A representação do negro na literatura infantil
Jaqueline Caminski
Lina Cristiane Cavalheiro
Roseli Velozo Gomes
Sara Miranda Porato
Thays Pereira Dutra Antunes
Resumo
O artigo “A representação do negro na Literatura Infantil” “aponta para uma história, onde a educação foi ideologicamente traçada por conflitos, discriminação e desigualdade social”. Estes aspectos impregnaram na humanidade ímpetos europeus marcados de superioridade relacionando inteligência, beleza e poder aos aspectos físicos e a cor da pele. Neste contexto, procuramos na literatura infantil, obras que valorizem a figura do negro como cidadão pertencente a uma sociedade que o acolha. Como objeto de estudo analisou a ausência de personagens negros na literatura infantil e a forma estereotipada com que eles, quando presentes, em sua grande maioria, são representados.
Palavras-chaves: Literatura infantil. discriminação e desigualdade social.
Summary
The article “The representation of black people in Children's Literature” points to a history, where education was ideologically shaped by conflicts, discrimination and social inequality. These aspects permeated humanity with marked European impulses of superiority, relating intelligence, beauty and power to physical aspects and skin color. In this context, we look in children's literature for works that value the figure of black people as citizens belonging to a society that welcomes them. As an object of study, we analyzed the absence of black characters in children's literature and the stereotypical way in which they, when present, for the most part, are represented.
Keywords: Children's literature. discrimination and social inequality.
Introdução
Partindo do princípio o artigo “A representação do negro na Literatura Infantil” procura identificar as obras literárias ofertadas à população infantil e como o negro está representado nelas. O cidadão negro, desde a mais tenra idade, carrega consigo traços de inferioridade e rejeição ditados pela injustiça social, tecendo uma discriminação injusta e arbitrária. Efeitos nefastos desta tragédia social perduram disfarçadamente no seio familiar invadindo os bancos da escola propagando-se na mídia como veículo de informação. Como resultado, encontramos crianças na educação infantil, reproduzindo ações preconceituosas trazidas de casa. Encontramos também crianças humilhadas sem relação de pertencimento social, pois não se veem fazendo parte do contexto. A imagem não retratada nas páginas dos livros transparece uma invisibilidade angustiante confundindo-se, algumas vezes, com um sentimento de vergonha e inveja por não ser o cavalheiro ou a princesa dos contos de fada.
A Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização. (Cagneti,1996 p.7)
A criança que desde muito cedo entra em contato com a obra literária escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do outro. Por meio da interação literária ela desenvolve seu potencial criativo ampliando os horizontes da cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a cerca.
Desejo e realidade, a distância entre um e outro é enorme.
Por meio da literatura a criança descobre o mundo situando-se nele. Os sonhos e a realidade se unificam extravasando a realidade em forma de fantasia. Esta conexão gera descobertas possibilitando a criança reconhecer-se atuando como protagonista de sua história. Neste misto conflituoso de relações, a criança negra, vê-se estereotipada pela ideologia de raça inferior. Sua relação de pertencimento figura-se em janelas que se abrem para muitos fechando- se para ela. Os livros quando retratam o negro apresentam personagens associados a escravos, babás, domésticas, cozinheiras, jardineiros e outros, sem que sua representação seja abordada de forma positiva. Esta reflexão não gira em torno da profissão, pois cada uma tem seu valor. Porém, somente a estes papéis cabe ao negro interpretar? Não há diversidade de traços nos personagens, os mesmos estão resumidos a "beiços grandes", "nariz achatado" e "cabelo ruim". Os negros estão sempre inseridos em um contexto de pobreza, "burrice" e criminalidade, longe de qualquer possibilidade de ascensão. Qual a criança teria interesse em pertencer a uma etnia onde não existe nada que a faça sentir-se valorizada? Onde estão os personagens no qual ela possa identificar-se? Um exemplo destas ações são os clássicos literários: "Branca de Neve", "Cachinhos Dourados", "Rapunzel", "Cinderela"; todos são personagens brancos.
Algo interessante para refletirmos é o fato de nos serem dados a conhecer a literatura sempre a partir de um referencial europeu. Fomos acostumados às diversas adaptações de contos de fadas como Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria, Branca de neve ou às diversas histórias do livro Mil e uma Noites. (JOVINO: 2006: 183)
Conclusão
A literatura infantil que valorize a criança negra resgataria em sua história injustamente destorcida pela cultura europeia, aspectos socioculturais. Devolveria assim, a relação de identidade e o pertencimento perdidos no tempo. O convívio cotidiano é a forma mais eficaz de trabalhar comportamentos e atitudes. É essencial a aquisição de materiais didáticos que valorizem as diferentes raças mostrando meninos e meninas em posição de igualdade.
Por meio da representação do negro em papéis de heróis, princesas, fadas, vilões e outros tantos arquétipos literários é dado à criança negra um referencial que possibilite o reconhecimento positivo de sua autoimagem.
Desde a abolição da escravatura a população afro-brasileira não tem sido compensada com políticas públicas que minimizem os efeitos de ordem cultural e socioeconômica que lhes foram legados. Sua representação em livros didáticos e de literatura infantil ocorre de forma estereotipada e injusta diminuindo cada vez mais sua importância na construção da cultura brasileira. BEM MARAIS em sua obra Racismo e Sociedade declara que:
(...) há uma relação muito próxima entre escravidão a que foram submetidos os negros e a recusa às pessoas de cor negra...” O estigma em relação aos negros tem sido reforçado pelos interesses econômicos e sociais que levaram os povos negros à escravidão”. Daí o negro ter se convertido em símbolo de sujeição e de inferioridade. E este conceito negativo sobre o negro foi forjado (apud RUIZ, 1988, p.100).
Toda obra literária, porém, transmite mensagens não apenas por meio do texto escrito. As imagens ilustradas também constroem enredos e cristalizam as percepções sobre aquele mundo imaginado. Se examinadas como conjunto, revelam expressões culturais de uma sociedade. A cultura informa por intermédio de seus arranjos simbólicos, valores e crenças que orientam as percepções de mundo. Este universo literário é imaginado pela criação humana, como um espelho onde a criança se reconhece através dos personagens, ambientes e sensações. É nesse processo, que a criança gosta ou desgosta de uns ou de outros, formando opiniões a respeito daquele tipo de pessoa, ambiente ou sentimento.
Neste contexto, conhecer para entender, respeitar e integrar, aceitando as contribuições das diversas culturas, oriundas das várias matrizes culturais presentes na sociedade brasileira, deve ser o objetivo específico da introdução nos currículos do tema transversal Pluralidade Cultural e Educação, considerando sua abrangência e importância social.
REFERÊNCIAS
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JOVINO, Ione da Silva. Literatura Infanto -juvenil com personagens negros no Brasil. In: SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré. (Org). Literatura Afro-brasileira. Salvador: Centro de estudos afro orientais;
Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
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