Buscar artigo ou registro:

 

 

APLICAÇÃO DE RECICLÁVEIS EM ARTES VISUAIS EM UMA TURMA DE 1º ANO

Lucinéia Vicente Dias dos Santos1

 

 

RESUMO

Este estudo pretende refletir sobre a aplicação dos recicláveis na escola, uma vez que há uma grande preocupação com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade do planeta. Tem como objetivo analisar a importância da utilização de produtos recicláveis na sala de aula e sua contribuição no processo ensino-aprendizagem. Pretende responder os seguintes questionamentos: Os recicláveis auxiliam no processo ensino- aprendizagem do aluno e amplia o seu processo criativo? Ao utilizar os produtos recicláveis, os alunos refletem sobre a importância da preservação do meio ambiente? A pesquisa foi realizada em uma Escola Pública Municipal na Cidade de Sinop-MT. Foi feito através de pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica. Na pesquisa de campo foi feita observação da prática da professora, em sala de aula. Na pesquisa bibliográfica considerou as contribuições de autores como VALADARES (2001), LIUZZI (1992), (RICHTER, 2003) entre outros, procurando enfatizar a importância de se utilizar os produtos recicláveis em sala de aula, bem como a conservação e preservação do meio ambiente através da utilização de produtos recicláveis. Concluiu-se que a utilização dos recicláveis nas aulas de artes contribui para o desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança e ajuda na conscientização de preservação do meio ambiente.

 

Palavras-chave: Artes visuais. Reciclagem. Educação. Conscientização.

 

 

Introdução

 

O presente trabalho tem como tema a aplicação de recicláveis em sala de aula com uma turma de 1º ano do Ensino Fundamental. Entende-se que com trabalho de reciclagem é possível ampliar as possibilidades no ato de criar e explorar os conhecimentos prévios dos alunos.

Nesta perspectiva, construiu-se questões que nortearam este trabalho:

Os recicláveis auxiliam no processo ensino- aprendizagem do aluno e amplia o seu processo criativo?

Ao utilizar os produtos recicláveis, os alunos refletem sobre a importância da preservação do meio ambiente?

O uso de materiais recicláveis vem ganhando terreno nos últimos anos, mas não é só nas mãos de grandes artistas que esses materiais ganham valor, nas salas de aula são infinitas as possibilidades de conteúdos que esses produtos podem contemplar. O professor que utiliza da sucata para pôr em prática seus planos e projetos deve ter antes de tudo disponibilidade e criatividade. Neste sentido este estudo verificou o trabalho feito em uma sala de aula de alfabetização onde as crianças levaram para escola vários objetos recicláveis para a fim de colocarem prática sua criatividade e imaginação.

Sobre isso Valadares argumenta que:

 

Ao trabalhar com sucatas em sala de aula o professor deve estar atento à participação ativa e efetiva dos alunos. As atividades devem ser simples e agradáveis, de modo a despertar o interesse da turma. Todo o trabalho deve ser realizado com antecedência pelo professor, pois somente assim terá condições de orientar os alunos. É muito importante que os alunos tragam de casa seu próprio material para desenvolverem as atividades com sucatas nas aulas de artes. Com isso pode-se criar um banco de sucatas na escola. (VALADARES, 2001, p.06)

 

Neste contexto, o objetivo primordial deste estudo foi verificar como os professores estão trabalhando com os produtos recicláveis na sala de aula.

A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica e de campo onde foi feito observação em uma sala de alfabetização a qual a professora trabalhou com produtos recicláveis na sala de aula.

 

 

Desenvolvimento

 

De acordo com os PCNs (1997), com as tendências estéticas da modernidade a partir do início do século XX, através de pesquisas nas áreas das ciências humanas muitos dados importantes foram trazido para os espaços escolares, foi formulado princípios inovadores para ensino como o de artes, valorizando a produção criadora da criança, o conceito da criatividade. Na evolução da arte como objeto de conhecimento até os dias de hoje a arte e a ciência apresentam uma relação do mundo ocidental, mesmo havendo falácias de que a arte era pura sensibilidade e a ciências produto de pensamentos racionais, mas o que interessa é a integração do conjunto contribuindo para um ensino criador, que complementa sonho e razão, que permite conhecer, maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, mesmo trabalhando duro na criação, esforçar-se e alegrar-se com as descobertas, com o novo.

E na reciclagem múltiplas são as possibilidades no ato de criar, durante as aulas de artes. Com materiais manipuláveis é possível explorar os conhecimentos prévios dos alunos, os movimentos que as crianças mesmo vão estabelecendo com o material, evidenciando momentos de discussão sobre o material que está sendo utilizado, trazendo diversos tipos de conhecimentos sobre o material manipulado e outros que possam vir associados, promovendo a compreensão objetivada, resposta a problematizações que podem ser feitas a respeito dos materiais e da criação planejada, o que pode ser um jogo por exemplo.

Para Kishimoto (1994)

 

... o brinquedo é o suporte da brincadeira, e não tem como não vincula-lo ao ato da brincadeira e ao sonho, a imaginação e a simbologia. O ato de brincar permite a capacidade de construir coletivamente e individualmente, criando uma ligação entre o sonho, à imaginação e o jogo, e é nesta base que se faz o planejamento de uma proposta educacional, baseada nas linguagens artísticas e no ato de brincar das crianças. (KISHIMOTO,1994, p.21)

 

Dessa forma o ato de brincar se torna mais humano, reconhece o significado de uma representação cultural das crianças, mostrando que mesmo que as crianças brinquem com o mesmo tipo de brinquedo, suas representações significativas podem ser diferentes entre elas, o grande influenciador para essas diferenças fica por conta da cultura da criança e dos tipos de brinquedos inseridos nas representações.

Atualmente a Lei de Diretrizes e Bases apresenta o brinquedo na educação como o:

 

Objeto suporte da brincadeira pode ser industrializado, artesanal ou fabricado pela professora junto com a criança e sua família. Para brincar em uma instituição infantil não basta disponibilizar brincadeiras e brinquedos, é preciso planejamento do espaço físico e de ações intencionais que favoreçam um brincar de qualidade. (BRASIL, 2012, p.7).

 

Quando assim o brinquedo for disponibilizado nas escolas, pode-se considerar que em uma aula nesse formato, bem planejada é possível que os espaços ganhem vida e mais movimento na sala de aula, sendo previsto que os alunos poderão transitar-se nos diversos níveis de pensamentos, possibilitando no decorrer do envolvimento conhecer as potencialidades pedagógicas de cada um.

O professor em seu trabalho diário poderá proporcionar e incitar, fazer nascer nos alunos essa visão da arte a partir de um plano já existente e passível de transformações, como o reaproveitamento de materiais.

 

A criação de uma sucatoteca que nada mais é que aquele acervo de ex-lixo, reciclado e transformado em matéria-prima para que a criatividade fique solta e novos brinquedos possam ser inventados. Quem trabalha com arte faz outras leituras de determinados objetos. Numa primeira olhada, você tem uma leitura muito simplificada. Os caras atulharam tudo lá dentro, sem se impressionar. Mas num outro enfoque, o objeto pode ganhar uma função muito maior do que a sua função específica. Uma vez deslocado, ganha outro significado. (LIUZZI, 1992, p.37)

 

Sabe-se que ninguém pode criar algo a partir de nada, sem que se proporcionem condições para tal. Tendo em vista a variedade de matérias primas com as quais se pode recriar aproveitar e reinventar uma nova visão de um mesmo objeto. Os alunos podem através de uma leitura de seu cotidiano, aplicar suas criações nas mais diferentes oportunidades de reafirmação de sua identidade de cidadão que percebe que pensa e seleciona, decide e produz e faz a diferença do diferente.

Através das observações feitas, foi possível perceber que na busca por aulas mais enriquecedoras e prazerosas, a professora planejou atividades com materiais manipuláveis, as quais possibilitaram a participação de todos os alunos. Depois de algumas aulas e de muitos diálogos sobre a temática do excesso de lixo que o ser humano produz e com a intencionalidade de envolver os alunos a possíveis práticas de reutilização dos materiais manipuláveis foram trabalhados os temas que envolvem a importância de reutilizar, reaproveitar e reciclar, foi dado início a parte prática de um projeto de reciclar.

A professora começou requisitando aos seus alunos que começassem a observar em casa os recipientes de produtos de limpeza e outros recipientes que fossem costumeiramente jogados no lixo pela mãe, e solicitou para que eles trouxessem esse material para a escola, assim em pouco tempo armazenaram recipientes suficientes para começarem os inventos.

A partir desse projeto dos recipientes de detergentes foram feitos aviões coloridos com partes das asas feitas de papelão, das garrafas pet foram feitos submarinos, das caixas de sabão em pó surgiram trenzinhos coloridos, as crianças demostraram ser eficientes, auxiliando a professora em todas as etapas.

Os aviões foram feitos a partir da garrafa plástica de produtos de limpeza com a ajuda de fitas coloridas e pedaços de papelão os aviõezinhos foram considerados lindos em virtude do colorido. O mesmo aconteceu com o trenzinho tendo a caixa de sabão em pó como base um pedaço de papelão. As caixas foram encapadas com E.V.A. colorido e enfeitadas com retalhos e sobras dos mesmos e também com papéis, os eixos foram feitos com palitos e as rodas com E.V.A. mais grosso.

Percebe-se que isso se tornou significativo para a criança à medida que elas foram se desenvolvendo a livre manipulação de matérias variadas. É nesse sentido que Piaget (1975) diz que a criança passa a reconstruir objetos, reinventar coisas, o que já exige uma adaptação mais completa, numa síntese progressiva da assimilação com a acomodação.

Foi percebido um real interesse dos alunos pelo projeto desde o início na parte da coleta dos materiais, onde houve um total envolvimento dos pais na busca pelos materiais e pela lavagem deles, inclusive alguns pais ajudaram a prepará-los para a construção.

Aproveitando o formato dos frascos e a preferência dos alunos por brinquedos diferentes dos que costumam brincar, o projeto iniciou pela construção dos aviões. Com o molde os alunos confeccionaram as asas maiores e menores, após pintarem com tinta guache nas cores primárias, as asas foram coladas com cola quente e em seguida os aviões foram enfeitados com fitas coloridas, as rodas de tampa de garrafa pet e eixo de palito de churrasco.

O trenzinho foi o segundo brinquedo a ser feito com caixas de leite encapadas com papel. Depois de pintados os vagões uma base de papelão as rodas foram construídas com as tampas de caixas de leite.

Nesse trem foi importante a colagem dos números de 1 (um) a 5 (cinco) e objetos representativos da quantidade nos vagões no lado esquerdo do trem, mas quando direcionado para a direita os vagões mostram as vogais. Cada vagão possui um canudo de papelão retirado de rolos de guardanapo. Dentro de cada canudo foram colocados palitos de churrasco com figuras que representam as vogais, como: estrela (vogal e), índio (vogal i), avião (vogal a), olho (vogal o) e uva (vogal u).

Também nos vagões do trem quando este for usado para associação dos números o aluno coloca dentro do canudo a quantidade escrita no vagão, de palitos representativos.

Nessas criações a professora e as crianças com uma tampa de compensado encapada com papel e em seguida pintada na cor cinza, construíram uma maquete com pista para carrinhos feitos com caixas de fósforos e para as construções das casas, os alunos pintaram caixas de embalagens, desenhando nelas portas e janelas, complementando a maquete.

Com o auxílio dessa maquete as aulas foram fluentes sobre o trânsito e ficaram muito mais divertidas Assim além de atrair o interesse das crianças pelo lúdico, sem perceber eles acabaram socializando os números e as vogais associando os mesmos as quantidades distribuídas pelas vogais e pelos palitos com as representações.

 

 

Conclusão

 

Com base no exposto, foi possível perceber que o trabalho com os recicláveis é uma ferramenta importantíssima para auxiliar no processo ensino-aprendizagem. Ajudam as crianças colocarem em prática o que está na sua imaginação. Além disso, ajuda a valorizar o sentimento da criança, a sensibilidade, e promover o envolvimento da criança na brincadeira, bem como de todo o grupo, pois assim poderão apresentar seus conhecimentos prévios acerca da brincadeira e mostrar a importância da criança no espaço escolar, sendo esse o momento ápice de fortalecer os conceitos sobre a importância da reciclagem para o mundo e suas contribuições.

Nessa proposta de ensino, as situações de aprendizagem naturais permitem o resgate da memória individual, da exploração de características, costumes e tradições. Na linguagem o diálogo, o comunicar-se, a troca de ideias, no senso organizacional a coordenação de diferentes pontos de vista e os sensos comuns, o reagirem diante do inusitado, o faz de conta, a valorização da criação, o cuidado, a mostra da sensibilidade ao ato de cuidar o brinquedo.

À professora coube no decorrer das brincadeiras fazer intervenções e formular questionamentos, diante dos comentários para explorar as habilidades e estimar as capacidades, fez levantamento de hipóteses e assim nessas brincadeiras com brinquedos construídos a partir de materiais reciclados, ficou perceptível a alegria diante de seus inventos, tornando a escola mais atrativa, mais alegre situação verbalizada pelas crianças a partir de suas próprias experiências. Assim as crianças começam a aprender reciclagem na escola e sua importância na preservação ambiental.

O estudo conseguiu responder as perguntas de investigação inicial, mostrando que os recicláveis auxiliam, sim, no processo ensino- aprendizagem do aluno e amplia o seu processo criativo. Mostrou também que ao utilizar os produtos recicláveis, os alunos refletem sobre a importância da preservação do meio ambiente uma vez que se consegue envolver as famílias no ato de reciclar. Inicia-se um novo processo de exemplos com as pessoas que as crianças mais confiam, integrantes de suas famílias facilitando a compreensão do ato e criando concepções acerca da ideia de reutilizar embalagens e o mais importante, de maneira divertida, e visível, aprendendo sobre as produções dos brinquedos, de onde surgem, suas subjetividades e o prazer de brincar demonstrado durante as brincadeiras pelas crianças com os brinquedos de suas próprias criações.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 130p.

 

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brincadeira e interações nas diretrizes curriculares para a educação infantil: manual de orientação pedagógica: módulo 1/ Brasília: MEC, SEB, 2012, 64 p.)

 

KISHIMOTO, Tizuco Morchida T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994, p. 21.

 

LIUZZI Sergio Liuzzi. A Sucata. 1992, p.134

 

PIAGET, Jean. O desenvolvimento cognitivo da criança. RJ; Zahar: 1975

 

VALADARES, Solange. Artes no cotidiano escolar. MG : Editora Fapi, outubro 2001.

1 Graduada em pedagogia, especialização em psicopedagogia clínica e institucional E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..