A MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO
Fernanda Braga Silva
Jucilene Brandão Pereira
Juliane Martins Chagas
RESUMO
Este artigo trata de questões que irão relacionar a música ao desenvolvimento da criança. Inicialmente, será destacado o conceito de desenvolvimento de forma ampla, e não apenas os aspectos cognitivos, mas também os aspectos linguísticos, motores, afetivos e sociais. São apresentadas reflexões a respeito do papel da música na educação infantil. Buscando encaminhar sugestões aos docentes envolvidos com a educação infantil, com o objetivo de oferecer subsídios para viabilização de um contato prazeroso, formativo e saudável para a criança, explicando o desenvolvimento da linguagem musical no contexto da educação, a fim de contribuir para a motivação pessoal e facilitar a integração do educando no contexto escolar. É importante ter a clareza de que este educador é responsável pela formação integral da criança e quanto maiores forem seus conhecimentos sobre todas as áreas do conhecimento, incluindo a música, maiores serão os benefícios para as crianças que estão sob sua responsabilidade educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Educador; Educação Musical; Educador Multidisciplinar.
INTRODUÇÃO
A música faz parte da história humana desde os tempos remotos. Há arqueólogos que acreditam que os homens primitivos utilizavam instrumentos musicais como tambores e flautas construídos através dos ossos e sempre usados para cultuar algum tipo de ritual.
[...] A música é uma das mais antigas e valiosas formas de expressão da humanidade e está sempre presente na vida das pessoas. Antes de Cristo, na Índia, China, Egito e Grécia já existiam uma rica tradição musical. [...] (FERNANDES, 2016, s.n.)
Conforme estudos de BEYER & KEBACH (2009), as atividades com música se tornam uma enorme janela de informações que ajudam no desenvolvimento da percepção, ritmo, atenção, além de promover atividades que desenvolvam habilidades visuais, motoras, físicas e psicológicas.
Segundo ILARI (2002), escutamos e nos acostumados com os sons desde o útero da mãe. Antes mesmo de poder ouvir os sons externos, o bebê ainda no útero está num ambiente cheio de estímulos sonoros: os batimentos cardíacos da mãe, de seu próprio cordão umbilical, dos movimentos de alguns órgãos trabalhando. As mães acariciam, os pais beijam, conversam com o bebe na barriga.
A presença da professora ou de um adulto é muito importante para as crianças, pois são momentos de troca e comunicação sonora, e que favorecem para o desenvolvimento afetivo e cognitivo. Fortalecem o vínculo e a confiança da criança na professora e em relação ao próprio ambiente escolar, assim a educadora sempre incentiva a produzir e fazer um som (BEYER & KEBACH, 2009).
A metodologia utilizada neste estudo é, em sua maior parte, de cunho bibliográfico e descritivo, embasada em fundamentações teóricas existentes sobre o tema. A fundamentação teórica deste estudo está baseada, principalmente, na bibliografia a seguir: BRITO (2003); Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998); FONTERRADA (2008); ROCHA (1992): Educação Musical: Método Willems.
(...) Sócrates – É, decerto, por esta razão, meu caro Glauco, que a educação musical é a parte principal da educação, porque o ritmo e a harmonia têm o grande poder de penetrar na alma e tocá-la fortemente, levando com eles a graça e cortejando-a, quando se foi bem educado. Platão, trecho de A República
A Educação Musical é um tema bastante amplo e que pode ser estudado e analisado a partir de diferentes óticas, de acordo com o objetivo ao qual o estudo se destina. Neste capítulo, a educação musical será tratada com relação à sua importância na formação do ser humano, com relação ao seu percurso histórico no Brasil e com relação à sua inserção na formação de professores multidisciplinares.
A música está presente deste os primórdios da civilização humana sendo uma das manifestações mais antigas. Foi na Grécia antiga que a música se aproximou da educação e da filosofia. Granja (2006) relata que a música ocupa um lugar tão importante quanto à filosofia e matemática na cultura grega. A música era considerada fundamental na educação e formação do homem grego e ultrapassava a dimensão estritamente sonora. Conforme as formas de pensamento foram surgindo, a educação musical na Grécia passou a ser parte também, além dos currículos, de discussões filosóficas. A música passava a ser inserida em atividades relativas à cultura, à educação e ao conhecimento.
Segundo Granja, a música na sociedade pitagórica tinha a função de educar a percepção estética, pois o homem que era educado musicalmente desenvolvia naturalmente o senso estético. Granja comenta que Platão afirmava que a música era capaz de exercer grande influência sobre a alma e o caráter das pessoas e também contribuía na formação intelectual. (GRANJA, 2006, pp. 21, 22,30).
Na atualidade, muitas descobertas relacionadas à neurociência pesquisam e autenticam cientificamente os benefícios que a música provoca em conformidade com o desenvolvimento da qualidade de vida, sendo muitas vezes utilizada como uma ferramenta auxiliar no desenvolvimento educacional e em diversos tratamentos de recuperação da saúde mental e física, comprovando os benefícios que eram preconizados pelos gregos.
Estudos recentes de neurociência revelam que a música atua nas estruturas cerebrais e provocam alterações que poderiam explicar diferenças cerebrais entre músicos e não músicos, explicando também as sensações causadas pela audição musical, sinalizando caminhos, a partir de análises de alterações cerebrais, para o entendimento dos benefícios promovidos pela música (GRAIEB, 2008).
Para falar sobre a Educação Musical na formação do ser humano, nada melhor do que nos reportarmos a Edgar Willems, pedagogo musical que diz que os princípios vitais da música estão dentro do ser humano. Segundo ROCHA (1990), o método proposto por Willems enfatiza a ligações da música com o ser humano e tem como um dos princípios básicos as relações psicológicas estabelecidas entre eles. Willems considera que elementos da música como ritmo, melodia e harmonia não são apenas elementos físicos e sim elementos da vida, estabelecendo uma estreita relação entre o pólo material e o pólo espiritual do ser humano. Ainda associam os três elementos fundamentais da música (ritmo, melodia e harmonia) a três funções humanas diferentes: vida fisiológica, vida afetiva e vida mental, respectivamente.
Portanto,
Estes princípios sobre as relações do ser humano com a música, defendidos por Willems, são um dos caminhos que apontam para o quanto a educação musical pode contribuir para a formação de seres humanos mais completos e com todas as suas potencialidades desenvolvidas, pois, através da educação musical, o indivíduo tem favorecido o seu impulso da vida interior, têm sua sensibilidade despertada e suas forças interiores equilibradas. (ROCHA, 1990, p.16-23)
Segundo Willems, as pedagogias de Educação Musical devem unir com sensatez os aspectos artísticos e científicos da música, a harmonia e o saber e a sensibilidade e a técnica e que estas pedagogias musicais devem ser norteadas por tendências psicológicas, que entendem o indivíduo como um ser único. (WILLEMS, 1961apud ROCHA, 2009)
A educação musical, segundo Weigel (1988), favorece ao educando o desenvolvimento dos aspectos cognitivo-linguísticos, socioafetivo, psicomotor e lógico matemático. Por conter em sua linguagem elementos citados anteriormente como ritmo melodia e harmonia, que estabelecem relações coma vida, estes aspectos educacionais são desenvolvidos naturalmente através de um trabalho de educação musical baseado em métodos ativos1. Ainda, segundo a autora, a educação musical pode despertar e refinar a sensibilidade do educando, desenvolver atenção, estimular à vontade e auxiliar a consolidar a ação educativa, contribuindo para a formação e equilíbrio da personalidade do mesmo (WEIGEL, 1988).
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI, a música possui uma linguagem própria a qual precisamos considerar:
• Produção — centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais 13 a interpretação, a improvisação e a composição;
• Apreciação — percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento;
• Reflexão — sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais.
O professor deve ser um mediador, introduzindo assim vivências e experiências que para que ocorra uma significação nas práticas não só musicais do indivíduo, mas também em diversas áreas de conhecimento do aluno. Não se espera que o professor seja um músico, bem afinado e dominante de todos os instrumentos, é claro que, se for, agrega valores em suas práticas, porém basta apenas que seja investido em planejamento, pois para a criança não basta apenas ouvir o instrumento, ela precisa entender o que está sendo dito ou cantado, e quanto mais cedo é iniciado, mais cedo se torna capaz de compreender o mundo sonoro que está inserido.
Segundo os Parâmetros Curricular Nacional (PCN) de Artes, a música é um processo cultural referente às tradições de cada época. Porém é notório que os avanços tecnológicos principalmente na área da comunicação, vêm interferindo nas referências musicais da sociedade, pois uma vez que se tem acesso à tecnologia e conseguintemente a internet, se alcança um contato com referenciais mundiais de diferentes tipos e gêneros diversos.
O Parâmetro Curricular Nacional (PCN) de Artes diz ainda que:
Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadãos é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula.
Na Educação Infantil as contribuições da música podem acontecer de diversas maneiras. Elencamos algumas possibilidades abaixo segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI).
Crianças de zero a três anos:
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Exploração, expressão e produção do silêncio e de sons com a voz, o corpo, o ambiente ao seu redor e materiais sonoros diversos.
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Interpretação de músicas e canções diversas.
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Participação em brincadeiras e jogos cantados e rítmicos.
Crianças de quatro a seis anos:
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Reconhecimento e utilização expressiva, em contextos musicais das diferentes características geradas pelo silêncio e pelos sons: altura (graves ou agudos), duração (curtos ou longos), intensidade (fracos ou fortes) e timbre (característica que distingue e “personaliza” cada som).
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Reconhecimento e utilização das variações de velocidade e densidade 16 na organização e realização de algumas produções musicais.
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Participação em jogos e brincadeiras que envolvam a dança e/ ou a improvisação musical.
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Repertório de canções para desenvolver memória musical.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o trabalho de musicalização desempenhado, é um recurso correto de grande relevância e através dele as crianças conseguem atingir uma amplitude em desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e emocional, entretanto vem sendo explorado de forma restrita.
Para a Educação Infantil ratifico a importância do trabalho de musicalização desde as primeiras series, para que dessa maneira valorizando os conhecimentos prévios dos discentes, proporcione um ganho significativo no desenvolvimento por assim explorar tais aspectos, tornando-se uma ferramenta valiosa no processo educativo.
Um dos fatores que pode contribuir para uma exploração equivocada da música é a formação das profissionais de educação nessa instituição, sete delas têm mais de quatro anos de graduação, e sabendo que a educação passa por constantes transformações, assim como a escola com o intuito de atender as novas gerações com inovações de ensino para contemplar a uma sociedade que busca além dos conhecimentos sistematizados, mas um ambiente que traga satisfação e entusiasmo, e, além disso, tudo tenha a autonomia em desenvolver seus interesses.
Em relação os educadores, ressaltamos que estes devem ser criativos, trabalhando suas metodologias e lembrando que é necessário a utilização de música de acordo com a faixa etária das crianças. Com poucos recursos, muita força de vontade e comprometimento é possível obter bons resultados, afinal, o que mais importa é a maneira como os materiais são utilizados, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem, acreditando que a escola (professores e corpo técnico pedagógico) são gentes construtores de uma efetiva aprendizagem, isso ocorre melhor quando cada membro desta equipe faz seu papel com responsabilidade e ética profissional.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Referencial Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998 vol. 3.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais, Artes. Ministério da Educação, Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1996.
BRÉSCIA, V. L. P. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
CUNHA, Susana Rangel V. (org) Cor, som e movimento – a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Ed. Mediação, 3ª. Ed. Porto Alegre. 2002.