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A pesquisa-ação como possibilidade de estruturação do estágio supervisionado obrigatório no curso de educação física: Uma revisão da literatura

Alessandro Spencer de Souza Holanda1

 

DOI: 10.5281/zenodo.12784249

 

 

Resumo

Este artigo investiga a utilização da pesquisa-ação como estratégia na estruturação do estágio supervisionado obrigatório no curso de licenciatura em Educação Física. A pesquisa-ação, caracterizada pela sua abordagem colaborativa e reflexiva, oferece um meio eficaz para integrar teoria e prática, promovendo a formação de professores mais preparados e conscientes de seu papel educacional. Através de uma revisão de literatura e análise de estudos de caso, este artigo examina como a pesquisa-ação pode ser implementada no contexto do estágio supervisionado, destacando seus benefícios e desafios. Os resultados indicam que a pesquisa-ação contribui significativamente para o desenvolvimento profissional dos futuros professores, fortalecendo a ligação entre teoria e prática e promovendo uma formação mais reflexiva e crítica.

 

Palavras-chave: Pesquisa-ação. Educação Física. Escola. Estágio.

 

 

Introdução

 

O estágio supervisionado obrigatório é uma etapa fundamental na formação de professores, especialmente nos cursos de licenciatura em Educação Física, onde a prática pedagógica desempenha um papel central no desenvolvimento das competências docentes. A integração eficaz entre teoria e prática continua a ser um desafio significativo na formação de futuros professores, e a pesquisa-ação se apresenta como uma metodologia promissora para enfrentar esse desafio. Caracterizada por seu ciclo contínuo de planejamento, ação, observação e reflexão, a pesquisa-ação permite que os professores em formação analisem e ajustem suas práticas pedagógicas de maneira colaborativa e reflexiva (Tripp, 2005; Franco, 2005).

Segundo Miranda e Resende (2006), a pesquisa-ação oferece uma oportunidade para que os futuros professores apliquem conhecimentos teóricos em situações práticas reais, promovendo uma formação mais crítica e reflexiva. Essa metodologia encoraja os professores em formação a questionar suas práticas, a desenvolver uma compreensão mais profunda dos processos educativos e a se envolverem ativamente na resolução de problemas educacionais. Penitente (2012) destaca que a pesquisa-ação pode ajudar a superar a dicotomia entre teoria e prática, proporcionando uma formação docente mais integrada e contextualizada.

A literatura sobre pesquisa-ação e formação de professores em Educação Física revela diversos benefícios dessa abordagem. Rufino e Darido (2014) apontam que a pesquisa-ação pode empoderar os professores em formação, permitindo-lhes tomar decisões informadas e fundamentadas sobre suas práticas pedagógicas. Além disso, Franco (2005) sugere que a pesquisa-ação pode promover um desenvolvimento profissional contínuo, incentivando os futuros professores a refletirem criticamente sobre suas experiências de ensino e a buscarem constantemente a melhoria de suas práticas.

Por outro lado, a implementação da pesquisa-ação no contexto do estágio supervisionado enfrenta desafios significativos. A necessidade de tempo e recursos para conduzir processos de pesquisa-ação pode ser um obstáculo em programas de formação de professores com carga horária limitada (Tripp, 2005). Além disso, a formação adequada dos supervisores de estágio é crucial para o sucesso dessa metodologia, pois eles desempenham um papel fundamental no apoio e orientação dos futuros professores (Thiollent, 2008). A resistência à mudança por parte de alguns professores e instituições, habituados a métodos mais tradicionais de ensino e supervisão, também pode dificultar a adoção da pesquisa-ação (Nóvoa, 2019).

Neste artigo, examinamos a implementação da pesquisa-ação como estratégia na estruturação do estágio supervisionado obrigatório no curso de licenciatura em Educação Física. Através de uma revisão de literatura e análise de estudos de caso, exploramos como a pesquisa-ação pode contribuir para uma formação docente mais reflexiva, crítica e integrada, discutindo os benefícios e desafios dessa abordagem. Em busca de melhorar a formação de futuros professores, promovendo uma prática pedagógica mais consciente e eficaz. O objetivo deste artigo foi realizar uma revisão na literatura e demonstrar a pesquisa-ação como possibilidade de estrutura para realização do estágio supervisionado obrigatório no curso de educação física.

 

 

Procedimentos metodológicos

 

Este estudo utilizou uma abordagem qualitativa, fundamentada na revisão de literatura e análise de estudos de caso. Os procedimentos metodológicos adotados incluem. Foi realizada uma revisão de literatura abrangente sobre pesquisa-ação e estágio supervisionado no contexto da formação de professores de Educação Física. As fontes incluem artigos acadêmicos, livros e teses publicados nos últimos 20 anos. Bases de dados como Google Scholar, Scielo e ERIC foram utilizadas para identificar as publicações relevantes.

Foram selecionados estudos de caso que documentam a implementação da pesquisa-ação em programas de estágio supervisionado em cursos de licenciatura em Educação Física. Os critérios de seleção incluíram a relevância do estudo para o tema, a qualidade metodológica e a clareza na descrição dos processos e resultados.

A análise dos dados foi realizada de forma qualitativa, utilizando a técnica de análise de conteúdo. Os dados foram categorizados em temas principais, como benefícios da pesquisa-ação, desafios enfrentados e impactos na formação dos futuros professores.

Os resultados foram sintetizados e discutidos à luz das teorias e conceitos apresentados na revisão de literatura, buscando identificar padrões e insights sobre a utilização da pesquisa-ação na estruturação do estágio supervisionado.

 

 

Resultados

 

A análise da literatura e dos estudos de caso revelou vários benefícios e desafios associados à utilização da pesquisa-ação na estruturação do estágio supervisionado obrigatório no curso de licenciatura em Educação Física. Foca-se em primeiro momento na apresentação dos benefícios da pesquisa-ação:

Integração Teoria-Prática: A pesquisa-ação promove uma integração mais efetiva entre teoria e prática, permitindo que os futuros professores apliquem conhecimentos teóricos em situações práticas e reflitam sobre suas experiências (Miranda; Resende, 2006; Penitente, 2012).

Desenvolvimento profissional: A abordagem colaborativa e reflexiva da pesquisa-ação contribui para o desenvolvimento profissional dos futuros professores, capacitando-os a analisar criticamente suas práticas pedagógicas e tomar decisões informadas (Rufino; Darido, 2014).

Empoderamento: A pesquisa-ação pode fomentar um senso de empoderamento entre os professores em formação, incentivando-os a serem agentes ativos de mudança em seus contextos educacionais (Franco, 2005).

 

Dentro os desafios da pesquisa-ação, podem ser considerados:

Tempo e Recursos: A implementação da pesquisa-ação requer tempo e recursos significativos, o que pode ser um desafio em programas de formação de professores com carga horária limitada (Tripp, 2005).

Formação de Supervisores: A formação adequada dos supervisores de estágio é crucial para o sucesso da pesquisa-ação, pois eles desempenham um papel fundamental no apoio e orientação dos futuros professores (Thiollent, 2008).

Resistência à Mudança: A pesquisa-ação pode encontrar resistência por parte de alguns professores e instituições, que podem estar habituados a métodos mais tradicionais de ensino e supervisão (Nóvoa, 2019).

Nesse sentido, é importante pontuar os impactos na Formação dos Futuros Professores. Dentre eles, a reflexividade: A pesquisa-ação incentiva uma postura reflexiva entre os futuros professores, permitindo-lhes desenvolver uma compreensão crítica de suas práticas e contextos educacionais (Dal-Cin; Kleinubing, 2021).

Assim como, a adaptação e Inovação: Os futuros professores que participam de processos de pesquisa-ação tendem a ser mais adaptáveis e inovadores em suas práticas pedagógicas, respondendo de maneira mais eficaz aos desafios da sala de aula (Baldissera, 2012).

 

 

Conclusão

 

A pesquisa-ação se apresenta como uma estratégia valiosa para a estruturação do estágio supervisionado obrigatório no curso de licenciatura em Educação Física, oferecendo uma abordagem colaborativa e reflexiva que pode integrar teoria e prática de maneira eficaz. Os benefícios dessa abordagem incluem o desenvolvimento profissional dos futuros professores, a promoção de uma postura reflexiva e crítica, e o empoderamento dos professores em formação. No entanto, desafios como a necessidade de tempo e recursos, a formação adequada dos supervisores e a resistência à mudança devem ser cuidadosamente considerados e abordados.

A implementação da pesquisa-ação no estágio supervisionado requer um compromisso institucional e um apoio contínuo aos futuros professores e seus supervisores. Políticas educacionais que incentivem a formação contínua e a colaboração entre universidades e escolas podem facilitar a adoção dessa estratégia, contribuindo para a formação de professores mais preparados e conscientes de seu papel educacional.

 

 

Referências

 

BALDISSERA, A. Pesquisa-Ação: uma metodologia do “conhecer” e do “agir” coletivo. Sociedade Em Debate, v. 7, n. 2, p. 5-25, 2012. Disponível em: https://revistas.ucpel.edu.br/rsd/article/view/570. Acesso em: 10 jun. 2024.

 

BRACHT, V.; PIRES, R.; GARCIA, S. P.; SOFISTE, A. F. S. A prática pedagógica em Educação Física: a mudança a partir da pesquisa-ação. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 23, n. 2, p. 9-29, 2002.

 

DAL-CIN, J.; DENDENA KLEINUBING, N. Articulações entre pesquisa e estágio: a pesquisa-ação enquanto estratégia de formação em educação física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 24, 2021. DOI: 10.5216/rpp.v24.65901.

FRANCO, M. A. S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 483-502, set./ dez. 2005.

 

MIRANDA, M. G.; RESENDE, A. C. A. Sobre a pesquisa-ação na educação e as armadilhas do praticismo. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 511-518, set./dez. 2006.

 

NÓVOA, A. Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola. Educação & Realidade, v. 44, n. 3, e84910, 2019. DOI: 10.1590/2175-623684910.

 

PENITENTE, L. A. A. Professores e pesquisa: da formação ao trabalho docente, uma tessitura possível. Revista Formação Docente, Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. 19-38, jul./dez. 2012.

 

RUFINO, L. C.; DARIDO, S. C. Pesquisa-ação e educação física escolar: analisando o estado da arte. Revista Pensar a Prática, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 242-251, jan./mar. 2014.

 

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2008.

TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. São Paulo: Educ, 2005.

 

1 Doutor em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo (UNICAMP), mestre em Ciências da Saúde (UFPE) e residente especialista em Saúde da Família, Educação Física em Atenção Primária à Saúde (UFPE) e graduado em Educação Física (FG). Professor da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) e Centro Universitário Brasileiro – (Unibra).