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O LÚDICO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Andréa Bezerra Ferreira¹

Dayane Ferreira Amaral Côrtes ²

Maria José Nunes Mota Gomes³

Rebeca Sara Serra Costa Nascimento4

Taysa Delarcos de Oliveira5

 

 

RESUMO

O presente artigo traz uma reflexão sobre o lúdico como instrumento no processo de alfabetização. O período da alfabetização marca a vida da criança, podendo ser de forma positiva ou negativa, dependendo da maneira que for trabalhada. Quando falamos em alfabetização, estamos falando de um fato social, um elemento primordial no desenvolvimento da socialização, onde a criança passa a se sentir pertencente a um determinado grupo, ou seja, a alfabetização vai além da aquisição da habilidade de escrever, ler, interpretar e decodificar os códigos linguísticos, sendo considerada um fator fundamental no exercício da cidadania. Levando em consideração que as experiências vividas pela criança são decisivas em seu processo de aprendizagem, faz-se necessário que a alfabetização ocorra de forma natural, prazerosa e divertida, afinal a ludicidade possibilita que o aluno seja o protagonista, desenvolvendo a aprendizagem em todos os aspectos; cognitivo, social e emocional.

 

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Educação. Ludicidade.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Além de ser uma forma prazerosa de ensinar e aprender, a ludicidade é também um excelente recurso para trabalhar com os alunos que apresentam dificuldades e defasagem de aprendizagem, atuando como uma aceleração e recuperação paralela aos métodos tradicionais. Tanto nesses, quanto em outros casos, diversificar os métodos de ensino e a maneira de direcioná-los é uma ação muito eficaz, visto que cada aluno é único e por conseguinte aprendem de formas diferentes.

A escolha do tema deve-se à necessidade de melhorias na alfabetização. Observando dados referentes aos resultados da educação principalmente nesse período pós-pandêmico, que apesar de todos os projetos voltados para a recuperação ainda temos resultados poucos significativos devido à defasagem que muitos alunos tiveram principalmente no que diz respeito à alfabetização, ficando claro a necessidade de mudanças no âmbito educacional.

A atualização, inovação e reinvenção das práticas pedagógicas são fundamentais para o sucesso do trabalho docente. Novidades em atividades diferenciadas quebram a monotonia fazendo a diferença no desenvolvimento das aulas, tornando-as mais prazerosas e atrativas, proporcionando o engajamento dos alunos e concretizando a formação do sujeito ativo, crítico e reflexivo, enfim protagonista na construção do saber.

As atividades lúdicas podem ser usadas de diversas formas, desde um simples recorte de revistas e jornais até a confecção de jogos mais elaborados e brincadeiras direcionadas. sempre levando em consideração o planejamento, os conhecimentos prévios da turma, as dificuldades que os alunos possuem e o objetivo a ser alcançado. É importante deixar claro que não se trata do brincar pelo brincar, mas sim o brincar direcionado pedagogicamente.

Almeida (1978) afirma que os jogos não devem ser fins, mas meios para atingir objetivos, ou seja, devem ser aplicados para o benefício pedagógico e educativo e como forma de jogo impulso para motivar o educando a realizar as tarefas educativas de forma prazerosa.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

A educação é um pilar fundamental na formação das futuras gerações e a maneira como os alunos aprendem e se desenvolvem está em constante evolução. Nesse contexto, a ludicidade tem se destacado como uma abordagem pedagógica eficaz, que promove a aprendizagem de forma significativa e prazerosa. O uso de atividades lúdicas no ambiente educacional não apenas cativa os alunos, mas também estimula a criatividade, o raciocínio, a socialização, o trabalho em grupo e diversas outras habilidades importantes para a vida.

Trabalhar o lúdico de forma pedagógica valoriza o potencial inato das atividades lúdicas para promover o aprendizado e o desenvolvimento integral dos alunos. A ludicidade reconhece que o ato de brincar, jogar e criar é uma forma natural de exploração e interação com o mundo, e que essa abordagem pode ser aplicada em todas as etapas da educação, desde a infância até o ensino superior. Explorando profundamente como a ludicidade se manifesta e impacta a aprendizagem em diferentes contextos.

Uma forma de se trabalhar com o lúdico é a utilização do brinquedo de forma direcionada, educativa, com o objetivo de ensinar e aprender brincando:

 

O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, mas ganha força com a expansão da educação infantil, especialmente a partir deste século. Entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores, nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas, nos brinquedos de encaixe, que trabalham noções de sequência, de tamanho e de forma, nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil. (KISHIMOTO, 2000, p. 36)

 

A ludicidade baseia-se na compreensão de que as atividades lúdicas são intrinsecamente motivadoras e envolventes. Quando os alunos estão imersos em uma atividade lúdica, eles estão ativos, emocionalmente engajados e dispostos a explorar conceitos e desafios. Isso ocorre porque a ludicidade proporciona um espaço seguro para experimentação, erro e descoberta, criando um ambiente propício para a construção do conhecimento de forma significativa. A ludicidade na educação é muito mais do que simplesmente brincar é uma abordagem pedagógica que reconhece e aproveita o poder das atividades lúdicas para criar um ambiente de aprendizado estimulante, significativo e inclusivo.

Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção de causalidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica.

 

As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. (KISHIMOTO, 2000, p. 96)

 

Ao cultivar a curiosidade natural dos alunos, fortalece-se a conexão entre os conceitos acadêmicos e a vida real, promovendo um aprendizado duradouro. Nesse sentido, a integração na prática educacional é uma estratégia que contribui para a formação de indivíduos criativos, críticos e preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

A ludicidade não se limita ao aprendizado de conteúdos acadêmicos. Ela também promove o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida, como a criatividade, o pensamento crítico, a resolução de problemas, a comunicação eficaz, a colaboração e a flexibilidade. Essas habilidades são cada vez mais valorizadas em um mundo em constante mudança, onde os indivíduos precisam se adaptar e inovar para enfrentar os desafios do século XXI.

O papel do professor na abordagem lúdica é fundamental. O educador atua como facilitador, criando contextos ricos em possibilidades de aprendizado. Isso inclui o planejamento de atividades que sejam desafiadoras, mas também adequadas ao nível de desenvolvimento dos alunos. Além disso, o professor observa e interage com os alunos durante as atividades, aproveitando oportunidades para estimular discussões, reflexões e conexões entre o que está sendo aprendido e a vida cotidiana.

Uma das contribuições marcantes da ludicidade é a forma como ela reconhece e atende às diferentes formas de inteligência presentes em cada indivíduo. A teoria das inteligências múltiplas, proposta por Howard Gardner, sugere que os alunos têm habilidades e talentos diversificados. A abordagem lúdica oferece uma variedade de atividades que abrangem diferentes tipos de inteligência, como a linguística, lógico-matemática, espacial, musical, interpessoal, intrapessoal, corporal-cinestésica e naturalista. Isso permite que os alunos explorem e desenvolvam suas habilidades em múltiplas áreas, aumentando sua autoestima e autoconhecimento.

Trabalhar a ludicidade é uma forma de instigar e fomentar a autonomia dos educandos, permitindo assim que os mesmos possam construir seu processo de aquisição de conhecimento.

 

Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições. (FREIRE, 2021, p. 47).

 

A ludicidade também tem um papel relevante na promoção da inclusão educacional. Ao adotar estratégias lúdicas, os professores podem atender às diversas necessidades dos alunos, considerando suas diferentes habilidades e estilos de aprendizado. As atividades lúdicas proporcionam um espaço onde os alunos podem se expressar de maneiras variadas e onde as diferenças individuais são valorizadas. Isso contribui para a construção de uma comunidade escolar mais inclusiva e respeitosa.

 

 

CONCLUSÃO

 

Em um panorama educacional em constante evolução, a ludicidade emerge como uma estratégia inovadora e vital para otimizar o aprendizado e o desenvolvimento integral dos alunos. Ao valorizar o brincar, jogar e criar como veículos intrínsecos de descoberta, a abordagem lúdica transcende os limites da tradicional sala de aula, abrindo horizontes de engajamento e motivação. Os educadores, nessa jornada, se transformam em facilitadores astutos, criando espaços enriquecidos por desafios que estimulam reflexões profundas e conexões significativas. A ludicidade, por sua vez, reverbera em todas as etapas da educação, adaptando-se e ampliando sua influência desde a infância até o ensino superior.

A interação entre os alunos e as atividades lúdicas não apenas promove o desenvolvimento cognitivo, mas também aprimora habilidades sociais, emocionais e comunicativas, tão essenciais na construção de cidadãos completos e resilientes. Ao abraçar a diversidade de inteligências múltiplas e estimular a inclusão, a ludicidade tece um tecido educacional enriquecedor, no qual cada indivíduo pode florescer plenamente. Mais do que um mero instrumento de ensino, a ludicidade é uma ponte entre o conhecimento formal e a preparação para os desafios do mundo contemporâneo, forjando mentes criativas, pensadoras críticas e solucionadoras de problemas. Em última análise, ao integrar a ludicidade à educação, estamos pavimentando um caminho para um futuro educacional vibrante e transformador, onde a alegria e o aprendizado coexistem harmoniosamente.

 

 

REFERÊNCIAS

 

Howard Gardner, Teoria das mentes múltiplas, 1983

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 70ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2021.

 

ALMEIDA, Paulo Mendes. Dinâmica lúdica jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola. 1978. ALMEIDA, Paulo Nunes.Educação Lúdica.9 ed.Rio de Janeiro,Loyola,1992.

 

ALMEIDA, Paulo Mendes de. Educação lúdica, técnicas e jogos pedagógicos. 10ª ed. São Paulo: Loyola, 2000.

 

BRUNELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. São Paulo: Papirus, 1996.

 

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2000.

 

KISHIMOTO, Tisuko Morchida.Jogos a Criança e a educação. Petropólis:RJ, 1999.

 

MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre. Artmed, 2002.

 

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

 

PIAGET, J. Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro: Zahar, 1958; Fundo de Cultura, 1967.

 

RIZZO, Gilda. Educação Pré-Escolar. 7 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.