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A inclusão na sala de aula, em especial ao aluno com deficiência auditiva

Camila Francatto de Castro

 

DOI: 10.5281/zenodo.13885922

 

 

RESUMO

 

O presente artigo pondera a inclusão escolar, e, principalmente, a inserção de educandos com deficiência auditiva, enfatizando o ensino da libras, e em especial sua contribuição no processo de ensino e aprendizagem. A inclusão é uma realidade, vem ganhando espaço na sociedade moderna, sendo um tema bastante abordado, trata-se de uma otimização proposta no início da década de 60 que era a integração, onde os alunos com necessidades educacionais especiais tinham que se adequar aos padrões do contexto onde estavam inseridos. A Educação é concebida como um direito de todos, com leis específicas voltadas às pessoas com deficiência. O conhecimento faz-se necessário para que a mesma seja realmente entendida e compreendida como um processo bilateral onde todos possam se beneficiar e aprender além das diferenças. Diversas são as barreiras para o procedimento de inclusão e quebra dos estereótipos da deficiência, o professor deve promover esse elo entre os envolvidos, focando no desenvolvimento articulando esse cenário, apresentando formas de convivência que tornam possível a cidadania e o pleno desenvolvimento do ser humano.

 

Palavras-chave: Deficiência auditiva. Necessidades Educacionais. Educação.

 

 

ABSTRACT

This article considers school inclusion, and, mainly, the inclusion of students with hearing impairments, emphasizing the teaching of Libras, and in particulares its contribution to the teaching and learning process. Inclusion is a reality, it has been gaining ground in modern society, and is a widely discussed topic. It is an optimization proposed at the beginning of the 60s, which was integration, where students with special educational needs had to adapt to the standards the context in which they were inserted. Education is conceived as a right for everyone, with specific laws aimed at people with disabilities. Knowledge is necessary so that it is truly understood and understood as a bilateral process where everyone can benefit and learn beyond differences. There are several barriers to the inclusion procedure and breaking disability stereotypes. The teacher must promote this link between those involved, focusing on development by articulating this scenario, presenting forms of coexistence that make citizenship and the full development of the human being possible

Keywords: Hearing impairment. Educational Needs. Education

 

 Introdução

 

A deficiência impõe uma alteração, reduzindo ou impedindo uma pessoa de realizar uma atividade num padrão considerado normal para o ser humano, em virtude de uma deficiência.

A deficiência auditiva é uma veracidade, e a inclusão escolar vem sendo discutida e estudada em diversos âmbitos, seja ela social ou educacional, a escola deve ser enxergada como local que instruí, possibilitando aos alunos condições adequadas de aprendizagem, focando-se no diálogo, nas relações com demais integrantes, na troca de ideias, no trabalho das possibilidades pedagógicas e estratégias que viabilizem o ensinar de forma que permita que as dificuldades apresentadas sejam compensadas.

A escola, quando admite indivíduos com necessidades educacionais especiais (NEE), reconhece e considera as diferenças nas possibilidades de aprendizagem e no desenvolvimento das pessoas, e enriquece seu conhecimento do processo educacional, sendo necessário planejamento de uma escola para todos, oportunizando novos conhecimentos demandados aos grupos que nela são inseridos.

Dentre os objetivos gerais buscou-se mostrar as possibilidades que o deficiente auditivo encontra no processo de uma educação inclusiva, bem como nas maneiras que o educador procura nesse processo de aprendizagem e no desenvolvimento do ser humano.

Buscou-se como objetivos específicos informações significativas sobre legislação direcionada aos alunos com deficiência. Sendo necessário o amparo legal que assegure e garanta o acesso pela comunidade escolar do direito de aprendizagem dos alunos e de condições de trabalho adequadas de trabalho dos professores.

 Sabe-se que existe muito o que progredir quando se anseia por uma política legitimamente inclusiva seja pelas reais condições dos estabelecimentos de ensino, ou na garantia de recursos financeiros, apoio pedagógico, flexibilização curricular e, na intensificação da formação de todos os profissionais que fazem parte desse processo.

Fundamentando-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996) e na Resolução CNE/CEB Nº02/2001 (MEC, 2001) estabeleceu-se educação especial, assegurando o atendimento aos educandos com necessidades especiais considerando critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial para fins de apoio técnico e financiado pelo poder público. Mas é com o documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que foram inseridas mudanças conceituais e estruturais na organização do sistema educacional.

No processo de tramitação da LDB – pós Constituição – 1988 a 1996, aconteceram três eventos que contribuíram significativamente para a Educação Especial; em 1990, o Congresso de Educação para Todos – Jomtien, na Tailândia – O direito de cada criança à educação, em 1993 – Plano Decenal de Educação para Todos e por fim, em 1994 – Declaração de Salamanca.

Fundamentando-se na Declaração de Salamanca BRASIL (2003), institui-se que os alunos com NEE sejam incluídos em classes regulares de ensino, sendo contra a ideia de segregação, buscando uma integração, mesmo sabendo que a aspectos fundamentais que as diferenciam.

De acordo com Brasil (1988), o artigo 205 da Constituição Federal coloca que “a educação é um direito de todos, e dever do Estado e da família, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Fundamentando-se em Almeida (2004), a língua de sinais vem sendo reconhecida por uma comunidade cada vez maior para a divulgação da Língua Brasileira de Sinais e, mais do que isto, para o aprendizado da mesma.

Conforme o MEC (2006), os sistemas educacionais se responsabilizam pelas adaptações necessárias de ajuste com as necessidades dos alunos, sendo ela tanto no ambiente escolar quanto no curricular. è muito importante que os profissionais sejam pedagogicamente orientados e formados, a fim de trilhar estratégias eficazes de ensino, proporcionando uma educação de qualidade. Entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que contempla, de forma articulada e simultânea a alfabetização e o letramento.

Para se ter sucesso o professor deve elaborar suas aulas estabelecendo os objetivos que busca alcançar com estudo dirigido, selecionando textos adequados aos alunos, aos objetivos do estudo e apresentando outras fontes de informações para despertar o interesse das crianças. Como incluir e proporcionar a esses educandos o acesso ao mundo das letras e das palavras? Através da Libras, que permite a comunicação um com outros, ouvintes ou não, e por consequência o mesmo terá capacidade de aprender a ler e escrever. Isso é um dos direitos do ser humano para assim viver em sociedade, o letramento é, portanto, condição e ponto de partida na aquisição da língua oral pelo surdo, o que remete ao processo psicolinguístico da alfabetização e a explicitação e construção das referências culturais da comunidade letrada BRASIL (2007, p.77).

No Decreto nº 6.571, (2008) referindo-se ao atendimento educacional especializado (AEE), é determinada a educação preferencialmente na rede regular de ensino, como forma complementar ou suplementar à formação dos alunos.

A Educação Especial precisa ser encarada como uma modalidade de ensino que atravessa toda a Educação Básica que não substitui a escolarização, sendo assim os educandos da Educação Especial devem ser matriculados no ensino regular, recebendo uma complementação da escolarização nos Atendimentos Educacionais Especializados (AEE), oferecidos no contraturno - como estabelece a Resolução MEC CNE/CEB nº 4 de 02 de outubro de 2009 - “prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra unidade escolar de ensino regular” (BRASIL, 2009).

O significativo não é discutir qual a abordagem educacional é a melhor, e, por consequência impô-la ao deficiente auditivo, o primordial é levar em consideração o que ele quer, portanto propiciar situações onde ele possa se sentir bem, pertencente a sociedade, ter sua própria identidade, ou seja, se para ele o importante é falar, que ele seja oralizado, se a língua de sinais é o caminho, que ele seja apresentado ao mundo onde as “mãos falam”, o ponto primordial aqui não é não é a abordagem educacional e sim, quem é o aluno, o que ele quer, o que ele precisa para ser visto e compreendido e ter suas necessidades supridas.

Para fundamentação teórica, os dados foram coletados em livros, artigos impressos e artigos da web, buscando compreender melhor os estudos sobre a abordagem do tema de inclusão na educação básica para alunos com deficiência auditiva.

Fundamentando-se em Silva (2010), a inclusão escolar traduz como a construção de uma escola democrática, onde todos os alunos tenham suas necessidades atendidas e respeitadas, cabendo ao educador auxiliar no desenvolvimento de forma integral, inclusiva e estruturada, possibilitando o acesso ao conhecimento formalmente estabelecido e mediando na interação do aluno com a realidade.

Não há como dizer que as pessoas com deficiência possuem relações idênticas à pessoa que não possui, isso porque vivenciam situações complexas, e determinadas atitudes e valores acabam por nos diferenciarem um dos outros. É visível quando uma pessoa possui uma deficiência física, diferente do surdo, pelo simples fato de que a surdez não é perceptível aos olhos. A diferença está no fato de que o deficiente auditivo, detém uma forma própria e especial de olhar, perceber, além de estabelecer relações e valores diferentes, e isso como um todo deve ser levado em consideração para contribuir na educação dos surdos, atrelado aos valores culturais próprios do grupo ouvinte (MOURA, 1996).

Fundamentando-se em Lacerda (2006), referindo-se a Língua Brasileira de Sinais, a maioria dos profissionais da educação por falta de conhecimento das características da surdez, em especial a comunicação entre os surdos, acabam estabelecendo estereótipos que prejudicam na aprendizagem dos deficientes auditivos.

De acordo com Lacerda (2006), esse preconceito linguístico acarreta em um atraso na linguagem, trazendo sérias consequências emocionais, sociais e cognitivas, causando um descompasso na educação dos deficientes auditivos.

 

 

 Um pouco da história da Educação para surdos

 

A língua de sinais teve seus primeiros registros na Idade Média quando o monge beneditino espanhol, Pedro Ponce de Leon (1520 – 1584), “ensinou quatro surdos, filhos de nobres, a falar grego, latim e italiano, além de ensinar-lhes conceitos de física e astronomia” (GOLDFELD, 1997).

De acordo com Goldfeld (1997, p.25). Leon para lecionar desenvolveu um alfabeto manual e mesclou com a oralização, também criou uma escola para professores surdos. Em 1620 na Espanha é lançado o livro: Reduccion de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos de Juan Martin Pablo Bonet, este livro versa sobre o alfabeto manual e foi a base para que se fosse criado outros alfabetos, uma vez que cada país tem o seu, assim como cada um tem sua língua. A educação dos surdos tem os seus primeiros registros quando o educador francês Hernest Huet chegou ao Brasil e utilizava a língua de sinais onde atuava, Instituto Nacional de Surdos-Mudos em 1857, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES).

O educador francês utilizava a língua de sinais francesa e intercalava com sinais existentes no país, foi essa mistura que permitiu a criação da língua brasileira de sinais – Libras, que usamos hoje. Assim como as línguas orais, as línguas de sinais se constituem a partir de outras existentes.

De acordo com Goldfeld (1997), um dos símbolos da história para as pessoas surdas é o francês pedagogo Ababe Charles Michel L’Épée, que ajudou decisivamente na inclusão de alunos surdos na educação pública através da língua de sinais, baseado no princípio de que os surdos aprendem visualmente, ele desenvolveu o método de ensino por gestos, foi o primeiro a criar uma escola para surdos no mundo, disseminando a educação do surdo de individual para coletiva, determinando o estatuto do ser humano para o surdo, entre outras contribuições.

No Brasil, as mudanças aconteceram a partir do século XIX, quando começou a educação especial de cegos e de surdos em internatos, porém, os surdos eram proibidos de aprender a língua dos sinais, pois acreditavam que isso prejudicaria a aprendizagem compulsória da linguagem oral (LANNA JUNIOR, 2010).

Lanna Junior (2010), vai além, essa proibição da prática da língua dos sinais representou a dominação da cultura hegemônica de ouvintes, sobre a comunidade surda, fazendo com que os surdos não desenvolvessem a sua cultura naturalmente.

Em 1857, foi fundado pelo professor surdo francês Eduard Huet o Instituto de Surdos-mudos, hoje conhecido como INES (Instituto Nacional de Educação de surdos). Eduard veio ao Brasil a convite de D. Pedro II para fundar a primeira escola para surdos no país.

A Libras tornou-se reconhecida como língua oficial dos surdos pela Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (Brasil, 2002), e com sua regulamentação por meio do Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 (Brasil, 2005), mudanças significativas aconteceram em relação às comunidades de surdos.

De acordo com o Art. 1º da Lei Federal, é descrito: “É um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas com surdez do Brasil. Baseando-se em Almeida (2004), o desafio atual da educação do surdo é buscar material visual que contribua para o aprendizado da língua escrita em complemento a apresentação visual em LIBRAS, sabendo-se que o sistema de tradução não se dá palavra por palavra em língua nenhuma, mas sem dúvida, é importante o aprendizado escrito.

A INES combinou a língua francesa de sinais e de gestos utilizados pelos surdos brasileiros para criar a Libras, com o passar do tempo a língua foi ganhando espaço, conseguindo em 2002 ser reconhecida como idioma, e regulamentada como língua oficial do Brasil. Mesmo assim, ainda não é um idioma muito utilizado no Brasil pelos ouvintes.

Com o passar dos anos os movimentos em prol das pessoas com deficiência ficaram mais intensos, até que no âmbito Federal se criou a CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), e logo após fundou-se o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE).

Em 2009, a CORDE tornou-se a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na estrutura da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, responsável por propor e avaliar as leis e decretos, articular as políticas interministeriais para apoio as pessoas com deficiência. No mesmo ano o Brasil ratificou a Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência.

A Constituição Federal Brasileira de 1988 se tornou uma das constituições destinadas aos direitos das pessoas com deficiência mais abrangentes do mundo.

 

 

Deficiência auditiva e surdez

 

Fundamentando-se em Santos (2020), o sistema auditivo é composto por uma parte periférica que é o ouvido externo, ouvido médio e o ouvido interno e a parte central. No ouvido externo encontra-se o tímpano, que separa o ouvido externo do ouvido médio e o pavilhão auricular.

O ouvido médio é uma cavidade pequena que se localiza depois do tímpano, é onde se encontram também os ossos martelo, bigorna, estribo e a tuba auditiva. Por fim, o ouvido interno é formado pela cóclea, que é onde os impulsos elétricos - responsável pela audição e os canais semicirculares, que pelo equilíbrio e o nervo auditivo. A parte central é formada pelas vias do tronco cerebral e centros auditivos do cérebro. A perda da audição pode ser de leve a severas ou profundas.

No momento em que se menciona perda de audição leve, refere-se a peculiaridades parecidas como de uma pessoa com a audição perfeita. No caso da perda de audição severa ou profunda, a pessoa apresenta limitações na sua comunicação verbal, bem como no desenvolvimento da sua linguagem, acarretando desta forma prejuízos nas áreas social, acadêmica e ocupacional.

Há uma classificação para deficiência auditiva que é medida por decibéis, uma pessoa para ser considerada deficiente auditiva precisa estar em um nível limiar auditivo entre 25 a 90 decibéis, sendo assim considerada essa deficiência leve, moderada, acentuada, severa e grave, a surdez se caracteriza pela privação total de sons.

As causas da deficiência auditiva podem ser desde antes do nascimento, ocorre no período gestacional, através de doenças, como sífilis, remédios, prematuridade, rubéola; perinatais, ou, após o parto: fórceps, infecção hospitalar e outras, e pós-natais: exposição contínua a ruídos ou sons muito altos, traumatismo craniano e outros.

De acordo com Brasil (1997, p.33-34), os indivíduos que se encaixam na descrição de deficientes auditivos são aqueles que possuem perda auditiva desde leve até a severa, e, são considerados surdos aqueles que possuem perda auditiva profunda.

Pelo decreto nº 5.626, de 22 de janeiro de 2005, fica regulamentada a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, considerando-se deficiência auditiva – surdez, a pessoa que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura, principalmente pelo uso da Libras.

O diagnóstico é feito através de avaliação de fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas, crianças que não reagem ao barulho, não desenvolvem a linguagem, que ficam muito perto da televisão, rádio, pedem para repetir várias vezes o que foi dito, ou, quando só responde quando se fala de frente com elas, apresentam problemas de concentração na escola, crianças muito quietas, que dormem muito e apresentam problemas comportamentais.

O teste da orelhinha, realizado com o bebê dormindo, leva em média 10 minutos, não provoca dor, é colocado um fone de ouvido na criança que emite sons de fraca intensidade e as respostas que a orelha interna produz é capaz de detectar deficiências auditivas desde o nascimento, possibilitando o diagnóstico e o tratamento precoce de eventuais problemas.

Dada a sua importância, em 02 de agosto de 2010 foi sancionada a Lei nº 12.303, tornando obrigatória a realização do exame denominado Emissões Otoacústicas, segundo a lei, todos os hospitais e maternidades devem realizar o teste gratuitamente nas crianças nascidas em suas dependências.

De acordo com Cereja (2004), a linguagem é todo sistema formado por símbolos que possibilita a comunicação entre os indivíduos, dividindo-se em verbal, que é aquela que tem como fator principal as palavras e a linguagem não verbais, a qual utiliza imagens, gestos, placas, expressões faciais, portanto é através da linguagem que conseguimos nos expressar. Introduzindo a linguagem encontra-se a língua, é através dela que cada comunidade se comunica e cada qual possui a sua, cada língua possui suas particularidades, uma estrutura específica e tem o objetivo de comunicar e aproximar pessoas.

Atualmente, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) 360 milhões de pessoas pelo mundo que são surdas, no Brasil são 5% da população, cerca de 10 milhões de pessoas.

O deficiente auditivo, vive em um universo onde os recursos são limitados, e em alguns casos até negados para o desenvolvimento de comunicação, tornando-os pessoas com conceitos baseados naquilo que se vê somente, e quando se deparam com pessoas ouvintes, procuram se adaptar a uma situação que não se enquadra em suas ideologias, mas mesmo assim se esforçam para compreender e conviver com culturas diferentes.

Abraço a ideia de cultura surda como os sistemas partilhados de significações constituídos por registros que utilizam experienciação visual. Cada movimentação, cada nova significação, como as ondas, eles identificam qualquer oposição entre os “nós surdos” e o “vocês ouvintes”. A marcação da diferença identifica e ventila novamente a alteridade e providencia a identidade e a diferença. (PERLIN, 2003, p. 27).

Esses aspectos descritos até aqui se moldam tanto para o mercado de trabalho como para a educação, as crianças surdas passam por um grande desafio nas escolas, por não receberem estímulos auditivos, o que acaba atrasando o seu desenvolvimento na comunicação, causando uma defasagem com relação às outras crianças. E, infelizmente, ainda não existem soluções para todos os casos, mas de qualquer maneira estão sendo avaliados na medida em que for detectando as dificuldades.

Nas escolas apesar de reconhecerem as diversidades, deve ficar claro que há diferença na potencialidade e necessidade de aprendizado dos surdos em relação aos ouvintes para que não haja desigualdade e exclusão dos espaços, é importante que se saiba que as grades curriculares não devem abordar somente as disciplinas comuns como; matemática, história, geografia, entre outras, deve-se também proporcionar questões específicas da própria aprendizagem do aluno “(...) compreender a surdez como diferença significa reconhecer politicamente essa diferença ” (SKLIAR, 1997, p.41).

Um desafio para os educadores é conciliarem o conhecimento e a convivência de alunos com deficiência auditiva em sala de aulas inclusivas, pois faz com que eles desenvolvam elementos criativos e superem os padrões e as alienações que por muito tempo penetraram no núcleo da escola, SAMPAIO (2006).

De acordo com Sampaio (2006), para a inclusão definitiva do aluno surdo na educação, é extremamente necessário que toda a equipe escolar trabalhe em conjunto para que o desenvolvimento do aluno com deficiência seja de fato alcançado. É necessária uma estrutura para que isso ocorra, coordenação, professores, intérpretes, fonoaudiólogos, entre outros profissionais, e assim a comunicação deve ser transmitida e compreendida corretamente pelo aluno.

Claro que nesse contexto não se pode esquecer a importância da efetiva comunicação entre os surdos e ouvintes, que seria a primeira língua (L1): linguagem de sinais e a segunda língua (L2): português, além da importância de comunicação, um aspecto muito relevante também, é a aquisição de conhecimento, afinal alunos surdos são somente surdos e são capazes de aprender normalmente.

São raros os casos que surdos são mudos e dessa forma na maioria das vezes também conseguem falar, só não desenvolvem esse sentido pois não conseguem ouvir, mas com um aparelho de amplificação ou implante coclear isso é possível, claro que eles terão dificuldades de aprendizado da fala, mas com muito esforço e acompanhamento isso pode ser alcançado.

As escolas, e até mesmo os familiares precisam entender que os surdos têm capacidade de construir a sua própria personalidade, o que falta é oportunidade. E para isso se faz necessário buscar conhecimento e informação, e de certa maneira, para os pais, exigir o melhor ensino das escolas para seus filhos surdos.

Este trabalho é reflexivo, ao mostrar a realidade do dia a dia do ensino dos alunos com deficiência auditiva, existem ações que podem ser feitas para que essa situação mude, e o nível de educação dos surdos alcance um patamar ao menos satisfatório, dentre as mudanças que deverão ocorrer, o ensino da Língua Brasileira de Sinais, deve ser apresentada e ensinada a partir do momento em que as crianças surdas começam a sua jornada escolar. 

A linguagem em Libras deve fazer parte do currículo escolar dos alunos, e a partir daí lhes proporcionar tanto a opção de serem avaliados na Língua Brasileira dos Sinais, ou de forma escrita pela língua portuguesa.

Os professores que ministram aulas aos surdos, devem possuir essa qualificação linguística, ou seja, deverá ser fluente em Libras, além da Língua Portuguesa, e assim fornecer um aprendizado adequado aos alunos surdos, nas duas modalidades linguísticas, somado ao conhecimento da cultura surda.

Adaptação ao fato de que os alunos surdos vivem e percebem em um mundo totalmente visual, por isso deverá ser adotada metodologias que se adequem às suas necessidades.

Conectar-se a parcerias, em especial dos familiares dos alunos com surdez, para que eles contribuam de alguma forma para atribuir uma educação de qualidade, através da criação de uma comunidade surda, onde ocorrerá, encontros, debates, seminários, ou seja, uma rede de apoio, aos portadores da deficiência auditiva. 

A rede de apoio aos surdos no âmbito educacional, deverá ser ampliada por profissionais da saúde, além da assistência social, proporcionando informações e esclarecimentos, com o intuito de conscientizar as pessoas, a valorizar a cultura surda, e se atentar ao fato de que as pessoas com deficiência auditiva, são plenamente capazes de se desenvolverem de forma autônoma.

Para se colocar em prática todas essas proposições, e realizar a devida inclusão dos surdos nas redes regulares de ensino público, as pessoas envolvidas nesse processo deverá adquirir a consciência de que o respeito a diferenças é extremamente necessário, em especial as diferenças linguísticas. Ademais, buscar uma conexão saudável entre os alunos surdos, os professores e os ouvintes, deixando de lado o domínio de uma língua sob a outra.

 

 

Considerações finais

 

A sociedade não é estanque, ela vai se transformando, é necessário que ela se modifique para nortear os padrões de um grupo, de uma sociedade, durante a história os deficientes eram considerados inferiores, por isso o seu espaço em sociedade era delimitado, pode se dizer, que era praticamente recluso em seus próprios lares, com as mudanças da sociedade surge a Institucionalização onde as pessoas que possuíam alguma limitação eram colocadas em instituições que tinham a função apenas assistencialista, mas ainda ficam a parte da sociedade.

Pode-se dizer que isso permitia tirar essas pessoas do isolamento, mas não permitia que ela convivesse e interagisse com as pessoas, não promovia sua evolução.

Por volta da década de 60 foi a integração, onde as deficiências ainda como foco, nesta fase a intenção é modificar, fazer com que a pessoa se “adeque” aos padrões da sociedade, para que seja “igual” aos demais. Importante salientar que o indivíduo está sozinho nesse processo pois a sociedade não faz nenhum esforço para ajudar e atender suas necessidades. ´

Contrapondo-se esta ideia chega-se à inclusão que é um processo bilateral, onde todos aprendem, a sociedade vai se adequando para atender as pessoas com necessidades especiais, levando em conta suas necessidades, bem como seus anseios. Inclusão, não se restringe somente ao âmbito educacional, pode se estender ao ambiente social e político, permite como cidadãos conhecer os direitos, saber das diferenças e especificidades, reconhecer a própria identidade e seu espaço e lutar consciente por ele.

No âmbito educacional relaciona-se com a oportunidade de aprender, das potencialidades, onde todos são capazes de aprender, todos têm capacidades, basta minimizar as deficiências e focar no que pode ser feito.

Portanto a integração é você se adequar os padrões de uma sociedade, é tentar se “encaixar”, no ambiente social e educacional que está inserido, onde suas necessidades e desejos não são atendidos, a pessoa está fisicamente inserida, muitas vezes para cumprir uma lei, uma demanda social, mas o mais importante não está sendo levado em consideração, que são suas emoções, seu desejo de pertencimento ao local que ele vive.

Inclusão é a sociedade se adequar para receber as pessoas com necessidades especiais, é enxergar suas potencialidades e transformá-las em ferramentas de aprendizado, é poder ensinar, mas também aprender, é como diz Mantoan (2005), “inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós.”

 

 

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