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A importância da valorização do ensino da Arte para o desenvolvimento infantil

Taís Eduarda Ribeiro

 

DOI: 10.5281/zenodo.13861924

 

 

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar a história da introdução da Arte nas escolas brasileiras e a sua importância no processo educativo, com enfoque na Educação Infantil, para o desenvolvimento das capacidades cognitivas, emocionais, motoras e sociais das crianças. A pesquisa busca analisar a Arte como ferramenta da educação, mostrando que seu desenvolvimento não ocorre de forma isolada, mas em conjunto, de forma social, com a comunidade, família e escola, na qual todos têm uma grande contribuição para o desenvolvimento da formação humana das crianças.

 

Palavras chaves: Arte. Educação Infantil. Processo educativo. Desenvolvimento. Formação humana.

 

 

Introdução

 

O ensino formal da arte no Brasil se iniciou com a chegada da Missão Francesa, no século XIX, com a instalação do ensino superior em arte em respostas às transformações que ocorreram com a chegada da corte portuguesa para o nosso país. Nesse cenário, foram impulsionados pelos artistas franceses, a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, inaugurada em 1816 por Dom João VI que posteriormente se tornou a Escola de Belas Artes.

A estrutura dessas escolas eram neoclássicas e priorizavam a instrumentalização dos alunos para a reprodução da estética clássica, o ensino era centralizado no papel do professor como único detentor do conhecimento. Esse modelo de ensino perdurou por muito tempo no Brasil até o surgimento da Nova escola, que propunha práticas pedagógicas inovadoras para o ensino da arte, trazendo a valorização do processo de ensino e aprendizagem com base nos ideais humanistas. Entretanto, com o período vanguardista, os ideais escolanovistas perderam força, voltando apenas no fim da Era Vargas, após 1947.

Durante a década de 1970, foi introduzida no currículo brasileiro, a Educação Artística, apenas como atividade artística, visando desenvolver habilidades de leitura e reprodução de imagens, voltadas para ilustração das datas comemorativas. Atualmente, houve uma grande mudança em relação ao ensino da arte em seus diferentes aspectos. Hoje, ela é reconhecida como componente curricular e é obrigatório seu ensino em todas as escolas brasileiras de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394/1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que explicita:

 

O documento de Arte expõe uma compreensão do significado da Arte na educação, explicitando conteúdos, objetivos e especificidades, tanto no que se refere ao ensino e à aprendizagem, quanto no que se refere à arte como manifestação humana.

 

Desse modo, nesse artigo, iremos analisar e abranger as diversas peculiaridades da Arte no desenvolvimento infantil, bem como sua singularidade para a formação do indivíduo, visando uma maior reflexão sobre a história do ensino de Arte no Brasil e sua devida importância para a criação e estimulação do pensamento crítico em crianças.

 

 

  1. O processo histórico de valorização do ensino da Arte no Brasil.

 

Para que o ensino da Arte tivesse a valorização e reconhecimento através de leis e diretrizes no Brasil, foram necessários anos de histórias e lutas no processo educativo. Nem sempre a Arte e seu ensino, representou de fato, o povo brasileiro. Vejamos a seguir, um pouco da trajetória do ensino da Arte e como ele foi influenciado pelas políticas enfrentadas em nosso país, que perpassou por drásticas mudanças em diversos momentos da sua história, até chegar nos dias de hoje:

Se iniciou o ensino de Arte no Brasil, no século XIX, com forte influência da cultura europeia, seu estudo era pautado em rígidas regras e padrões estéticos, valorizando a técnica e o conceito de beleza fixo e idealizado, tendência dos modelos da escola neoclássica.

Com a chegada da Proclamação da República, em 1890, passou-se a observar que o distanciamento da realidade brasileira presente nas obras, que apresentavam o padrão europeu, ainda acontecia. Porém, com a Semana de Arte Moderna, em

1922, grandes transformações ocorreram através de um grupo de artistas que se reuniram e se manifestaram contra o espírito conservador que predominava no campo artístico, dando uma reviravolta na forma de ensinar regradas da antiga academia de arte no Brasil.

Logo em 1930, com o governo de Getúlio Vargas, é apresentado em nosso país novas leis para a educação, como políticas públicas que tornaram o ensino gratuito e obrigatório. É nessa época que entra em vigor no Brasil, a escola nova que segundo Dermeval Saviani:

 

… deslocou o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental, baseada, principalmente, nas contribuições da Biologia e da Psicologia (SAVIANI apud FUSARI; FERRAZ, 1991, p. 31, grifos das autoras).

 

Já com a chegada da ditadura, durante o governo de Getúlio Vargas é instaurado o Estado Novo, o que confere uma pausa no movimento escolanovista, fazendo o ensino ficar voltado para trabalhos manuais. Assim, podemos enfatizar o pensamento de Marilene Schrsmm exposto em seu artigo, para refletirmos em como essa mudança impactou negativamente o desenvolvimento do ensino da arte: “Com a ditadura de Vargas, a Escola Nova é afastada do poder, e a educação passa por um período de estagnação; consequentemente, o ensino-aprendizagem da arte fica adormecido por mais um tempo”

Com o fim da ditadura, por volta de 1947, há uma tentativa de retorno aos ideais escolanovistas e o ensino da Arte é voltado para o desenvolvimento da criatividade do aluno, juntamente com a livre expressão. Cria-se então o movimento Educação através da Arte voltada para a educação cultural, na qual buscava auxiliar na formação do indivíduo por completo.

 

A Educação Através da Arte é, na verdade, um movimento educativo e cultural que busca a constituição de um ser humano completo, total, dentro dos moldes do pensamento idealista e democrático. Valorizando no ser humano os aspectos intelectuais, morais e estéticos, procura despertar sua consciência individual, harmonizada ao grupo social ao qual pertence. (FERRAZ E FUSARI, 2001, p.19).

 

Entretanto, a democracia chega ao fim e se restabelece a ditadura militar de 1964 a 1985, o que impactou novamente o ensino da Arte, que passou a ser conhecido pela pedagogia liberal tecnicista, voltada para a formação técnica para a produção, que de acordo com as Leis de Diretrizes e Bases n.5.540/1968 e n. 5.692/1971 torna obrigatório o ensino da disciplina Educação Artística, por um professor polivalente.

Com o fim da ditadura militar, a partir de 1980 em diante, o ensino da Arte no Brasil passa a ter outro valor e significado. Após toda essa trajetória, a Arte finalmente começa a ser reconhecida como disciplina curricular, presente na Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394/1996, tornando-se obrigatório na educação básica, o que foi um grande marco na história da educação Brasileira. Isso se torna claro quando analisamos os PCN 's (1997, p. 30)

 

Em 1988 com a promulgação da constituição, iniciam-se as discussões sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que seria sancionada apenas em 20 de dezembro de 1996. Convictos da importância do acesso escolar dos alunos de ensino básico também à área de Arte, houve manifestações e protestos de inúmeros educadores contrários a uma das versões da referida lei, que retirava a obrigatoriedade da área. Com a Lei n.9.394/96, revogavam-se as disposições anteriores e a Arte é considerada obrigatória na educação básica: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (art. 26, § 2º).

 

Portanto, se torna notório ressaltar a importância das manifestações e lutas dos educadores para um ensino melhor da Arte, buscando sempre destacar e reconhecer o seu papel para o desenvolvimento da coordenação motora, do cognitivo, da afetividade e pensamento crítico, contribuindo assim, com a formação humana.

 

 

  1. A arte como ferramenta do desenvolvimento infantil.

 

A Arte pode ser trabalhada de diversas formas e em diversos ambientes diferentes, sendo eles escolares ou não, porém, qualquer uma de suas modalidades (sejam elas: artes visuais, dança, música ou teatro) têm um papel muito importante para o desenvolvimento infantil, promovendo a maturação intelectual, emocional, social e motora.

Desse modo, conforme a criança entra em contato com o mundo artístico, ela encontra diversas formas de expressar suas ideias e emoções, e busca respostas para criar e solucionar problemas, o que estimula a sua criatividade e a imaginação. Além disso, as atividades artísticas, como desenhar e pintar, favorecem o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças, pois trabalham os movimentos de motricidade fina e grossa.

Na medida em que a criança explora a sua imaginação criando ideias, pintando, desenhando, escrevendo, entre outras, ela encontra uma forma segura de se expressar, fazendo com que a parte emocional seja estimulada e desenvolvida. Assim, quando trabalhado em conjunto, as atividades artísticas, fortalecem as habilidades sociais, de forma que cria situações para que as crianças aprendam a trabalhar em equipe, ouvir o outro e a respeitar as diferenças.

 

Ao imaginar, isto é, ao criar suas primeiras ficções, a criança prepara-se para dialogar. A imagem e o símbolo são nela provisoriamente o outro. Por ele a criança passa, de forma cada vez mais complexa, a dialogar consigo e sua cultura. Interferindo e modificando ativamente, é afetada e modificada em sua forma intensa de entender e interpretar as coisas e os outros, seu meio cultural (RICHTER, 1999, p. 195).

 

Por outro lado, a Arte é uma pode ser uma grande ferramenta para colocar a criança em contato com culturas diferentes, o que aumenta seu conhecimento de mundo e desenvolve uma visão mais ampla da sociedade, juntamente com uma compreensão maior sobre a diversidade cultural, o que a faz desenvolver o respeito e a tolerância desde cedo, o que contribui com uma construção de sua identidade.

Assim, devemos nos lembrar que a Arte deve ser trabalhada como uma atividade prazerosa para a criança, a fim de que suas habilidades sejam exploradas. Buoro (1996, p.28) afirma que:

 

É na infância que se desenvolvem as construções simbólicas que permitem o trânsito entre o real e o imaginário e asseguram a compreensão de que as produções pessoais são fontes de domínio e saber sobre a escrita diferenciada da arte e fonte de prazer pelo envolvimento afetivo que proporcionam.

 

Segundo a autora, é necessário valorizar o processo criativo infantil, incentivando as crianças a explorarem sua própria produção artística, além de interagir com as criações de outras crianças e com diferentes formas de Arte, sejam os desenhos, pinturas, dança, modelagem e entre outros que influenciam no desenvolvimento do processo de criação infantil e uma experiência educativa e criativa. Assim, cabe aos familiares e aos educadores buscarem metodologias para que possam estimular o processo artístico da criança, sempre respeitando seu conhecimento prévio e sua bagagem cultural.

 

 

  1. A importância do ensino da Arte na Educação Infantil.

O ensino da Arte foi uma conquista para a educação brasileira. Sua importância vai muito além do desenho e da pintura, mesmo na educação infantil é visível a sua importância para o desenvolvimento da criança, sendo ela a base para as futuras etapas do ensino da Arte. Segundo Barros e Gasparini (2007, p. 2):

 

A arte é uma representação da realidade, é um meio de compreender fatos históricos, tornando-se um objeto socialmente construído. Ela deve ser inserida no ambiente educacional a fim de torná-la conhecimento escolar. O entendimento da arte na sala de aula deve fornecer subsídios para que o educando compreenda a arte como comunicação, sendo um meio pelo qual o homem mostra ao mundo a sua aspiração, inspiração inquietude e ousadia expostas às contingências da realidade; tornando-se necessário, desta forma, despertar nos alunos e futuros professores a necessidade que a manifestação artística possa e deva ser fruto da reflexão.

 

É na educação infantil que a criança entra em contato com a Arte preparada por um educador, chegando com seus conhecimentos culturais e gerais aprendidos em família ou em comunidade e começa a ter contato com atividades preparadas, como intuito de estimular ainda mais o desenvolvimento cognitivo, social, motor, emocional e afetivo. Assim, as crianças estão constantemente criando, experimentando e vivenciando a Arte em diferentes formas, espontaneamente, juntamente com a interação com o outro, sejam colegas, educadores ou familiares.

 

[...] durante as criações ou fazendo atividades de seu dia a dia, as crianças vão aprendendo a perceber os atributos constitutivos dos objetos ou fenômenos à sua volta. Aprendem a nomear esses objetos, sua utilidade, seus aspectos formais (tais como linha, volume, cor, tamanho, textura, entre outros) ou qualidades, funções, entre outros... Para que isso ocorra é necessário a colaboração do outro – pais, professoras, entre outros - sozinha ela nem sempre consegue atingir as diferenciações, muitas vezes sua atenção é dirigida às características não - essenciais e sim às mais destacadas dos objetos ou imagens, como por exemplo, as mais brilhantes, mais coloridas, mais estranhas... (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 49).

 

O ensino da arte na educação infantil vai muito além de atividades recreativas, desempenhando um importante papel no desenvolvimento integral da criança. Ao estimular a criatividade, o pensamento crítico, a expressão emocional, as habilidades sociais e motoras, a Arte auxiliam na formação humana, favorecendo seu crescimento como indivíduo e como membro de uma sociedade diversa e em constante transformação. Nesse sentido, a escola passa a ser um espaço onde o aluno pode entender a Arte como uma forma de expressar seu próprio mundo, pois na infância ela reflete as experiências vividas pela criança, enquanto a arte do adulto resulta da sua interação e compreensão do ambiente ao seu redor.

 

[...] é a concepção de que a criança é muito mais inventiva que o adulto [...], esse último apresenta potencial criativo desenvolvido e repertório acumulado pelas experiências vividas, sendo capaz de ativar esse potencial e repertório em situações especiais, transformando-se e mudando o mundo. A criança normalmente ainda não transforma a realidade,  apenas a si mesma. (BUORO, 2000, p. 84)

 

Desse modo, é muito importante que o pedagogo elabore as atividades artísticas partindo do lúdico, do brincar, das vivências, buscando sempre estimular o aprendizado significativo, disponibilizando o acesso a recursos para que se desenvolva o processo criativo das crianças. Nesse sentido, o professor deve utilizar a sala de aula e os ambientes escolares para a construção de atividades que explorem a criatividade, a capacidade motora, o cognitivo dos estudantes, possibilitando experiências prazerosas, que desperte nas crianças o interesse pela Arte.

 

O contato com a arte faz-se pela mediação de um educador sensível, com capacidade de proporcionar situações que possam ampliar a leitura e compreensão do mundo e de sua cultura por parte da criança. Tendo como finalidade estreitar a relação entre Arte e o universo infantil, a criança passa a ter o conhecimento de Arte enquanto faz Arte. (FERREIRA, 2015, p. 9).

 

Portanto, se torna notório a importância da presença artística nas escolas, desde a educação infantil, onde o aluno entra em contato com o lúdico, o brincar de formas diversas. Assim, destaca-se também, a importância do olhar do pedagogo para saber desenvolver essas atividades de forma prazerosa, buscando sempre despertar o interesse das crianças, a sua criatividade e imaginação.

 

 

  1. O papel do pedagogo no ensino da Arte na Educação Infantil.

 

O pedagogo que desenvolve atividades artísticas na Educação Infantil necessita iniciar o seu planejamento de aula pensando nos conhecimentos gerais que a criança carrega consigo para então passar a criar atividades que sejam significativas e que busquem explorar as capacidades motoras, sociais e cognitivas das crianças. Assim, nem sempre é fácil encarar a tarefa de desenvolver atividades, o que faz do pedagogo um pesquisador constante. Segundo Pimentel (2009, p. 24):

 

Ensinar arte significa possibilitar experiências e vivências significativas em fruição, reflexão e elaboração artística. Para isso, é necessário que a professora tenha uma base teórica, tanto para conhecer os caminhos trilhados por seus/suas alunas quanto para propiciar momentos significativos que possibilitem encontrar novos processos individuais e coletivos.

 

Por outro lado, o educador deve buscar desenvolver as suas aulas, não de forma isolada, mas junto com a comunidade escolar. Como diz Ferreira (2001, p. 11),” Na opinião de muitos professores, as artes têm um caráter utilitário, meramente instrumental. O desenho, por exemplo, serviria para “ilustrar os trabalhos de português, ciências, geografia”. É preciso mudar essa maneira de pensar e reconhecer que a arte deve ser desenvolvida de forma integrada. Isso se alinha com o pensamento de Vygotsky, que afirma:

 

A arte é o social em nós e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de maneira nenhuma, que as suas raízes e essência sejam individuais. É muito ingênuo interpretar o social apenas como coletivo, como existência de uma multiplicidade de pessoas. O social existe até onde há apenas um homem e suas emoções pessoais. [...] A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumento da sociedade (VIGOTSKI, 1999, p. 315).

 

Além disso, ao ensinar Arte, o professor deve se lembrar que em sua sala de aula existem a presença de várias culturas diferentes presentes em cada criança, que em sua vivência familiar e em comunidade, já conhece diversas formas artísticas e costumes. Assim, ao elaborar seu plano de aula, este deve reconhecer as adversidades e buscar trabalhá-las e desenvolvê-las de forma respeitosa. Segundo Paes (2018):

 

A Arte para as crianças sofre a influência da cultura existente. Cada lugar no mundo possui sua história, uma cultura. E, com a Arte, essa cultura pode ser transmitida para os alunos com uma mais fácil compreensão. Com as atividades desenvolvidas pelas crianças, podemos perceber seu contexto social, sua visão de mundo, seus sentimentos e desejos. Todo o processo de criação do aluno pode e deve ser enriquecido pelas ações do professor. As crianças chegam à Educação Infantil possuindo uma percepção da realidade um tanto quanto incoerente e fragmentada, trazem para as creches e pré-escolas o que dominam até o momento, e com as manifestações artísticas nos primeiros anos de vida, podem contribuir com uma compreensão de mundo mais ajustada, nas suas relações com o meio e com o desenvolvimento do psiquismo infantil (PAES, 2018, online)

 

O trabalho do educador é fundamental para a compreensão da importância da expressão artística no processo de formação do indivíduo, pois cabe a ele sistematizar atividades que desenvolvam diretamente todas as formas de expressão ligadas ao equilíbrio emocional, social, afetivo e intelectual. Nesse sentido, o pedagogo deve encontrar maneiras para que esse aprendizado ocorra de forma prazerosa para a criança, através do lúdico e do brincar. De acordo com Fuzari e Ferraz (1993, p. 84),

 

“O brincar nas aulas de arte pode ser uma maneira prazerosa de a criança experimentar novas situações e ajudá-la a compreender e assimilar mais facilmente o mundo cultural e estético.” O brincar é uma maneira de ajudar a criança a entender melhor o conteúdo que está sendo ensinado.

 

Desse modo, cabe ao professor valorizar as produções feitas pelos seus alunos, saber da importância de cada detalhe pensado pela criança na elaboração da atividade. Assim o professor além de ser um mediador do processo educativo, deve também buscar fugir dos estereótipos e ouvir os conhecimentos dos estudantes com atenção, mesmo se tratando de crianças pequenas, é de suma relevância que o educador, esteja atento e ao seu aluno e faça perguntas que instiguem a sua criatividade. Segundo Alves (2008, p. 1):

 

Sabendo também da importância de não somente contemplar a produção do aluno, como a leitura desta produção e de outras imagens, reforço a ideia de ampliar as possibilidades do que é apresentado a eles, diversificando sempre e tentando não se prender a estereótipos. Estes, por sua vez, fazem com que muitos alunos acabem seguindo-os por pensarem que assim terão seus trabalhos aceitos mais facilmente pelos professores, mas na verdade, o que ocorre é que com os estereótipos as crianças aos poucos desaprendam o seu próprio desenho, perdendo a confiança nos seus traços e começando a considerá-los "feios".

 

Portanto, é relevante que o pedagogo reconheça o seu papel no processo de aprendizagem das crianças, buscando sempre pesquisar e atualizar seus conhecimentos. Ao preparar suas aulas, ele deve analisar quais habilidades ele busca desenvolver, com o intuito de saber qual será o ponto de partida de sua aula, quais serão os recursos que ele irá precisar buscar para se trabalhar as atividades. Para isso, o professor deve utilizar como método de pesquisa a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), entre outros recursos, como livros, internet e até mesmo a troca de ideias com outros professores e familiares das crianças, buscando sempre fomentar o desenvolvimento da criatividade e do lúdico infantil.

 

 

  1. O uso de materiais reciclados como recurso de atividades artísticas na Educação Infantil.

 

Muitas das vezes o educador se encontra em uma realidade escolar em que não tem acesso a recursos para realizar as suas atividades e essa situação não pode ser um entrave para ele desenvolver o seu trabalho. Desse modo, é possível buscar apoio em materiais simples e de fácil acesso, como os materiais recicláveis, podendo pedir apoio dos familiares e da comunidade para arrecadar esses recursos.

Com a arrecadação dos materiais, o pedagogo pode buscar explorar a criatividade das crianças, estimulando com o brincar e com o lúdico, dando livre acesso aos recursos e deixando as crianças livres para criar seus próprios brinquedos, fazendo com que ocorra trocas de materiais e ideias entre os colegas, o que contribui para sua integração social.

 

[...] Através do brinquedo, a criança inicia sua integração social: aprende a conviver com os outros, a situar-se frente ao mundo que a cerca. A ideia do reaproveitamento de materiais descartáveis chega ao conhecimento da família, pela criança (WEISS, 1989, p. 110).

 

Assim, trabalhando desde cedo questões sobre a valorização dos objetos e seu reuso, as crianças começam desde pequenas a terem mais consciência sobre o reaproveitamento de materiais e compartilham isso para os seus familiares. Nesse sentido, o professor pode trabalhar a ludicidade das crianças, estimulando a criatividade e a imaginação ao ponto de fazer uma simples garrafa pet, tampinhas, sacolas, papeis usados, jornais, revistas, CD'S velhos, entre outros, se transformem em objetos artísticos lúdicos criados por eles.

 

Com a ludicidade se aprende a equilibrar as emoções e cria um ambiente prazeroso estimulando a aprendizagem. O lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação (BORGES e NEVES, 2007, p. 18).

 

Por fim, é importante relembrar que criar Arte é um processo livre da criança, principalmente na Educação Infantil, onde a motricidade e o cognitivo estão em desenvolvimento constante, o professor necessita ter um olhar cuidadoso diante dessa situação e trazer recursos que sejam compatíveis com a idade da criança, buscando sempre despertar a aprendizagem prazerosa pela Arte, a fim de que a criança aprenda se divertindo.

 

 

Considerações finais

 

Com base nas informações presentes no artigo, conclui-se que o ensino da Arte nem sempre esteve inserido em nosso país e seu reconhecimento como disciplina curricular, com leis e diretrizes que comprovem o seu ensino como direito do aluno, é uma verdadeira conquista para o povo brasileiro. Por mais que ainda existam fatores a serem melhorados, devemos valorizar toda a sua trajetória e reconhecer a sua importância na sociedade brasileira.

Contudo, se torna notório reafirmar os benefícios do ensino da Arte para o desenvolvimento infantil, de forma que habilidades cognitivas, sociais e motoras, sejam amplamente estimuladas com a elaboração de atividades artísticas e lúdicas. Assim, devemos valorizar também o papel do educador como peça-chave para o desenvolvimento da Arte nas escolas, de forma a estar sempre atento ao seu aluno, mediando o processo de ensino e aprendizagem e buscando sempre compreender a criança como ser social, que traz consigo uma bagagem cultural que deve ser respeitada e reconhecida. Além disso, o educador deve sempre incentivar a criatividade e o estímulo ao lúdico infantil, em busca do melhor desenvolvimento da criança.

 

 

Referências

 

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VIGOTSKI, L. S. Psicologia da arte. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1999

 

WEISS, Luise. Brinquedos e engenhocas: atividades lúdicas com sucata. São Paulo: editora scipione. 1989.