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Reflexões sobre a dislexia no ambiente escolar

Neuzeli Rodrigues dos Santos1

 

DOI: 10.5281/zenodo.12999843

 

 

RESUMO

A alfabetização é essencial na vida de uma pessoa; indo muito além de codificar e decodificar palavras, ela faz parte de toda uma prática social de uma sociedade. Sabemos que uma das etapas mais importante na vida escolar de uma criança é a alfabetização, pois aprender a ler e escrever é um dos objetivos, mais esperados pela família e pelos próprios educandos. Algumas crianças passam por essa fase de alfabetização sem nenhuma dificuldade, porém outras não conseguem se apropriar desse tipo de linguagem. O presente trabalho trata da dislexia no âmbito escolar cujo objetivo refletir sobre a dislexia no ambiente escolar, no qual busca conhecer esse transtorno, bem como abordar o processo de alfabetização das crianças que tem transtorno de aprendizagem. Refletir sobre a dislexia é buscar um meio de sanar esse déficit na sala de aula, buscando alternativas de trabalhar o ensino aprendizagem com o aluno que possui esse tipo de transtorno. Como caminho metodológico utilizou-se de pesquisas bibliográficas referente ao tema por meio de artigos, monografias da internet que dão embasamento teórico a discussão proposta, a fim de colher informações de autores que já abordaram o assunto. Como objetivo central procurou compreender a dislexia no ambiente escolar, uma vez que esse tipo de transtorno acaba por afetar a linguagem oral, a leitura e a escrita da criança. Tendo como objetivos específicos os seguintes: apresentar uma breve reflexão sobre a dislexia abordando o conceito e também o que ela afeta nas crianças; bem como o processo de alfabetização dos estudantes com esse transtorno, pois ler e escrever com competência e compreensão é a chave para o acesso a inúmeras habilidades e conhecimentos fundamentais.

 

PALAVRAS-CHAVE: Dislexia. Ambiente escolar. Alfabetização.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a dislexia no ambiente escolar, no qual busca conhecer esse transtorno, bem como abordar o processo de alfabetização das crianças que tem transtorno de aprendizagem.

Refletir sobre a dislexia é buscar um meio de sanar esse déficit na sala de aula, buscando alternativas de trabalhar o ensino aprendizagem com o aluno que possui esse tipo de transtorno.

A escolha do tema se deu pelo fato de estar em contato direto com a educação e por perceber que a dislexia pode ser sanada por meio atividades que auxiliam a aprendizagem dos alunos disléxicos mediadas pelo professor.

Como caminho metodológico utilizou-se de pesquisas bibliográficas referente ao tema por meio de artigos, monografias da internet que dão embasamento teórico a discussão proposta, a fim de colher informações de autores que já abordaram o assunto.

Diante de uma primeira análise sobre a dislexia, orientou-se a pesquisa no sentido de compreender o conceito desse transtorno, procurando diagnosticar como o educador pode auxiliar no processo de aprendizagem das crianças com perturbação da aprendizagem. Como objetivo central procurou compreender a dislexia no ambiente escolar, uma vez que esse tipo de transtorno acaba por afetar a linguagem oral, a leitura e a escrita da criança. Tendo como objetivos específicos os seguintes: apresentar uma breve reflexão sobre a dislexia abordando o conceito e também o que ela afeta nas crianças; bem como o processo de alfabetização dos estudantes com esse transtorno.

No desenvolvimento foi possível discutir sobre as estruturas da dislexia a partir do mecanismo do neurodesenvolvimento, assim como debateu sobre a importância da alfabetização, contextualizando processos que incentivam no desenvolvimento do aprendizado da criança disléxica, finalizando com a conclusão do trabalho.

 

 

2 DESENVOLVIMENTO

 

2.1 Conhecendo a dislexia

 

A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem. Segundo (ABD, 2016 online) citado por Silva (2021) a dislexia é definida como uma dificuldade ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração, sendo o distúrbio de maior incidência nas salas de aula.

Para o manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5) a dislexia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades de aprendizagem caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fluente de palavras, problemas de decodificação e dificuldades de ortografia. (DSM 5, 2014, p. 67 apud Silva, 2021, 13).

Segundo Tavares & Lima (2020) a dislexia pode ser definida como uma perturbação constitucional primária, geneticamente transmitida, havendo dificuldade de a criança adquirir a capacidade normal de leitura, pelos métodos normais de ensino. Geralmente o nível mental dos disléxicos é normal, mas a maioria deles apresenta lentidão anormal no desenvolvimento da fala. O distúrbio deve-se a uma desorientação têmporo-espacial, e os disléxicos têm dificuldade em ler letras com semelhança visual, como d e b; p e q, por exemplo.

Sobre a dislexia Gomes (2010) aborda:

 

Distúrbio ou dificuldade de aprendizagem é um termo que se refere a um grupo heterogêneo de desordem que se manifesta por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão auditiva da fala, da leitura, de escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens consideradas intrínsecas ao indivíduo podem ser devidas a uma disfunção do sistema nervoso central e podem perdurar durante toda a vida. (GOMES, 2010, p. 140 apud BARBOSA, 2014, p. 13).

 

A dislexia é considerada um transtorno específico da aprendizagem porque seus sintomas geralmente afetam o desempenho acadêmico de estudantes, sem que haja outra alteração (neurológica, sensorial ou motora) que justifique as dificuldades observadas. A dislexia é um transtorno que aparece claramente na escola durante a alfabetização. É hereditária e congênita, sem causas culturais, intelectuais e emocionais. (KAPPES et at 2012, PIMENTA, 2012, p.1 apud CARREIRA, 2016, p.14).

Há diferentes graus de dislexia, descritos como leve, moderado e severo. O grau de dislexia baseia-se, em geral, na severidade das dificuldades apresentadas pelo indivíduo. É na infância que essa dificuldade desponta e ela está relacionada a um distúrbio no reconhecimento e orientação das letras e de sua sequência ou significação nas palavras. Entretanto, a percepção visual e a orientação espacial dos sujeitos disléxicos permanecem intactas (ORTON, 1925 apud BARBOSA, 2014, p.12).

Algumas crianças, ao chegaram ao processo de aquisição da linguagem escrita de forma sistemática, apresentam algumas dificuldades, dificuldades essas que as impedem de chegar à fase da escrita condizente com a norma culta. Esta dificuldade muitas vezes, está ligada a diversos fatores, desde emocionais, até disfunções de escrita. Carreira (2016) comenta:

 

A dislexia não é considerada uma doença e seus sintomas podem ser identificados já na educação infantil. Disléxicos apresentam um funcionamento peculiar do cérebro para os processamentos linguísticos relativos à leitura, não estando relacionados a distúrbios visuais e auditivos, ou ainda a problemas psicológicos ou socioculturais. A dificuldade central apresentada pelo do disléxico está em associar o símbolo gráfico às letras, e estas ao som que representam, e também de e organizá-las mentalmente numa sequência temporal. (CARREIRA, 2021, p.14).

 

Analisando os aspectos de disfunção da escrita tem-se a dislexia, uma das geradoras dessa dificuldade de aquisição da escrita convencional. Para tanto, é necessário que o professor, não somente das séries iniciais, mas de todas as demais séries do Ensino Fundamental, tenha conhecimento do que vem a ser dislexia, evitando assim “erros” quanto ao ensino da linguagem escrita de seus alunos. A dislexia acaba por exigir um jeito diferente de aprender, individualizado, partindo da ideia de que toda criança tem uma forma de ser e de aprender. (SILVA, 2021, p. 14).

Vale ressaltar que a dislexia não é causada por escolaridade deficitária, estrutura familiar fragilizada, recusa em aprender ou rebaixamento cognitivo. Portanto, o processo de aprendizagem de leitura do disléxico é extremamente lento. Quando o indivíduo começar a ler, irá construir ao longo do tempo um estoque de palavras que serão adequadamente armazenadas em seu cérebro. De acordo com Domiense (2011):

 

A priori percebemos que as crianças com dislexia apresentam seu potencial e que é útil ao educador conhecer mais e melhor seus caracteres e também do sistema e unidades cerebrais para oferecer e desenvolver um trabalho de qualidade, respeitando suas limitações e seu tempo e ritmo de aprendizagem. (DOMIENSE, 2011, p. 23).

 

Segundo Domiense (2011) um indivíduo disléxico pode ser, e em geral é, normal em tudo, menos no aprendizado ou no desempenho da leitura e escrita. Assim, a dislexia revela-se essencialmente como uma síndrome pedagógica, e é partir desse aspecto que uma criança disléxica ou mesmo suspeita, pode ser reconhecida e caracterizada entre as demais.

Mediante este sentido, com base em Domiense (2011) os professores e os pais devem estar atentos a sinais de alerta que podem indicar um estudante disléxico, fazer observações e várias investigações, isto é, se preocuparem em encontrar traços, indícios em crianças consideradas aparentemente normais, já nos primeiros anos de educação infantil, envolvendo desde crianças de 4 e 5 anos de idade, pois caso contrário, não diagnosticando até os 8 e 9 anos, no ensino fundamental, a criança irá apresentar perturbações de ordem emocional, afetiva e linguística. Alguns dos sinais de alerta são: Leitura lenta; Dificuldade com a soletração e reconto de histórias com poucos detalhes; pular linhas ao ler; trocar as palavras ou os sons das palavras na escrita e na oralidade; ter leitura silabada e imprecisa; apresentar falta de compreensão do que acabou de ler; Espelhamento de letras na escrita; Dificuldades com cálculos e de decorar a tabuada de fato.

Sobre a escrita, Carreira (2016) expõe:

 

Por exemplo, na escrita erros de soletração e ortografia, mesmo nas palavras mais frequentes; omissões, substituições e inversões de letras e/ou sílabas; dificuldade na produção textual, com velocidade abaixo do esperado para a idade e a escolaridade. É comum às crianças em fase de alfabetização não escreverem ortograficamente muitas das palavras que já conhecem, pois ainda estão em processo de aprender as regras de escritas, como o uso da letra “m” antes do “p” e “b”, etc. (CARREIRA, 2016, p. 16).

 

Segundo Gonçalves & Navarro (2012) citado por Patriota (2014) cabe à escola juntamente com o professor, incluir o aluno com dislexia na sala de aula, trabalhando para que ele consiga amenizar seu distúrbio de aprendizagem, é importante enfatizar que a dislexia não amenizada sem tratamento apropriado. Não se trata de um problema que é superado com o tempo, ela não pode passar despercebida.

Segundo Marco (2020) a Psicopedagogia é uma área da ciência que estuda a aprendizagem humana. Assim, o psicopedagogo Institucional trabalha dentro das escolas, com o objetivo de prevenir as dificuldades em aprender dentro da instituição escolar e possivelmente os possíveis problemas de aprendizagem.

Para Carreira (2016) O trabalho do psicopedagogo juntamente com o professor de sala tem grande importância, pois é através da avaliação que este profissional faz que podemos distinguir, dentro de uma sala de aula, as crianças que estão passando pelas dificuldades comuns à sua faixa etária e série e as crianças que apresentam a dislexia.

Mediante esta concepção, é necessário tirar o foco do transtorno e voltar a preocupação para as práticas pedagógicas desenvolvidas para desencadear o processo de aprendizagem em todos os educandos, contemplando toda a diversidade da sala de aula.

 

2.2 Reflexão sobre a alfabetização de uma criança com dislexia

 

A aquisição da escrita ocorre por dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento”. (SOARES, 2004, p.14 apud MARCO, 2020, p. 29).

 

Ainda de acordo com o autor Marco (2020) desse modo, a alfabetização ocorre por meio do contato com as letras e do reconhecimento do som que as mesmas representam, estabelecendo a correspondência fonema (som) e o seu traçado (grafema) para a decodificação das palavras. E, a partir desse processo, o emprego da leitura das palavras nas práticas sociais promove o letramento. Assim, o letramento está intrinsecamente ligado ao processo de alfabetização.

Sobre o processo de alfabetização Soares (2004) aborda:

 

A alfabetização é muito mais do que ler palavras grafadas, e sim reconhecer seu significado e saber empregá-las no cotidiano, ou seja, nas vivências sociais, compreendendo criticamente o que lê e o que escreve, enquanto uma competência para a cidadania. (SOARES, 2004 apud MARCO, 2020, p. 29).

 

Mediante este contexto, na alfabetização é que podemos ver a dislexia emergir, em forma de dificuldades nos processamentos da linguagem. A criança começa a apresentar dificuldade em reconhecer, reproduzir, identificar e organizar os sons das letras. Segundo Silva (2021) O processo de alfabetização tem grande importância quando se pensa a escolarização das crianças.

Logo, nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ênfase da ação pedagógica gira em torno do ensino da leitura e da escrita. Sobre a alfabetização a Base nacional comum curricular (BNCC) aborda:

 

Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos (BRASIL, 2017, p.59 apud SILVA, 2021, p. 35).

 

Uma vez que a criança nasce com a dislexia, sua inteligência não é afetada, mas encontra dificuldades no processo de leitura, como diferenciar fonemas de sílabas e identificar palavras. O processo de alfabetização se torna um desafio, já que a leitura é um grande esforço para a criança com dislexia. BNCC comenta:

É preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da escrita/leitura – processos que visam a que alguém (se) torne alfabetizado, ou seja, consiga “codificar e decodificar” os sons da língua (fonemas) em material gráfico (grafemas ou letras). (BRASIL, 2017, p.89 apud SILVA, 2021, p. 35).

A proposta de alfabetização tem que estar muito bem estruturada e trabalhar principalmente o som e a associação dos símbolos sonoros: as letras dos sons, instrução de sílaba, a morfologia das palavras. Silva (2021) expõe:

O trabalho da consciência fonológica é fundamental para todas as crianças durante a alfabetização, não somente para aquelas com dificuldade de aprendizagem. É preciso estimular a criança para que percebam as diferenças dos sons e aos poucos vá associando as letras. (SILVA, 2021, p. 35).

A alfabetização estruturada deve ser sistemática e cumulativa, ou seja, com começo, meio e fim. A criança deve partir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato e, gradualmente, aumentar a dificuldade. Com base na BNCC:

 

Alfabetizar é trabalhar com a apropriação pelo aluno da ortografia do português do Brasil escrito, compreendendo como se dá este processo (longo) de construção de um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento fonológico da língua pelo estudante, para isso é preciso conhecer relações fono-ortográficas, isto é, as, relações entre sons (fonemas) do português oral do Brasil em suas variedades e as letras (grafemas) do português brasileiro escrito. Dito de outro modo, conhecer a “mecânica” ou o funcionamento da escrita alfabética para ler e escrever significar, principalmente, perceber as relações bastante complexas que se estabelecem entre os sons da fala (fonemas) e as letras da escrita (grafemas), o que envolve consciência fonológica da linguagem: perceber seus sons, como se separam e se juntam em novas palavras etc. (BRASIL, 2017, p.90 apud SILVA, 2021, p. 36).

 

O olhar individualizado para o sujeito é fundamental no processo de alfabetização na dislexia, que se dá, basicamente, pela alfabetização multissensorial; repetição sistemática e frequentes revisões e aprendizagem baseada no acerto. Barbosa (2014) aborda:

 

É preciso evitar pedir para que o aluno com esse distúrbio faça coisas, na frente dos colegas, que o deixe constrangido, envergonhado. Em vez disso, deve-se primar pela estimulação da aprendizagem fazendo uso de certos instrumentos auxiliadores, tais como o aparelho gravador de voz, o método da tabuada, calculadoras eletrônicas, e outros recursos tecnológicos que estimulam o aluno pelo manuseio de determinados equipamentos ou pela aplicação de outros métodos (visuais ou auditivos, por exemplo). (BARBOSA, 2014, p. 23).

 

As atividades multissensoriais envolvem o uso de sentidos como tato, visão e audição. Elas ajudam as crianças disléxicas a absorver e processar informações e auxiliam na identificação e sequenciação do processo de leitura e escrita. Esse método busca combinar diferentes sensores no ensino da linguagem escrita, visa unir as modalidades visual, auditiva, tátil e cenestésicas com o objetivo de facilitar a leitura e a escrita quando se estabelece ligação com os sensores. (SILVA, 2021, p. 37).

Segundo a ABD as crianças disléxicas, em razão da deficiência fonológica, têm dificuldades para reconhecer palavras. Dessa forma, o uso do método multissensorial pode auxiliar diretamente para suprir essa dificuldade, pois propicia um ensino sistemático e explícito sobre como as letras se relacionam com os sons, a segmentação das palavras, identificação de sílabas; as pistas estão na própria palavra e não no contexto. Após algum tempo a criança terá elementos suficientes para analisar e identificar novas palavras que lhe são apresentadas (ABD, on-line apud SILVA, 2021, p.37).

Sobre deficiência fonológica, Hudson (2019) explana:

 

Na área da leitura, o professor deve sempre lembrar que os alunos com Dislexia levam mais tempo para ler e para compreender aquilo que foi lido, visto que apresentam prática leitora mais dificultosa; então, é válido incentivá-los a lerem mais de uma vez para processarem melhor o conteúdo, podendo, se for o caso, utilizar até marcadores de texto para destacar palavras-chave. O professor, ainda, deve ter cuidado na hora de imprimir atividades, priorizando o uso de fontes maiores e claras, com fundos de cores diferentes, sempre experimentando e ouvindo o aluno para identificar o que é melhor para ele. (HUDSON 2019 apud COSTA & BARBOSA, 2022).

 

Para Titoni (2010) o professor em sala de aula deve buscar trabalhar o auxílio temporal e sequencial procurando ouvir fatos, em vez de deixar o aluno ler sozinho, usar métodos multissensoriais, cartazes e linhas do tempo, utilizar revistas velhas para selecionar figuras que representam o conteúdo a ser organizado em sequência, conduzirá a criança no processo da alfabetização.

De acordo com Silva (2021) Um dos métodos multissensoriais que ajuda as crianças dislexias é o método das boquinhas. Consiste num esse método que se utiliza estratégias fônicas (fonema/som) e visuais (grafemas/ letras).

O método das boquinhas foi desenvolvido para atender crianças com dificuldade de aprendizagem e, reúne reflexões sobre o som, observação da articulação orofacial, exercícios de traçado com dedos sob diferentes superfícies, entre outras propostas de caráter lúdico, com a finalidade de promover o desenvolvimento do processamento fonológico (MARADEI; MAIA; SEABRA, 2020, p. 12 apud SILVA, 2021, p. 37).

Mediante esta concepção, há vários pontos estratégicos que o professor deverá utilizar para não prejudicar ou inibir o aluno com dislexia, como nos fala Domiense (2011):

 

Uma boa dica ao iniciar um conteúdo, é entregar uma folha com informações importantes sobre o tema para o aluno com dislexia no início da aula. Isso ajuda a criança a fazer anotações com mais calma, usando o material de apoio para ajudar a escrita. De preferência dê a ele um resumo, da atividade a ser executada; sempre estabeleça horários dos seus deveres, de dormir, das recreações; incentive-o a cuidar do corpo e vestir suas roupas; além do quadro, deverá usar outros recursos para dinamizar sua aula; nas revisões, que o tempo seja suficiente; nunca force seu aluno a ler em voz alta; sempre dê suas instruções orais e escritas de forma separada; será necessário o respeito do seu ritmo. (DOMIENSE, 2011, p. 39).

 

Observar como o aluno dislexos faz as anotações da lousa e auxiliá-lo a se organizar; desenvolver hábitos que estimulem o aluno a fazer uso consciente de uma agenda para recados e lembretes; na hora de dar uma explicação usar uma linguagem direta, clara e objetiva e verificar se ele entendeu. No momento das correções, busque valorizar ao máximo a sua produção, e se possível converse com ele confirmando algumas respostas a respeito do que ele quis dizer. Seja paciente e compreensivo, pois é normal que ele leve mais tempo para concluir suas atividades. (DOMIENSE, 2011, 40).

Sobre fazer anotações da lousa, Hudson (2019) acrescenta que:

 

Muitas atitudes dos professores podem ajudar aos alunos disléxico, como por exemplos: evitar ditados de palavras, porém se tiver que ditar não pode ser rápido demais, quando escrever no quadro negro usar cores variadas para que haja menos probabilidade de que os alunos disléxicos pulem linhas, usar caligrafia legíveis, grande e fácil de ler. Provavelmente com essas atitudes muitas crianças disléxicas vão se sentir mais seguras em sala de aula. (HUDSON, 2019 apud SILVA, 2021, p. 40).

 

Procurar escrever palavras e frases com materiais táteis, usando cola, glitter, areia, macarrão, LEGO, miçangas. Trabalhar a amarelinha ou pula corda para praticar a ortografia — as crianças soletram palavras quando saltam e pulam. Os alunos podem trabalhar em dupla e se revezarem para ditar e soletrar palavras. Trabalhar Caça ao tesouro, onde os alunos em equipes vão escrever silabas em pedaços de papéis e esconda-os pela sala de aula. As equipes devem encontrar as letras para construir a palavra que lhe foi atribuída e, em seguida, colá-las em um cartaz. Os alunos podem usar marcadores coloridos para destacar palavras chaves a ler perguntas ou instruções. Isso é muito importante nas provas quando o nervosismo contribuir para probabilidade de erros disléxicos. O professor pode criar uma lista de grafia fundamentadas para cada tópico, elaborar um vocabulário ou glossário, usar cores para animar a lista de vocabulário, usar uma cor para substantivo e outra cor para verbo, isso pode ajudar a criança disléxica a lembrar das palavras que escrever. Dar mais tempo ao aluno com dislexia para realizar os trabalhos de casa. Se demora um dia para ser concluído, entregue-o em na sexta-feira para que a criança disléxica tenha o fim de semana inteiro para fazer a tarefa. (SILVA, 2021).

Segundo Titoni (2010) dar instruções claras para os exercícios de escrita, reescrever as instruções com suas próprias palavras, usar um processador de texto para digitar o trabalho.

Contudo, no processo da leitura são indicados livros com palavras curtas e mais simples, texto pequeno e letra bastão maiúscula; com o tempo, o texto pode se tornar maior, com palavras mais complexas até que a criança adquira a velocidade ideal para uma leitura em voz alta fluente; temas instigantes, atuais e relacionados à sua cultura podem proporcionar maior motivação para que se mantenha na atividade. Ao realizar uma leitura, ajuda se o aluno usar uma régua para marcar o ponto em que está. É possível adquirir réguas de leitura, que possuem uma pequena janela para ler, isso ajuda o aluno a não pular linhas. Usar lâminas transparentes coloridas auxilia alguns alunos. Os alunos devem ler livros com histórias com ritmo ágil, impressão clara e maior, ilustrações e descrição não muito telhada. Ouvir Audi livro de obras literárias proporcionará aos alunos uma visão geral, além disso, os alunos devem tentar obter uma cópia do livro, preferencialmente com uma impressão maior, para ler Também (HUDSON, 2019, p.46 apud SILVA, 2021, p.40).

Sobre interpretação de texto, Teixeira (2014) aborda:

 

Deve-se também estimular o aluno disléxico a expressar-se oralmente sobre aquilo que lhe foi ensinado ou lido. Essa é uma forma de desenvolver um outro tipo de raciocínio do educando, que geralmente é pouco estimulado. Isso ocorre devido à sua dificuldade com as palavras e de efetivar sua conecção com os fatos. (TEIXEIRA, 2014, p. 48).

 

Alunos disléxicos, se estimulados, adquirem o hábito da leitura. Deve-se, portanto, respeitar seus gostos e preferências literárias, o que não impede de apresentar-lhes outros gêneros que, se bem aceitos, aumentarão seu universo de leitura.

Nesse contexto, as atividades que trabalham a percepção auditiva ajudam os alunos com dislexia a perceber o som e as formas das palavras. Usar a música e as rimas, trabalhando ritmo, concentração, atenção, o som e suas formas, é ótimo para estimular a aprendizagem dos alunos com dislexia. Os disléxicos necessitam de diferentes formas para ser alfabetizados. Para ler e escrever eles precisam de materiais concretos, ouvir sons repetidamente (por exemplo uma determinada aula, para que possa entender os conteúdos), precisa gravar e ouvir repetidamente para poder aprender. (SILVA, 2021, p. 40).

 

 

3 CONCLUSÃO

 

Conclui-se ainda que, a criança disléxica pode ser alfabetizada desde que os planejamentos didáticos englobem diferentes estratégias de ensino, valorizando a sua necessidade e a sua individualidade, proporcionando resultados positivos e uma educação de qualidade.

Ter Dislexia não é sinal de que não se vai aprender ou que necessariamente para se alfabetizar o aluno tenha que sofrer, pelo contrário, pensar nos alunos disléxicos é se renovar como profissional, buscar desbravar novos horizontes e alcançar diferentes alunos de maneira mais equânime.

A intervenção com crianças disléxicas baseia-se no treinamento da escrita e da leitura, a fim de irem memorizando a maneira correta de ler e escrever determinadas palavras ligando o som à grafia. Diante disso, quando a dislexia é precocemente descoberta, é maior a probabilidade de a criança não sofrer muito com suas dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, tornando mínimos seus problemas emocionais durante sua caminhada escolar e em sua convivência social.

A qualificação do professor é de suma importância para trabalhar com alunos disléxicos. Portanto, o resultado do desempenho do aluno está ligado ao que se chama de motivos intra-escolares, o que suscita a responsabilidade do educador, do orientador educacional, e de outros profissionais que desenvolvem atividades dentro da escola.

 

 

4 REFERÊNCIAS

 

BARBOSA, Cláudia Freitas Franco. DISLEXIA: dificuldades de aprendizagem na escola, 2014. Disponível em: https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/20858/2/MD_EDUMTE_2014_2_19.pdf. Acesso: 18 jan 2024.

 

CARREIRA, Fátima Kleidir do nascimento. Reflexões sobre dislexia e o papel do professor, 2016. Disponível em: https://www.repositorio.ufal.br/bitstream/123456789/8018/1/Dislexia%20reflex%C3%B5 es%20sobre%20o%20papel%20da%20fam%C3%ADlia%20e%20da%20escola.pdf. Acesso: 18 jan 2024.

 

DOMIENSE, Maria do céu de Souza. Dislexia: um jeito de ser e de aprender de maneira diferente, 2011. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/3359/1/2011_MariadoCeudeSouzaDomiense.pdf. Acesso: 18 jan 2024.

 

MARCO, Alessandra de. Dislexia no âmbito escolar e a alfabetização, 2020. Disponível em: https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/8483/TCC%20Alessandra%20de%20Marco.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso: 19 jan 2024

 

PATRIOTA, Maria da Dores Brito Simões. Dislexia: dificuldades de leitura e escrita, 2014. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/6107/1/PDF%20-%20Maria%20das%20Dores%20Brito%20Sim%C3%B5es%20Patriota.pdf. Acesso: 19, jan 2024.

 

SILVA, Jailma Xavier da Silva. Dislexia: reflexões sobre o papel da familia e da escola, 2021. Disponível em: https://www.repositorio.ufal.br/bitstream/123456789/8018/1/Dislexia%20reflex%C3%B5 es%20sobre%20o%20papel%20da%20fam%C3%ADlia%20e%20da%20escola.pdf. Acesso: 18 jan 2024.

 

TAVARES, Daniel da Silva; LIMA, Vanderlei da Silva. A dislexia: um problema recorrente na escola. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD1_SA1 0_ID2757_27082020000144.pdf. Acesso: 18 jan 2024.

 

TITONI, Cátia Cilene da Silveira. Dislexia na educação escolar: técnicas e metodologias para trabalhar com o aluno disléxico, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/39540/000823342.pdf. Acesso: 19 jan 2024.

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