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A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Hellen Karuline Silva de Oliveira

Luciana Pinto Costa

 

 

RESUMO

Este trabalho de pesquisa bibliográfica tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre a importância da afetividade na educação infantil. Sabe-se que principalmente em creches os bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas em qualquer uma das fases, são tiradas do convívio de suas famílias e levadas para escola e a grande maioria das delas choram, sentem-se abandonadas pela família, estão em um lugar estranho, com pessoas estranhas, aí entra o papel da escola, que precisa ter um ambiente acolhedor, professores preparados para receber as crianças com amor e carinho, pois, o afeto nesse momento difícil para os pequenos vai fazer toda a diferença em sua adaptação. Nos autores pesquisados abordaremos essa temática e entenderemos o quanto trabalhar a afetividade na educação infantil e fundamental para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças.

 

Palavras-chave: Criança. Afetividade. Emoções. Professor. Desenvolvimento.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho de pesquisa se trata de uma revisão bibliográfica onde foram analisadas informações já publicadas. O tema escolhido para a pesquisa foi a importância da afetividade na educação infantil/creche. Abordaremos assuntos como porque as crianças choram tanto as primeiras semanas, principalmente bebês e crianças bem pequenas.

Nos deteremos apenas as creches apesar de que, muitas crianças ainda são levadas a escola apenas para alfabetização o que traz muitos prejuízos ao desenvolvimento psicomotor da criança.

Pode-se perceber claramente que os primeiros dias na creche são muito difíceis para os pequenos, muito choro, tristeza e sensação de abandono o que é compreensível, pois, são trazidos pela família e deixados em um ambiente estranho com pessoas estranhas. O processo de adaptação leva tempo e cada criança tem seu tempo e precisa ser respeitado.

Diante do exposto uma escola acolhedora é fundamental, com um ambiente, atraente para a criança, professores atenciosos, serenos, alegres preparados para atender os bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas, sempre respeitando os direitos e as especificidades de cada um.

O tema foi escolhido devido a sua relevância e importância, pois se trata da base que estará sendo formada e sabemos que um trabalho de base bem feito vai fazer toda a diferença na vida futura dos alunos.

 

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

De acordo com o Referencial Curriculares Nacional para a educação Infantil (RCNEI):

 

As instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesma, dos outros e do meio em que vivem. (BRASIL, 1998, p.15).

 

Para garantir que as crianças sintam segurança ao chegar a escola, torna-se necessário que o ambiente físico (salas, mobiliários, materiais pedagógicos etc.) sejam planejados e adaptados a faixa etária das crianças, estas devem interagir com seus pares e também com os adultos, a acolhida diária precisa ser alegre com músicas infantis e brinquedos que chamam a atenção.

Do ponto de vista de Chardelli (2002, p.31): Na escola, a socialização vem por meio da afetividade. 

 

A todo momento, a escola recebe crianças com auto estima baixa, tristeza, dificuldades em aprender ou em se entrosar com os coleguinhas e as rotulamos de complicadas, sem limites ou sem educação e não nos colocamos diante delas a seu favor, não compactuamos e nem nos aliamos a elas, não as tocamos e muito menos conseguimos entender o verdadeiro motivo que as deixou assim. A escola facilita o papel da educação nos tempos atuais, que seria construir pessoas plenas, priorizando o ser e não o ter, levando o aluno a ser crítico e construir seu caminho.

 

Nas escolas/creches recebemos crianças com histórias de vida diferentes, algumas com famílias estruturadas, outras totalmente carentes de atenção e carinho. Como educadores precisamos ajudá-la demonstrando atenção, mostrando que estamos ali para ajudar. Através de atitudes positivas desenvolver a autoestima da criança o que desenvolvera gradativamente sua autonomia e segurança.

 

As emoções consistem essencialmente em sistemas de atitudes que, para cada uma, correspondem a certo tipo de situação. Atitudes e situação correspondente se implicam mutuamente, constituindo uma maneira global de reagir que é de tipo arcaico em frequente na criança. Uma totalização indivisa opera-se então entre as disposições psíquicas, todas orientadas no mesmo sentido, e os incidentes exteriores. Disso resulta que, com frequência, é a emoção que dá o tom ao real. Inversamente, porém, incidentes exteriores adquirem o poder de desencadeá-la de maneira quase certa [...] (WALLON, 2007, p. 121).

 

Para Wallon as emoções ditam nossa forma de agir e com frequência demonstramos no exterior o que estamos sentindo sejam sentimentos alegres ou tristes, fatores externos também exercem influência nas atitudes. Ser humano é ser físico e emocional ao mesmo tempo, não existe um ser físico e o outro emocional ambos constituem um ser indivisível por isso, torna-se necessário trabalhar o físico, mas principalmente o emocional das crianças se elas estiverem bem emocionalmente desenvolverão as atividades propostas de maneira satisfatória.

 

[...] a sensibilidade da criança se amplia no contato com o ambiente: reproduz suas características e não consegue se distinguir dele. Esse espalhamento, que é também uma alienação de si no outro, implica uma segunda fase inversa, em que o sujeito tomará posse de si opondo-se ao outro. Com isso, é a evolução da personalidade que começa. Á emoção compete o papel de unir os indivíduos entre si por suas reações mais orgânicas e mais íntimas e essa confusão deve ter por consequência ulterior as oposições e os desdobramentos dos quais poderão gradualmente surgir as estruturas da consciência (WALLON, 2007, p. 124).

 

Como cita o autor conforme se desenvolve a criança sua sensibilidade também vai se desenvolvendo e o contato com o ambiente e fundamental para esse processo. Podemos citar também o relacionamento com outras crianças nas brincadeiras em diferentes situações, estes, contribuem para o desenvolvimento de sua afetividade e também do aprendizado.

Segundo Almeida (2004, p.126),

 

[...] como tudo que ocorre com a pessoa tem um lastro afetivo, e a afetividade tem em sua base a emoção que é corpórea, concreta, visível, contagiosa, o professor pode ler o seu aluno: o olhar, a tonicidade, o cansaço, a atenção, o interesse, são indicadores do andamento do processo de ensino que está oferecendo.

 

Para Wallon (1995), o bebê expressa suas emoções e sensações corporais como o desconforto da fome, dor, sono por meio da expressão corporal e do choro. O professor ao observar seus alunos pode fazer uma leitura de cada um, verá se estão bem tranquilos, confortáveis ou se estão inquietos, irritados, tímidos, tristes, incomodados com alguma coisa. Sabemos que para que haja o aprendizado do conteúdo a criança precisam ter primeiro, suas necessidades fisiológicas supridas, isso resulta na satisfação e contentamento, aí sim, a criança estará pronta para o aprendizado, o cuidar e o educar precisam estar juntos.

 

O recém-nascido não tem ainda outras formas de se comunicar com o outro, que não a emoção (...). Cada movimento, cada expressão corporal dessa criança, acaba por receber um significado, atribuído pelo outro, significado esse do qual ela se apropria. Uma criança que chora inicialmente para alguém vir alimenta- lá, mas chora por causa da dor. Ao receber a atenção que necessita, vai construindo os significados de cada ação sua. (GONÇALVES, 2003, p. 14- 15)

 

Ao observar cada expressão corporal em uma criança damos um significado e a criança se apropria desse significado. E para que a criança construa os significados ela precisa ter suas necessidades supridas, por exemplo, quando o bebê chora com fome, frio, calor ou dor e tem sua necessidade atendida atribui significado ou seja, a emoção é a única forma dos bebês se comunicarem.

 

Se comparado com as demais espécies animais, o bebê é o mais indefeso e despreparado para lidar com os desafios de seu meio. A sua sobrevivência depende dos sujeitos mais experientes de seu grupo, que se responsabilizam pelo atendimento de suas necessidades básicas (locomoção, abrigo, alimentação, higiene, etc), afetivas (carinho, atenção) e pela formação do comportamento tipicamente humano. Devido à característica imaturidade motora do bebê é longo o período de dependência dos adultos. (REGO, 1995, p. 59)

 

Considera- se que o ser humano, é um ser afetivo desde o seu nascimento e essa afetividade vai se desenvolvendo e se diferenciando em cada situação vivida. Os bebês diferentes de muitos animais dependem por muito tempo inteiramente dos adultos e cada necessidade apresentada por eles nunca devem ser menosprezados, é necessário, atenção e cuidado para que os bebês se sintam seguros e satisfeitos.

Para VIGOTSKY (2003)

 

O aspecto emocional do indivíduo não tem menos importância do que os outros aspectos e é objeto de preocupação da educação nas mesmas proporções em que o são a inteligência e a vontade. O amor pode vir a ser um talento tanto quanto a genialidade, quanto a descoberta do cálculo diferencial. (p. 146).

 

Como citado anteriormente nenhum aspecto da vida do ser humano é menos importante que os outros pois, se trata de um ser inteiro e todos os aspectos da vida precisam ser desenvolvidos paralelamente sem privilegiar um ou outro, por isso, o cuidado que os educadores precisam ter ao atender uma necessidade de uma criança em detrimento de outras, cada criança é individual e tem suas especificidades e todos precisam receber o mesmo tratamento por parte dos educadores.

Conforme Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, a educação infantil faz parte da primeira etapa da Educação Básica. (BRASIL, 2011, p. 21).

 

Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30º. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.

Art. 31º. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. (BRASIL, 2011, p. 21)

 

Apesar de a educação infantil/creche se oferecida como direito da criança, por não ser obrigatória, muitos pais não colocam os filhos nas creches. Esta etapa tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, mental e intelectual e as relações harmoniosas entre família e escola traz grandes benefícios para o desenvolvimento da criança.

Pode-se perceber claramente a diferença entre a criança que chega a alfabetização tendo frequentado as etapas anteriores, no caso, a creche e a pré-escola da aquela que não frequentou, esta última apresenta mais dificuldade no processo de alfabetização.

 

A pedagogia afetiva deve ganhar vida na sala de aula, para existirem com maior frequência, o toque, o sorriso, a conversa, o entendimento, o perdão e as descobertas num vigoroso manancial de afeto, onde recebe e se estimula o respeito, e se aprende, na prática a envolver-se e compartilhar o maior (CAJU, 2016, Pág. 44)

 

Em sala de aula o professor precisa transmitir calma deve ensinar as crianças a serem corteses, amáveis, perdoadoras sempre conversando sobre vários assuntos de interesse das crianças. Os momentos de rodinhas de conversas são muito importantes com os maiores pois, poderão expor seus sentimentos e descobertas algo precioso para o educador trabalhar.

 

Para lidar com crianças na educação infantil, o educador precisa ser sensível às suas emoções, estar apto para lidar com situações que exijam paciência, compreensão e técnica, tendo capacidade para lidar com imprevistos que requerem flexibilidade e criatividade, além disso, deve usar sempre o conhecimento e a sociabilidade ligada aos aspectos afetivos, para o bem do aluno e tranquilidade dos pais. (CHALITA 2001, p. 52)

 

Como cita o autor, para lidar com criança e necessário ser sensível as suas emoções. As relações estabelecidas na escola: professor/aluno, entre os pares e as relações familiares no cuidado e o carinho dos pais ou responsáveis com as crianças pequenas exercem grande influência no seu desenvolvimento integral, pois, a afetividade contribui para o desenvolvimento da inteligência. do Almeida (1999, p. 50)

Um educador sereno, paciente mesmo em situações difíceis faz toda diferença em sala de aula, essa atitude traz paz e confiança à criança que ao presenciar o exemplo do educador aprenderá a lidar com os seus próprios conflitos, não quer dizer que a criança não sentirá raiva ou outras emoções, ela sentirá, porém, saberá lidar com esses sentimentos. (SALTINI, 1997, p. 91).

 

 

CONCLUSÃO

 

Ao concluirmos esta pesquisa ficou evidente que a afetividade entre professor e aluno e entre seus pares é fundamental para o desenvolvimento intelectual, afetivo e físico da criança, pois tudo que a criança precisa é de estabilidade emocional para tanto, criar vínculos é o primeiro passo que o educador deve dar.

Nos primeiros dias de creche os pequenos sofrem muito, choram e não querem se alimentar torna-se necessária calma, paciência por parte do professor que com carinho vai ganhando a confiança deles, precisa dei-los a vontade para que explorem os espaços e os brinquedos, deixar que escolham aquilo que agrada.

Fazer com que a criança se sinta segura, com pessoas que demonstram carinho vai ganhar a confiança dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas clientela exclusiva das creches conforme BNCC Brasil (2018) (Base Nacional Comum Curricular). Ainda segundo a BNCC nas creches as crianças precisam ter garantidos seus direitos de: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, são nestas experiências que os alunos irão desenvolver competências socioemocionais.

Quando os pais compreenderem a importância do trabalho de base (desenvolvimento psicomotor) que é desenvolvido nas creches, não deixarão seus filhos fora da escola.

Espera-se que os educadores busquem cada vez mais conhecimento para lidar com as emoções em sala de aula com os pequenos, e que o seu exemplo, suas atitudes façam a diferença no desenvolvimento dos seus alunos.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALMEIDA, Ana Rita SilvaEmoção na sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 1999.

 

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

 

BRASIL, Referencial curricular nacional para a educação infantil; vol.3Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a base. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:. BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf (mec.gov.br) Acesso em: 4 setembro de 2023.

 

CAJU, Maria do Socorro. Representações sociais sobre afetividade: um olhar docente. João Pessoa- PB, GSN,2016.

 

CHALITA, Gabriel; EducaçãoA Solução Está no Afeto: Gabriel Chalita - São Paulo: Editora Gente, 2001.

 

CHALITA, Gabriel. Educação. A solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2004.

 

CHARDELLI, Rita de Cássia Rocha.  Brincar e ser feliz. Endereço eletrônico: < http://7mares.terravista.pt/forumeducacao/Textos/textobrincareserfeliz.htm

GONÇALVES, M.F.C. (Org). Educação Escolar: identidade e diversidades. Florianópolis, SC: Insular, 2003.

 

PARREIRAS, Ninfa; Do Ventre ao Colo, Do Som a Literatura: Livros para bebês e crianças: Ninfa Parreiras - Belo Horizonte: RHJ, 2012.

 

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico- cultural da educação. 14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

 

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade & inteligência. Rio de Janeiro: DPA, 1997.

 

VYGOTSKY, L.S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

 

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1995.

 

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.