A arte de brincar: a importância do lúdico e dos brinquedos na educação infantil
Maria Estela Hernandes Carlotti
DOI: 10.5281/zenodo.10811155
RESUMO:
A presente pesquisa objetivou problematizar a concepção do “ato de brincar e do brinquedo” no processo de ensino aprendizagem na educação infantil. A partir da revisão da literatura específica foi possível identificar as influências dos brinquedos na formação das crianças pequenas e bem pequenas. Na primeira infância, a criança é preparada para a aprendizagem desenvolvendo hábitos, habilidades, atitudes favoráveis e comportamentos necessários à sua vida escolar, através de atividades consideradas lúdicas e criativas. Ao brincar, a criança interage com outras, percebendo-se como um “ser” no mundo e estabelecendo uma relação entre o que é pessoal (interior) e o que é do grupo (realidade externa). Portanto, o ato de brincar e os brinquedos são atividades que permitem sua inserção no mundo da imaginação e regras, devendo ser ofertado como atividade privilegiada nas instituições de educação infantil. A revisão da literatura também nos informa que o lúdico para a criança é fundamentalmente um o meio de expressão e através da brincadeira as crianças aprendem muito como adaptar-se ao mundo e em especial à monotonia da vida escolar. Isto nos mostra que a tarefa dos educadores é de colocar a criança em circunstâncias favoráveis que lhes permitam descobrir aquilo que elas devem aprender, ou seja, é criar situações mais estimuladoras para que a criança por si mesma descubra o conhecimento. De acordo com as leituras confirmou-se o quanto o brinquedo e o ato de brincar são importantes e prazerosos na educação infantil.
PALAVRAS-CHAVES: Brinquedo. Brincar. Criança. Educação. Desenvolvimento.
ABSTRACT
This research aimed to problematize the conception of the “act of playing and toy” in the process of teaching and learning in early childhood education. From the review of the specific literature it was possible to identify the influences of toys in the formation of young and very young children. In early childhood, the child is prepared for learning by developing favorable habits, skills, attitudes and behaviors necessary for their school life, through activities considered playful and creative. When playing, the child interacts with others, being able to perceive themselves as a "being" in the world and establishes a relationship between what is personal (inner) and what is of the group (external reality). Therefore, the act of playing and toys are activities that allow entering the world of imagination and rules, and should be offered as a privileged activity in early childhood institutions. The literature review also informs us that the playfulness for the child is the fundamental means of expression and through play children learn a lot how to adapt to the world and especially to the monotony of school life. This shows us that the task of educators is to place the child in favorable circumstances that allow them to discover what they should know, that is, to create more stimulating situations for the child to discover the knowledge himself. According to the eadings it was confirmed how important the toy and the play are important and enjoyable in early childhood education.
KEYWORDS: Toy. Play. Child. Education. Development.
INTRODUÇÃO
Ao pesquisar o tema sobre educação lúdica através do brincar, abrir-se-á um leque para muitos questionamentos e reflexões em se tratando do desenvolvimento da aprendizagem infantil.
Mostrar-se-á que o brinquedo completa o mundo mágico das crianças, pois é uma das principais formas a de brincar do ser humano, que se traduz na descoberta de si, nas experiências e vivências da própria criança, sendo possível perceber suas potencialidades, seus limites e acima de tudo explorando seu “mundo” através de suas brincadeiras de uma maneira saudável e produtiva ou não, e principalmente compreendendo a integração de suas primeiras experiências socioculturais.
As crianças bem pequenas, tem sido vista como um sujeito passivo e dependente porque sua aparência frágil e por vezes leva ao adulto despertar seu lado superprotetor; entretanto, estudos e pesquisas têm mostrado, uma nova visão de criança. Essa nova visão nos permite compreender seu desenvolvimento cognitivo e a forma como ela constrói seu conhecimento, entendendo-a como sujeito histórico que, a partir do nascimento, faz parte de um contexto sociocultural e participa continua e ativamente. Essas concepções são extremamente importantes na medida em que oferecem dados para a organização de atividades de estimulação, desenvolvimento e aprendizagem coerentes com cada estágio de evolução da criança e que nos demonstram o que ela é capaz de aprender e produzir em diferentes fases e vice-versa a cada momento de sua trajetória.
Com base na leitura e os referenciais estudados, foi possível identificar que o lúdico é um meio de fundamental de expressão e por meio do brincar em ambiente coletivo como a escola, as crianças aprendem ou não como se adaptar ao mundo e em especial à monotonia da vida escolar. Isto nos mostra que a tarefa dos professores é de proporcionar ao aluno situações de aprendizagem, estimulação e desenvolvimento, que os leve a descobrir aquilo que elas devem saber, ou seja, é criar situações favoráveis para que a criança por si mesma descubra o conhecimento.
Propomo-nos a refletir sobre a importância do brinquedo no processo de desenvolvimento ensino-aprendizagem das crianças, pois ele é o aspecto predominante da infância, e um fator muito importante do desenvolvimento.
Qual a relevância do brincar, do brinquedo e das brincadeiras como atividades lúdicas no desenvolvimento das crianças pequenas e bem pequenas na educação infantil?
O brinquedo pode ser usado em diferentes disciplinas que consiste em o currículo da educação básica. A educação infantil deve ser um ambiente especialmente criado para fazer desabrochar todas as potencialidades da criança, e por esse motivo, devem ser oferecidos a oportunidade de ser estimulada e motivada, de forma adequada e criteriosa observar a individualidade de cada criança, seu tempo de desenvolvimento. A alfabetização deve ser entendida, pois, como um processo que se inicia com a criança pegando, ouvindo, combinando, experimentando objetos, ou seja, interagindo com o meio ambiente social construído historicamente
Este trabalho tem como premissa, portanto, situar e compreender o ato de brincar, tendo como fundamentação que o brinquedo não pode ser visto como um protótipo e forma predominante da atividade do dia-a-dia da criança.
As crianças pequenas e bem pequenas precisam e necessitam brincar, pois compreendemos que as brincadeiras possuem um papel importante na construção do conhecimento e também do desenvolvimento infantil, levando a criança a explorar o mundo ao seu redor, descobrindo e entendendo a si própria, bem como seus sentimentos. Destarte, Vygotsky (1998) considera que “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”.
Ao brincar as crianças pequenas e bem pequenas estimulam sua inteligência. Isso se deve porque as ações fazem com que elas utilizem a imaginação, desenvolvam e estimulam a criatividade, e ainda agregam e proporcionam o exercício de atenção, concentração e até mesmo o engajamento.
Partimos da hipótese que a atividade lúdica infantil oferece entendimentos até mesmo sobre suas as expressões de emoções e sentimentos. É possível observar e compreender através do brincar a maneira como reage a situações de interação com as demais crianças, seu estágio de desempenho físico-motor e desenvolvimento linguístico, além dos primeiros ensaios sobre sua a formação de sua moral.
A brincadeira por meio do lúdico, é promotora de um espaço que socializa e constrói experiências que desenvolvem todos os sentidos da criança. O ato de brincar não pode ser menosprezado, mas compreendido como a forma em que as crianças pequenas e bem pequenas adquirem experiência de elaboração das vivências da realidade na construção do ser. A brincadeira para elas, vai muito além do que o simples ato de brincar, pois é através desse meio que elas estão se comunicando e expressando com o mundo.
Brincar é uma atividade bem comum e rotineira na vida das crianças pequenas e bem pequenas. Muitos estudos demonstram que o brinquedo enquanto objeto, é a forma pela qual as crianças solucionam grande parte dos conflitos advindos dos entraves do mundo em que vivem, que são, os reflexos do mundo dos adultos que as cercam. O ato de brincar revela como a criança expressa sua forma de representação da realidade. Sobre a relevância do ato de brincar para o desenvolvimento psíquico do ser humano, Bettelheim afirma que:
Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. Sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos (BETTELHEIM, 1984, p. 105).
A partir das ideias do autor é possível compreender as crianças quando brincam criam situações imaginárias e também reproduzem, por vezes se comportam como se estivessem agindo no mundo do adulto. Enquanto brinca, ampliam seu repertório de conhecimento e a concepção de mundo se adensa, uma vez que elas podem fazer de conta e colocar-se no lugar do adulto. Desse modo, no ato de brincar compreendemos a intenção de seus gestos, sinais, bem como a predileção por objetos e apropriação dos espaços, que as vezes significam outras ideias daquilo que apresentavam ou queriam ser e dizer. A todo momento as crianças estão reinventando e fazendo novas leituras dos acontecimentos que lhes deram origem, e assim sendo, este ato, o de brincar, proporciona novas aprendizagens.
As brincadeiras possibilitam as crianças representarem diferentes papéis e através deles agem, frente às realidades, de maneira não liberal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
Conforme Leontiev (1992, p. 62) “só no brinquedo as operações exigidas podem ser substituídas por outras e as condições do objeto podem ser substituídas por outras condições do objeto com preservação do próprio conteúdo da ação.”
Para uma criança pequena ou bem pequena, o ato de brincar vai além da necessidade de exploração e manipulação dos objetos. Segundo Vygotsky (1998, p. 96) os objetos ditam a ela a ação que deve ser executada. Por isso, que quando vê uma cadeira ela se assenta, uma escada é para subir e uma vassoura para varrer.
Vale ressaltar que, à medida em que a criança cresce e amadurece, carrega as imagens mentais em processo de formação, assim sendo, utiliza-se dos jogos simbólicos e cria novos significados para objetos e os espaços do meio que vive. Conferimos esse valor com exemplos cotidianos, vivenciados em âmbito escolar: uma cadeira pode atribuir e ter a função de um trono, enquanto a vassoura de torna-se seu par na música, seu guardanapo representa a capa voadora do super-herói. Essas concepções expressam o pensamento de Kishimoto, ao afirmar que:
O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do objeto lúdico. No caso da criança, o imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar de 3 anos, está carregado de animismo; de 5 a 6 anos, integra predominantemente elementos da realidade (KISHIMOTO, 2000, p. 19).
Essas questões tratadas pelo autor traz a luz a eminente indispensabilidade de os educadores se apropriarem do comportamento das crianças enquanto conhecimento, conforme suas etapas de desenvolvimento, uma vez que elas, principalmente, nas escolas passam a maior parte de seu tempo diariamente.
Os jogos e brincadeiras vão se constituindo em recursos de socialização e, historicamente, se dão no ambiente social e cultural. As crianças pequenas e bem pequenas utilizam-se de diversas maneiras para representá-las. Podemos citar o desenho, a linguagem, a imitação e, sobretudo, os jogos simbólicos, conhecido também como jogos de “faz de conta” e vão produzindo e reproduzindo os saberes infantis sobre o mundo, através desse meio.
De acordo com Brougére, (2000), a criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável. Importante salientar que o ambiente escolar é um ambiente favorecido de apropriação da cultura. O espaço institucional será responsável pela forma de como e quais os elementos culturais lhes serão retratados.
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Desta forma, falar em brinquedo não requer que se trate de um assunto comum relacionado ao dia a dia das crianças pequenas e bem pequenas, mas de compreender e fundamentar o tema. A partir, dessas questões acreditamos estar colaborando para novas pesquisas e contribuindo de maneira significativa com professores e técnicos ligados a educação.
O tema foi escolhido, pois na diretoria da educação infantil de Araras deparamo-nos com situações em que muitos docentes encontram dificuldades e algumas unidades estão construindo a implementação diária sobre a questão lúdica, o ato de brincar e a importância da utilização dos brinquedos.
Com isso, escolheu-se os brinquedos como objeto importante da pesquisa a fim de esclarecer um pouco mais a relevância do mesmo para o desenvolvimento infantil e dar continuidade a um trabalho de extrema importância fazendo com que os docentes realmente acreditem no efeito que o brinquedo traz na formação da criança.
Segundo Kishimoto (1998), no início a Alemanha era o centro geográfico da Europa, no terreno do brinquedo, pois uma parte dos mais belos brinquedos que ainda hoje se encontram nos diversos museus e quartos das crianças, pode-se considerar como um presente alemão. Nuremberg é a pátria do soldadinho de chumbo e da fauna da arca de Noé; a mais velha casa de boneca de que se tem notícia provêm de Munique. As bonecas de madeira de Sonneberg, as “árvores de aparas de madeira”, a Fortaleza de Oberammergaver, as lojas de especiarias e chapelarias, a festa da colheita em estanho de Hannover constituem modelos insuperáveis da mais sóbria beleza.
Em um breve levantamento histórico compreendemos que os brinquedos não foram criados como invenções de fabricantes especializados, mas sim advém das oficinas de artesão e entalhadores em madeira, fundidores de estanho, etc. Antes do século XIX, os brinquedos não eram fabricados como artigos únicos pela indústria. Os estilos e as belezas das peças mais antigas denotam-se que sua produção era secundária nas diversas indústrias manufatureiras, e que havia restrições de acordo com cada estatuto corporativo. Cada qual só lhe era permitido produzir o que lhe fazia jus o seu ramo de negócio.
No decorrer do século XVIII, surgiram os primórdios de uma nova fabricação, especializada, as indústrias chocaram-se por toda parte. Além de fabricar os produtos na linha de produção eram contra e impunham restrições as corporações e ofícios. As indústrias proibiam o artesão de pintar, ele próprio, seus produtos, para a preparação de brinquedos de diferentes matérias, obrigando várias indústrias a dividirem entre si os trabalhos simples, o que encareceu sobremaneira a mercadoria.
Entende-se que a venda, ou, pelo menos a distribuição de brinquedos, não era no início função de comerciantes especializados. De tal forma que ao mesmo tempo que se podia encontrar “animais de madeira com marceneiro”, soldadinhos com o caldeireiro, figuras de doces com o confeiteiro, bonecas de cera com o fabricante de vela, o mesmo não acontecia com o comércio intermediário, que fazia as vezes de grande distribuidor. Esta assim chamada ”editora”, aparece também primeiramente em Nuremberg. Ali, os exportadores compravam brinquedos que eram de procedência das manufaturas da cidade e, principalmente, das indústrias domésticas da região para distribuí-los depois entre as pequenas lojas. Ainda nesta época, os avanços da reforma obrigaram muitos artistas que até então haviam produzido para a igreja a direcionarem sua produção com relação ao consumo requerido de objetos artesanais e a substituírem as obras grandiosas por objetos de artes menores feitos para a decoração das casas.
Deu-se assim a extraordinária difusão daquele mundo de coisas minúsculas, as quais faziam a alegria das crianças nas estantes de brinquedos e dos adultos nas salas de arte e maravilhas; deu-se ainda com a fama dessas quinquilharias de Nuremberg e o domínio dos objetos e brinquedos alemães no mercado mundial, e que até hoje permanece inabalável.
Considerando a história do brinquedo em sua totalidade, e entre meados do século XIX, observa-se que os brinquedos se tornam maiores, e aos poucos vão perdendo o elemento descritivo; minúsculo e agradável. Quanto mais a industrialização avança, mais o brinquedo subtrai-se ao controle da família, tornando-se cada vez mais estranho não só as crianças, mais também aos pais.
Acredita-se que o conteúdo imaginário do brinquedo determina a brincadeira da criança, quando ao puxar alguma coisa e tornar-se cavalo, brincar com areia e tornar-se ladrão e guarda. Hoje em dia os instrumentos de brincar antigos, ou arcaicos, não valorizam a historicidade da época vinculados a rituais como: a bola, o arco, o papagaio, pois quanto mais elaborados e atrativos forem os brinquedos, estarão cada vez mais desviados de seu valor como “instrumentos” de brincar.
O ato de brincar com o brinquedo e o desejo da criança envolve e determina por sua faixa etária, o contexto sociocultural em que está inserida bem como seu desenvolvimento socioafetivo. Existem brinquedos que são universalmente aceitos, não importando muito o material de que são feitos, o tamanho ou mesmo a idade e o sexo da criança. Aqui, o que vale ser pontuado é que a criança tenha o assegurado seu direito de brincar e vivencie experiências dos mais variados tipos de brincadeiras ou jogos, sem preconceitos culturais.
Segundo Vygotsky (1998), não se pode definir o brinquedo como atividade que dá prazer a criança, visto que existem muitas atividades que propiciam mais prazer do que o ato de brincar, como por exemplo, chupar chupeta.
Vale ressaltar que o brinquedo incide determinada influência no desenvolvimento e formação da personalidade infantil. Eles estão associados as necessidades das crianças durante sua infância, ou seja, “a tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos imediatamente” Vygotsky (1998), mas alguns desejos são irrealizáveis, como ocupar o papel de sua mãe. Isto causa uma insatisfação muito grande na criança e esta passa a desenvolver sua angústia e atitude inadequada em seu mundo de faz de conta, em que seus desejos não satisfeitos e contrariados possam sê-los através da brincadeira.
Assim sendo, percebemos que o bem-estar derivado do brinquedo é controlado por motivos diferentes daquele por exemplo proporcionado pelo simples “chupar chupeta”. As crianças pequenas e bem pequenas usam e criam no brinquedo uma expectativa e situações diversas e imaginárias.
Para Vygotsky (1988), o brinquedo não é apenas uma atividade simbólica, uma vez que, mesmo envolvendo uma situação imaginária, ele de fato baseia-se em regras, pois contém regras de comportamento pré-estabelecidos.
As situações envolvendo a criatividade e imaginação; são as primeiras manifestações da separação da criança em relação às restrições impostas e situacionais. “As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro irão tornar seu nível básico de ação real e moralidade” Winncott (1982). As crianças exteriorizam suas incertezas, inseguranças, angústias, desejos e suas frustrações no e pelo brinquedo, servindo muitas vezes como forma de canalizar a raiva e a agressão. Segundo Piaget (1989), a maneira da criança assimilar (transformar o meio para que este se adapte às suas necessidades) e de acomodar (mudar a si mesmo para adaptar-se ao meio) deverá ser sempre através do lúdico.
As atividades pedagógicas, devidamente intencionadas a promoção da aprendizagem nas crianças pequenas e bem pequenas apresentadas em forma prazerosa para as crianças. Com isso, os brinquedos devem ser vistos como recursos didáticos que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem.
A criança pequena e bem pequena através das estimulações e intervenções adequadas, assimila os conhecimentos melhor brincando, e os conteúdos de sala de aula podem ser ensinados através das dessas estratégias, ou seja, em atividades lúdicas. Utilizando tais recursos, as aulas deverão ter sempre bem esclarecidos os objetivos didáticos-pedagógicos a que se dedicam e cabe ao educador propiciar o desenvolvimento integral do educando.
As metodologias educacionais, de acordo com Piaget (1989) exigem que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que jogando, elas, cheguem a assimilar as realidades intelectuais, que sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil.
Ao brincar, por meio da criatividade a criança busca novos conhecimentos, exigindo de si uma reação ativa, ora indagadora e as vezes reflexiva. É preciso desvendar, integrar e socializar usando os brinquedos como forma de educação lúdica, contrapondo o comodismo, à passividade e a comportamentos que condicionem a submissão, que remetam aos modelos arcaicos de ensinamentos da pedagogia opressora e dominadora.
Assim como em toda atividade pedagógica, a utilização dos brinquedos deve apresentar desafios, estimular o interesse da criança além de serem adequados ao nível intelectual de cada um estudante. Vale reafirmar que o educador deve estar atento as necessidades de criação da criança através do brinquedo, pois eles devem servir com um convite ao brincar, desde que a criança tenha vontade de interagir com os objetos.
CONCEPÇÕES DO BRINCAR: DESENVOLVIMENTO ENSINO-APRENDIZAGEM
Ao iniciar a escolarização, a criança pequena e bem pequena enfrenta uma situação inédita que lhe provoca sempre um desequilíbrio, uma insegurança para atuar. Diante disso, no contexto educacional, em que instituição escola e o educador lançam mão desse recurso de aprendizagem, o brinquedo, como fator preponderante e estimulador da iniciativa, autoconfiança e curiosidade. Ao conceber a brincadeira na escola o educador proporciona aprendizagem, desenvolvimento da concentração, linguagem, da atenção e do pensamento.
Para alguns estudiosos brincar é equivalente a uma arte, um dom natural que, quando estimulado e bem cultivado, poderá contribuir para um futuro eficiente e o equilibrado do adulto. O ato de brincar é importantíssimo à saúde física, emocional e intelectual da criança. A criança pequena e bem pequena ao brincar, habitua-se a utilizar seu tempo de maneira criativa e na vida adulta transpassará em atitudes de predisposição para as atividades do mundo adulto como por exemplo, o trabalho.
Comumente, as crianças num primeiro momento, sentem interesse em desempenhar a atividade que que melhor lhes convém. Por isso mesmo, é de extrema importância que despertem interesse para os objetos existentes na escola, e os jogos e brinquedos direcionados são fundamentais para que sejam alcançados os objetivos pedagógicos previstos pelo currículo da educação infantil.
A relevância do brinquedo e do ato de brincar deriva da concepção teórica que, ao mesmo tempo que busca desafiar a imaginação infantil, se sobrepõe ao lúdico pelo ludismo, ou seja, o brinquedo passar a valorar com status meritório, consequente e não apenas o instrumento que as crianças utilizam para se divertir e ocupar seu tempo, mas é um objeto capaz de educá-las e torná-las.
Com o brinquedo educativo “acaba-se a brincadeira”, uma vez que fica abolida a inutilidade, que muitos enxergam nas atividades lúdicas infantis.
[...] uma criança que domina o mundo que a cerca é a criança que se esforça para agir neste mundo. Para tanto, utiliza objetos substitutos aos quais confere significados diferentes daqueles que se normalmente possuem. O brinquedo simbólico e o pensamento estão separados dos objetos e a ação surge das ideias então das coisas [...] (VIGOTSKY 1998, p.28.).
Todas as atividades que incorporam a ludicidade podem se tornar um elemento facilitador do processo de ensino-aprendizagem. As brincadeiras, o prazer e o entretenimento são elementos norteadores para se traçar uma cultura lúdica, pois, essencialmente, estão ligados àquilo que é lúdico: o espontâneo, o prazer, as descobertas, a ausência de regras rígidas e das penalizações pelo erro, entre outros, proporcionando desafios e motivação.
Os brinquedos representam para as crianças mais que um objeto. As crianças são sensibilizadas pela proposta do objeto, analisam, comparam, recriam, inventam, desenvolvendo suas habilidades e imaginação. Tudo isso, enriquece seu mundo interior e ajuda suavizar os impactos provocados pelo tamanho e pela força dos adultos, diminuindo o sentimento de insegurança e impotência do mundo infantil.
Os brinquedos na escola servem como mediadores para que a criança consiga melhor interagir aos colegas de sala e ao mundo como um todo. Neste sentido, o objeto em si (brinquedo) sofre influencias pelo sexo, idade, além de questões ligadas ao novo, a surpresa, ao complexo e inconstância.
O brinquedo e as brincadeiras oportunizam as crianças no contexto escolar, vivenciarem as práticas da linguagem verbal e maior interesse pelo conhecimento de “palavras novas”. As infinitas situações de aprendizagens e sequências didáticas que os brinquedos possibilitam favorecem a apropriação de novos conceitos. A mediação do educador colabora no processo como prática social e nessa prática, as crianças aprendem as regras do jogo, a fazer diferenciações, a contar e a organizar suas ideias, adensando seus conhecimentos.
É preciso superar a noção do brinquedo como mera recreação sem objetivos ou ocupação de tempo ocioso. Pelo contrário, é preciso compreender de forma mais completa que a criança tem de se comunicar consigo mesma e com o mundo que acerca. Por meio do brinquedo e do ato de brincar desenvolve-se fatores importantes na formação do ser como a autoestima, além de preparar a criança para viver em sociedade, se relacionar, compreender as regras sociais e respeitar o próximo.
Graças ao trabalho e referenciais de educadores como Piaget e Vygotsky, há uma compreensão crítica sobre o brinquedo como “recreação ou passatempo” e o entendimento que brincar é de fundamental para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança.
Segundo Vygotsky (1998) brincar propicia aspectos específicos de personalidade, a saber:
Desenvolvimento da afetividade: tanto bonecas, ursinhos etc., como brinquedos que favoreçam a dramatização de situações de vida adulta, equacionam problemas afetivos da criança;
Desenvolvimento da motricidade: as motricidades finas e amplas se desenvolvem através de brinquedos com uso de bolas, petecas, chocalhos, jogos de encaixe e de empilhar, etc.;
Desenvolvimento da inteligência: o raciocínio lógico-abstrato evolui através de jogos como quebra – cabeça, jogos de construção, estratégia etc.;
Desenvolvimento da sociabilidade: a criança aprende a situar-se entre as outras, a se comunicar e a interagir através de todo tipo de brinquedo;
e) Desenvolvimento da criatividade: desenvolve-se através de brinquedo a percepção, boas condutas, bons comportamentos, as capacidades sensórias – motor usando oficina com marionetes, jogos de montar, disfarces, instrumentos musicais etc.
Pela concepção Vygotskyana, o brinquedo não limita a ação da criança pequena e bem pequena. Ele apenas oferece um suporte determinado, mas que resultará em novos conceitos por meio da brincadeira, pois transmite acepções grupais e representativas.
[...] se o brinquedo é entendido como simbólico existe o perigo de que ele possa vir ser considerado como uma atividade semelhante a álgebra, isto é, o brinquedo como álgebra, [...] poderia ser considerado como um sistema de signos que generalizam a realidade, sem nenhuma característica que considere específica. Pode acreditar que o brinquedo não é uma ação simbólica no sentido próprio do termo, de forma que se torna essencial mostrar o papel da motivação no brinquedo. E essas abordagens não ajudam a compreender o papel do brinquedo no desenvolvimento posterior [...] (VIGOTSKY, 1998. p.123).
As ideias do autor reafirmam que a criança se socializa e busca integrar-se com o objeto e o ambiente cultural que a cerca, compreendendo os sinais, os códigos. Assim, o brinquedo se transforma numa condição de objeto que intermedia a comunicação entre a sociedade e a criança.
Importante destacar, a partir das leituras e das reflexões, o conceito de brincar com o intuito de favorecer a formação dos valores do indivíduo, pois ao mesmo tempo que a criança pequena e bem pequena brinca, está se desenvolvendo e aprendendo de forma agradável e relevante e a ainda lhe proporcione meios que agreguem a sua formação psicológica e afetiva, inclusive.
Diante desta concepção cita-se a visão contemporânea de Kishimoto (1998)
Hoje a imagem de infância é enriquecida, também com o auxílio de concepções, psicológicas e pedagógicas, que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil [...] (KISHIMOTO,1998, p. 25).
As crianças na educação infantil precisam de brinquedos e também de materiais “simples”, deixando que a concepção de riqueza derive do próprio fluxo de imaginação para criação.
É importante pensar sobre perspectivas que apontam que o caráter de uma pessoa se forma nos primeiros anos de vida. Nesse sentido nada mais adequado para contribuir com esse desenvolvimento, do que o brincar e todas as possibilidades que essa atividade traz consigo. É preciso considerar também o tipo de brinquedos as crianças estão utilizando e se realmente lhes são significativos, tanto como atividade livre, ou se há proposta que incida sobre seu desenvolvimento estabelecido pela proposta curricular.
Segundo Kishimoto (1998) os brinquedos devem ser comprados de acordo com a idade, a capacidade e a área de interesse para criança. A partir da tabela o autor classifica os brinquedos como:
Brinquedos de berço: |
A presença destes pequenos objetos no universo da criança, chama sua atenção e desperta seus sentidos. Alguns são bichinhos de vinil, móbiles, chocalhos, brinquedos para olhar, ou ouvir, pegar e morder etc. Todos são representativos e valiosos para as estimulações sensoriais e motora da criança.
|
Brinquedos do faz-de-conta |
a brincadeira de faz-de-conta dá oportunidades para expressão e elaboração em forma simbólica. É interessante pensar que no faz-de-conta apresenta os desejos e conflitos; quanto mais rica for fantasia e a imaginação da criança, maiores serão suas chances de ajustamento do mundo ao seu redor. A brincadeira funciona como elementos introdutórios e de apoio à fantasia; e facilita o processo de simbolização. Além disso, proporciona experiências que, além de aumentarem o repertório de conhecimento da criança bem pequena, favorece sua a compreensão de atribuições e de papéis. Como exemplo temos as bonecas, os fantoches, as mobílias infantis, os carrinhos, as fantasias, os teatrinhos dentre outros. |
Brinquedos pedagógicos: |
são brinquedos que tem como objetivo proporcionar os processos de aprendizagens, tais como cores, números, formas geométricas, letras, etc. são jogos usados muitos utilizados na educação infantil e facilitam o trabalho do docente que usam na construção do conhecimento, desenvolvendo as propriedades do lúdico, do prazer e a capacidade de ação motivadora.
|
Brinquedos de construção |
são brinquedos que enriquecem o trabalho do educador e da criança. Além disso, valoriza a experiência social, estimula a criatividade e desenvolve habilidades na criança bem pequena. Brinquedos de construções leva em consideração a ação da criança e também considera suas ideias presentes em tais representações, exemplo: como elas adquirem alguns temas e como o mundo real contribui para a sua construção.
|
Brincadeiras tradicionais |
como o próprio nome diz representa o conceito de folclore. São brincadeiras que fazem parte da cultura popular. As brincadeiras tradicionais assumem características de anonimato e tradicionalidade. Interessante que seus criadores são anônimos e sabe-se apenas de fragmentos de romances, poesias, mitos rituais religiosos e tem a função de perpetuar a cultura infantil, além de desenvolver formas de convivências sociais e permitir o prazer de brincar. |
É fundamental compreender que os brinquedos são tão importantes ao brincar quanto um livro ao estudar. As crianças vão adquirindo confiança e segurança, aptidões para aceitar e respeitar outras pessoas em ao redor do seu mundo, perdendo o medo de si mesma e dos demais. Complementando o que foi citado acima Garbarino (1992 apud BOMTEMPO, 1997, p. 69) destaca que:
[...] É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde ela restabelece seu controle interior, sua autoestima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros [...].
Brincando as crianças pequenas e bem pequenas constroem o mundo que querem e gostam; e os brinquedos são ferramentas que contribuem para esta construção, pois proporcionam à criança demonstrar e criar fantasias de acordo com suas vivências e experiências.
Para atingir esse fim, é preciso que pais e educadores repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, subtraindo a coerção dando espaço a orientação, a rigidez pelo diálogo e até mesmo a passividade, substituindo-a pela atitude, pelo protagonismo. É através da alegria e da curiosidade em aprender, a pensar, repensar, compreender e reconstruir o conhecimento, que se dá a interação entre o brinquedo e a criança e vice-versa. Quanto mais a criança tiver contato com atividades diferentes, que a desafiem e a instiguem, em seu desenvolvimento, mais habilidades e competências ela desenvolverá. Assim sendo, é necessário que os profissionais da educação, estejam preparados para utilizar o brinquedo como instrumento pedagógico, favorecendo assim a aprendizagem.
PERSPECTIVAS DO BRINCAR
Na busca de resposta a essa questão encontra-se muitas outras formas de enfocar o brincar, todas elas com base teórica plausível e que devemos considerar. Assim, o brincar é enfocado tanto no campo da sociologia, filosofia, psicologia, no campo criativo, psicoterapêutico, pedagógico e ainda por outras áreas e ângulos de abrangência mais restrita e particularizada. Dessa forma, e segundo Santos (1999) as abordagens de enfoque destacam as seguintes concepções: principais pontos de cada enfoque,
As ideias filosóficas, visualizam o ato de brincar como forma ou mecanismo para “contrapor a racionalidade”. Sabe-se que as características que define o ser humano é a razão e a emoção – mas foi a partir da racionalidade que perdurou como instrumento de autodeterminação da pessoa e sua especificidade, em detrimento da emoção. Os autores levam em consideração a ideia de espírito, razão e emoção que se integram como parâmetro na busca de um novo paradigma para a existência humana, consolidando as potencialidades pessoais às exigências das relações sociais. A ludicidade aqu ié compreendida como um mecanismo dos valores e sentimentos, da subjetividade e da afetividade. Portanto a emoção, deverá fazer parte da ação humana, tanto quanto a razão.
Em relação à criança, é preciso que ela dê vazão a sua fantasia, a seus sonhos, pois sem isso estará limitada ao mundo da razão, desempenhando rotinas, e executando ordens e solucionando problemas, tendo sua expressividade e imaginação restringidas. A criança, sem o encantamento pelo brincar jamais terá fantasias. A concepção lúdica do brincar tem a condição de unir a razão e a emoção, saberes e sonho, formando um ser humano mais integral e pleno.
A sociologia reafirma que o brincar é compreendido a partir da inserção da criança pequena e bem pequena sociedade. Se o conhecimento social é a base sobre o qual os grupos sociais chegam a um acordo a respeito das convenções estabelecidas pelo próprio grupo, os valores, crenças, hábitos, costumes, regras, leis, moral ética, sistema de linguagem e modos de produção são conhecimentos assimilados pela criança através do ato de brincar e da utilização do brinquedo que são produzidos pelos homens e, – por isso o brinquedo é dotado de imagens, significados e simbologia próprias de uma determinada cultura. Nessa perspectiva, as culturas são resultadas das culturas lúdicas, que se dá entre a criança, o brinquedo e as outras pessoas que vivem em sociedade.
Para a psicologia o brincar está presente em todo processo de desenvolvimento da criança. Diante dessas perspectivas compreende-se que a brincadeira, por meio de suas formas de modificação de comportamento; seja na formação da personalidade, nas motivações, necessidades, emoções, valores, as interações criança/ família e criança/ sociedade, estão associadas aos efeitos de brincar.
Segundo psicólogos, não existe nenhum mecanismo que tenha se revelado como mais importante do que os brinquedos para facilitar o desenvolvimento da criança. O que não quer dizer de forma irrestrita que os brinquedos possam ser os únicos a desenvolver o comportamento, mas se nada for oferecido na área lúdica, a criança terá sérios problemas.
Por outro lado, é na psicologia que se encontra descrito a ato de o brincar equivalentemente importante ao sono e a alimentação. São necessidades que viabilizam uma boa saúde emocional e física.
Ao conceber a ideia de criatividade, o ato de brincar é compreendido como ato criativo, como buscas constantes, que visa a todo momento o descobrimento de algo novo e onde o indivíduo confere sobre si o seu potencial.
A condição favorável ao ato de brincar estimula muitas possibilidades de uma criança se transformar num adulto criativo. Neste aspecto é necessário ter a coragem de tentar, de errar e lançar-se numa atividade de forma descompromissada. Portanto, é necessário ter iniciativa e ao mesmo tempo autonomia de pensamento.
A psicoterapia vê no brincar a função de entender a criança nos seus processos de crescimento, de eliminação de barreiras que se evidenciem. A partir das leituras é possível compreender que os psicoterapeutas veem o brincar como atividade “universal”. Para eles brincar é saúde, facilita o crescimento, por fim compreendido como uma terapia. Nessa linha de trabalho o brincar representa a atividade principal da criança.
A psicoterapia justifica através do brinquedo, o lado sadio e positivo da criança – e, assume a função terapêutica, pois essa atividade possibilita a criança exteriorizar seus medos, angústias, problemas internos além de revelar-se inteiramente, resgatando a alegria, a felicidade, afetividade e o entusiasmo.
E do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se demostrado como uma estratégia importante para o aprendizado da criança. Na educação, estabelece-se como um importante instrumento na formação da personalidade e nos domínios do intelecto. A brincadeira é compreendida como processo de elaboração e de evolução do pensar, transformando-se num meio viável para a constituição dos saberes.
Por este motivo, movimentos educacionais foram planejados e implantados no Brasil a partir dos anos 80. Neste sentido as escolas e as redes investiram e vem valorizando os jogos e as aquisições de brinquedos, resultando em brinquedotecas, materiais lúdicos, acervos e espaços direcionados ao brincar e proporcionar à criança o acesso a um maior número de experiências possíveis por meio da brincadeira, visando e garantindo o direito de brincar bem como o desenvolvimento e aprendizagem.
Pode-se afirmar que realmente brincar é viver, e as crianças brincam porque esta é uma necessidade básica, assim como a nutrição, a saúde, a habitação e a educação.
Portanto constata-se que o brinquedo, tem um valor significativo na vida da criança já que ela se encontra num processo de formação que é auxiliada pelo mesmo. Vale ressaltar que é neste período (educação infantil) que a criança começa a fazer algumas ponderações ao se descobrir e descobrir o meio em que está inserida, e não obterá êxito se este movimento não foi realizado através do ato de brincar.
A questão mais intrigante é: Por que as crianças brincam? Que características envolvem o brincar, que contagia todas as crianças, independentes da etnia, classe socioeconômica e cultural, bem como a época?
Finalmente, pode-se concluir que o brinquedo e o ato de brincar é extremo, terapêutico, e prazeroso, e o prazer é o ponto fundamental da essência do equilíbrio humano e há nele uma aprendizagem significativa. Pode-se dizer que a ludicidade é uma necessidade interior, tanto da criança quanto do adulto. Por conseguinte, a necessidade de brincar é inerente ao desenvolvimento humano como um todo.
Para a criança brincar é viver. Esta é uma afirmativa bastante usada e, certamente, aceita. Ao longo da história da humanidade as experiências da literatura demostraram que as crianças do mundo sempre brincaram. E hoje e certamente no futuro, continuarão a fazê-lo.
O EDUCADOR PRECISA ENTRAR NA “BRINCADEIRA”
Por vezes nos deparamos com educadores da educação infantil que simplesmente deixam as crianças brincarem, enquanto outros, preocupados em dar serventia ao tempo passado na educação infantil, tomam tão a sério a associação aprendizagem-brincadeira que acabam descaracterizando esta última, transformando-a em ensino dirigido, onde tudo acontece, menos o brincar.
A brincadeira deve ser, nem tão descompromissada, nem tão dirigida que se descaracterize como brincadeira. Para isso, a prática do educador deve ser internacionalizada, com objetivos definidos de acordo com a proposta pedagógica inserindo onde o brincar está caraterizado como projeto educativo, onde permeio os preceitos relacionados a aprendizagem e desenvolvimento integral da criança, por meio de estratégias lúdicas, sem interferências, deixando que as crianças se expressem e que suas individualidades sejam respeitadas.
O convívio com outras crianças é muito salutar e as trocas entre eles são enriquecedoras, mas isso somente acontecerá se houver espaço para as características individuais aflorarem e completarem umas às outras, caso contrário, a experiência poderá ser massificante.
As formas de convivência democrática, que estimulam a autonomia são fontes de crescimento.
A educação é um processo bilateral que acontece na interação com as pessoas e com o ambiente em que vivem.
As solicitações que a criança recebe são constantes ameaças, e no esforço para atender as expectativas e livrar-se da pressão, a criança se perde como ser genuíno; que possuem gostos e apresentam peculiaridades e potencialidades que, aguardam a vez para se revelarem oportunidades, mas terminam inibidas pelas exigências e expectativas em moldes já pré-estabelecidos com as mesmas metas a serem batidas.
Nesse processo acontece a deterioração dos valores morais, deturpados pela ótica produtivista e organizados dentro de uma perspectiva de adequação à proposta de obtenção de melhores resultados.
Para contrapor-se à solicitação cada vez maior da nossa sociedade, só o enriquecimento da vida interior poderá segurar o equilíbrio. A vida interior da criança é centrada no seu brincar.
É brincando que ela expressa sentimento e emoções que ela mesma desconhece. É brincando que ela experimenta suas habilidades. É brincando que demonstra suas habilidades e dessa maneira, por meio das mais variadas vivencias, vai aprendendo a viver, libertando-se de seus medos e amadurecendo de dentro para fora, lentamente ou não, e com segurança, que só as coisas naturais e verdadeiras oferecem.
Este processo tão lindo, tão mágico tem seu ritmo próprio. Acelerá-lo é prejudicá-lo. Tolhê-lo é uma agressão de efeitos imponderáveis.
Pela sua condição de ser em desenvolvimento, toda criança tem direito a viver sua infância como a infância deve ser vivida, desde seus direitos expressos nas legislações vigentes, bem como respeito a seu próprio ritmo de desenvolvimento e às suas necessidades lúdicas e afetivas. O adulto que se preocupa com seu próprio futuro deverá zelar pela qualidade de vida que está sendo oferecida às crianças, pois desconhecemos o adulto que poderá vir a ser a criança que teve os seus direitos de infância negligenciados, seja por miséria ou stress provocado por exigências ambiciosas.
O brincar é fonte de interação lúdica e afetiva, além de estimular a aprendizagem, proporciona à criança desenvolver-se com equilíbrio.
É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos (VYGOTSKY, 1998, p. 109).
Conforme o exposto, a pesquisa deu-nos condições para repensar nossas práticas, valorizando o papel do brincar na educação infantil, diante de uma comunidade que prioriza a escolarização, em que os pais cobram uma educação tradicional baseada em treinos motores e representação escrita das letras e que, na em nossa visão, de acordo com tudo o que aprendemos e que foi exposto aqui, não fazem sentido algum para as crianças.
Tais conhecimentos elas adquirem vivenciando, interagindo entre si e com o adulto mediador, através de atividades que permitam o envolvimento delas com os conteúdos a serem trabalhados. Tudo isso é possível através de brincadeiras, em que possibilitem, além da diversão, conhecimentos significativos.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A.R.S. A emoção na sala de aula. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999
ALMEIDA, P.N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. (6ªed). São Paulo: edições Loyola, 1990
ARMAVELLI, W. Criança, brinquedo e personalidade. Belo Horizonte: ed. I.A, 1967
BENJAMIN, W. Refexões: A criança o brinquedo a educação. São Paulo Summus ed, 1989.
BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. São Paulo: Artmed, 1984.
BOMTEMPO, Edda. A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da representação, do imaginário. In: KISHIMOTO, Tizuko Morshida (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
BROUGÉRE, Gilles. Jogo, brinquedo e brincadeira na educação infantil. In: Seminário sobre brinquedo e brincadeira na educação infantil. 2000.
CUNHA, N.H.M (1994). Brinquedoteca: um mergulho no brincar. (1ª ed). São Paulo: Maltese Palestra proferida na UFSC, Florianópolis, 22 ago. 1998
KISHIMOTO, T. M. Diferentes tipos de brinquedoteca. In: FRIEDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4. ed. São Paulo: Abrinq, 1998. p. 53-63.
__________. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação (1ª ed). São Paulo: Cortez (2000).
LEONTIEV, A. N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKY, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988. p. 119-143.
OLIVEIRA, S.P. O que é brinquedo. São Paulo: Brasiliense. 1990
PIAGET, J. A representação do mundo da criança. Rio de Janeiro: Record, 1989.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca – o lúdico em diferentes contextos; São Paulo: ed. Vozes; 4a edição, 1999.
VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
____________. Linguagem desenvolvimento e aprendizagem. SP, Martins 1988.
WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982. 270p.