Buscar artigo ou registro:

 

 

 

Jogos e brincadeiras no processo de alfabetização

Cleide Gomes Braga1

Keila Gomes Braga2

 

DOI: 10.5281/zenodo.13787500

 

 

RESUMO

O presente trabalho tem como temática a utilização de jogos e brincadeiras no processo de alfabetização. Essa é uma importante etapa educacional e, portanto, deve ser trabalhada corretamente. Como o principal objetivo do estudo realizado está: Auxiliar na compreensão sobre a importância da utilização de recursos lúdicos no desenvolvimento da alfabetização. Enquanto isso, os objetivos específicos consistem em: Compreender o processo histórico da educação infantil no Brasil; analisar os principais desafios encontrados pelos professores ao longo dos anos; entender a ludicidade como recurso educacional. Tais questionamentos trazem importantes reflexões sobre as técnicas que vem sendo utilizadas pelos profissionais de educação com o intuito de alfabetizar seus alunos. A fundamentação teórica utiliza os pressupostos de Huizinga (1996), Brougère (2010), Vigotsky (1984), Dias (2017), Barela (1999), Santos (2007), Canda (2004), entre outros importantes autores na área da educação. Os professores são os responsáveis por desenvolver metodologias de ensino inovadoras, que tenham como objetivo melhorar o desempenho dos alunos. Já a escola deve acolher todos os seus discentes, o processo de afetividade é uma importante questão que deve ser abordada continuamente nas escolas. O educador deve se apresentar como o mediador entre o conhecimento e o aluno, não impondo limites para o aprendizado. No decorrer do trabalho foram apresentados importantes questões como as diferenças apresentadas entre os termos jogo e brincadeira e a função da ludicidade no processo educacional.

 

Palavras-chave: Ludicidade. Alfabetização. Jogos. Brincadeiras.

 

 

Introdução

 

O presente trabalho tem como temática a utilização de estratégias lúdicas no processo de alfabetização. É importante ter em mente que a educação passou por importantes transformações ao longo dos anos, durante muito tempo foi privilégio de uma pequena parcela da sociedade. Esse fator é um dos grandes responsáveis pela intensa desigualdade social existente no país. A escola é peça fundamental para o desenvolvimento intelectual e moral das crianças, uma vez que são os professores as principais referências dos alunos. Muitos estudantes não possuem estrutura familiar adequada, e por isso espelham suas ações em seus mestres.

Por isso a necessidade de profissionais preparados, que estejam em constante busca e defesa de uma educação de qualidade. O processo de alfabetização é uma fase de grande relevância na vida escolar, nesse período muitos alunos se sentem frustrados por não obter o desempenho esperado. Por serem um processo que exige esforço muitos alunos se sentem desmotivados e cansados. Nesse momento cabe ao professor a utilização de estratégias que estimulem o aprendizado. Os recursos lúdicos surgem nesse momento como um importante aliado, pois é possível aprender brincando. Como problemática desse artigo, busca-se refletir em como o uso de jogos e brincadeiras pode facilitar o processo de alfabetização?

O estudo foi criado após análises de importantes autores da literatura brasileira e estrangeira o que caracteriza uma pesquisa de origem bibliográfica.

A utilização de recursos lúdicos em sala se justifica, pois, o brinquedo deve ser considerado como a essência da infância, ele proporciona a realização de um trabalho pedagógico que tenha em vista a produção de conhecimento. Com as mudanças no sistema de ensino no decorrer dos anos, a brincadeira passou a ser vista como uma forma de educação, e é considerado um forte veículo de aprendizagem.

 Partindo do pressuposto de que a ludicidade é uma temática que permeia o contexto educacional, sendo amplamente debatido nos dias atuais, este trabalho caminha pelo referido tema de modo não somente a buscar entendê-lo a partir dos conceitos de estudiosos e teóricos, mas também visando à aplicação lúdica na sala de aula.

 

 

Metodologia

 

A metodologia segundo Andrade (2007, p. 119) “é o conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na busca do conhecimento”. E de suma importância, pois norteia os procedimentos essenciais à execução de qualquer pesquisa. Os métodos aqui apresentados consistem em compreender como se deu o processo de desenvolvimento do artigo, bem como a sua importância perante o sistema educacional.

Para a realização do trabalho foi utilizado uma metodologia de caráter qualitativo, onde foi realizado um levantamento bibliográfico de obras e autores que discutem a mesma temática defendida neste projeto, entre os autores citados no texto encontram – se Cláudio Saltine, Antônio Cunha, entre outros. Foram realizadas leituras e análises minuciosas de artigos, teses, dissertações que ajudaram na elucidação de ideias para que pudesse ampliar e enriquecer os debates aqui realizados. Os autores mencionados no decorrer do trabalho possuem renomados estudos sobre temas como infância, ludicidade, desenvolvimento infantil entre diversos outros assuntos de enorme relevância.

Esses estudos auxiliam no desenvolvimento dos aprendizados relacionados ao tema, e proporcionam significativos resultados perante o processo educacional. São através de pesquisas que o aluno desenvolve seus conhecimentos e consegue dialogar sobre determinado tema. Entende-se assim, que ao pesquisar sobre determinada temática, existe uma busca de respostas, de forma planejada e organizada. Diante disso, o objetivo foi compreender a fundamentação e assim os conhecimentos nas soluções de problemas teóricos e práticos, contextualizando nossas vivências. Desta forma, através de leituras em artigos e livros, usou-se uma pesquisa de forma bibliográfica:

 

[...] é aquela que se realiza a partir de registro disponível, decorrente de pesquisa anteriores, em documentos impressos, que nada mais é do que um levantamento de um determinado tema, processado em bases de dados nacionais e internacionais, podendo ser por meio de artigos de revistas, livros, teses e outros documentos. (SEVERINO, 2007, p.122).

 

Esse tipo de pesquisa se enquadra no objeto de estudo, possibilita o recolhimento de dados indispensáveis à pesquisa com o intuito de identificar quais as compreensões que os pesquisados têm sobre a importância da ludicidade no desenvolvimento da alfabetização.

 

Aspectos históricos da Educação no Brasil

 

Para compreender o modelo educacional que existe nos dias atuais e é necessário conhecer as mudanças históricas que vêm sendo realizadas na educação ao longo dos anos. É necessário ainda ter em mente que a forma como a criança é vista sofreu inúmeras mudanças no decorrer dos séculos.

 No período da Idade Média não havia uma concepção teórica sobre o termo infância, as crianças eram vistas como adultos em miniatura e com menos condição de força, por serem vistas assim eram obrigadas a trabalhar desde muito cedo, muita das vezes eram doadas a outras famílias para que pudessem aprender um ofício. Havia grande número de mortalidade infantil nesse período, a higiene era precária, não existiam vacinas ou cuidados médicos específicos, isso fazia com que as crianças fossem vistas como um ser frágil e sem perspectiva de vida.

Foi apenas no decorrer do século XVII que começaram a surgir às primeiras mudanças na forma como se enxergava a criança. A igreja católica foi uma das grandes responsáveis por essa mudança, a associação das crianças aos anjos fez com que passassem a ser compreendidos como seres inocentes, desprovidos de maldade e, portanto, diferente dos adultos.

 A história das instituições com atendimento voltado à infância está relacionada aos problemas políticos, econômicos e sociais que atingiam o Brasil. O grande índice de desigualdade social sempre foi presente em nosso país, dessa forma começou a surgir a necessidade de procurar medidas para atender crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Já na década de 1970, ocorre uma crescente evasão escolar e um enorme número de repetência das crianças das classes pobres no primeiro grau.

Diante dessa questão optou – se pela instituição do modelo de educação pré-escolar, por muito tempo também conhecida como educação compensatória, a faixa etária a ser atendida foi a de crianças de quatro a seis anos. Vale destacar que as pré-escolas criadas não possuíam um caráter formal, os professores não eram qualificados e a remuneração não era digna para a construção de um trabalho pedagógico sério. Assim como nas primeiras creches, a maioria da mão de obra era voluntária. O principal marco da Educação Infantil no país foi a Constituição Federal de 1988, creche e pré-escola passam a ser reconhecidas como um dever do estado e um direito da criança, ganham concepção pedagógica e passam a integrar o sistema de ensino. A constituição também reforçou o caráter obrigatório e gratuito do ensino do 1°grau.

A criança passou a ser enxergada como um ser pertencente à sociedade e a educação compensatória começou a ser e enxergada não como um caminho, mais como um atraso na educação brasileira. No ano de 1990 foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, o estatuto é resultado de diversos debates sobre a importância da implementação de leis que tivessem o objetivo de proteger os pertencentes a essa faixa etária.

Grupos de intelectuais, especialistas em educação infantil, sociedade civil entre outros, foram os responsáveis pela criação do estatuto, esse também é um dos grandes diferenciais, a participação popular na elaboração das leis: O final do século XX foi marcado por grandes mudanças na educação, a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 20 de dezembro de 1996, criou medidas que proporcionaram melhores qualidades para o ensino.

A LDB define que a educação infantil passa a compor a educação básica, esse é um importante avanço para o modelo de educação brasileiro.    Mesmo diante de tantas mudanças o período da pré-escola ainda é enxergada de maneira errada pela maioria da população. Muitos não conhecem a sua real importância, não compreendem a necessidade dos estímulos realizados nessa fase.

Caso não sejam estimulados de forma adequada, o processo de desenvolvimento cognitivo acaba sendo prejudicado e ao ingressar no ensino fundamental a criança sofre inúmeras dificuldades. É importante que haja um trabalho de conscientização com as famílias, para que conheçam a relevância da educação infantil para o pleno desenvolvimento físico, motor e cognitivo das crianças, e dessa maneira realizem também os estímulos necessários dentro do ambiente familiar.

 

 

A criança, A brincadeira e o jogo

 

Embora pareçam sinônimos, os termos jogo e brincadeira possuem significados diferentes, suas funções no contexto educacional são de grande importância para a educação, todavia, deve – se ficar atento a faixa etária indicada para cada etapa. Em sala de aula ambos se apresentam como importantes estratégias pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental, portanto devem ser adaptadas para que todos os alunos possam realizar as atividades propostas, e assim se beneficiar delas.

Essas adaptações não estão relacionadas apenas a faixa etária indicada para cada atividade, é preciso identificar os jogos que atendem crianças não alfabetizadas e as já alfabetizadas. Estratégias lúdicas são uma importante ferramenta no processo de alfabetização, contudo, o professor deve estar atento ao interesse que o aluno demonstra perante a atividade.

O jogo é o responsável por permitir que as crianças tenham acesso a regras que devem ser cumpridas para alcançar a atividade. Sua utilização auxilia no processo de desenvolvimento da criança e auxilia em questões como a aceitação de ganhar e perder.

 

Quando a criança joga precisa submeter- se as delimitações da atividade para alcançar seu objetivo, assim apesar de limitar a imaginação o jogo caracteriza-se como uma importante ferramenta para o comportamento da criança, além de desenvolver o pensamento, adaptação, inteligência e senso de honestidade, ou seja, o objetivo do jogo para o desenvolvimento da criança está em seu processo mais do que em seu resultado (FRIEDMANN, 1996, pg.34).

 

Enquanto nos jogos os acontecimentos ficam delimitados, a brincadeira se apresenta como algo livre e que permite a utilização da imaginação. Através de brincadeiras a criança constrói sua própria imagem, expressa suas emoções é um dos primeiros passos de socialização na vida dos pequenos.

 

O brincar revela a estrutura do mundo da criança, como esta organiza seus sentimentos, as questões que ela levanta em relação ao mundo que vê, explora as interações humanas, desenvolve suas ações tanto física como emocional (VYGOTSKY, 2000).

 

A brincadeira como recurso pedagógico é vista por vários estudiosos como essencial, pois permite que as crianças brinquem na maior parte de seu tempo, assim o brincar e o jogar são métodos eficientes para que a criança adquira conhecimentos sobre a realidade. É importante destacar que a utilização do jogo no desenvolvimento infantil depende do conhecimento do professor em relação à criança, e a etapa de desenvolvimento que ela se encontra.

Lima (1984, p.24) destaca que, “brincar é uma fonte de lazer e de conhecimento. Sendo que essa dupla natureza permite considerar o brincar como parte integrante da atividade educativa”. O desenvolvimento de a criança no jogar e no brincar está intimamente ligado à maneira como o professor direciona o ensino para as etapas de desenvolvimento que ainda não foram alcançadas. É necessário incentivar novas conquistas, ampliar os caminhos do conhecimento e estarem atentas às questões psicológicas apresentadas pelos alunos.

 

O educador tem um papel importante na relação da criança com o brincar. É a partir dessa mediação que a criança passa por seu processo de construção do conhecimento, então este educador tem que ter competência técnica para fazê-la (ANTUNES, 2000, pg.13).

 

Para que seja possível a realização de um trabalho de excelência alguns aspectos devem ser observados, o educador deve conhecer seus educandos e respeitar seus limites físicos e cognitivos. Outra questão importante é a busca pela participação dos alunos nas atividades realizadas, todos devem se sentires confortáveis e estimulados a aprender.

 

 

Trabalhando a ludicidade no desenvolvimento educacional

 

O lúdico faz parte da vida do ser humano há muito tempo, a palavra lúdica tem sua origem no latim ludus que significa jogo. Dessa forma entendemos por lúdico os jogos, brincadeiras e também brinquedos. Atividades desenvolvidas através da ludicidade são vistas como auxiliadoras no processo de desenvolvimento emocional, intelectual, cognitivo e social das crianças.  Através do brincar a criança é exposta a momentos valiosos, onde ela pode construir sua visão de mundo. Os jogos e brinquedos fazem parte da vida da criança, são através deles que a criança vivencia suas fantasias.

 Vygotsky (1998) nos revela que:

 

O faz de conta é uma atividade importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois exercita no plano da imaginação, a capacidade de planejar, imaginar situações lúdicas, os seus conteúdos e as regras inerentes a cada situação. (VYGOTSKY, 2000, p.124).

 

Estudiosos destacam a importância das atividades lúdicas na infância, veem o brincar como importante estímulo não apenas para o desenvolvimento cognitivo, mas também para o social. O brincar social é o responsável por criar um parâmetro a respeito do grau em que a criança interage umas com as outras. Já o brincar cognitivo mostra como está sendo o desenvolvimento mental da criança, a criança precisa ser exposta a experiências concretas, motivações, desafios e situações-problema.

 

É importante que o educador insira o brincar em um projeto educativo, com objetivos e metodologia definidos, o que supõe ter consciência da importância de sua ação em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem das crianças. Ressalta-se que a aprendizagem é o mais frequente motivo pelo qual o jogo é considerado importante para a educação, em que o brincar se torna realmente significante com a ajuda dos seus educadores, que devem seguir o seu papel de auxiliadores nesse processo. (FORTUNA, 2003, pg.03).      

 

Os educadores, os pais e a comunidade escolar devem ter consciência de que os ensinamentos propostos na infância são primordiais para a construção da aprendizagem e afetividade na formação do ser social. A criança quando chega à escola tem características específicas, por isso precisa ser trabalhada de forma muito única, através do brincar e do faz de conta. No espaço escolar o educador é o responsável por transformar sua sala de aula no mundo do aluno, onde ele sinta liberdade em brincar e sinta – se a vontade para colocar sua imaginação em prática.

O professor deve entrar no mundo do aluno e fazer parte dele. As crianças devem brincar livremente com materiais diversificados, manipulando, explorando e descobrindo suas funções. Dantas (2002), afirma que: "Toda ação da criança é lúdica, pois exerce por si mesma antes de poder integrar-se em um projeto de ação mais extenso que a subordine e transforme em meio". (p.113). Dessa forma os professores precisam trabalhar de forma diversificada trazendo para os alunos atividades diferentes e interessantes.

A criança deve ser considerada um ser em construção, precisa ser cuidada em todas as suas esferas, seja ela familiar, emocional ou educacional. Elas têm direitos assegurados por leis como direito à educação, saúde, lazer. Os profissionais da educação devem ser preparados para a utilização de metodologias inovadoras que atendam às necessidades das crianças, o brincar deve ser praticado e vivenciado em sala de aula. A criança é protagonista da sua infância, mas é através da escola que um novo mundo é apresentado a ela. Diante disso, faz se urgente, a capacitação de professores para que atuem com práticas pedagógicas que atendam as crianças em fase de aprendizagem.

É preciso que a escola de educação infantil deixe de ser vista como apenas um local onde as crianças brincam, deve haver consciência que as atividades desenvolvidas nesse período irão auxiliar em todo o processo educacional.          Tanto as instituições, quanto os profissionais que atendem crianças pequenas devem organizar seu tempo para proporcionar aulas recreativas, onde as crianças possam interagir entre elas, tenham uma rotina determinada, horários e atividades livres e guiadas.

O lúdico deve ser inserido dentro da rotina pedagógica da instituição de ensino. Aulas devem ser prazerosas e dinâmicas. É importante trabalhar projetos que estimulem os alunos, que resgatem e reconstrua a vivência, a interatividade com brincadeiras e jogos cooperativos. A competitividade deve ser administrada pelo professor, desde muito cedo os alunos devem ser orientados sobre o ganhar e perder, sobre o respeito às diferenças e as limitações de cada um.

 

 

Recursos lúdicos da pré-alfabetização

 

O termo ludicidade nunca foi tão discutido no universo educacional como nos dias atuais, com o desenvolvimento do mundo tecnológico algumas brincadeiras essenciais ao desenvolvimento infantil estão se perdendo. Um exemplo significativo dessa questão são as cantigas de roda. Nicolau e Dias (2003) destacam em seu trabalho que:

 

As brincadeiras de roda assumem grande importância por levar a formação do círculo, situação em que o grupo pode-se comunicar frente a frente. Dando as mãos, as crianças formam um todo. Cantam, dançam ou tocam juntas; criam e seguem regras, exercitam textos e movimentos de forma coletiva, desenvolvendo a socialização e praticando democracia com valores de respeito mútuo, cooperação e unidade de grupo. (NICOLAU E DIAS 2003, p.78).

 

Na fase de pré-alfabetização muitos profissionais focam apenas em apresentar aos alunos o sistema alfabético e o sistema numérico, a escola acaba impondo professores que ensinem a ler e a escrever. Muitos utilizam – se de metodologias tradicionais, que tornam as aulas maçantes e dificultam o processo de ensino/aprendizagem dos alunos. De acordo com Toledo, (2008):

 

Elege a brincadeira como um dos eixos fundamentais do processo educacional, concebendo-a como atividade cultural que favorece a construção da autonomia da criança, desempenhando importante papel em seus processos de desenvolvimento, de aprendizagem, de construção da subjetividade e de produção de cultura (TOLEDO, 2008 p.78).

 

As crianças são apresentadas as regras, condutas, modos de agir, letras, números, de forma “organizada”, enfileiradas, desde os primeiros dias de aula. Muitas vezes a escola se apresenta como um local muito certinho e sério, e o “brincar” se limita ao intervalo do recreio. Esse modelo tradicional contradiz ao que os estudiosos relacionam sobre o papel de socialização e desenvolvimento que as brincadeiras exercem. Ciente dessa situação, muitos profissionais vêm chamando atenção para a importância do resgate de métodos educacionais que trabalhem utilizando – se dos princípios da ludicidade. É importante também que sejam esclarecidos os métodos utilizados em sala de aula, pois muitos familiares desconhecem a importância desses recursos, os acham desnecessários ou “uma perda de tempo”.

 

Ao considerar as brincadeiras das crianças como algo que atrapalha a aprendizagem, a escola começa a separar os momentos que são para “aprender” dos que são para “brincar”. Por que esses momentos precisam ser separados? Por que as crianças precisam deixar de brincar para serem transformados no adulto? Por que o adulto não pode brincar? (TOLEDO 2008, p.12).

 

Faz – se então necessário um trabalho pedagógico onde os alunos sejam estimulados a aprender brincando, dessa forma o aprendizado se torna prazeroso e há maior interesse por parte dos alunos nos conteúdos abordados. Inúmeras ações lúdicas podem ser realizadas, tais como: teatros, músicas, contação de histórias, jogos e brincadeiras.

Nesse momento é muito importante que o professor se organize e tenha sempre em mãos uma segunda opção de atividade, pois nem sempre os alunos vão se interessar de imediato pela primeira atividade proposta.

 

 

A contação de histórias como auxiliar no processo de alfabetização

 

É imperativo que a contação de histórias possui função significativa no desenvolvimento da criança, sendo utilizada como planejamento pedagógico desde a educação infantil, elencando objetivos básicos, desde a estimulação a reflexão de formadores de leitores:

 

É de suma importância que o professor veja na literatura infantil uma forma de aprendizagem única para criança, e que ele acredite que a contação de história faz com que a criança adentre no mundo encantado da leitura. Buscando, assim, fazer com que as crianças tenham um bom desempenho na aprendizagem. Se o professor não acredita nos benefícios que a contação pode oferecer, não será realizado um trabalho de qualidade. Nesse contexto percebe-se que tem que ser uma atividade realizada com amor, dedicação e confiança, planejada para que seja alcançado um resultado satisfatório para ambos. (SILVA, 2016, p.34).

 

No ensino fundamental a contação de histórias contribui de forma positivamente na alfabetização, e se apresenta como uma importante ferramenta lúdica. A criança entra na escola com muitas expectativas, e reconhecer letras e números é almejo de todos os pais, assim através de livros pode-se iniciar um trabalho eficaz, ao qual ajuda na criatividade e na imaginação, buscando com que a criança se apodere de novas realidades e gêneros literários, saiba estimular perguntas, raciocínios, argumentar, criar, comparar etc. Ouvir histórias nesse processo contribui para formação de novos leitores, ao qual entram no mundo da descoberta e compreensão de uma forma muito lúdica.

Silva (2017, p.09) menciona que:

 

Quando se trata de crianças que acabaram de ingressar nas primeiras séries do ensino fundamental tudo para elas é novidade, e muitas vezes o novo pode trazer experiências desconfortáveis, principalmente para aquelas crianças que tiveram uma vivência na educação infantil, na qual todas as atividades envolveram momentos lúdicos e de brincadeiras. Quando tais crianças passam a frequentar o ensino fundamental, elas percebem que toda a estrutura, não só física, mas a organização e a forma de ministrar as aulas pelos professores (as) mudaram completamente. As aulas passam a serem mais rígidas; passa-se a exigir mais atenção e disciplina dos alunos; muitas vezes não há mais momentos descontraídos durante o processo de ensino-aprendizagem, tornando o fato de ir para a escola algo desestimulante para a criança, dificultando, assim, todo o processo educativo. Nesse contexto, a contação de histórias é um instrumento de grande valia nessa transição. Apesar da ausência de estudos avaliativos neste campo, entendemos que a criança, ao ouvir uma história que relate sua trajetória até o momento, elabora o inevitável rompimento dos vínculos estabelecidos nessa fase e se prepara para uma nova etapa, diminuindo assim o próprio nível de stress, o medo e a insegurança.

 

Ao entender que o foco do ensino fundamental é a alfabetização, através da contação de histórias o professor pode ampliar esse processo, trazendo uma metodologia diferenciada, lúdica, criativa e desafiadora. É importante que o aluno possa entender esse processo de transição e adaptação, ao mesmo tempo, adquirir habilidades como aquisição e apropriação do código linguístico oral e escrito, numa narrativa que evidencia a brincadeira, um universo lúdico, uma apropriação social e cultural que irá influenciar diretamente a aprendizagem.

Sendo assim, através da contação de histórias o professor pode elaborar a sua sala de aula, com gêneros variados, conhecimentos e preferências das crianças, além de conhecer quais suas narrativas, interesses, com objetivos pedagógicos que apresentem letras e números, com uma linguagem e conhecimento de mundo:

 

[...] ler histórias para as crianças, sempre, sempre [...] é suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas e encontrar outras ideias para solucionar questões – como os personagens fizeram – é estimular para desenhar, para musicar, para teatralizar, para brincar... Afinal, tudo pode nascer de um texto. (CORTES, 2006, p. 79).

 

A alfabetização é um processo que necessita de métodos lúdicos, e trazer a contação de história nessa proposta forma hábitos únicos, como ler e escrever, oportunizando com que os alunos se encorajem a ouvir e reproduzir histórias, ao mesmo tempo, trabalhar a oralidade e escrita. Mediante a contação de histórias, o educador ainda pode atribuir a novas aprendizagens, o contato com a música, novos gêneros literários, com os versos e as rimas:

 

Para contar uma história, seja qual for, é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes [...] capta-se o ritmo, a cadência do conto, fluindo uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o a das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... E tão linda! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro (...). Ela é o uso simples e harmônico da voz. (ABRAMOVICH, 1995, p. 18).

 

Trabalhar a contação de histórias para alfabetização transmite muitos aprendizados, de forma significativa o aluno pode entender as realidades e assim suas narrações, sejam de forma orais ou escritas. A criança mesmo que não saiba ler, consegue captar através da escuta, vai associando as letras, da capa, dos nomes, e assim construindo e decifrando como o educador chega naquela contação, atribuindo inclusive o gosto em querer aprender com mais precisão como se faz essa relação de signos e códigos, trabalhando o reconhecimento de letras e sílabas. A contação de histórias se torna uma estratégia docente, onde o professor vai chamar os alunos, conversar, dialogar, acalmar, fazer imaginar.

De acordo com Santhiago (2017) existem diversas técnicas para se contar uma história, entre essas é ofertar elementos, não só o livro papel, mas fantoches, bonecos, cestas, caixas, etc. A entonação de voz é outra consideração, pois pode adaptar aos personagens, as ilustrações dos textos, apropriando-se de técnicas que sejam benéficas, explorando um mundo teatral e musical, encantando e convidando os alunos a refletirem no contexto da história, para conhecer seu enredo:

 

Adotando esses meios o professor, apesar de não ter frequentado um curso de cotação de histórias, com o tempo e a prática, irá adquirir experiência e se tornará um excelente contador de histórias e, com isso, estará potencializando o desenvolvimento de seus alunos. A prática de contar histórias pode refletir no desenvolvimento dos alunos como indivíduos completos, pois pode ser um instrumento para o início de inúmeras atividades que associam movimentos corporais, gestos, expressões faciais, voz e afetividade no momento do reconto ou durante a contação, se a história narrada pedir a participação efetiva dos interlocutores (PACHECO, 2009, p. 40).

 

Dicas simples que podem contribuir na prática do dia a dia, além de favorecer uma metodologia, se tornando um hábito o contar histórias, sendo convidativo, participativo e reflexivo na educação e alfabetização.

Para tanto, considera-se que a contação de histórias na alfabetização atribui a diferentes emoções: alegrias, medos, desejos, desafios, onde a criança também vai aprendendo a lidar com esses sentimentos e de uma forma muito lúdica, vivenciando essas socializações para um ensino aprendizagem de forma dinâmica e prazerosa.

 

 

O papel da música na alfabetização

 

A música em sala de aula deve ser trabalhada através de atividades lúdicas como os jogos e brincadeiras musicais. O ensino da música deve ser prazeroso, e proporcionar aos alunos uma nova experiência. Atividades como cantigas de roda, dança circular, apreciações musicais de vários instrumentos, atividade de exploração corporal e dança são essenciais nesse processo. “Ouvir, cantar e dançar, é atividade presente na vida de quase todos os seres humanos, ainda que seja e diferentes maneiras.”(BRITO, 2003, p. 55).

De acordo com Gardner (2003), “ a área cerebral responsável pela música ésta muito próxima da área do raciocínio lógico-matemático. A música estimula os circuitos do cérebro, e também contribui para o desenvolvimento da linguagem”.

O uso correto da música é como uma ferramenta didático-pedagógica oferecendo aos alunos a integração das habilidades da língua: ouvir, falar, ler e escrever. Na escola, a música deve ser utilizada como recurso didático.

De uma forma de conhecimento e linguagem que podem ajudar no desenvolvimento da escuta, pelo qual a música deve ser o plano de fundo para o restante das atividades.  Escutar música envolve todas as dimensões que constituem uma pessoa, favorece no seu desenvolvimento. As crianças que não tem acesso á música, perdem a oportunidade de desenvolver o seu potencial.

 

O uso da música em escola como auxiliar no desenvolvimento infantil tem revelado sua importância singular, pois através das canções vive, explorar o  meio circundante e cresce do ponto de vista emocional, afetivo e cognitivo, cria e recia situações que ficam gravadas em sua memória e que poderão ser realizada quando adultos.  (BEBER, 2009, p.4)

 

Com as crianças uma boa proposta é trabalhar os sons da natureza, como a chuva , os pássaros cantando, o cantar do grilo, da cigarra, os latidos do cachorro, e outros. É importante trabalhar a diferença dos sons, como o som do metal, madeira e instrumentos musicais.

 

O analfabeto poderá, com efeito, participar, grandemente, através de disco, da televisão e do cinema falado e cantado, de artes por algum tempo dirigidas principalmente ao alfabetizado capaz de ler livro, revista ou jornal com a arte do romance, sob a forma de obra literária, a do conto, a do folhetim redigido para jornais, a do poema escrito ou impresso (FREYRE, 1980, p.79).

 

Stabile (1988, p. 121) destaca que “a música e a dramatização permitem a expressão pelo gesto e pelo canto, o que traz satisfação e alegria”. Estudos comprovam a importância para a criança em observar o outro para  então depois executar a ação. Nesse sentido quando o professor não tem o dom de cantar deve utilizar CDs ou outras mídias existentes na instituição. A música exerce forte influência na vida das pessoas, ela é algo que toca o ser humano profundamente, através dela acontece um tipo de comunicação emocional, seja através dos ritmos, dos movimentos, sons ou simplesmente pelas melodias harmoniosas que encantam os ouvintes. A música envolve o perceber, o sentir, o experimentar,  auxilia ainda o criar, o recriar e o refletir. Por isso se torna uma importantes estratégia lúdica a ser utilizada no processo educacional.

 

 

Considerações finais

 

Este trabalho foi elaborado com o objetivo de conhecermos a importância da ludicidade para o processo de alfabetização. Brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da criança, são através de brincadeiras que elas desenvolvem aspectos cognitivos e emocionais, fundamentais para sua interação social e também para seu desenvolvimento na escola. Ao iniciar a vida escolar a criança necessita de um período de adaptação a novas experiências, muitas vezes ela se sente insegura e não consegue acompanhar os colegas de classe nos conteúdos que estão sendo desenvolvidos. Diante dessa situação o professor surge como um importante aliado, ele deve acolher e amparas seus alunos, se mostrando afetivo e interessado por cada um deles. O processo de alfabetização exige muito de ambas as partes, professores e alunos, por isso a necessidade de tornar esse processo algo mais leve, e é justamente o que acontece quando o profissional utiliza – se de estratégias lúdicas. Os alunos conseguem aliar o aprendizado a um momento de prazer, além de desenvolver capacidades importantes como memória, imitação e imaginação. A família também é uma importante aliada nesta fase de ensinamentos e aprendizagens significativas que compreendem o processo de alfabetização. São eles os responsáveis por reforçar em casa os aprendizados ensinados na escola. Também cabe aos familiares incentivarem os alunos, métodos como a contação de história são excelentes para se trabalhar em casa com as crianças. Contudo devemos ter em mente que muitos alunos não possuem esse apoio em casa, seja por descaso dos familiares ou por questões relacionadas a desigualdades sócias. Diante disso, a importância do professor é reforçada, o aluno o tem como exemplo a ser seguido. Encerro esse trabalho destacando que um bom profissional é aquele que busca caminhos, troca experiências com outros profissionais da área, auxiliar no processo de comprometimento com o cientificismo, com o estudo, com a pesquisa, e abandonar os improvisos e a passividade.

 

 

Referências

 

ABRAMOVICH, Frannf. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices.São Paulo: Scipione, 2001.

 

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução á metodologia do Trabalho Científico. 10. Ed. São Paulo. Atlas. 2017.

 

ANTUNES, C. O jogo e o brinquedo na escola. In SANTOS, S.M.P.Brinquedoteca a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, Vozes, 2000.

 

BEBER, M. C. A música como fator de sensibilidade na educação infantil. Rio Grande do Sul, 2012.

 

 

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

 

CORTES, Maria Oliveira. Literatura infantil e contação de histórias. Viçosa-MG, CPT, 2006.

 

DAMÁSIO, A. O mistério da consciência: do corpo e das emoções do conhecimento de si. – São Paulo: companhia das letras, 2000.

 

FORTUNA, T. R. Jogo em aula: recurso permite repensar as relações de ensino-aprendizagem. Revista do Professor, Porto Alegre, v. 19, n. 75, p. 15-19, jul./set. 2003.

 

FRIEDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4ª Ed. São Paulo: Abrinq, 1996.

 

FREYRE, Gilberto. Arte, Ciência e Trópico, 2ª ed. São Paulo: Difel/Difusão Editorial S.A., 1980.

 

NICOLAU, Marieta Lúcia Machado; DIAS, Marina Célia Morais (orgs.). Oficinas de sonho e realidade na formação do educador da infância. Editora PAPIRUS; Campinas, SP, 2003.

 

PACHECO, D. F. L. A formação de professores-contadores de histórias, como proposta para o letramento e desenvolvimento de oralidade, leitura, cognição e afetividade. 2009.

 

PINO, A. O biológico e o cultural nos processos cognitivos, em Linguagem, cultura e cognição: reflexão para o ensino de ciências. Anais do encontro sobre Teoria e Pesquisa em ensino de ciências. Campinas: gráfica da Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 2000.

 

SILVA, Gleice Ferreira da; ARENA, Dagoberto Buim. A leitura na Educação Infantil e as histórias em quadrinhos. Disponível em: Acesso em: 08 de outubro de 2018.

 

TOLEDO, Cristina. O brincar e a constituição de identidades e diferenças na escola. In: Garcia, Regina Leite (Coord.). Anais. II Congresso Internacional – Cotidiano: diálogos sobre diálogos. GRUPOALFA – Grupo de Pesquisa e Alfabetização das alunas e alunos das classes populares. Rio de Janeiro, Niterói, 2008.

 

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos. 2000.