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O ensino de Línguas na educação de jovens e adultos mediado pelas novas tecnologias

Lucinéia Vicente Dias dos Santos1

 

DOI: 10.5281/zenodo.12609379

 

 

RESUMO

Neste trabalho, abordaremos o ensino de línguas mediado pelas tecnologias em turmas dos primeiros anos da educação de jovens e adultos (EJA) da escola estadual Benedito Sant’ana da Silva Freire em Sinop/MT para conhecer como entrelaça as formas de trabalhar com as ferramentas disponíveis na contemporaneidade, especialmente na/para o contexto pesquisado. Buscamos discutir também que o ensino da língua(gem), neste caso, a Língua Portuguesa, necessita do auxílio destas tecnologias como instrumentos para o ensino e aprendizagem, visando a inclusão digital, tanto para os alunos como os professores, aperfeiçoamento e capacitação aos profissionais, sobretudo, que as tecnologias torne pratica educativa tendo como eixo a formação de um cidadão crítico, autônomo e participativo, para Moraes, (1997, p.136), A educação deve resgatar o sujeito-aprendiz como um ser integral, um ser que pensa, que sente, que intui, que capta e expressa o mundo mediado pelo corpo que tem linguagens próprias. Essa prática pressupõe que os alunos sejam sujeitos de seu processo de aprendizagem e que construam significados ao longo de sua vida, por meio de múltiplas e complexas interações com objetivos de conhecimento, tendo, o professor como mediador para Valente, 2005. O professor pode promover um ambiente de aprendizagem que desafia e motiva o aluno para a exploração, a reflexão, a depuração de ideias e a descoberta de novos conceitos. E observamos que tal necessidade dialógica amplia espaços educacionais, circula conhecimentos para ambas as partes. Ademais, a contemporaneidade coloca novos desafios aos novos letramentos e analisar os multiletramentos em ambientes educacionais requer o reposicionamento das pessoas, principalmente aquelas que não possuem idade escolar. Esses alunos são geralmente trabalhadores e em geral não tiveram acesso à cultura letrada e dependem muito dos educadores como mediadores do processo para o crescimento intelectual do indivíduo. Assim, nossa proposta recai em discutir de que forma as tecnologias aplicadas ao ensino de Língua Portuguesa subsidia o trabalho do professor e convoca o aluno às práticas multiletradas.

 

PALAVRAS-CHAVE: EJA. Ensino de Língua Portuguesa. Multiletramentos.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O Presente trabalho de Conclusão de Curso (TCC) refere-se a uma pesquisa com abordagem qualitativa, um estudo de caso, observação e descrição das situações de aprendizagem dos alunos e práticas educativas voltadas para a inclusão digital e a cidadania, desenvolvidas na modalidade na Educação de Jovens e Adultos da Escola Estadual Benedito Sant’ana da Silva Freire em Sinop/MT.

Justifica-se a importância do mesmo pelo fato de buscar pesquisar como vem sendo desenvolvida na prática as aulas do Ensino da Língua Portuguesa com os alunos da modalidade EJA, verificando se os professores utilizam as ferramentas tecnológicas, principalmente, se são planejadas aulas para serem ministradas no laboratório, oportunizando aos alunos o uso do computador e das tecnologias disponíveis para auxiliar na aprendizagem da língua pátria, bem como promovendo a inclusão digital de alunos e professores. A relevância está em questionar e mostrar a necessidade da capacitação e aperfeiçoamento profissional por parte da equipe docente, no sentido de buscar fazer uso das tecnologias, tornando sua prática educativa mais atrativa e prazerosa, ao mesmo passo que contribui com a formação de cidadãos aptos a atuarem no mercado de trabalho e da sociedade, sendo mais consciente de seu papel como cidadão autônomo e participativo, com capacidade de analisar e avaliar as diversas situações a que é submetido no seu cotidiano.

Como pedagogos temos consciência que iremos atuar nos mais diversos contextos escolares e teremos que intervir em diferentes realidades, nossa prática pedagógica deverá envolver, integrar e incluir, além de garantir o desenvolvimento de suas potencialidades e respeitar suas limitações. Na alfabetização de jovens e adultos está centralizada a preocupação de como os indivíduos se apropriam das informações, das comunicações e dos saberes veiculados socialmente.

Dessa forma, busca-se defender a ideia da Educação para Jovens e Adultos (EJA) enquanto prática da cidadania, como dimensão das relações fundamentais dos sujeitos alunos quanto aos seus direitos e necessidades humanas, as quais estão atualmente diretamente interligadas ao aprendizado da língua e do domínio das tecnologias existentes. Assim, este trabalho voltou-se para compreender a inclusão digital voltada para a cidadania nas relações pedagógicas em um Centro de Educação de Jovens e Adultos. Por isso, a presente investigação realizada tratou de problematizar as aulas de Língua Portuguesa interligadas ao uso da tecnologia da população EJA, como campo de conquista da prática de cidadania. A perspectiva teórica orientadora da pesquisa voltou-se para compreender em quais pressupostos sociais, culturais e materiais que se deram o processo de escolarização dos sujeitos envolvidos nessa etapa da escolarização.

Enquanto problema, a pesquisa está sendo realizada para esclarecer a importância do uso da tecnologia nas aulas de Língua Portuguesa na educação de jovens e adultos tanto para o educando quanto para a sociedade, para isso, pretende-se identificar quais são as dificuldades enfrentadas pelos indivíduos no processo de inclusão digital, aprimoramento das informações, das comunicações e dos saberes veiculados socialmente?

O principal objetivo é descobrir as dificuldades de alunos jovens e adultos para o ensino da Língua Portuguesa e as vantagens trazidas a ele e a sociedade com a inclusão digital.

Dentre os objetivos específicos, pretende-se a) Verificar se os planejamentos e metodologias utilizados na EJA incluem os recursos tecnológicos, contribuindo para a formação da cidadania; b) Avaliar se os professores possuem capacitação e interesse em trabalhar com a tecnologia em suas aulas; c) Verificar quais as vantagens que a inclusão digital proporciona ao aluno e ao professor, se está realmente contribui com a inclusão digital; d) Demonstrar que a tecnologia contribui de forma significativa no aprendizado da Língua Portuguesa, tornando o aluno cada vez mais consciente de sua própria realidade e papel na sociedade.

A metodologia utilizada será a pesquisa qualitativa em campo com entrevistas semiestruturada e estruturada.

Já a amostra ou os sujeitos da minha pesquisa serão os alunos e professores da Educação de Jovens e Adultos da Escola Estadual Benedito Sant’ana da Silva Freire em Sinop/MT.

Enquanto procedimentos metodológicos, foi realizada uma entrevista semiestruturada com questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que seguida ofereceu amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que foram surgindo à medida que se recebeu as respostas. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seus pensamentos e de suas experiências dentro do foco principal colocada pelo investigador, começou a elaboração do conteúdo da pesquisa.

Com as questões estruturadas deseja-se colocar em relevo a existência, de alguns traços específicos do fenômeno que se estuda, buscando a verificação de hipóteses, fica claramente estabelecida como uma ideia útil na pesquisa qualitativa se procurarmos explicar através de um exemplo sua peculiaridade.

A coleta de dados no estudo de casos consiste na observação, registro de fatos por parte do pesquisador na comunidade escolar pesquisada, pelas características deste tipo de estudo, ou seja, “(...) a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto próprio. Como objetivo de proporcionar uma visão global do problema ou identificar possíveis fatores que influenciam neste comportamento”. (TRIVIÑOS, 1987.p. 54).

 

 

  1. Educação de jovens e adultos

 

Considerando o homem no contexto social, com valores sistematizados, criados pela sociedade nas relações de produção de bens de consumo, determinam o indivíduo no seu meio social para a inclusão ou para a exclusão. Quando neste conjunto de relações sociais o homem adquire consciência crítica, ocorrem transformações e diante da realidade de acordo com suas intenções e seus objetivos transformando e construindo sua própria história.

A alfabetização de adultos traz condições para a sua independência social, política e econômica, facilitando assim o seu acesso ao mundo, fazendo com que ele se liberte da alienação que está inserido, se utilizando de recursos adquiridos na instituição de ensino.

Importante é compreender que todo esforço social de alfabetização dá em resultado a criação de um exército de reivindicantes de maior educação. É um resultado normal, mas que significa a criação de novos e mais graves problemas educacionais para o futuro. Os dirigentes políticos do país devem estar atentos para este efeito de seus propósitos, ao desenvolver a educação de adultos, pois quanto mais educação se dá ao indivíduo mais exigente este se torna, e torna, e isto porque encontram na sociedade os meios de aplicar em trabalho mais qualificado seus novos conhecimentos, e com isso desejará alcançar mais tarde níveis mais altos de saber e de trabalho, fazendo-se reivindicante.

Segundo Piconez (2004) a volta aos estudos objetivos recuperar a identidade humana e cultural, com o restabelecimento da autoestima, anteriormente rebaixada pela sociedade, incluindo a própria família. O grande incentivo para a volta aos estudos é a vontade de atender às exigências do bem-estar no convívio e nas questões de ética.

Na verdade, o motor da educação está no interesse da sociedade em aproveitar para fins coletivos, a força do trabalho de cada um de seus membros, por isso, a educação não é uma conquista do indivíduo, mas uma função da sociedade e como tal sempre dependente de seu grau de desenvolvimento. Onde há sociedade há educação: logo esta é permanente.

Para Freire (2001), o homem por essência é um ser inacabado, pois se constitui ao longo de sua existência social. A sociedade configura todas as experiências individuais do homem, transmite-lhe resumidamente todos os conhecimentos adquiridos no passado do grupo, e recolhe as contribuições que o poder criador de casa indivíduo engendra e que oferece à sua comunidade. Neste sentido, a sociedade cria o homem para si.

Ao atrair o adulto para a escola, é preciso garantir que ele não a abandone. As altas taxas de evasão tem origem no uso de material didático inadequado para a faixa etária, nos conteúdos sem significado, nas metodologias infantilizadas, problemas como este podem ser resolvidos quando o professor conhece as especificidades do aluno como eixo produtor das aprendizagens. Deixar que cada estudante contribua com suas lembranças e vivências é fundamental para que todos voltem a estudar, tem uma característica em comum: o mundo do trabalho está presente na sua vida.

Alguns querem uma ocupação mais bem remunerada, outros desejam apenas uma colocação no mercado de trabalho e outros, pelo simples desejo de aprender a ler. Os principais objetivos da alfabetização de adultos é proporcionar a iniciação ao ensino básico: ler, escrever e efetuar operações, visando sua maior participação na sociedade. Despertar a consciência dos direitos e deveres, bem como suas responsabilidades diante da comunidade; auxiliar os educandos a superarem os desafios cada vez maiores do uso das novas tecnologias.

Partindo do pensamento de Vieira Pinto (1982) a educação é um fato de ordem consciente, determinado pela consciência social e objetiva suscitar no educando a consciência de si e do mundo.

Para Freire (2001), os objetivos da educação de adultos são que devolvam a autonomia e a responsabilidades das pessoas. As novas demandas da sociedade e as expectativas de crescimento profissional requerem, durante toda a vida do indivíduo, uma constante atualização dos seus conhecimentos e de suas habilidades; o estado ainda é o principal veículo para assegurar o direito da educação para todos, particularmente para os grupos menos privilegiados da sociedade, tais como as minorias. Ele não é apenas um mero provedor da educação para adultos, mas também um condutor, um agente financiador, que monitora e avalia ao mesmo tempo, é dever do Estado garantir aos cidadãos a possibilidade de expressar suas necessidades e suas aspirações em termos educacionais.

Uma habilidade primordial em si mesmo e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. Existem milhões de pessoas, que não tem oportunidades de aprender, nem mesmo o acesso a esse direito, tem também o papel de promover a participação continuada durante toda a vida.

 

 

Multiletramento e as tecnologias de informação

 

Mediante o mercado globalizado e a concorrência de mercado, vivemos na era da tecnologia. Porém, no Brasil, assim como em Sinop, falar em informática, sobretudo informática aplicada à educação, ainda pode parecer um sonho para a maioria da população, são cidadãos pobres, considerados classe econômica baixa, mas que são a maioria em termos de população, os quais mediante as dificuldades de sobrevivência, estudam em escolas públicas, destas a maioria não recebe investimentos do governo para modernização e melhoria da qualidade de ensino.

Porém, as novas tecnologias já fazem parte da vida dos alunos, seja na TV, no cinema, nos jogos eletrônicos, no trabalho, no banco, enfim, em todos os lugares e de alguma forma e, portanto, a Educação não deve e nem pode desprezar esse dado de realidade, nem "fazer de conta" que ela não existe na vida dos alunos. E, se levarmos em consideração que esses mesmos alunos hoje, serão profissionais no futuro, em uma sociedade ainda muito mais informatizada, se faz imprescindível que a escola não a ignore.

Conforme Rojo et al (2013), o professor tem que entender que nos últimos vinte anos ou mais a escola brasileira mudou devido a democratização do acesso às camadas populares. E, isso foi influenciado praticamente pela tecnologia, fazendo com que o aluno trouxesse para a sala de aula novas práticas de letramento, contudo, não vem sendo valorizadas e nem reconhecidas por parte de muitas escolas e profissionais da educação. A autora ressalta que é necessária e urgente que os profissionais de educação busquem se aperfeiçoar e adotem as novas técnicas de letramento relacionadas às diversidades de semioses e mídias em que os textos contemporâneos circulam além das relações com um mundo globalizado, e ainda, considerar os letramentos locais de um aluno diversificado.

Segundo Freire (2007, p. 49) “A instituição escolar tem como função formar os indivíduos de maneira a tornarem-se cada vez mais agentes sociais criativos e dinâmicos, participantes das transformações do seu tempo”.

A introdução do computador na educação tem provocado uma verdadeira revolução na nossa concepção de ensino e de aprendizagem. Primeiro, os computadores podem ser usados para ensinar. A quantidade de programas educacionais e as diferentes modalidades de uso do computador mostram que esta tecnologia pode ser bastante útil no processo de ensino-aprendizado. Segundo a análise desses programas mostra que, num primeiro momento, eles podem ser caracterizados como simplesmente uma versão computadorizada dos atuais métodos de ensino. A história do desenvolvimento do software educacional mostra que os primeiros programas nesta área são versões computadorizadas do que acontece na sala de aula.

Por isso, não há como a escola deixar de considerar que hoje ocorre uma grande rapidez na evolução científica e tecnológica do mundo, a qual é apreendida pelos alunos, direta ou indiretamente, através dos meios de comunicação, independente, de sua classe social ou situação sócio cultural. A falta deste reconhecimento, vem fazendo com que algumas escolas pareçam parada no tempo ou voltada para o passado, enquanto seus alunos vivem intensamente o presente e vislumbram no futuro novas exigências, possibilidades e necessidades às quais a Escola parece não ter condições de atender.

De acordo com Zacharias (2017, p. 2):

 

O problema não está no fato de existir um laboratório de informática, e sim na forma e na finalidade com que ele está sendo utilizado. A ideia de que bastava colocar o aluno em contato com o computador e todos os problemas de aprendizagem desse aluno desapareceriam não se concretizou. Em alguns casos percebe-se certa insatisfação e frustração, tanto da direção e dos professores quanto dos próprios alunos. As escolas não estão encontrando formas de reverter essa situação. Como na maioria das vezes acontece em educação, frente à frustração procura-se recorrer à substituição dessa tecnologia por outra mais recente, na qual novamente irão ser depositadas todas as esperanças.

 

O que Zacharias (2017), pretende demonstrar que “de nada adianta o saudosismo”. Segundo a autora a evolução dos tempos mudou as necessidades das pessoas, como também da escola e dos alunos. Por isso, a escola precisa mudar, pois todos nós somos sujeitos dessa mudança. Para Paulo Freire (2001, p. 89) afirmava que:

 

Todos nós temos de ser homens e mulheres de nosso tempo e empregar todos os recursos disponíveis para promover a grande mudança que nossa escola está a exigir. Não podemos ser omissos. A neutralidade representa a aceitação da situação atual, a conivência com o que já está posto.

 

Neste sentido, a escola deve entender o processo de integração de computadores e outros instrumentos tecnológicos na educação como processo de inovação, o qual deve contribuir com o desenvolvimento da mudança e melhora que a educação tanto vem buscando nos últimos anos.

Zacharias (2017, p.02), afirma que:

Isto precisa necessariamente ser feito pela integração curricular que afeta fundamentalmente a três campos mutuamente implicados: o desenvolvimento profissional do professor; o desenvolvimento organizacional da escola e a reorganização do próprio currículo. E, um dos fatores fundamentais para as necessidades apontadas é que essas tecnologias pressupõem um saber apoiado não em conhecimentos teóricos adquiridos mecanicamente, mas em modelos mentais flexíveis da realidade, capazes de evoluir em sucessivas e crescentes formalizações.

 

Portanto, o professor é um componente fundamental para o processo de introdução do computador no cotidiano do ensino/aprendizagem do aluno. Pois, é ele quem tem condições e deve promover a interação entre a informática e a sua disciplina, de maneira a proporcionar aos alunos o acesso às novas informações, experiências e aprendizagens de modo que aprendam efetivamente, sejam críticos diante das informações e do conhecimento promovido por meio da tecnologia. Porém, Zacharias (2005, p. 03), cita que falta capacitação profissional para o professor trabalhar com a informática:

 

Pouco se faz, na prática, com os professores para mostrar quais seriam os caminhos mais produtivos para o uso da tecnologia no processo educativo.
Com isso, vem à tona uma questão que deve ser criteriosamente refletida por todos nós educadores e que diz respeito à forma como esses recursos têm sido utilizados. Livros, computadores, internet, laboratórios, quadras, aulas de arte, visitas a exposições, contato frequente com filmes e tantos outros recursos disponíveis nas boas escolas particulares realizam um verdadeiro "upgrade" em seus alunos.

 

Em Sinop, a rede pública municipal, não vem medindo esforços para o desenvolvimento de implantação de laboratórios em suas escolas, bem como de treinamento e capacitação de professores. Reconhecendo que uso pedagógico da informática na educação é fundamental para promover uma aprendizagem plena e uma total inserção de um enorme contingente de estudantes à cidadania e ao mercado de trabalho.

Para Zacharias (2017, p. 02):

 

O uso pedagógico da informática na educação requer muito mais que bons projetos. A finalidade real é a de propiciar um ensino inovador. E pode contribuir para esse fim se não for convertida em uma finalidade por si mesma, atendendo meramente a expectativas de mercado e sim, como consequência de decisões tomadas a partir de uma determinada maneira de conceber e levar a termo uma prática de ensino.

 

Rocha & Santos (1994, In: ZAMBALDE & ALVES, 2009, p. 03), acrescentam que se torna indiscutível a necessidade de interessar e treinar professores. Formar uma massa crítica sobre as implicações dos métodos e ferramentas da informática aplicáveis a educação, para evitar o surgimento de uma visão puramente instrumental do uso de computadores nas escolas.

Portanto, é preciso que o computador não se torne apenas uma ferramenta de apoio pedagógico com o intuito de formar apenas mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho. É preciso que este se torne também um instrumento de mudança social.

 

 

A informática nas aulas de Língua Portuguesa

 

Não é difícil perceber que a educação tem se distanciado dos novos problemas colocados à humanidade em face da rápida evolução técnica. Os próprios professores reconhecem o quão distantes sua prática na sala de aula está em relação a outros processos que ocorrem na sociedade. Porém, se faz necessário uma análise e adaptação às novas necessidades educativas que as próprias tecnologias geram. Pois a escola tem que contar com um suporte teórico capaz de proporcionar meio e condições para estimular o constante avanço e adequação das Novas Tecnologias ao desenvolvimento dos indivíduos.

Como ponto de partida, poderíamos considerar a integração de ideias, métodos e produtos das Novas Tecnologias da Informação nos currículos de Língua Portuguesa das escolas de 1°, 2° e 3° graus. Entretanto, Lévy (2000: In: Santaella, 2007), sugere existir um acordo sobre dois aspectos deste processo de integração, o primeiro refere-se a aquisição de noções básicas sobre a ciência da computação, destacando que estas informações são fundamentais a qualquer estudante, mediante a sociedade informatizada em que vivemos. O segundo aspecto relaciona-se com o domínio dessas ideias ferramentas e métodos das novas Tecnologias da Informação para melhorar o aprendizado de Língua Portuguesa.

Entende-se que hoje, a tecnologia desempenha importante papel no processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa, como também das demais disciplinas, pois pode ser observada a ênfase em algumas tendências gerais como Noções básicas da Ciência da Computação e atividades de programação no currículo de Português.

De acordo com Lévy (2007), o primeiro uso da tecnologia da informação no currículo de Língua Portuguesa, baseia-se em introduzir as noções consideradas fundamentais da Ciência da Computação em atividade de programação, estando relacionado com a possibilidade do estudante aprender a trabalhar com importantes noções como variáveis, linguagem formal e informal, permeados pelo multiculturalismo cibernético, e que, frequentemente se apresentam com diferentes significados na Computação e no Português.

Lévy (2007, p. 79), acrescenta:

 

Uma mulher jovem manipula um ‘ícone’ que representa uma chama. Com a ajuda de um cursor comandado por um ‘rato’, aproxima o ideograma do fogo de um outro ideograma, que representa uma pedra de gelo. Passados alguns instantes, o ‘ícone’ de gelo pisca em vídeo inverso e depois transforma-se bruscamente num terceiro ideograma: três traços ondulados que representam a água. Esta jovem é especialista em psicologia da aprendizagem e reside em Lyon. Participa de um projeto disciplinar europeu no domínio das tecnologias educativas.

 

Para Straub (2009), a integração das tecnologias de informação e de comunicação no âmbito da escola além de difícil é urgente, ocorre uma grande necessidade de se utilizar as tecnologias como ferramentas de ensino, para isso, é necessário que os profissionais da educação busquem uma melhor formação, com qualificação crítica, coerente e criativa, fazendo o uso mediatizado das TICs no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa.

Straub (2009, p. 32), complementa com uma pesquisa realizada no Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), onde a autora faz um levantamento de dados sobre a situação dos Laboratórios de Informática existentes nas Escolas Públicas do Estado de Mato Grosso, mais especificamente, no município de Sinop. Segundo a autora “hoje, além das atribuições já existentes, exige-se que a escola capacite os alunos para decifrar o mundo em que vivem para que contribuam com o sistema social, cultural e produtivo”.

Acrescenta Moraes (2011, p. 05 e 06), que atualmente podem ser observadas várias pesquisas e experiências dando ênfase à tecnologia nos currículos de Português como:

  1. A introdução de noções de computação nas atividades de programação procura integrar Informática e português. Como exemplos deste tipo de proposta citamos os trabalhos envolvendo a linguagem e a gramática, nos quais são desenvolvidas atividades envolvendo textos, interpretações, informações, textos gramaticais, entre outros.

  2. Uso do computador como um auxiliar, uma ferramenta para o aprendizado de Português. Na qual os alunos são auxiliados no seu aprendizado da Língua e linguagem através do uso de softwares tais como planilhas eletrônicas, manipuladores simbólicos ou ainda pacotes específicos para determinados conteúdos curriculares.

  3. Uso de micromundos para o desenvolvimento de habilidades de linguagem. No qual a ideia básica sobre o uso de um sistema micromundo no aprendizado de Português é a de encorajar o estudante a explorar o ambiente que está acessível através de alguma interface e que envolve um modelo de um domínio de conhecimento linguístico.

  4. O uso da tecnologia na transmissão e difusão de conceitos gramaticais. O uso da tecnologia da informação no currículo de Português está baseado no uso de ferramentas e técnicas (filmes, videodiscos, hipertextos) para a comunicação e difusão de conteúdos e conceitos gramaticais.

  5. Formação de professores para a integração de Novas Tecnologias da Informação no currículo de Português.

  6. Aprendizagem Linguística, Novas Tecnologias e pessoas portadoras de necessidades especiais.

  7. Modelos gramaticais e Aplicações de textos informativos na Sala de Aula.

 

Análise e discussão de dados

 

A presente pesquisa contou com a colaboração de cinco (05) alunos da Educação de Jovens e Adultos - EJA, e duas professoras, sendo uma de Língua Portuguesa e a outra que cuida do Laboratório de Informática da Escola Estadual Benedito Sant’ana da Silva Freire em Sinop/MT.

Primeiramente, buscou-se resposta para o problema da pesquisa que foi identificar quais eram as dificuldades enfrentadas pelos indivíduos no processo de inclusão digital, aprimoramento das informações, das comunicações e dos saberes veiculados socialmente.

Para os alunos a maior dificuldade é a falta de saber fazer uso das tecnologias da informação, um aluno relatou que sente vergonha em não saber mexer com o computador, outros dois disseram que o programa usado pela escola é muito diferente do que tem em casa. Os outros dois disseram que a internet da escola é muito ruim e que quase nunca tem aulas no laboratório.

As professoras responderam que realmente o programa usado no Laboratório é o Linux, enquanto que, o que os alunos tem em casa é o Windows. A professora de Língua Portuguesa acrescentou que não sabe trabalhar com programa Linux e que tanto o computador que possui em casa, como o que se encontra na sala de professores da escola o programa existente é o Windows, com isso, fica difícil preparar uma aula de Língua Portuguesa, assim só leva os alunos para o laboratório para pesquisar algum tema e depois ao retornarem para a sala produzirem textos ou discutirem sobre o assunto, não fazendo o uso do computador para isso. Já a professora do Laboratório, alegou que a internet existente é de apenas 5megas, e que existem 12 computadores e 30 monitores (bem velhos) no laboratório, isso faz com a internet fique muito lenta e também que caia a toda hora. Já o programa Linux é exigência do próprio Ministério da Educação, por se tratar de um programa brasileiro e original, enquanto que a grande maioria de computadores com programa Windows é pirata.

Quanto ao principal objetivo de descobrir as dificuldades de alunos jovens e adultos para o ensino da Língua Portuguesa e as vantagens trazidas a ele e a sociedade com a inclusão digital. Os alunos foram unânimes em declarar que aprender a usar o computador é muito importante para o mercado de trabalho, porém o fato de terem que trabalhar com um programa que não é usado no comércio ou outros órgãos de trabalho não lhes traz nenhuma vantagem. Ficando constatado que o programa Linux não oferece estímulo para que os alunos queiram aprender o uso de tecnologias, uma vez que o seu objetivo é saber usar o computador também para trabalhar e não apenas para estudar.

Dentre os objetivos específicos de verificar se os planejamentos e metodologias utilizados na EJA incluem os recursos tecnológicos, contribuindo para a formação da cidadania, as respostas ao problema e ao objetivo principal já deixou claro que isso não vem ocorrendo, uma vez que o programa Linux não é usado em outros setores, além da internet não oferecer a velocidade adequada, bem como os computadores, por serem muito velhos não oferecerem uma boa qualidade de uso.

Quanto a avaliar se os professores possuem capacitação e interesse em trabalhar com a tecnologia em suas aulas, foi constatado que não, tanto a professora de Língua Portuguesa, quanto a do Laboratório, foram claras em declarar que não sabem trabalhar com o programa Linux. Constata-se que não vem ocorrendo a possibilidade de proporcionar aos professores uma base teórica adequada para que haja a integração do computador e da internet com as aulas de Língua Portuguesa. Isso ocorre segundo uma das professoras, porque não vem sendo aprofundados estudos por parte da maioria dos professores, não ocorrendo a interdisciplinaridade de temas e conceitos, nem sendo desenvolvidos projetos de aprendizagem, uma vez que a maioria não demonstra interesse em participar de atividades e cursos na área da tecnologia.

Com relação ao objetivo específico de verificar quais as vantagens que a inclusão digital proporciona ao aluno e ao professor, se está realmente contribui com a inclusão digital, o referencial teórico mostrou que sim, a inclusão digital não apenas contribui com a cidadania e uma melhor colocação do indivíduo no mercado de trabalho, como também lhe proporciona a aquisição de muitos conhecimentos e aprendizados, além da sua inclusão universal, uma vez que a partir do momento em que este está conectado, o sujeito tem a oportunidade de conhecer e compartilhar cultura com o mundo todo.

E, por último, tinha-se o objetivo específico de demonstrar que a tecnologia contribui de forma significativa no aprendizado da Língua Portuguesa, tornando o aluno cada vez mais consciente de sua própria realidade e papel na sociedade, constatou-se que sim. Hoje, a informação é o grande ícone para se manter informado sobre tudo o que acontece no mundo, como permite estudar, buscar novos e mais conhecimentos, interagir com outras pessoas, trocar ideias e ainda tornarem-se sujeitos de sua própria história.

 

 

Considerações finais

 

Em virtude do processo de mudança, denominado de progresso, que ocorre pela evolução tecnológica, a área educacional não poderia deixar de sofrer as influências da tecnologia, aliás, é a área que deveria primeiro ter incorporado e aprimorado este processo evolutivo que tem tudo para ajudar o aluno, no seu desenvolvimento educacional, cultural e social. Precisa-se dessa forma utilizar os recursos do computador para a educação, sendo ele uma ferramenta de trabalho bastante singular podendo permitir níveis de representação simbólicas que ainda não foram oferecidos por qualquer outro instrumento, o que causará uma transformação em todas as áreas.

São muitas as mudanças que sofremos em virtude do avanço da tecnologia, sendo assim a educação precisa estar sempre buscando novas formas e métodos de ensino, além da atualização dos conteúdos. Como já sabemos são vários recursos didáticos úteis para a educação, entre eles encontra-se o computador, mas vemos que ele nem sempre é utilizado e quando é, muitas vezes não tem função educativa.

No mundo de hoje onde a informação está valendo mais do que o dinheiro, tornando-se um bem precioso. O computador aparece neste contexto como uma excelente ferramenta de auxílio ao ensino e aprendizagem dos alunos, sendo um ótimo transmissor e armazenador de dados, passando uma metavisão do que se precisa para operar as mudanças internas necessária a fim de compreender e agir melhor no mundo.

Vendo que estamos vivendo em um mundo totalmente modernizado, onde o computador está se tornando cada vez mais indispensável para o nosso dia a dia, já é tempo de começarmos a utilizá-lo na educação, também. Pois, o mesmo é mais um recurso pedagógico de grande auxílio ao professor, que irá criar situações de aprendizagem para o aluno através do computador e não praticar aulas de informática.

Muitos professores, pais e alunos, já estão conscientes da utilidade do computador na educação, contudo, também existe uma grande parte de professores que por falta de conhecimento na área ou medo de serem substituídos pelas máquinas, preferem não fazer uso deste instrumento em suas aulas ou quando o fazem muitas vezes é sem intenção educativa. Não basta alegar que o programa utilizado na escola é diferente do usado em casa ou outros setores. O importante e necessário é que os professores aprendam a operar com o programa Linux, participando de cursos oferecidos pelo N.T.E e o PROINFO, os quais buscam mostrar que a informática deve ser utilizada na escola a partir da proposta pedagógica e dos conteúdos a serem ensinados.

Os professores precisam entender que o computador é um instrumento de ajuda criado pelo homem e com o qual é possível realizar inúmeras tarefas. Mas, a máquina é incapaz de tomar uma decisão, que não tenha sido pensada, raciocinada, desejada e determinada por uma pessoa. A tarefa do computador é executar todas as atividades que lhes são ordenadas. Para fazer seu trabalho ele deve ser programado. Se quisermos que ele resolva um problema para o qual não foi programado, simplesmente não obteremos resposta. Por isso, a necessidade de qualificação profissional, ou seja, se o profissional da educação já sabe trabalhar com o programa Windows, ele não está plenamente qualificado, pois cabe a ele buscar aprender como trabalhar também com o programa Linux, podendo assim, repassar esse aprendizado aos seus alunos, e, no fim ambos sairão ganhando pois além de aprenderem os conteúdos curriculares, aprenderam a trabalhar com os dois programas. E, convenhamos, aprender nunca é demais!

 

 

Referências bibliográficas

 

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1 Psicopedagoga e professora alfabetizadora na rede municipal de Sinop- MT