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FREQUÊNCIA DO CÂNCER DE OVÁRIO NA CIDADE DE PATOS DE MINAS – MG, ENTRE 2015 E 2022: um estudo epidemiológico retrospectivo e descritivo

 

OVARIAN CANCER INCIDENCE IN THE CITY OF PATOS DE MINAS – MG, BETWEEN 2015 AND 2022: A Retrospective Epidemiological Study

Fabiana Silva Braga1

Eva Mendes Monteiro 2

 

 

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Patos de Minas, como requisito parcial para a conclusão de Graduação em Biomedicina.

Orientadora: Prof. Dr.ª Eva Mendes Monteiro

 

 

Agradecimento

 

Quero expressar minha profunda gratidão às pessoas que estiveram ao meu lado durante esta jornada de pesquisa. Aos meus amigos, cuja amizade e apoio foram fontes constantes de motivação, agradeço por compartilharem comigo este caminho desafiador.

À minha amada família, que sempre acreditou em mim e me apoiou incansavelmente, sou imensamente grata. Vocês foram meu alicerce e inspiração em todos os momentos.

À minha querida instituição de ensino, Faculdade Patos de Minas, agradeço por proporcionar um ambiente de aprendizado estimulante e pelos recursos valiosos que me foram disponibilizados. As oportunidades de crescimento acadêmico e pessoal que encontrei aqui foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho.

Este estudo e a conclusão de meu curso não seriam possíveis sem o apoio inestimável de todos vocês. Suas palavras de incentivo, compreensão e presença constante foram essenciais nesta jornada. Obrigada por fazerem parte desta conquista.

 

 

RESUMO

Neoplasias são caracterizadas pelo crescimento desordenado e excessivo de tecido, com propensão a efeitos nocivos. Neste contexto, as neoplasias malignas apresentam multiplicação celular descontrolada e capacidade invasiva em outros órgãos e tecidos. O câncer, conhecido desde a era de Hipócrates, tem apresentado aumento global significativo. Contudo, apesar dos esforços de informação sobre prevenção e cuidados, ainda persistem casos de detecção tardia, o que sublinha a importância da conscientização sobre a malignidade, especialmente entre mulheres ao redor do mundo. Este estudo utiliza dados retrospectivos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para analisar a frequência do câncer de ovário na cidade de Patos de Minas - MG no período de 2015 a 2022, classificando-se dessa forma como uma pesquisa retrospectiva documental. A partir de 60 anos é o mais acometido, sublinhando a necessidade de implementar iniciativas educacionais voltadas para a conscientização. Este achado corrobora a necessidade premente de considerar nuances sociodemográficas ao delinear políticas de saúde preventiva e ao assegurar equitativo acesso a intervenções terapêuticas.

 

Palavras-chave: Neoplasias ginecológicas. Incidência. Prevenção. Saúde da mulher. Epidemiologia do câncer

 

 

ABSTRACT

This study addresses the frequency of ovarian and cervical cancer, standing out for its quantitative approach. Neoplasms are characterized by the disordered and excessive growth of tissue, with a propensity for harmful effects. In this context, malignant neoplasms exhibit uncontrolled cell multiplication and invasive capacity into other organs and tissues. Cancer, known since the era of Hippocrates, has shown a significant global increase. However, despite efforts to inform about prevention and care, cases of late detection stillpersist, emphasizing the importance of awareness about malignancy, especially among women worldwide. This study utilizes retrospective data from the Information System for Notifiable Diseases (SINAN) to analyze the frequency of ovarian cancer in the city of Patos de Minas - MG from 2015 to 2022, thus classifying it as a documentary retrospective research. From 60 years is the most affected, underlining the need to implement educational initiatives focused on awareness. This finding corroborates the pressing need to consider sociodemographic nuances when outlining preventive health policies and ensuring equitable access to therapeutic interventions.

 

Keywords: Gynecological neoplasms. Incidence. Prevention. Women's health. Cancer epidemiology.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

As neoplasias malignas representam uma preocupação crescente em todo o mundo, dado seu impacto significativo na saúde e qualidade de vida das pessoas. Caracterizadas pelo crescimento desordenado e incontrolável de células, essas doenças manifestam-se como tumores que podem invadir outros órgãos e tecidos, resultando em efeitos nocivos profundos para o ser humano (KERSUL, 2014).

O câncer de ovário é o tipo de câncer mais incidente entre mulheres no mundo todo, no Brasil ocupa a segunda posição e sua incidência varia de acordo com a localização territorial (ARAGÃO et al., 2019).

Machado (2017) menciona que “o câncer de ovário é assintomático nos estágios iniciais, todavia na evolução da doença, podem surgir sintomas inespecíficos como dor ou desconforto abdominal”. Estes sintomas podem passar até mesmo despercebidos, o que dificulta o diagnóstico e o provável tratamento.

A pertinência social desta investigação é evidente dada a ameaça significativa que o cancro do ovário e do útero representa para a saúde das mulheres à escala mundial. Para além dos aspectos clínicos, a relevância social estende-se à necessidade de sensibilização, prevenção e cuidados adequadamente direcionados para combater estas neoplasias. O objetivo principal das pesquisas nesta área é determinar os fatores de risco, desenvolver estratégias preventivas eficazes e melhorar as modalidades terapêuticas disponíveis (MEIRA et al., 2019).

A relevância de estudar o câncer de ovário reside na necessidade imperativa de abordá-lo como um problema de saúde pública de grande magnitude. Embora haja informações disponíveis sobre medidas preventivas e cuidados, muitas mulheres em âmbito global ainda carecem do conhecimento necessário sobre a gravidade destas patologias. Isso, por sua vez, resulta em diagnósticos tardios e desdobramentos clínicos mais severos. Ademais, a escassez de estudos quantitativos que analisem de maneira abrangente estas neoplasias ressalta a pertinência desta pesquisa.

É importante ressaltar que estudos epidemiológicos locais desempenham um papel fundamental no aprofundamento do entendimento do perfil epidemiológico do câncer de ovário em uma determinada região ou comunidade. Essas investigações fornecem dados específicos e contextualizados, permitindo uma análise mais precisa dos fatores de risco, da prevalência e da eficácia das estratégias preventivas. Dessa forma, tais estudos constituem uma peça-chave na formulação de intervenções direcionadas e efetivas para a redução da incidência e mortalidade associadas a essa neoplasia (RANGEL, LIMA, VARGAS, 2015).

O objetivo desta pesquisa é analisar, através de dados epidemiológicos, os casos de câncer de ovário ocorridos na cidade de Patos de Minas – MG, no período de 2015 a 2022, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) fornecidos pelo setor de epidemiologia local. O estudo visa compreender a incidência, identificar fatores de risco específicos para essa região e avaliar o impacto social dessa neoplasia. Essa abordagem busca fornecer subsídios para ressaltar a importância da prevenção e do cuidado médico adequado no enfrentamento do câncer de ovário.

 

 

2 MATERIAL E MÉTODOS

 

Inicialmente, conduziu-se uma pesquisa bibliográfica narrativa para obtenção de informações gerais, utilizando fontes disponíveis em bibliotecas e em plataformas online como Scielo e Google Acadêmico, incluindo revistas periódicas, entre outras. O período de pesquisa abrangeu de outubro de 2022 a outubro de 2023.

Para atender aos objetivos delineados neste estudo, foi realizada uma pesquisa retrospectiva e transversal de base populacional para analisar a incidência do câncer de ovário em Patos de Minas, Minas Gerais. Foram utilizados os dados fornecidos pela Secretaria Epidemiológica de Patos de Minas obtidos do SINAN, referentes ao período de 2015 a 2022.

Patos de Minas é um município situado em Minas Gerais, Brasil, com uma população de 159.235 habitantes de acordo com o último censo de 2022. No contexto da área da saúde, a cidade possui uma infraestrutura médica essencial para atender às necessidades da população local. Isso inclui hospitais, clínicas e unidades de atendimento de saúde que desempenham um papel crucial no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, incluindo o câncer de ovário (PATOS DE MINAS, 2023).

Este estudo adotou uma abordagem quali-quantitativa, com o intuito de avaliar a frequência de internações e a incidência de óbitos entre pacientes diagnosticados com neoplasia de ovário, que receberam tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As variáveis apresentadas são as taxas de óbito com relação aos anos pesquisados – 2015/2022, a raça/cor e faixa etária.

As informações obtidas por meio da Secretaria Epidemiológica de Patos de Minas, portanto, dispensa-se a necessidade de parecer do Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que se baseia na consulta de dados em tabelas que não incluem informações pessoais identificáveis. Dessa forma, o estudo se restringe à análise de dados agregados e não envolve o acesso ou manipulação de dados individuais, garantindo assim a preservação da privacidade e confidencialidade dos participantes. Essa abordagem metodológica isenta a pesquisa de requerer a aprovação ética, uma vez que não implica em riscos ou violações de privacidade aos envolvidos, foram apresentadas por meio de gráficos.

Os gráficos foram utilizados uma vez que fornecem uma representação visual clara das informações coletadas. Os resultados foram apresentados de maneira narrativa e descritiva, acompanhados de discussão em forma de gráficos.

 

 

3 REFERENCIAL TEÓRICO

 

3.1 Neoplasia: contextualização geral

 

O câncer é uma doença complexa que envolve o crescimento descontrolado de células anômalas no corpo, podendo formar tumores e se espalhar para outros órgãos. Pode surgir em diversos tecidos e órgãos e é influenciado por fatores genéticos e ambientais. A detecção precoce e avanços no tratamento são fundamentais para combater essa doença (DOS SANTOS, 2020).

A neoplasia é uma proliferação anormal do tecido, podem ser classificadas em benignas ou malignas. Para se diferenciarem, é bem nítido o processo, onde o tumor benigno tem o crescimento de forma organizada, apresentando limite e lentidão. Já as malignas ou tumores malignos manifestam um grau maior de autonomia, invadem os tecidos vizinhos e são capazes de provocar metástases. Alguns exemplos de tumores benignos, que apesar de não invadirem os tecidos, podem se comprimir os órgãos e tecidos adjacentes, como: lipoma (que tem origem no tecido gorduroso), o mioma (que tem origem no tecido muscular liso) (INCA, 2011).

O Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela lei n° 8.080/1990, garante universalidade de acesso aos serviços de saúde, na assistência oncológica, instituiu em 2013 a Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas. Essa portaria tem como objetivo diminuir a incidência de alguns tipos de câncer por meio do diagnóstico precoce e programas de rastreamento (BRASIL, 2013; JÚNIOR; DE SANTANA; SONOBE, 2020).

O câncer de ovário figura como o oitavo tipo de câncer mais prevalente entre as mulheres a nível global, sendo a neoplasia ginecológica mais comum e a segunda mais diagnosticada, totalizando 313.959 casos confirmados no ano de 2020. A incidência desta patologia demonstra variações significativas nas distintas regiões do Brasil, situando-se como o sétimo tipo mais frequente nas regiões Nordeste e Norte, o oitavo na Sudeste e Centro-Oeste, e o nono no Sul do país. O câncer de ovário assume uma posição preocupante ao se tornar a quinta principal causa de mortes por câncer entre mulheres, fato que se atribui, em grande parte, à dificuldade de diagnóstico precoce, levando muitas vezes à identificação em estágios avançados. Em 2020, o registro global de óbitos atribuídos a esta enfermidade totalizou 207.252 casos (GOUVÊA; CHAVES; SOBREIRA-DA-SILVA, 2022).

 

3.2 Câncer de ovário

 

O câncer de ovário é representado pela maior taxa de mortalidade entre as neoplasias ginecológicas, sendo a maioria em estágio avançado” (ARAGÃO et al., 2019, p. 12). Uma das formas de se prevenir é no diagnóstico precoce, que é essencial para o controle da doença. Infelizmente, mesmo com estratégia do rastreamento populacional ainda não está sendo efetiva para a diminuição dos casos de mortalidade. No entanto, estratégias de rastreamento populacional não têm se mostrado efetivas para a redução de mortalidade (APPEL, et al, 2009; ARAGÃO et al., 2019, p. 12). “Uma das formas mais usadas para o rastreamento é a dosagem de CA 125 e US transvaginal” (APPEL, et al, 2009, p. 02).

O câncer de ovário é uma condição maligna caracterizada pelo crescimento descontrolado de células anômalas no tecido ovariano. Este tipo de câncer apresenta desafios particulares devido à sua detecção muitas vezes tardia, o que pode resultar em um prognóstico menos favorável. Ainda que haja avanços na compreensão e tratamento desta neoplasia, a pesquisa e a conscientização sobre o câncer de ovário são cruciais para aprimorar as estratégias de prevenção e diagnóstico precoce (ALVES, MAGALHÃES, COELHO, 2014).

A detecção precoce do câncer de ovário é um fator determinante para o sucesso do tratamento. No entanto, devido à falta de sintomas específicos nas fases iniciais, muitos casos são diagnosticados em estágios avançados. Investigações e exames regulares são fundamentais para a identificação precoce de possíveis anormalidades nos ovários. Além disso, a disseminação de informações sobre fatores de risco e a promoção de exames preventivos são elementos essenciais na abordagem do câncer de ovário (ARAGÃO et al., 2019).

Deste modo, é importante salientar que dados globais apontam para a relevância do tema, uma vez que o câncer de ovário figura entre as principais causas de mortalidade por câncer ginecológico em mulheres. A falta de métodos de triagem eficazes para o câncer de ovário torna ainda mais crucial a conscientização sobre fatores de risco e a necessidade de consultas ginecológicas regulares. A pesquisa contínua e o desenvolvimento de abordagens inovadoras são imperativos na busca por estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento desta doença (DOS SANTOS, 2020)

Essa doença é um dos principais na oncologia devido a causa de morte, 65% das mulheres têm diagnóstico avançado, ele é mais comum em pessoas que possuem histórico familiar da doença e em mulheres com mais de 50 anos de idade. Ele é relacionado, na maioria dos casos, com mutações nos genes BRCA-1 e BRCA-2, que são os mesmos agentes do câncer de mama. A realização do diagnóstico para essa doença é mais difícil em relação a outras doenças, devido não surgir sintomas, quando há o surgimento já está em estado avançado (APPEL, et al, 2009; OLIVEIRA, 2016).

 

3.3 Diagnóstico clínico, anatomopatológico, imagem

 

O câncer de ovário, assim como já citado anteriormente, ele é assintomático, pode ocorrer algum desconforto abdominal, mas que passam despercebidos, a repetição dos sintomas faz com que a paciente procure um médico (MACHADO, 2017).

Uma anamnese deve ser feita, buscando o histórico antecessor do paciente, os fatores de risco familiares e pessoais, o exame físico deve conter uma avaliação geral, incluindo exame abdominal, ginecológica, pélvica e retal (MACHADO, 2017).

No diagnóstico, tem a importância de minimizar procedimentos desnecessários no paciente para não gerar riscos, para isso é necessário a avaliação geral, os fatores mais importantes na doença maligna são idade, menopausa, tamanho do tumor, histórico familiar, aspecto ultrassonográfico e nível de CA125 (APPEL, et al, 2009).

Os métodos utilizados, tanto a US pélvica transabdominal e a transvaginal são usados para avaliar um tumor anexial. Esses tumores anexiais são cistos, que são classificados em cistos simples, complexos e sólidos. A análise morfológica por meio da US na predição da malignidade, mostra-se elevada, enquanto a especificidade é baixa. (APPEL, et al, 2009)

A mesma autora assevera que o exame de imagem por ressonância magnética parece ser superior a US, porém, seu alto custo limita-se para uso de rotina, é utilizado então para quando tiver dúvidas na US no diagnóstico de tumores anexiais para esclarecimento e confirmação da doença. No exame de ressonância os indicativos de malignidade é a presença de vegetações em um tumor cístico e de necrose um tumor sólido. Outro exame por imagem é a tomografia computadorizada, ele não é indicado para avaliação de tumores anexiais, a TC determina quais pacientes têm implantes de tumores que podem ser removidos cirurgicamente, auxiliando no pré-operatório (APPEL, et al, 2009).

 

3.4 Prevenção

 

A prevenção primária dos carcinomas de ovário mais significativa é o uso de contraceptivos hormonais orais. A comprovação é feita entre esse método contraceptivo com a redução da incidência da doença, quanto mais prolongado o uso, maior a redução do risco de câncer. Estima-se pelos dados estudados que o uso da pílula anticoncepcional pela população de um país com alta incidência, por dez anos, possa reduzir 30% na incidência da doença e 35% na mortalidade (MEIRA et al., 2019).

Os pacientes que são portadores de mutação do gene BRCA1 ou BRCA2 é recomendado que realiza preventivamente mastectomia e sob uma análise recente mostra que já redução para o câncer de mama 50% e de câncer de ovário e tuba uterina 80% (MEIRA et al., 2019).

 

3.5 Tratamento

 

O tratamento envolve quimioterapia e cirurgia, a avaliação das respostas ao tratamento é feita pela dosagem do CA 125 e imagem quando indicado. O ideal é manter sempre um acompanhamento ginecológico regular, pois com os exames a avaliação do aparelho reprodutor (VALENTE, 2011).

Nos casos de diagnósticos de doença inicial, realiza o procedimento cirúrgico ou histerectomia (retirada do útero e colo do útero), retirada dos ovários e trompas, gânglios. Esse procedimento pode ser feito com técnicas invasivas (MACHADO, 2017).

Em situações em que a administração de quimioterapia se torna imperativa, são prescritas distintas abordagens terapêuticas: monoterapia, adjuvância e neoadjuvância. A monoterapia consiste na aplicação exclusiva de quimioterápicos, enquanto a terapia adjuvante é complementar, sendo administrada após o tratamento primário, como cirurgia. Já a terapia neoadjuvante precede a intervenção cirúrgica e tem como objetivo a redução do tamanho do tumor e a mitigação de sua agressividade (MACHADO, 2017).

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

4.1 Dados do Levantamento Epidemiológico da Incidência de Câncer de Ovário em Patos de Minas entre 2015 e 2022

 

Este capítulo aborda os resultados referentes à incidência da neoplasia maligna de ovário no município de Patos de Minas durante o período de 2015 a 2022, com um enfoque específico em seus aspectos quantitativos.

Ao analisar a incidência do câncer de ovário em Patos de Minas, é possível notar uma variação nos índices de óbitos ao longo dos anos. Nos anos de 2015 e 2016, foi registrado 3 óbitos em cada ano, enquanto em 2017 não houve registro de óbitos por esta causa. Entretanto, a partir de 2018, os números começaram a apresentar novamente, atingindo 4 óbitos em 2018 e 3 óbitos em 2019, seguido de uma diminuição para 1 em 2020. Posteriormente, 1 óbito em 2021 e 02 em 2022.

 

Gráfico 1 - Frequência de óbitos em residentes de acordo com a causa da CID-10 NEOPLASIA CÂNCER DE OVÁRIO

 

Fonte: SIM/SMS Patos de Minas - Gerência de Epidemiologia

 

Essa variação ao longo do tempo é um indicativo de que a incidência do câncer de ovário na região pode estar sujeita a diferentes fatores, como mudanças nos fatores de risco, conscientização pública, acesso a serviços de saúde e até mesmo fatores demográficos. Essa análise temporária é crucial para orientar políticas de saúde e estratégias de prevenção.

Quando considera-se a análise por faixa etária, fica evidente que a faixa etária mais afetada é a partir dos 60 anos, com 4 óbitos registrados. Essa descoberta ressalta a importância de estratégias de prevenção e rastreamento direcionadas a mulheres nessa faixa etária, bem como a conscientização sobre os sintomas do câncer de ovário. Machado (2017, p. 06) ensina que “o risco de câncer de ovário começa a aumentar acima do risco populacional após os cinquenta anos em mulheres”.

 

 

Gráfico 2 - Frequência de óbitos de acordo com a faixa etária

Fonte - SIM/SMS Patos de Minas - Gerência de Epidemiologia

 

Dos Santos et al. (2020) apontam que na América Latina existe maior incidência do câncer de ovário em mulheres acima de 60 anos. Há menor incidência entre mulheres mais jovens de zero a trinta e nove anos.

De acordo com Pinheiro et al. (2019, p. 13) o câncer de ovário “se desenvolve principalmente em mulheres mais velhas, cerca da metade das mulheres que são diagnosticadas com câncer de ovário, tem 63 anos ou mais”.

A análise por raça/cor mostra que a maioria dos óbitos por câncer de ovário ocorreu em mulheres de raça branca, com 12 óbitos registrados. Isso pode indicar a necessidade de abordagens específicas de prevenção e cuidados de saúde adaptados às diferentes populações racialmente diversas em Patos de Minas. Para Machado (2017) “os fatores de risco são: idade avançada, raça branca, obesidade e nuliparidade”.

 

Gráfico 03 - Frequência de óbitos de acordo com raça/cor

Fonte: SIM/SMS Patos de Minas - Gerência de Epidemiologia

 

Além dos fatores mencionados, a idade também é um elemento relevante no risco de câncer de ovário. Geralmente, o risco aumenta à medida que a mulher envelhece, com a maioria dos casos diagnosticados em mulheres com mais de 60 anos. Entretanto, vale ressaltar que o câncer de ovário pode afetar mulheres de todas as idades. A idade no momento da primeira gravidez e o uso de contraceptivos orais também podem desempenhar um papel na redução do risco. O conhecimento desses fatores de risco é fundamental para a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz do câncer de ovário, destacando a importância da conscientização e educação sobre a saúde ginecológica em todas as faixas etárias e grupos étnicos (ONCOGUIA, 2022).

As variações temporais, faixa etária e raça/cor destacam a complexidade dessa neoplasia e a necessidade de abordagens múltiplas, incluindo conscientização pública, educação em saúde, rastreamento e cuidados médicos, para mitigar seu impacto na comunidade. Esses dados fornecem uma base para orientar políticas de saúde e estratégias direcionadas à prevenção e ao tratamento do câncer de ovário em Patos de Minas.

Os dados analisados sobre a incidência de câncer de ovário revelam uma variação temporal dos óbitos, destacando a necessidade de uma vigilância contínua e medidas de prevenção eficazes. A predominância desse câncer entre as mulheres, especialmente a partir de 60 anos, enfatiza a importância da conscientização, do rastreamento e da busca de diagnósticos precoces. Além disso, as diferenças na distribuição dos óbitos por raça/cor apontam para a necessidade de estratégias de saúde adaptadas às diversas populações.

É necessário adotar as estratégias de prevenção de doenças de acordo com o segmento de cada grupo, conforme orienta o Manual Técnico de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças na Saúde Suplementar da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS. Isso significa que a estratégia de prevenção aplicada a esses grupos deve ser específica para esse grupo, resultando em maior eficácia no diagnóstico precoce e prognóstico preditivo favorável (BRASIL, 2007).

Esses dados não apenas captam a complexidade desse tumor, mas também fornecem uma base sólida para políticas de saúde e práticas clínicas voltadas à detecção precoce e ao tratamento eficaz do câncer de ovário em Patos de Minas. É essencial que os esforços se concentrem na educação comunitária, facilitando o acesso aos serviços de saúde e promoção do autocuidado, a fim de reduzir o impacto desse câncer na população local.

Aragão et al., (2019) asseveram que existem vários fatores de risco associados ao câncer de ovário, incluindo fatores genéticos, histórico familiar de câncer de mama ou ovário, idade avançada, síndrome dos ovários policísticos (SOP), endometriose, obesidade, tabagismo, exposição a produtos químicos e radiação, entre outros. O fator genético é considerado o mais importante, especialmente a presença de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.

O estudo apresentado por Meira et al., (2019) analisou a evolução temporal da mortalidade por câncer do ovário no Brasil e suas grandes regiões entre 1980 e 2014. Segundo os resultados, houve uma tendência de aumento nas taxas de mortalidade por câncer do ovário no país como um todo, especialmente a partir da década de 1990. No entanto, essa tendência não foi uniforme em todas as regiões, e os efeitos da idade, período e coorte de nascimento se mostraram importantes para explicar as diferenças observadas. Observou-se a mesma tendência em Patos de Minas através dos dados.

Segundo os resultados, da mesma pesquisa supracitada, os três efeitos foram importantes para explicar a evolução da mortalidade por câncer do ovário ao longo do tempo e entre as diferentes regiões. Por exemplo, o efeito da idade mostrou que as taxas de mortalidade por câncer do ovário aumentam com o avanço da idade, especialmente a partir dos 60 anos. Já o efeito do período indicou que as taxas de mortalidade por câncer do ovário aumentaram ao longo das últimas décadas, especialmente a partir da década de 1990. Por fim, o efeito da coorte de nascimento mostrou que as mulheres nascidas em períodos mais recentes apresentam taxas de mortalidade por câncer do ovário mais elevadas do que as mulheres nascidas em períodos anteriores.

Por fim, Meira et al., (2019), apresenta em sua pesquisa que existem diferenças significativas entre as regiões brasileiras em relação à mortalidade por câncer do ovário. As taxas de mortalidade por câncer do ovário foram mais elevadas nas regiões Sul e Sudeste do país, enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentaram taxas mais baixas. Além disso, os efeitos da idade, período e coorte de nascimento se mostraram importantes para explicar as diferenças observadas entre as regiões. Por exemplo, as mulheres residentes nas regiões Sul e Sudeste apresentaram maior risco de morte por câncer do ovário devido ao efeito do período de acesso aos serviços de saúde, já que a maioria dos serviços especializados em atenção oncológica se concentra nessas regiões.

 

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Os tumores malignos de ovário, embora relativamente infrequentes em comparação com outras entidades neoplásicas, impõem um desafio clínico notável, em virtude de sua propensão a se apresentarem em estágios avançados, dificultando a detecção em fase precoce. Os dados analisados ilustraram uma oscilação na incidência ao longo do período estudado, com uma elevação notória a partir do ano de 2018. Esta variabilidade temporal requer uma vigilância constante e estratégias de prevenção adaptáveis para confrontar as determinantes subjacentes a esse incremento.

A faixa etária de 60 a 80 anos é a mais afetada, destacando a importância da educação sobre os fatores de risco e da promoção de exames preventivos nessa população. Além disso, a análise por raça/cor destacou diferenças na distribuição dos óbitos, com um maior número de casos entre mulheres brancas.

A conscientização, a prevenção e o acompanhamento médico adequado são cruciais no enfrentamento do câncer de ovário. Os resultados deste estudo enfatizam a urgência de tais medidas, com a finalidade de detectar essa neoplasia em seus estágios iniciais e, assim, melhorar significativamente as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida das mulheres afetadas.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALVES, Mônica Oliveira; MAGALHÃES, Sandra Célia Muniz; COELHO, Bertha Andrade. CONTRIBUIC? ES DA GEOGRAFIA MEDICA PARA O ESTUDO DO CANCER DE MAMA. Hygeia: Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, v. 10, n. 19, p. 86, 2014.

 

APPEL, Márcia et al. Rastreamento e diagnóstico do câncer de ovário. Revista AMRIGS. Porto Alegre. Vol. 53, n. 3 (jul./set. 2009), p. 313-318, 2009.

 

ARAGÃO, José Aderval; MOREIRA, Fernanda Vieira Santos; FONSECA, Ana Monize Ribeiro; HORA, Brunna Karolyne Souza; SANTOS, Eduarda Santana dos; GOIS, Marília Souza Alves; BARRETO, Natália Araújo; REIS, Francisco Prado. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CÂNCER DE OVÁRIO: uma revisão integrativa. Saúde da Mulher e do Recém-Nascido: políticas, programas e assistência multidisciplinar, [S.L.], p. 164-179, 2021. Editora Científica Digital. http://dx.doi.org/10.37885/210404258

 

BRASIL, Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Manual Técnico de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças na Saúde Suplementar. 2007. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/promocao_saude_prevencao_riscos_doencas.pdf. Acesso em 12 de outubro de 2023.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. (2013a). Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013. Institui a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Seção 1, p. 129. 2013

 

DOS SANTOS, Maria Aparecida Paulo et al. Tendências de Incidência e Mortalidade por Câncer de Ovário nos Países da América Latina. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 66, n. 4, 2020. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/813/766. Acesso em 12 de outubro de 2023.

 

FERREIRA, Maryana Carneiro de Queiroz et al. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CÂNCER DE OVÁRIO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. SAÚDE DA MULHER E DO RECÉM-NASCIDO: POLÍTICAS, PROGRAMAS E ASSISTÊNCIA MULTIDISCIPLINAR, v. 1, n. 1, p. 164-179, 2021. Disponível em: https://w2.fop.unicamp.br/ddo/patologia/downloads/db301_un5_Aula44CaracGerNeop.pdf. Acesso em 10 de setembro de 2023.

 

GOUVÊA, Thaís A.; CHAVES, Gabriela V.; SOBREIRA-DA-SILVA, Mário J. Análise de toxicidades relacionadas ao protocolo carboplatina e paclitaxel em pacientes com câncer de ovário. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, v. 13, n. 3, p. 823-823, 2022.

 

INCA, INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. INCA, ABC do Câncer. 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abc_do_cancer.pdf. Acesso em 15 de agosto de 2023.

 

JÚNIOR, Antonio Jorge Silva Correa; DE SANTANA, Mary Elizabeth; SONOBE, Helena Megumi. Política nacional para a prevenção e controle do câncer na rede de atenção à saúde das pessoas com doenças crônicas: um olhar pautado em Zygmunt Bauman. Research, Society and Development, v. 9, n. 7, p. e413974324-e413974324, 2020.

 

KERSUL, Alessandra Pereira. ENFRENTAMENTO DO CÂNCER: RISCOS E AGRAVOS. 2014. 57 f. Monografia (Especialização) - Curso de Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais, Campo Geral, 2014. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/enfretamento-cancer-riscos-agravos.pdf. Acesso em: 16 abr. 2023.

 

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1 Graduanda em Biomedicina pela Faculdade Patos de Minas, 2023. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

2 Orientadora. Docente do curso de biomedicina FPM, 2023. E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.