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Os efeitos do exercício físico em estudantes com transtorno de ansiedade no ambiente escolar: uma revisão narrativa

Alessandro Spencer de Souza Holanda1

 

DOI: 10.5281/zenodo.12788896

 

 

RESUMO

Este artigo explora o impacto do exercício físico sobre estudantes com transtorno de ansiedade no ambiente escolar. A ansiedade é uma condição comum entre jovens e pode afetar negativamente seu desempenho acadêmico e bem-estar geral. Este estudo revisa a literatura existente e analisa evidências empíricas para determinar como a atividade física pode contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade e melhorar a saúde mental dos alunos. A revisão inclui dados de diferentes fontes acadêmicas e revisões narrativas, destacando a importância de intervenções baseadas em exercício dentro do contexto escolar.

 

Palavras-chave: Estudantes. Exercício físico. Transtorno de ansiedade.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A ansiedade é um transtorno mental prevalente entre estudantes, frequentemente exacerbado pelo ambiente escolar e pelos desafios acadêmicos. Estudos indicam que aproximadamente 10-20% dos adolescentes enfrentam algum tipo de transtorno de ansiedade, o que pode impactar negativamente seu desempenho escolar, relacionamentos interpessoais e qualidade de vida geral (Gonzaga; Da Silva; Enumo, 2016). Esse transtorno é caracterizado por sentimentos excessivos de preocupação, medo e nervosismo, que podem manifestar-se em sintomas físicos e emocionais, prejudicando a capacidade do estudante de se concentrar e participar ativamente das atividades escolares (Araujo; Mello; Leite, 2007).

Diversos fatores contribuem para a ansiedade escolar, incluindo pressão acadêmica, desafios sociais e mudanças hormonais típicas da adolescência. A pressão para se sair bem em provas e a necessidade de se encaixar socialmente podem intensificar esses sentimentos, resultando em níveis elevados de estresse e ansiedade (Santos et al., 2016). Dentre as intervenções propostas para lidar com a ansiedade, o exercício físico tem emergido como uma abordagem promissora devido aos seus benefícios comprovados para a saúde mental e emocional (Lourenço et al., 2017).

A atividade física regular é conhecida por liberar neurotransmissores que promovem o bem-estar, como endorfinas e serotonina, que podem ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade (Cunha, 2021). Além disso, programas de exercício físico bem estruturados podem oferecer uma oportunidade para os estudantes desenvolverem habilidades de enfrentamento, melhorar sua autoestima e reduzir a sensação de sobrecarga acadêmica (Nahas, 1997). Estudos recentes sugerem que a inclusão de atividades físicas nas rotinas escolares pode criar um ambiente mais favorável para a gestão da ansiedade, proporcionando um alívio eficaz e duradouro para os estudantes (Bezerra et al., 2019).

No entanto, a implementação de tais programas nas escolas requer uma compreensão aprofundada dos seus efeitos específicos e da maneira como diferentes tipos de exercícios podem impactar a ansiedade em contextos variados. A falta de dados conclusivos e a necessidade de adaptar as intervenções às necessidades individuais dos alunos representam desafios importantes para a prática educativa.

O objetivo deste estudo identificar o impacto do exercício físico em estudantes com transtorno de ansiedade no ambiente escolar. Por meio da revisão de literatura e análise de estudos existentes, este artigo pretende fornecer uma visão abrangente sobre como o exercício físico pode ser integrado efetivamente no contexto escolar para melhorar a saúde mental dos alunos e reduzir os sintomas de ansiedade.

 

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

Este estudo adota uma abordagem de revisão da narrativa da literatura para investigar o impacto do exercício físico sobre estudantes com transtorno de ansiedade no ambiente escolar. A revisão da literatura foi escolhida como método principal devido à sua capacidade de sintetizar e analisar informações de diversos estudos anteriores, proporcionando uma visão abrangente sobre o tema em questão.

A seleção dos estudos foi conduzida com base em critérios específicos de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão englobaram artigos científicos revisados por pares, teses, dissertações e relatórios de pesquisa publicados entre 2007 e 2023, que abordassem diretamente o efeito do exercício físico em transtornos de ansiedade no contexto escolar. A pesquisa foi realizada em bases de dados acadêmicas como PubMed, Scopus, Google Scholar e nas bibliotecas digitais de instituições de ensino superior, utilizando palavras-chave como "exercício físico", "ansiedade escolar", "transtornos de ansiedade" e "saúde mental infantil".

Os estudos selecionados foram avaliados quanto à sua qualidade metodológica, relevância e aplicabilidade. Foram incluídos artigos que apresentavam evidências empíricas, revisões sistemáticas e meta-análises. A análise envolveu a extração de dados sobre a metodologia empregada, os tipos de intervenções de exercício físico, os instrumentos de avaliação de ansiedade e os resultados obtidos. Particular atenção foi dada às características dos participantes, como faixa etária e nível de ansiedade, e ao tipo de exercício físico utilizado.

A revisão foi estruturada em três etapas principais. Primeiramente, foi realizada uma triagem inicial dos estudos para identificar aqueles que atendiam aos critérios de inclusão. Em seguida, os artigos selecionados foram lidos na íntegra e analisados para extrair informações relevantes sobre os efeitos do exercício físico na ansiedade. Por fim, os dados foram organizados e sintetizados para identificar o impacto do exercício físico na redução da ansiedade, os efeitos das intervenções de exercício físico no desempenho acadêmico e a qualidade do sono e sua relação com exercício físico e ansiedade.

A metodologia da revisão da literatura permitiu uma análise crítica dos estudos encontrados, oferecendo uma compreensão detalhada sobre a eficácia das intervenções de exercício físico na redução da ansiedade escolar. Essa abordagem possibilitou a identificação de melhores práticas e recomendações para a integração de atividades físicas nas rotinas escolares, bem como a identificação de áreas que necessitam de mais investigação.

 

 

DISCUSSÃO E RESULTADOS

 

Impacto do Exercício Físico na Redução da Ansiedade

 

A prática regular de exercício físico tem mostrado ser uma intervenção eficaz na redução dos sintomas de ansiedade entre estudantes. De acordo com Araujo, Mello E Leite (2007), a atividade física estimula a liberação de neurotransmissores, como endorfinas e serotonina, que desempenham um papel crucial na regulação do humor e na redução da ansiedade. Além disso, Cunha (2021) confirma que programas de educação física nas escolas não apenas ajudam a aliviar a ansiedade, mas também contribuem para um ambiente escolar mais positivo. A atividade física pode servir como uma válvula de escape para o estresse acumulado e promover um estado mental mais equilibrado.

O estudo de Lourenço et al. (2017) também aponta que atividades físicas realizadas durante o lazer estão associadas a menores níveis de estresse percebido. A implementação de exercícios físicos nas escolas, portanto, não só melhora a saúde mental dos alunos, mas também contribui para a criação de um ambiente escolar mais saudável e menos estressante. A evidência sugere que a prática regular de atividade física pode ser uma estratégia eficaz para enfrentar os desafios emocionais enfrentados pelos estudantes.

 

Efeitos das Intervenções de Exercício Físico no Desempenho Acadêmico

 

A relação entre exercício físico, desempenho acadêmico e qualidade de vida é significativa. Gonzaga, Da Silva e Enumo (2016) destacam que a ansiedade relacionada ao desempenho acadêmico pode ser mitigada por intervenções que promovam o bem-estar geral dos alunos, incluindo o exercício físico. A atividade física pode melhorar a concentração e a capacidade de lidar com desafios acadêmicos, ajudando os alunos a obterem melhores resultados acadêmicos.

Além disso, o professor de educação física tem um papel fundamental nas intervenções. Um exemplo disso é quando realiza a função de supervisor de estágio, que pode favorecer para que estagiários identifiquem estudantes com transtorno de ansiedade no ambiente escolar. O supervisor de estágio atua como um mediador entre o estudante, os professores e os colegas, criando um ambiente de aprendizagem seguro e acolhedor. Na maioria das vezes o estagiário é são responsáveis por identificar as necessidades específicas dos estudantes com transtorno de ansiedade, desenvolvendo estratégias de intervenção personalizadas que promovam a inclusão e o bem-estar emocional (Dal-Cin e Dendena Kleinubing, 2021)

Cunha (2021) reforça a ideia de que a atividade física escolar pode ser uma ferramenta valiosa para reduzir a ansiedade e melhorar o desempenho acadêmico. A integração de exercícios físicos no currículo escolar deve ser planejada de forma a maximizar seus benefícios, contribuindo para uma melhor preparação dos alunos para enfrentar as demandas acadêmicas. NAHAS (1997) sugere que a educação física deve ser uma parte integral da formação dos alunos, promovendo um estilo de vida ativo que favoreça o desempenho acadêmico.

 

Qualidade do Sono e sua Relação com Exercício Físico e Ansiedade

 

A qualidade do sono é um fator crítico que influencia tanto a saúde mental quanto a eficácia das intervenções de exercício físico. SANTOS et al. (2016) relatam que a prática regular de exercícios físicos pode melhorar significativamente a qualidade do sono dos escolares, o que, por sua vez, ajuda a reduzir os níveis de ansiedade. A falta de sono adequado pode intensificar os sintomas de ansiedade e prejudicar a capacidade dos alunos de lidar com o estresse escolar (ARAUJO; MELLO; LEITE, 2007).

BEZERRA et al. (2019) destacam que a melhoria da qualidade do sono pode potencializar os benefícios do exercício físico na redução da ansiedade. Assim, a integração de programas de exercício físico nas escolas deve considerar não apenas a atividade física, mas também a promoção de hábitos saudáveis de sono. A implementação de estratégias que melhorem a qualidade do sono dos alunos pode criar um ciclo positivo, onde o exercício físico reduz a ansiedade e melhora o sono, e o sono adequado, por sua vez, contribui para um melhor estado mental e emocional.

A consideração da qualidade do sono nas intervenções escolares é essencial para garantir a eficácia das estratégias de redução da ansiedade. ROSSETO et al. (2022) sugerem que a educação sobre hábitos de sono saudáveis deve ser incorporada aos programas de atividade física, proporcionando uma abordagem holística para o bem-estar dos estudantes. A colaboração entre educadores e profissionais de saúde mental é fundamental para a implementação bem-sucedida dessas intervenções.

 

 

CONCLUSÃO

 

O exercício físico representa uma estratégia promissora para a redução da ansiedade em estudantes no ambiente escolar. As evidências analisadas sugerem que a incorporação de atividades físicas regulares pode oferecer benefícios substanciais para a saúde mental dos alunos e melhorar seu bem-estar geral. Recomenda-se a implementação de programas de atividade física nas escolas como uma medida preventiva e terapêutica para enfrentar o transtorno de ansiedade. Futuras pesquisas devem explorar a eficácia de diferentes tipos de exercícios e sua adaptação para atender às necessidades específicas dos estudantes com transtornos de ansiedade.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ARAUJO, Sônia Regina Cassiano de; MELLO, Marco Túlio de; LEITE, José Roberto. Transtornos de ansiedade e exercício físico. 2007.

 

CUNHA, G. M. R. Educação física escolar e transtorno de ansiedade: uma revisão narrativa. Universidade de Brasília. Faculdade de educação física. Graduação em educação física. Brasília, 2021.

 

DAL-CIN, J.; DENDENA KLEINUBING, N. Articulações entre pesquisa e estágio: a pesquisa-ação enquanto estratégia de formação em educação física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 24, 2021. DOI: 10.5216/rpp.v24.65901.

 

GONZAGA, R.V.; DA SILVA, A.M.B; ENUMO, S.R. Ansiedade de provas em estudantes do ensino médio. PsicolArgum, v. 34, n. 84, p. 76-8, jan./mar., 2016.

 

LDB, Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: [link]. Acesso em: 12 abr. 2014.

 

NAHAS, M. V. Educação física no ensino médio: educação para um estilo de vida ativo no terceiro milênio. Canais do IV seminário de educação física escolar/ escola de educação física e esporte, p. 17-20, 1997.

 

ROSSETO, Maria Luiza Raccolto et al. Escolha profissional e adolescência: velhas questões, novas reflexões. Research, Society and Development, v. 11, n. 3, mar. 2022.

 

SANTOS, Isis Kelly dos et al. Sono e atividade física de escolares. Adolescência & Saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 25-30, jul./set. 2016.

 

LOURENÇO, Camilo L. M. et al. Atividade física no lazer como critério discriminante do menor nível de estresse percebido em adolescentes. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 25, n. 3, p. 90-97, ago. 2017.

 

CUNHA, G. de O. K. da; HARTWIG, T. W.; BERGMANN, G. G. Intervenções nas aulas de educação física e a saúde mental de escolares: Estudo de protocolo. Rev. Bras. Ativ. Fís. Saúde, v. 28, p. 1-9, jul. 2023. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/15012. Acesso em: 19 jul. 2024.

 

BEZERRA, Marcos Araújo Antonio; JULIÃO, Jamark Ferreira; BEZERRA, Gabriela Gomes de Oliveira; LOPES, Cibele Rodrigues; BOTTCHER, Lara Belmudes. ANSIEDADE, ESTRESSE E NÍVEIS DE ATIVIDADE FÍSICA EM ESCOLARES. Revista Interdisciplinar Encontro das Ciências - RIEC, v. 2, n. 1, p. 1-15, 2019. ISSN: 2595-0959. Disponível em: https://riec.univs.edu.br/index.php/riec/article/view/56. Acesso em: 19 jul. 2024.

1 Doutor em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo (UNICAMP), mestre em Ciências da Saúde (UFPE) e residente especialista em Saúde da Família, Educação Física em Atenção Primária à Saúde (UFPE) e graduado em Educação Física (FG). Professor da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e Centro Universitário Brasileiro – (Unibra).