

É fundamental destacar a relevância da formação dos educadores para o uso dessas ferramentas que auxiliam no ensino, promovendo a mediação do aprendizado em sala de aula por meio de recursos que favoreçam a compreensão. O professor precisa enxergar o conhecimento como um campo amplo, interativo e em constante mudança, além de se comprometer com seus alunos, reconhecendo que a sala de aula deve ser um ambiente dinâmico, acolhedor e adequado para garantir uma educação de qualidade.

Entendemos, portanto, que a ludicidade, assim como a leitura, conecta os estudantes, oferecendo-lhes oportunidades de interação, criatividade, diversão e aprendizado, além de transmitir saberes, normas de convivência, estratégias para resolver problemas e incentivar o respeito mútuo. Assim, para que essa experiência seja realmente significativa para os alunos, é fundamental desenvolver projetos e atividades que ajudem na construção do conhecimento, desafiando-os e permitindo a troca de experiências.

 

 

Referências

 

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