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Os principais desafios à inclusão do aluno com Transtorno do Espectro Autista: a questão da formação de professores

Elizete Alves Ferreira[1]

Antonia Alves Ferreira Fortuna[2]

 

DOI: 10.5281/zenodo.11162120

 

 

RESUMO

Busca-se com este artigo revisitar a literatura que trata especificamente da inclusão de alunos com transtorno do espectro autista, tendo em vista apreender os principais desafios à inclusão dos referidos estudantes. Para tanto, metodologicamente, efetuou-se uma busca no Google acadêmico a partir do descritor “inclusão de alunos TEA”. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa e de natureza bibliográfica. Os resultados apontaram que os principais desafios enfrentados à inclusão dos alunos com TEA são: a) a ausência de formação adequada aos professores; b) falta de recursos e apoio especializado nas escolas; c) ausência de conscientização por parte dos colegas de classe; d) falta de políticas públicas efetivas e, por último, e) a falta de apoio familiar. Em função disto, foram realizadas as primeiras aproximações à questão da formação de professores de alunos especiais, sobretudo alunos com TEA.

 

Palavras-chave: Inclusão, TEA, Educação Básica.

 

 

ABSTRACT

This article seeks to revisit the literature that specifically deals with the inclusion of students with autism spectrum disorder, with a view to understanding the main challenges to said inclusion. To this end, methodologically, a search was carried out on Google Scholar using the descriptor ‘inclusion of ASD students’. It is, therefore, a qualitative and bibliographical research. The results showed that the main challenges faced by autistic families and students are: a) the lack of adequate training for teachers; b) lack of resources and specialized support in schools; c) lack of awareness on the part of classmates; d) lack of effective public policies and, finally, e) lack of family support.

 

Keywords: Inclusion, Tea, Basic education.

 

 

Introdução

 

A inclusão nas escolas brasileiras é de extrema importância para garantir a igualdade de oportunidades e o pleno desenvolvimento de todos os estudantes, independentemente de suas características individuais. A inclusão se refere à prática de acolher e educar alunos com deficiência, transtornos do espectro autista, altas habilidades/superdotação e outras necessidades educacionais especiais no ambiente regular de ensino. Uma das principais razões para a importância da inclusão nas escolas brasileiras é o princípio da igualdade. Todos os estudantes têm direito à educação e devem ser tratados com respeito e dignidade. A inclusão promove a valorização da diversidade humana e combate à discriminação, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

A inclusão nas escolas brasileiras também é importante do ponto de vista pedagógico. A diversidade de alunos em sala de aula enriquece o processo de ensino-aprendizagem, estimulando a troca de experiências e o desenvolvimento de diferentes habilidades. Os professores são desafiados a adaptar suas práticas pedagógicas para atender às necessidades individuais de cada aluno, promovendo uma educação mais personalizada e efetiva.

A inclusão de alunos autistas nas escolas regulares é um tema que tem ganhado cada vez mais relevância nos últimos anos. Santos (2016) atribui aos avanços na legislação nacional sobre a política de educação especial, o aumento no número de crianças diagnosticadas com autismo em escolas regulares. No entanto, a inclusão dessas crianças enfrenta uma série de desafios que precisam ser superados para garantir-lhes uma educação de qualidade e igualdade de oportunidades.

Quais são exatamente esses desafios? Para respondê-la efetuou-se uma pesquisa de caráter bibliográfico[1] na plataforma Google acadêmico. Assim sendo, esta pesquisa está estruturada conforme os desafios enfrentados pelas famílias e pelos alunos com TEA, segundo revisão da literatura. Tendo em vista que a formação de professores está entre os desafios, aproximamo-nos desta temática.

 

 

Desafios à inclusão escolar do aluno com TEA

 

Nos últimos anos, houve um aumento significativo no desenvolvimento e implementação de políticas voltadas para a educação especial em todo o mundo. Essas políticas visam garantir que todas as crianças, independentemente de suas necessidades especiais, tenham acesso a uma educação de qualidade e inclusiva. Esse aumento reflete uma mudança na compreensão e na valorização da diversidade e da igualdade de oportunidades na educação.

Uma das principais razões para o aumento dessas políticas é o reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2006, estabelece que todas as pessoas com deficiência têm direito à educação inclusiva e de qualidade em um ambiente que promova a igualdade e a participação ativa. Esse tratado internacional tem sido uma inovação para a implementação de políticas externas à educação especial em muitos países.

Além disso, sabe-se hoje da importância da educação inclusiva para os alunos de modo geral. A inclusão de crianças com necessidades especiais nas escolas regulares não apenas promove a igualdade de oportunidades, mas também contribui para o desenvolvimento social e emocional de todos os alunos. A interação entre crianças com diferentes habilidades e necessidades ajuda a criar um ambiente mais democrático, tolerante e respeitoso, preparando os alunos para uma sociedade efetivamente democrática, diversa.

Outro fator importante é o avanço da tecnologia e das práticas pedagógicas. Com o desenvolvimento de recursos e ferramentas tecnológicas, é possível oferecer suporte individualizado e adaptado às necessidades de cada aluno. A tecnologia assistiva, por exemplo, permite que crianças com deficiências físicas ou de comunicação tenham acesso a uma educação de qualidade. Além disso, as práticas pedagógicas foram evoluídas para incluir estratégias de ensino diferenciadas, que atendem às necessidades específicas de cada aluno.

No entanto, apesar do aumento das políticas externas à educação especial, ainda existem desafios a serem enfrentados. Especialmente no que diz respeito à inclusão dos alunos com TEA, revisitamos a literatura e constatamos quais são os principais desafios à essa inclusão. Vimos que um dos principais desafios à inclusão do aluno autista é a falta de conhecimento e compreensão por parte dos professores e demais profissionais da educação. Muitas vezes, os educadores não estão preparados para lidar com as necessidades específicas desses alunos, o que pode trazer dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. É nesse contexto que surge o profissional AEE,

 

Para as escolas, a presença desse profissional está atrelada à dificuldade que os educadores, principalmente os professores, sentem em relação à aprendizagem das crianças com desenvolvimento atípico. E é atravessado por esse papel de mediação que o AEE se insere no espaço escolar. Sua função não é substituir o professor, mas sim possibilitar a comunicação e as relações interpessoais no contexto escolar, de modo a contribuir para o desenvolvimento social e psicológico da criança. O ATE deve participar do processo de inclusão da criança com desenvolvimento atípico, intervindo no seu cotidiano e possibilitando-lhe maior autonomia e maior trânsito nos espaços sociais [...] (Santos, 2016).

 

Além de poder contar com o AEE, é fundamental que os profissionais recebam formação adequada sobre o autismo e estratégias pedagógicas inclusivas, a fim de proporcionar um ambiente acolhedor e adequado às necessidades individuais de cada aluno.

Outro desafio é a falta de recursos e apoio especializado nas escolas. Alunos autistas podem necessitar de adaptações curriculares, materiais didáticos diferenciados, acompanhamento terapêutico e suporte individualizado. No entanto, nem todas as instituições de ensino possuem estrutura e recursos suficientes para atender a essas demandas.

Ademais, Santos (2016) nos alerta que a estrutura por si só não é suficiente, se o professor não souber ou não quiser utilizá-la:

 

A existência de recursos pedagógicos na escola não garante que eles estejam sendo utilizados para a facilitação do processo inclusivo de crianças com TEA. A atitude do professor é de suma importância, visto que o que os professores dizem e fazem impacta na formação e no autossenso dos estudantes [...] (Santos, 2016, p.74).

 

Ainda sobre o desafio da falta de apoio, vale sublinhar que a falta de profissionais especializados, como psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, também pode dificultar a inclusão plena do aluno autista.

Para Bruner (2011), a falta de conscientização e facilidades por parte dos colegas de classe também representa um desafio significativo. O autismo é uma condição invisível, o que pode levar a estigmas e preconceitos por parte de muitos estudantes. É essencial promover a sensibilização e o respeito à diversidade desde cedo, para que os alunos autistas sejam acolhidos e incluídos de forma natural no ambiente escolar.

A falta de políticas públicas efetivas também é um obstáculo à inclusão do aluno autista. A legislação brasileira prevê a inclusão de pessoas com deficiência no sistema educacional regular, por meio da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/SEESP, 2008). No entanto, muitas vezes essas leis não são inovadoras, faltando investimentos e planejamento adequado para garantir a inclusão plena dos alunos autistas.

Vale ressaltar que a consolidação da política nacional de educação inclusiva no Brasil após 1996 foi um processo gradual e complexo, marcado por avanços significativos na garantia do direito à educação para todos os estudantes, independentemente de suas características individuais. A partir desse ano, o país passou a adotar uma abordagem mais inclusiva, buscando superar as práticas segregadoras e discriminatórias que historicamente permearam o sistema educacional.

Uma das principais conquistas nesse sentido foi a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996, que estabeleceu as bases para a construção de uma educação inclusiva no país. A LDB reconheceu a diversidade como um princípio fundamental e determinou que o ensino regular deveria atender a todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (Brasil, 1996).

A partir da LDB, foram criados mecanismos para efetivar a inclusão educacional, como a implementação dos sistemas de ensino inclusivos em todas as etapas e modalidades da educação básica. Esses sistemas devem garantir o acesso, a permanência e o sucesso dos estudantes com deficiência nas escolas regulares, promovendo adaptações curriculares, metodológicas e de infraestrutura necessárias para atender às suas especificidades.

Conforme Caiado e Laplane (2009), outro marco importante na consolidação da política nacional de educação inclusiva foi a criação do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade em 2003. Esse programa tem como objetivo promover a formação continuada de professores e gestores, o desenvolvimento de recursos didáticos acessíveis e a articulação entre os diferentes níveis de governo para a implementação de políticas inclusivas.

Além disso, em 2008, foi promulgada a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU), que reforçou o compromisso do Brasil com a educação inclusiva. A Convenção estabelece que os Estados devem assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, além de garantir o acesso a escolas regulares e a igualdade de oportunidades na educação.

Para viabilizar a implementação da política nacional de educação inclusiva, foram criados diversos programas e iniciativas. Destacam-se o Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos (Pronase), o Programa Nacional de Apoio à Educação de Alunos com Deficiência (Pronap), o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) e o Programa BPC na Escola, que visa garantir o acesso e a permanência na escola de crianças e adolescentes beneficiários do Benefício de Prestação Continuada.

No entanto, apesar dos avanços conquistados, ainda existem desafios a serem enfrentados para a plena consolidação da política nacional de educação inclusiva. A falta de estrutura adequada nas escolas, a formação insuficiente dos professores para lidar com a diversidade e a resistência cultural são alguns dos obstáculos que precisam ser superados.

Por fim, a falta de apoio familiar também pode representar um desafio à inclusão do aluno autista.  A boa relação entre a família e a escola desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e sucesso educacional das crianças de modo geral, sobretudo no caso do aluno com TEA. Essa parceria é essencial para garantir um ambiente de aprendizado saudável e estimulante, promovendo o crescimento acadêmico, emocional e social dos alunos com TEA.

Segundo Cabral e Falcke (2021), uma das principais razões para a importância dessa relação é o fato de que a família e a escola são os dois principais contextos nos quais as crianças com TEA passam a maior parte do tempo durante sua infância e adolescência. A interação positiva entre essas duas instituições cria uma rede de apoio consistente e coerente para os alunos, fornecendo-lhes um senso de segurança, pertencimento e confiança. Quando a família e a escola trabalham juntas, há uma troca constante de informações sobre o progresso acadêmico e comportamental dos alunos. Os pais podem compartilhar suas observações sobre o desenvolvimento dos filhos em casa, enquanto os professores podem fornecer feedback sobre o desempenho escolar. Essa comunicação aberta permite que ambas as partes identifiquem áreas de melhoria e implementem estratégias eficazes para ajudar os alunos a superar desafios.

Além disso, a colaboração entre família e escola também é crucial para estabelecer expectativas claras e consistentes para os alunos. Quando pais e professores compartilham valores semelhantes em relação à educação, as crianças recebem mensagens coerentes sobre a importância da aprendizagem, disciplina e responsabilidade. Isso cria um ambiente propício ao engajamento dos alunos nas atividades escolares, pois eles percebem que todos estão trabalhando em conjunto para seu sucesso. A boa relação entre família e escola também desempenha um papel importante no apoio ao desenvolvimento socioemocional dos alunos. Os pais desempenham um papel fundamental na promoção de habilidades sociais e emocionais, enquanto a escola oferece oportunidades para a prática dessas habilidades em um ambiente estruturado. Quando há uma colaboração efetiva entre essas duas esferas, os alunos têm mais chances de desenvolver habilidades como empatia, resolução de conflitos e autocontrole.

Conforme Cabral e Falcke (2021), também vale frisar que muitas famílias enfrentam dificuldades para lidar com o diagnóstico e as necessidades específicas do filho autista, o que pode refletir no seu desempenho escolar. É fundamental que as famílias recebam orientação e suporte adequado, para que possam contribuir no processo de inclusão e garantir o bem-estar do aluno. Ademais, uma boa relação entre a família e a escola pode refletir positivamente no desenvolvimento acadêmico do aluno com TEA:

 

Especificamente no contexto da inclusão escolar de crianças com TEA, constata-se que esse processo carece de maior discussão devido à complexidade do transtorno. Alguns estudos já sinalizaram benefícios da inclusão a tais crianças e suas famílias (Camargo & Bosa, 2009; Silva et al., 2020), como a melhora da concentração nas atividades propostas e, consequentemente, o cumprimento delas, além de propiciar o estabelecimento de interações com colegas. Esses resultados refletem na família, pois se atribui mais credibilidade às potencialidades da criança à medida que se percebe o seu investimento em relação à aprendizagem (Cabral, Falcke, 2021, p.495).

 

Logo, a inclusão do aluno autista nas escolas regulares enfrenta diversos desafios que vão desde a falta de conhecimento e recursos por parte dos profissionais da educação até a falta de conscientização e apoio familiar. Superar esses desafios exige um esforço conjunto da sociedade, das instituições de ensino e do poder público, garantindo atualmente uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes.

 

 

A questão da formação docente no processo de inclusão escolar

 

De acordo com Oliveira (2018), a discussão sobre como preparar os profissionais que atuam na área educacional é fundamental para garantir a qualidade do ensino e o desenvolvimento dos estudantes. Neste contexto, a formação de professores abrange tanto a formação inicial, realizada nos cursos de licenciatura, como a formação continuada, que ocorre ao longo da carreira docente. A discussão sobre a formação de professores é relevante por diversos motivos. Em primeiro lugar, a qualidade da educação está diretamente relacionada à competência e ao conhecimento dos professores. Profissionais bem preparados têm mais condições de promover um ensino eficaz, utilizando metodologias adequadas e atualizadas, além de serem mais aptos a lidar com as demandas e desafios da sala de aula. Além disso, a formação de professores também está ligada à valorização da profissão docente (Gatti, 2014). Ao discutir e investir na formação dos professores, confirme a importância do trabalho realizado por eles e busque fornecer condições para o seu desenvolvimento profissional. Isso contribui para atrair e manter profissionais diversificados na área da educação, evitando a desvalorização e o desejo que muitas vezes afeta os docentes. Outro aspecto relevante é a necessidade de adaptação às mudanças sociais e tecnológicas. A discussão sobre a formação de professores deve contemplar as novas demandas e realidades presentes na sociedade contemporânea. Os avanços tecnológicos, por exemplo, têm impactado a forma como as pessoas se relacionam e aprendem, exigindo que os professores estejam preparados para utilizar essas ferramentas de maneira eficiente e significativa no processo de ensino-aprendizagem. A formação de professores também está relacionada à promoção da equidade e inclusão na educação. Ao discutir a formação de profissionais, é possível abordar questões como a diversidade cultural, a inclusão de alunos com necessidades especiais e a superação de desigualdades educacionais (Gatti, 2014). A formação adequada dos professores contribui para que eles estejam preparados para lidar com a diversidade presente nas salas de aula e promover uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes. Por fim, a discussão sobre a formação de professores é importante para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de novas práticas educacionais. Ao refletir sobre as melhores formas de preparar os profissionais da educação, abre-se espaço para o debate acadêmico e para a produção de conhecimento na área. Isso contribui para o avanço da educação como um todo, possibilitando a criação de estratégias mais eficazes e inovadoras no processo de ensino-aprendizagem (Gatti, 2014).

Ademais, segundo Ferro (2017), especialmente a formação do docente e o desafio de ensinar alunos com deficiência no ensino regular são questões cernes no processo de educação inclusiva no ensino regular. Pois, embora a inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares seja um direito garantido por lei tal qual expusemos anteriormente, visto que proporciona igualdade de oportunidades e acesso à educação para todos os estudantes, ela esbarra, sobretudo, na competência pedagógica do professor, que deve ser preparado, ainda em sua fase acadêmica, a reconhecer que a inclusão implica também na atitude do educador no que se refere ao respeito e a aceitação do próximo, quanto às suas limitações. Este, entre outros desafios à efetiva inclusão de alunos com necessidades educativas especiais serão descritos neste tópico da presente pesquisa.

Sabe-se que a formação do docente é um fator determinante para o sucesso da inclusão escolar. Os professores precisam estar preparados para lidar com a diversidade de necessidades educacionais dos alunos com deficiência. A primeira etapa da formação do docente é a sua graduação em cursos de licenciatura. Durante esse período, da perspectiva formal, os futuros professores devem ter a oportunidade de adquirir conhecimentos teóricos sobre educação inclusiva, aprendendo sobre as diferentes deficiências e suas características, bem como as políticas públicas externas para a inclusão escolar. Além disso, é fundamental que os cursos de licenciatura ofereçam disciplinas específicas que abordem a temática da educação inclusiva, proporcionando aos futuros docentes uma base sólida para atuar nessa área. Os currículos dessas disciplinas devem abordar aspectos como adaptação curricular, recursos pedagógicos e tecnológicos, estratégias de ensino diferenciadas e avaliação inclusiva (Ferro, 2017).

Nesse sentido, Ferro (2017, p.17) levantou a seguinte hipótese de pesquisa: “[...] a formação do professor ainda se apresenta de maneira frágil, com dimensões que contemplam práticas pouco favoráveis ao trabalho docente para a perspectiva inclusiva, especificamente em se tratando de alunos com algum tipo de deficiência. ” Tal hipótese fora comprovada, pois conforme as constatações de Ferro (2017, p.85):

 

No percurso investigativo, com o objetivo de averiguar o processo formativo inicial docente junto à atuação aos alunos com deficiência em sala de aula do ensino regular, chega-se à compreensão que, a despeito de existirem algumas disciplinas no currículo de formação sobre inclusão, os professores afirmam que os conhecimentos adquiridos não lhes deram a base suficiente para trabalhar, no ensino comum, com alunos com deficiências evidentes. A esses alunos, os professores não sabem como ensinar e, de fato, não foram formados para ensiná-los. Os resultados obtidos permitem avaliar que os professores têm pouca ou nenhuma formação que os habilite para um trabalho pedagógico centrado em estratégias que minimizem os impactos gerados, no desenvolvimento do aluno, pelas especificidades da paralisia cerebral, deficiência auditiva, deficiência intelectual, deficiência física/motora, transtorno do espectro do autismo e transtorno do déficit de atenção, tipos de deficiência com as quais esse grupo de docentes lida no cotidiano escolar. 

 

Em outros termos, o autor afirma:

 

Em resposta a questão deflagradora desta pesquisa, a leitura dos dados confirma que as participantes deste estudo não se apropriaram de conhecimentos, competências e habilidades visando à inclusão educacional. O entendimento é que não foram preparadas para um trabalho na perspectiva da inclusão, de modo que a prática, ou seja, a experiência cotidiana é a fonte de conhecimentos para lidar com o aluno com deficiência. Para mudar essa realidade, aponta-se que ao futuro professor, em seu processo formativo, deve ser dado a conhecer a proposição legal de Educação Inclusiva no Brasil e suas propostas educacionais, uma vez que é perceptível o desconhecimento, por parte da maioria das pesquisadas, sobre o real significado de inclusão (FERRO, 2017, p.87). 

 

Conforme Konkel, Andrade e Kosvoscki (2015) para atuar junto aos alunos com necessidades educativas especiais o professor deve aprender a mediar relações, estimular a aquisição de conceitos e planejar os conteúdos de modo que os estudantes efetivamente possam se apropriar dos conhecimentos socialmente legitimados. Ademais, as autoras Konkel, Andrade e Kosvoski (2015) apontam outros desafios à inclusão, dentre eles, encontra-se a aceitação do estudante por parte do professor. Quando os professores de educação especial se demonstram acessíveis em relação aos seus alunos, isso pode ter um impacto significativo no desenvolvimento acadêmico, social e emocional desses estudantes. Primeiramente, a aceitação do estudante por parte do professor de educação especial cria um ambiente seguro e acolhedor. Ao se sentirem aceitos e valorizados, os estudantes com necessidades especiais se tornam mais confiantes e motivados para participar das atividades escolares. Essa atmosfera positiva permite que os alunos se sintam à vontade para expressar suas opiniões, fazer perguntas e compartilhar suas experiências. Além disso, a aceitação também contribui para a construção de relacionamentos saudáveis ​​entre os estudantes e o professor, estabelecendo uma base sólida para o aprendizado. Em segundo lugar, a aceitação do estudante por parte do professor de educação especial tende a promover a autoestima e o bem-estar emocional dos alunos. Muitas vezes, os estudantes com necessidades especiais enfrentam desafios adicionais em relação à sua autoimagem e confiança. Ao serem aceitos e respeitados pelo professor, eles se sentem valorizados como indivíduos, o que fortalece sua autoestima e senso de pertencimento. Isso pode ter um impacto positivo na saúde mental dos estudantes, reduzindo o estresse e a ansiedade associados ao ambiente escolar. Em terceiro lugar, contribui para o desenvolvimento acadêmico dos alunos. Quando os estudantes são aceitos e apoiados pelo professor, eles se tornam mais engajados nas atividades de aprendizagem. O professor pode adaptar as estratégias de ensino para atender às necessidades individuais dos alunos, proporcionando um ambiente de aprendizagem inclusivo e eficaz. Além disso, a aceitação também pode encorajar os estudantes na busca por ajuda quando necessário, promovendo a autonomia e a responsabilidade pelo próprio aprendizado. Em quarto lugar, a aceitação contribui para a igualdade e a justiça educacional. Ao considerar as diferenças individuais dos alunos com necessidades especiais, o professor está contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e equitativa. A aceitação do professor implica em tratar todos os estudantes com respeito e dignidade, independentemente de suas habilidades ou limitações. Isso ajuda a combater o estigma associado às deficiências e promove uma cultura de respeito à diversidade. Por fim, a aceitação do estudante por parte do professor de educação especial é fundamental para o sucesso da educação inclusiva como um todo. A inclusão não requer apenas a presença física dos estudantes com necessidades especiais nas salas de aula regulares, mas também a sua participação ativa e eficaz. A aceitação do professor é um fator determinante para que isso aconteça, pois influencia diretamente o engajamento e o desenvolvimento dos alunos. Por outro lado, a ausência da referida aceitação pode constituir fragilidades na formação docente, que, por conseguinte, acarreta em uma postura pedagógica que não mobiliza esforços necessários para acolher a diversidade. Para as autoras, a aceitação é indispensável para a construção do vínculo, que pode possibilitar ao professor maior compreensão acerca das dificuldades do estudante e incentivá-lo a construir habilidades e capacidades de modo mais fácil.

No entanto, a formação inicial do docente não deve ser vista como suficiente para lidar com os desafios da inclusão escolar. Noronha (2017), Rocha (2017), Muttão e Lodi (2018), entre outros, advogam pela necessidade de formação continuada ao longo da carreira, com cursos de atualização e capacitação específicos para o ensino de alunos com deficiência. Essa formação deve ser pautada nas necessidades reais dos docentes, levando em consideração as demandas e dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar que visa a inclusão. A formação complementar contínua deve subsidiar o professor a desenvolver habilidades e adquirir conhecimentos para aplicá-los nas diversas situações reais e inéditas com as quais ele possa se deparar no cotidiano escolar (NORONHA, 2017). Rocha (2017) salienta a necessidade de capacitação dos profissionais, sobretudo, para atender as reais necessidades de cada educando. Segundo o autor, o docente é o responsável pela mediação entre o aluno e o conhecimento e deve criar e estimular cenários pedagógicos de modo que os alunos tenham progresso em seu desenvolvimento e ampliem suas capacidades cognitivas, afetivas e de interação social.

 

[...] cabe aos professores procurar novas posturas e habilidades que permitam problematizar, compreender e intervir nas diferentes situações que se deparam, além de auxiliarem na construção de uma proposta inclusiva, fazendo com que haja mudanças significativas pautadas nas possibilidades e com uma visão positiva das pessoas com necessidades especiais. A formação continuada é uma possibilidade de construção da nova proposta inclusiva, pois dá aos profissionais a possibilidade de (re)pensar o ato educativo e analisar a prática docente, com o intuito de criarem espaços para reflexão coletiva e atender ao princípio de aceitação das diferenças, valorizando o outro. Para que os objetivos do processo de inclusão sejam alcançados, deve haver mudanças nesse processo dentro do contexto escolar, que são realizadas através da reflexão comprometida e responsável pelos envolvidos referente à realidade inclusiva (Rocha, 2017, p.2).

 

No que tange à realização de cursos de formação continuada, vale frisar a observação de Noronha (2017, p.50), segundo a qual há professores que buscam a referida formação apenas com o objetivo de obter declarações e certificados que favoreçam a progressão na carreira. No entanto, o professor deve ter consciência da importância da aquisição do conhecimento e da implementação na sua prática, ou seja, “a importância de seu ato para adquirir habilidades que o capacitem para atuar junto a alunos com especificidades variadas como a do público-alvo da Educação Especial e, a partir de então, reformular sua identidade profissional” (Noronha, 2017).

Frente ao desafio da formação dos professores efetivamente habilitados à educação especial também é importante sublinhar a perspectiva do estudo de Milanese (2012), segundo o qual não devemos culpabilizar os professores por não possuírem tais habilidades e competências. Deve-se compreender que o oferecimento de formação é uma questão de políticas públicas, pois significa valorizar os profissionais e ajudá-los a lidar com a diversidade humana. Não somente o educador que tem um aluno com deficiência deve buscar conhecimento, mas todos, pois a cada ano, a demanda muda e mesmo que haja a presença de um professor especialista, o docente da classe comum tem o dever de ensinar e interagir com o aluno.

Além da formação do docente, segundo Rodrigues (2022), é importante destacar que a inclusão escolar efetiva dos alunos com deficiência no ensino regular requer a adoção de medidas estruturais nas escolas. É necessário que as instituições de ensino sejam preparadas para receber esses estudantes, oferecendo recursos físicos e materiais adequados, bem como profissionais de apoio, como intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e mediadores pedagógicos.

A inclusão escolar também exige uma mudança de paradigma na forma como a educação é concebida. É preciso superar o modelo tradicional centrado no ensino padronizado e passar a adotar práticas pedagógicas inclusivas, que valorizem a diversidade e promovam a participação ativa de todos os alunos. Logo, a formação do docente é um elemento fundamental para o sucesso da inclusão escolar de alunos com deficiência no ensino regular. Os professores precisam estar preparados para lidar com a diversidade de necessidades educacionais desses estudantes, desenvolvendo estratégias pedagógicas adequadas e promovendo a adaptação dos conteúdos curriculares. Além disso, é necessário que haja uma formação continuada ao longo da carreira, com cursos de atualização e capacitação específicos para o ensino de alunos com deficiência.

 

 

Considerações finais

 

A inclusão nas escolas brasileiras é fundamental para garantir a igualdade de oportunidades e o pleno desenvolvimento de todos os estudantes. Além disso, promove a valorização da diversidade, combate a discriminação, contribui para a formação de cidadãos conscientes e enriquece o processo de ensino-aprendizagem. É um caminho essencial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

Desde 1996, o Brasil tem buscado consolidar uma política nacional de educação inclusiva, garantindo o direito à educação para todos os estudantes. A promulgação da LDB, a criação de programas e iniciativas específicas e o compromisso com a Convenção da ONU são marcos importantes nesse processo.

O aumento das políticas voltadas à educação especial reflete um avanço na compreensão e valorização da diversidade na educação. Estas políticas são fundamentais para garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação inclusiva e de qualidade. No entanto, é necessário enfrentar desafios como a implementação eficaz das políticas e a garantia de recursos adequados. Com o comprometimento e investimento funcional, é possível construir um sistema educacional mais inclusivo e igualitário.

 

 

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[1] Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), especialização em Psicopedagogia Institucional pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação. Alfabetização e  Educação Infantil  pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação. Trabalha na Escola Municipal Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem-MT nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

[2] Formada em Pedagogia pela UNEMAT, pós-graduação em Neuropsicopedagogia e  Necessidades Especiais pela EDUCAVALES. Educação Infantil e Alfabetização pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação. Trabalha no CEMEI Gabriela Bedendo Torezzan na cidade de Guarantã do Norte – MT, na Educação nfantil. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

 

 

 

[1] Minayo (2013).