Buscar artigo ou registro:

 

 

LUDICIDADE E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM ESTUDO PROPOSITIVO PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ana Paula Silva Santos

Ângela Maria Tramarin

Gevanir Bambil da Silva Lopes

Ivone Henrique Soares

Vanessa Aparecida Menossi Petini

 

 

RESUMO:

O artigo demonstra a relevância da ludicidade na contação de história para o processo de ensino-aprendizagem, uma atividade pedagógica que proporciona na criança o prazer de aprender ouvindo histórias na perspectiva da construção do conhecimento. As atividades de contação de histórias, jogos e brincadeiras, constituem práticas que promovem o desenvolvimento motor e intelectual da criança. Na escola podem ser exploradas todo seu potencial, pois as crianças misturam sua vida cotidiana aos jogos e as brincadeiras, buscando o prazer em realizá-las, contribuindo com o seu desempenho no aprendizado. Embasado em teóricos da Educação, Artigos e pesquisas bibliográficas esse trabalho constatou que a prática pedagógica com a utilização das atividades lúdicas contribui para o desenvolvimento da criatividade, da imaginação, do faz-de-conta, da interação, levando a criança a construir conhecimentos, habilidades e competências que servirão para consolidar os objetivos de aprendizagem, conforme prevê a Base Nacional Comum Curricular-BNCC.

 

Palavras-chaves: Ludicidade. Crianças. Contação de Histórias. Aprendizagem.

 

 

ABSTRACT:

In this article the theme Ludicidade em Educação Infantil will be presented, which will address the relevance of this theme for children's education and for the teaching-learning process, providing the pleasure of learning, and overcoming learning difficulties. The activities constituted by games and games, are of paramount importance for the integral development of the student. In schools, they can be exploited to their full potential, because the child mixes in their daily life the play with activities seeking the pleasure in accomplishing them and having an effective performance. Based on educational theorists, this article found that pedagogical practice with the use of play activities enables the development of creativity, leading them to build knowledge, and will be supported by well-established and authoritative authors.

 

Keywords: Playful. Child. Stories. Education. Discoveries.

 

 

1. Introdução

 

A ludicidade na educação infantil com ênfase na contação de histórias é um tema relevante, pois podemos observar que está ligado essencialmente ao imaginário da criança. A importância se dá devido sua relação existente entre o lúdico e a construção do conhecimento com influência direta na organização do trabalho pedagógico. A palavra lúdica em latim, significa ludus, ou seja, o ato de brincar e divertir.

A propositura da ludicidade deve levar as crianças ao mundo da imaginação, explorando o maravilhoso universo das histórias, dos contos, da literatura infantil de forma geral. Assim, a ludicidade também deve ser uma proposta metodológica a ser trabalhada para favorecer a oralidade e a expressão corporal, onde os princípios éticos, estéticos e políticos devem estar entrelaçados à prática lúdica a ser explorados nessa etapa da educação escolar. Nesse aspecto, a Base Nacional Comum Curricular-BNCC traz nos campos de conhecimentos o brincar como abordagem vivencial a ser trabalhada de forma intencional e organizada pelo professor.

O objetivo central da proposta pedagógica é colocar as crianças no centro da aprendizagem e a ludicidade na contação de história pelo professor, faz com que esse objetivo se materialize. Nesse processo de dramatização a criança (re)vive a história, projetando-se para dentro dela, a criança ainda faz o contar e o (re)contar das histórias e atividades relacionadas. A contação de história mostra seus resultados na redução da insegurança da criança, pois coloca-o para refletir sobre o desconhecido e os ajuda a compreender o mundo à sua volta.

O propósito das atividades é fazer com que durante as brincadeiras e interações, as crianças adquiram a iniciativa e autoconfiança. É muito importante aprender com alegria, com entusiasmo, pois enquanto se divertem, as crianças se conhecem e aprendem a descobrir o mundo. A conduta lúdica é a principal forma da criança se comunicar na primeira infância, e os professores precisam ficar atentos a isto, para que possam mapear a zona de interesse dos aprendizes e compreendê-los.

Diante das grandes mudanças e transformações em que estamos vivendo, impulsionadas pela expansão global e tecnológica, tem se reduzido significativamente o tempo de brincar das crianças, seja em casa e na escola. O ato de brincar está cada vez mais escasso e para muitos é um tempo inacessível pelas circunstâncias da dinâmica social, ou seja, pela correria do dia a dia. Muitas escolas estão abolindo o brincar e a ludicidade em favor de mais tempo para os conteúdos programáticos, introduzindo Livros Didáticos e Apostilados na educação infantil. Ao afastar as brincadeiras e a ludicidade do fazer pedagógico na educação infantil, anulando o brincar da criança, torna-se o momento do aprender um ato mecânico, sem significado.

A criança ao brincar exerce um papel fundamental no seu desenvolvimento infantil, como afirma o autor Marcelino (1990). Ao empurrar uma caixa acaba por descobrir a força de seu corpo sobre o objeto, assim, aprende noção de causa e efeito. Nas palavras do autor, quando a criança brinca, mesmo sozinha, ordena o pensamento, estimula a criatividade e aperfeiçoa a capacidade de resolver problemas. Enfim, o lúdico deve ser o meio utilizado nas instituições educacionais para atender os princípios éticos, estéticos e políticos da aprendizagem. Nas palavras do psicólogo suíço Jean Piaget as crianças precisam pensar por si mesmas e a não aceitarem as primeiras ideias que lhes são apresentadas como únicas verdades, é preciso estabelecer diálogos para que as crianças expressem suas impressões e sentimentos.

 

 

2. Desenvolvimento

 

2.1 A criança e suas descobertas: uma viagem pelo imaginário infantil

A chamada primeira infância, fase do 0 aos 6 anos é a fase que as crianças passam a perceber o mundo e despertam uma curiosidade nata e investigativa, sempre questionando e querendo saber o porquê das coisas. Com isso, a criança constrói sua própria identidade, baseado na exploração do meio em que vive, na construção dos relacionamentos interpessoais, na obtenção do conhecimento e valores a ela ensinados. A ludicidade das brincadeiras, nos jogos e na contação de histórias são formas produtivas de conhecimento, pois proporciona relações e interações com outros.

De acordo com Vygotsky (2009) grande pensador da infância podemos compreender que:

 

Já na primeira infância, identificamos nas crianças processos de criação que se expressam melhor em suas brincadeiras. A criança que monta e se imagina cavalgando um cavalo; a menina que brinca de boneca imagina-se mãe [...], no entanto, esses elementos da experiência anterior nunca se reproduzem, na brincadeira, exatamente como ocorrem na realidade. A brincadeira da criança não é uma simples recordação do que vivenciou, mas uma reelaboração criativa de impressões vivenciadas. (ygotsky 2009, p. 16-17).

 

Nesse sentido, o imaginário é parte inseparável da existência humana em todos os momentos. Está presente em todas as nossas atividades e é por isso que se diz que o homem é um ser simbólico, como um descobridor de um universo desconhecido, a criança é introduzida de maneira intensa e sem cerimônias à sociedade. Aos poucos, ela vai percebendo o mundo a sua volta e tentando compreendê-lo.

 

O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser. [...] não haveria existência humana sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a transitividade de nossa consciência. (Freire, 2018).

 

A criança conhece seu mundo classificando e ordenando os objetos que fazem parte dele, efetuando a leitura da realidade e colocando os objetos dentro de um contexto. É a partir da leitura dos objetos no dia a dia que ela descreverá a realidade. A relação entre criança e as situações vivenciadas estabelecerá experiências que lhe ajudarão a se reconhecer enquanto ser social, capaz de transformar a natureza para satisfazer suas necessidades. Ela se vislumbrará com a possibilidade de ser agente ativo na busca de novas transformações.

Os primeiros anos de vida são de fundamental importância para a formação do ser humano e partindo da concepção de que a criança é um indivíduo em sua totalidade, aumenta-se a preocupação com a educação. Uma educação para a cidadania através da qual todos possam reconstruir o conhecimento já elaborado historicamente e a partir dele construir novos conhecimentos. Os modos de construção do conhecimento na primeira infância e as possíveis relações entre a teoria proposta por Piaget e outros teóricos que abordam o desenvolvimento infantil e a prática cotidiana da Educação Infantil, apontam para o brincar como a principal ferramenta de construção de conhecimento e expressão na primeira infância.

É preciso, pois, fazer do aluno um ser participativo, elevando-o à condição de agente de mudança nesse mundo ainda conservador, elitista e desigual no qual ele habita. A consciência construída e conquistada fará de qualquer aprendiz um ser capaz de desenvolver todas as suas múltiplas habilidades. O teórico Immanuel Kant, diz que “o homem é a única criatura que precisa ser educada e a educação à arte de formar homens, isto é, desenvolver neles simultaneamente as faculdades físicas, intelectuais e morais”. A afirmativa corrobora para com o estudo apresentado.

 

2.2 A escola como lócus de formação: o papel do professor e a ação pedagógica

A escola de educação infantil é lócus primordial para a formação de um indivíduo que está descobrindo o mundo a partir do seu imaginário. A escola diz respeito não somente a um ambiente de produção e de mediação do conhecimento, mas local de cultivar valores e princípios por meio das interações que interligam a aprendizagem aos gestos de amor, fraternidade, dignidade, solidariedade, responsabilidade, ética e outros valores fundamentais para a convivência harmoniosa do ser humano na sua individualidade e coletividade para a vida em sociedade.

O objetivo da escola é a formação integral, levando em conta os aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social da criança. A educação infantil é a etapa ideal para trabalhar com a construção da autonomia, criticidade, criatividade, princípios e valores éticos, em um exercício permanente de cidadania. É nesta etapa da educação básica em que a criança passa pela fase que ela começa a desenvolver suas capacidades físicas, cognitivas, afetivas, estéticas, éticas, de relacionamento interpessoal e de inserção social.

A escola, contudo, enfrenta problemas para desempenhar sua função em igual teor para todos os alunos, alguns apresentam várias dificuldades de aprendizagem em conteúdo específicos, conceitos e habilidades. A partir dessa realidade faz-se um diagnóstico com o objetivo de acompanhar e propor estratégias de intervenção pedagógica para ajudar as crianças. A ludicidade na Contação de história, nos jogos e nas brincadeiras constituem-se aliados insubstituíveis, uma vez que além de ligar o divertimento à sala de aula desfaz o caráter mecânico e sisudo, passando a fazer algo divertido e prazeroso. A criança envolvida no processo ensino-aprendizagem consegue entender, acomodar e se apropriar do saber sem coerções e punições, aprendendo conceitos de forma livre, espontânea e interativa.

A escola é um espaço de proteção e construção do conhecimento para as crianças, local de estabelecer relações e de exercitar os princípios da tolerância, de desenvolver independência emocional da criança para saber lidar com as frustrações. A escola é um lócus privilegiado para desenvolver as habilidades das diferentes formas de linguagem: escrita, oral, corporal, musical, matemática e científica que requer comportamento, organização e rotina.

Para que ocorra essa aprendizagem de forma lúdica é importante que o pedagogo reveja sempre suas práticas, analisando e refletindo sobre ela para não repetir atividades defasadas e modelos tradicionais, inertes e estéreis. É preciso romper velhos paradigmas e se adequar ao modelo de escola pensante, inovadora, reflexiva e dinâmica com práxis pedagógicas construtivas, colaborativas e cooperativas sem perder seu papel formador, atendendo os princípios da formação humana e das diretrizes curriculares vigentes.

O papel do professor é fundamental dentro da escola. A escola tem função social e precisa refletir em toda a sociedade, pois professor e escola constituem referencias na vida da criança e da comunidade. O professor deve ser um agente social e ativo na formação dos cidadãos. As crianças necessitam de referências e bons exemplos a serem seguidos para que sejam humanos e mais equânimes diante das pessoas e do mundo.

A família como primeira base social, tem responsabilidades com a formação social, ética, estética e política de seus filhos, devendo ser exemplo nos primeiros anos de vida deles, seguidos dos professores, amigos, entre outros do seu ciclo de interação dentro e fora da escola. Nesse processo, o educador coloca-se como mediador, facilitador ou catalisador do processo de formação e, ao mesmo tempo, como alguém que se constrói em constante, movimento, transformando-se e evoluindo. Cury, (2003) afirma:

 

Professores fascinantes são profissionais revolucionários. Ninguém sabe avaliar seu poder, nem eles mesmos. Eles mudam paradigmas, transformam o destino de um povo e um sistema social sem armas, tão somente por prepararem seus alunos para a vida através do espetáculo das suas ideias. Os mestres fascinantes podem ser desprezados e ameaçados, mais sua força é imbatível. São incendiários que inflamam a sociedade como calor da sua inteligência, compaixão e singeleza. São fascinantes porque são livres, são livres porque pensam, porque amam solenemente a vida. Por isso, não são manipulados, controlados, chantageados. Num mundo de incertezas, eles sabem o que querem. (Cury, 2003, p. 13).


O professor precisa ver cada aluno na sua totalidade, respeitando sua capacidade e potencialidade e, desta forma, trabalhar para que a criança seja um(a) cidadão(ã) autocrítico(a) e crítico(a), que avalia, sugere e transforma. Propiciar uma educação cada vez mais humanitária é promover uma sociedade justa, corroborando assim, para a paz social. O dever da escola não pode ser meramente cuidar, mas garantir o cuidar e o educar, concebidos e realizados de forma indissociável e qualitativo, garantindo a criança alegria, motivação, encantamento e prazer em estudar, em aprender.

O papel do educador é fundamental para que aconteça as atividades lúdicas em sala de aula. Sua posição deve ser antes de tudo, de investigador do modo de pensar e agir da criança para ajudá-la a compreender as temáticas escolares (conteúdos) e a superar dificuldades. Na prática educacional é possível perceber que as crianças aprendem cada vez mais através de formas lúdicas nas leituras, nas brincadeiras, nas atividades concretas, nos jogos, e nos exercícios de faz de conta. De uma brincadeira podem sair os objetivos didático-pedagógicos, que favorecerão o desenvolvimento geral do educando (SANTOS, 2000).

 

2.3 A ludicidade como proposta de ensino

O trabalho pedagógico na educação infantil deve ser orientado para proporcionar o desenvolvimento da autonomia, bem como gerar conceitos de cooperação e ajuda mútua. Esta construção não se esgota na infância, mas necessita ser iniciada na educação infantil, por meio de atividades lúdicas e se estender ao longo do processo ensino-aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental.

Preocupados com a tarefa de cuidar e educar e refletindo sobre essas questões é preciso fornecer condições e mediações para que o aluno se torne um ser participativo não se restringindo à oralidade. Santos (2000), vem corroborar com essas ideias trazendo essa proposta eficaz para que isso se desenvolva, visando propiciar uma prática diária, capaz de formar alunos sensíveis, criativos, intuitivos, críticos, éticos, prontos a buscarem soluções para sua realidade, conhecedores de seus direitos e deveres, com espírito investigativo e colaborador.

A ludicidade na atividade de jogar é uma prática própria do ser humano e não acontece somente na infância, mas inicialmente nela, prolongando-se na fase adulta. O período do jogo simbólico inicia aproximadamente aos 2 anos, perdurando até 6 anos. Nossa função, como educadores, é oferecer situações para que a criança vivencie o maior número de possibilidades de expressão para estimular a sua criatividade, representação, facilitando a compreensão de mundo e a construção da imagem mental. Isso a ajudará na abstração do conhecimento, posteriormente.

A criança ao brincar, jogar no universo do faz de conta, reproduz momentos que possibilitam realizar seus sonhos e fantasias. Esse momento de descontração também possibilita a criança reviver os conflitos e angustias do dia a dia para melhor compreendê-los. A utilização de jogos educativos no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino aprendizagem, quando:

 

Motiva a criança pela necessidade natural de jogar que esta possui na infância. Leva a criança à realização de um esforço espontâneo e voluntário para atingir o objetivo do jogo. O jogo mobiliza esquemas mentais estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço. Integra várias dimensões de personalidade: efetiva, social, motora e cognitiva. Favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força, concentração etc. Contribui para a formação de atitudes sociais, respeito mútuo, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, senso de justiça, iniciativa pessoal e grupal. Forma vínculos que unem a vontade e o prazer durante a realização de uma atividade. Cria ambientes gratificantes e atraentes, servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da criança. (MONTAGNINI CAVA ANDRADE, 2009, p. 124 e 125).

 

A ludicidade na educação possibilita situações de aprendizagem que contribuem para o desenvolvimento integral da criança, mas deve haver uma dosagem entre a utilização do lúdico instrumental, isto é, a brincadeira com a finalidade de atingir objetivos escolares, e também a forma de brincar espontaneamente, envolvendo o prazer e o entretenimento, neste último, o lúdico essencial.

O professor deve elucidar as possibilidades da ludicidade na prática pedagógica converte-se indispensável. O brincar/jogar quando descoberto, redescoberto na prática pedagógica torna-se um espaço privilegiado de intervenção e confronto de diferentes ideias, realidades e culturas. Nesse sentido, o espaço da brincadeira na instituição escolar seria a garantia de uma educação criadora e consciente.

A Base Nacional Comum Curricular, trouxe os seis direitos de aprendizagem, e entre eles está um dos direitos fundamentais da infância, o direito de:

 

Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. (BNCC, 2017).

 

As brincadeiras lúdicas contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento infantil influenciando nos campos cognitivos, emocionais e psicomotores. O jogo, por exemplo, contribui até mesmo no aspecto físico da criança favorecendo inclusive a habilidade de comunicação e do desenvolvimento mental. O jogo desempenha um papel predominante na infância. Nesse sentido, o veículo do jogo com o desenvolvimento é, para Vygotsky (1984), um fator fundamental uma vez que, no curso do jogo, a ação subordinada ao significado e, por tanto, tudo que interessa à criança e a realidade do jogo, já que na vida real, a ação domina o significado.

 

A brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual do desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz. (Vygotsky,1984 p.35).

 

A ação educativa numa abordagem lúdica pode trabalhar a busca do êxito em múltiplas tentativas, a persistência e a segurança de que o erro faz parte do processo de aprendizagem e nesse processo o erro deve ser estímulo para o acerto da criança, adquirindo assim maior segurança em fazer. Nessa perspectiva é fundamental que o professor crie situações de aprendizagem significativas, pois estas farão com que o educando associe o aprendizado ao prazer.

 

2.4. A ludicidade na contação de história: da diversão à aprendizagem

Atividade lúdica é toda e qualquer animação que tem como intenção causar prazer e entretenimento em quem a prática. São lúdicas as atividades que propiciam a experiência completa do momento, associando o ato, o pensamento e o sentimento. A atividade lúdica pode ser uma brincadeira, um jogo ou qualquer outra atividade que vise proporcionar interação. Porém, mais importante do que o tipo de atividade lúdica é a forma como ela é dirigida e vivenciada, e o porquê de sua realização.

Segundo Maluf (2012), toda criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natural e agradável, gerando um forte interesse em aprender e garantindo o prazer. Podemos verificar através das atividades lúdicas o que a criança faz e como organiza este fazer. Toda atividade lúdica pode ser aplicada em diversas faixas etárias, mas pode sofrer intervenções em sua metodologia de aplicação, na organização e nas suas estratégias, de acordo com as necessidades peculiares das faixas etárias.

O fazer pedagógico com as atividades lúdicas proporciona vários benefícios, e entre eles estão: Assimilação de valores; Aquisição de comportamentos; Desenvolvimento de diversas áreas de conhecimento; Aprimoramento de habilidades; Socialização que materializam com as ações ao desenhar, brincar, jogar, dançar, construir e interagir coletivamente, ao ler, ao participar de jogos de faz de conta, ao manipular ferramentas tecnológicas para a aprendizagem, como usar softwares educativos, play tables, e ao dramatizar, cantar, ao fazer atividades teatrais, seja com adereços e recursos pedagógicos, como de fantoches ou não.

A criança pequena pensa e reproduz fatos que a cercam, para os quais conduz sua atenção bastante curiosa. A educação infantil é um espaço original, onde crianças pequenas podem desenvolver como indivíduos ativos e criadores. Sua função é promover aprendizagem significativa, por meio de atividades lúdicas, que são formas de representação através das quais se revela o mundo interior da criança.

De acordo com alguns autores podemos compreender que para o desenvolvimento dos conhecimentos pedagógicos, é de fundamental importância que os professores utilizem diferentes fontes de pesquisa, livros, gravuras, histórias, músicas, brincadeiras, jogos, revistas, filmes, etc. Estes materiais deverão fazer parte da vida escolar, como também não se podem desconsiderar as inúmeras possibilidades que o contexto exterior oferece.

Podemos observar que os contos clássicos da literatura Infantil são leituras que proporcionam momentos de imaginação e diversão se tornando muito prazerosas e devem estar presentes nas atividades escolares, pois além de contribuir para a preservação da memória cultural, são excelentes estratégias para serem usadas na facilitação da aprendizagem, pois o professor deve ter como objetivo oferecer aos seus alunos uma educação que os preparem para a vida, precisa fazer com que sua sala de aula seja um espaço promotor de significativos conhecimentos.

Quanto mais cedo a criança tem contato com os livros e descobre o prazer que a leitura proporciona, mais probabilidade ela terá de ser um adulto leitor, nem sempre as narrativas dizem tudo, por isso é necessário ser interpretadas pelo leitor, podemos observar que cada criança interpreta de acordo com os conhecimentos antes adquiridos, cabe ao professor ser o mediador do entendimento e aproveitamento da história lida, da mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítica e reflexiva, extremamente relevante para sua formação cognitiva.

A sala de aula para a criança deve ser um ambiente acolhedor e prazeroso e por essa razão o professor com o objetivo de fazer com que as crianças explorem sua imaginação, sua oralidade e aspectos sinestésicos no aprender deve escolher dentre uma das formas de gêneros textuais aquelas que em especial oportunizarão formas diferentes de agrupamento do narrar, sendo essa, totalmente proveniente da oralidade e do imaginário humano.

Ao explorar o imaginário de uma criança podemos provocar nela várias reações, surpresa, medo, atenção, apreensão, ansiedade para saber o que acontecerá muitos desse sentimento podem ser notados não somente através da linguagem verbal, mas poderemos observá-las através, das expressões faciais e corporais das crianças.

O professor pesquisador, deve explorar toda a energia dispensada e encantamento da criança na hora da contação de histórias, nas brincadeiras e jogos e propor atividades que se aproveite toda a movimentação do seu corpo, e, se durante esse momento o contador da história entra juntamente com eles na aventura da narração, só para reforçar é olhando o professor e os outros que estão à sua volta é que o aluno aprenderá a se comunicar melhor.

A escola deve propor ambientes de leitura, cantos temáticos em todos os seus espaços e possuir um acervo de gêneros textuais diversificados para subsidiar o professor no momento de planejar a melhor história e contexto narrativo mais propício a cada faixa etária na hora de propor atividades na sala de aula e fora dela para as crianças e ou as turmas.

 

 

3. Conclusão

 

O presente artigo traz confirmações fundamentadas nas leituras e nas análises teóricas de que a ludicidade na educação infantil com ênfase na contação de histórias deve ser o objetivo central da proposta pedagógica na educação infantil, colocando as crianças no centro da aprendizagem. A contação de história mostra seus resultados na redução da insegurança dos alunos, pois os colocam para refletir sobre o desconhecido e os ajudam a compreender o mundo à sua volta. A conduta lúdica é a principal forma da criança se comunicar na primeira infância, e os professores precisam ficar atentos a isto, para que possam mapear a zona de interesse da criança.

O estudo apontou as mudanças e transformações em que estamos vivendo impulsionados pela expansão global e tecnológica, tem reduzido significativamente o tempo de brincar das crianças. O ato de brincar está cada vez mais escasso e para muitos é um tempo inacessível pelas circunstancias da dinâmica social, ou seja, pela correria do dia a dia. Muitas escolas estão abolindo o brincar e a ludicidade em favor de mais tempo para os conteúdos programáticos, introduzindo Livros Didáticos e Apostilados na educação infantil.

Os teóricos da educação afirmam que ao afastar as brincadeiras e a ludicidade do fazer pedagógico na educação infantil na escola, anulando o brincar das crianças, torna o momento do aprender um ato mecânico, privando a criança de ser criança e de aprender brincando e interagindo. O lúdico deve ser o meio utilizado nas instituições educacionais para atender os princípios éticos, estéticos e políticos da aprendizagem. A ludicidade das brincadeiras, nos jogos e na contação de histórias são formas produtivas de conhecimento, pois proporciona relações e interações com outros.

Para Piaget e outros teóricos que abordam o desenvolvimento infantil e a prática cotidiana da Educação Infantil, apontam para o brincar como a principal ferramenta de construção de conhecimento e expressão na primeira infância. Por isso, a necessidade da criação de instrumentos eficazes e uma proposta pedagógica condizente para a educação infantil, pois assim, se gerará a tranquilidade necessária ao aprendizado.

O artigo reitera que é preciso que a escola seja um lugar de criação e de mudanças das coisas, e para isso, o professor deve ter a convicção e a criatividade para produzir experiências exitosas de aprendizagens. A escola de educação infantil é o lócus primordial para a formação de um indivíduo, local de cultivar valores e princípios por meio das interações que interligam a aprendizagem aos gestos de amor, fraternidade, dignidade, solidariedade, responsabilidade, ética e outros valores fundamentais.

A função da escola não é somente instrumental é também um local de formação humana, capaz de produzir o conhecimento numa perspectiva construtivista, se utilizando de atividades lúdicas na contação de histórias, bem como nas brincadeiras, jogos, faz de conta. O objetivo da escola é a formação integral, levando em conta os aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social da criança. É nesta etapa da educação básica em que a criança passa pela fase que ela começa a desenvolver suas capacidades físicas, cognitivas, afetivas, estéticas, éticas, de relacionamento interpessoal e de inserção social.

A escola é um espaço de proteção e construção do conhecimento para as crianças, local de estabelecer relações e de exercitar os princípios da tolerância, de desenvolver independência emocional da criança para saber lidar com as frustrações. Para que ocorra essa aprendizagem de forma lúdica é importante que o pedagogo rompa com velhos paradigmas e se adéque as novas metodologias ativas, a um modelo de escola pensante, inovadora, reflexiva e dinâmica com uma práxis pedagógica construtiva, colaborativa e cooperativa sem perder seu papel formador.

A escola tem função social, pois professor e escola constituem referências na vida da criança e da comunidade. As crianças necessitam de referências e bons exemplos a serem seguidos para que sejam cada vez mais humanos e mais equânimes diante das pessoas e do mundo. O professor precisa ver cada aluno na sua totalidade, respeitando sua capacidade e potencialidade e, desta forma, trabalhar para que a criança seja um(a) cidadão(ã) autocrítico(a), crítico(a) e propositivo.

O dever da escola não pode ser meramente cuidar, mas garantir o cuidar e o educar, concebidos e realizados de forma indissociável e qualitativo, garantindo a criança alegria, motivação, encantamento e prazer em estudar, em aprender. Na prática educacional é possível perceber que as crianças aprendem cada vez mais através de formas lúdicas nas leituras, nas brincadeiras, nas atividades concretas, nos jogos, e nos exercícios de faz de conta. Nessa visão, o brincar e o interagir estão relacionados à comunicação, expressão, associação do pensamento e ação criadora.

O trabalho pedagógico na educação infantil deve ser orientado para proporcionar o desenvolvimento da autonomia, bem como gerar conceitos de cooperação e ajuda mútua. Os educadores, devem oferecer situações diversificadas para que a criança vivencie o maior número de possibilidades de expressão para estimular a sua criatividade, representação, facilitando a compreensão de mundo e a construção da imagem mental. Isso a ajudará na abstração do conhecimento, posteriormente.

Por fim, a atividade lúdica pode ser uma brincadeira, um jogo ou qualquer outra atividade que vise proporcionar interação. Porém, mais importante do que o tipo de atividade lúdica é a forma como ela é dirigida e vivenciada, e o porquê de sua realização. Na educação infantil, por meio das atividades lúdicas, a criança, joga e se diverte, também age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. As atividades lúdicas têm capacidade de desenvolver várias habilidades na criança, proporcionando-lhe divertimento, prazer, convívio profícuo, estímulo intelectivo, desenvolvimento harmonioso, autocontrole e autorrealização. A criança se expressa, assimila e constrói conhecimento a partir de uma dada realidade.

 

 

Referências

 

ARAUJO, Ana Paula.Tipos de textos narrativos. Disponível em. http://www.infoescola.com/tipos-de-textos-narrativos/. Acesso em: janeiro de 2017

 

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1995.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC Versão Final. Brasília, DF, 2017.

 

COSTA, Vice Vedete. O trabalho do pedagogo nos espaços educativos. 1. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

 

CURY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes, professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 57. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2018.

 

Gêneros Narrativos da tradição oral. Disponível em: http://escrevendo.cenpec.org.br/index.php?view=article&catid=23%3Acolecao&id=168%3Ageneros-narrativos-da-tradicaooral&option=com_content&Itemid=33. Acesso em: janeiro de 2011.

 

MALUF, Angela Cristina Munhoz. Atividades Lúdicas para Educação Infantil: conceitos, orientações e práticas. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

 

MARCELLINO, Nelson de Carvalho. Pedagogia da Animação. São Paulo: Papirus, 1990.

 

MONTAGNINI, R. C.; CAVA L. C. C.; ANDRADE, K. G. Ensino das Artes e música. 1. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. O conceito de gênero textual e seu uso em aula. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/conceito-genero-textual-seu-uso-aula-735561.shtml?page=1. Acesso em: dezembro de 2016.

 

PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

 

RAIZER, Cassiana Magalhães. Organização e didática na Educação Infantil. 1. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

 

SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). Brinquedoteca: A criança. O adulto e o Lúdico. Petrópolis: Vozes, 2000.

 

SALES, M. J. F. S.; STASCXAK, F. M.; LIMA, M. S. L. O legado de Paulo Freire: reflexões sobre sua vida e suas principais obras no horizonte da prática docente. Ensino em Perspectivas, Fortaleza: v. 2, n. 2, 2021.

 

STEINLE, M. C. B.; SUZUKI, J. T. F. Educação da criança de 0 a 5 anos. 1. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.

 

VYGOTSKY, Lev Semionovitch. A Formação Social da Mente. O desenvolvimento dos Processos Psicológicos para Educação Superiores. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

 

VYGOTSKY, Lev Semionovitch. Imaginação e criação na infância: ensaio psicológico: livro para professores. 3. ed. São Paulo: Ática, 2009.