O LÚDICO E A ALFABETIZAÇÃO: BRINCANDO E APRENDENDO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Bruna Xavier da Silva
RESUMO
Dentro do processo de ensino-aprendizagem existem diversas maneiras e projetos para ensinar as crianças de forma com que as mesmas tenham bons resultados. Uma das formas de aprendizagem muito utilizada atualmente é a atividade lúdica como facilitadora da aprendizagem, onde num momento de diversão a criança também aprende um conteúdo específico. Isso acontece porque no momento de diversão as crianças se sentem mais à vontade e mais interessadas, pois a brincadeira é considerada a essência da infância. Portanto, esse trabalho fala sobre a ludicidade, como funciona e como aplicá-la dentro da sala de aula, apontando seus resultados e sua importância.
PALAVRAS-CHAVE: Ludicidade. Aprendizagem. Brincadeiras. Diversão.
ABSTRACT
Within the teaching-learning process there are several ways and projects to teach children the way that they have good results. One way of learning is currently widely used to play activity as a facilitator of learning, where the child in a fun time also learns specific content. This is because at the time of fun children feel more at ease and more interested, because the play is considered the essence of childhood. Therefore, this work speaks about playfulness, how it works and how to apply it in the classroom, pointing their results and their significance.
KEYWORDS: Playfulness. Learning. Play. Fun.
- INTRODUÇÃO
Esse artigo científico tem como propósito promover a reflexão sobre o uso da ludicidade para que a alfabetização aconteça na educação infantil de forma que seja significativa para o aluno e traga bons resultados para alunos e professor. Para desenvolvê-lo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em sites, revistas eletrônicas e alguns livros on-line. A partir da pesquisa bibliográfica realizada, esperamos com esse artigo explicitar a importância do lúdico dentro do processo de aprendizagem das crianças.
- A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM
O professor deve reconhecer a importância do lúdico e de uma brinquedoteca, parque e quadra dentro da instituição escolar, para desenvolver diversas atividades com diversão para as crianças. A partir desse conhecimento, vários projetos podem ser elaborados para conseguir alcançar os objetivos de aprendizagem das crianças.
O jogo não é simplesmente um ‘passatempo’ para distrair os alunos, ao contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de extraordinária importância na educação escolar. Estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa individual, favorecendo o advento e o progresso da palavra. Estimula a observar e conhecer as pessoas e as coisas do ambiente em que se vive. Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O jogo é essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. É somente sendo criativo que a criança descobre seu próprio eu. (TEZANI, 2004
Portanto, compreendemos de acordo com Tezani (2004) que, a ludicidade é importante para a saúde mental e física de qualquer pessoa, pois desenvolve habilidades dessas duas partes, e sendo assim, é um espaço que merece mais atenção dos pais e professores, sendo o espaço para as expressões mais originais das pessoas, sendo direito de toda e qualquer criança para sua relação afetiva com outras pessoas e com o mundo. Portanto, vai ser através dessas atividades lúdicas que as pessoas formam conceitos, selecionando ideias e relações lógicas, integrando percepções, e o mais importante, ela vai se socializando.
De acordo com Cerneiro e Dodge (2007, p.91):
Para que a prática da brincadeira se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado e adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho.
Portanto, de acordo com a afirmação de Cerneiro e Dodge (2007), percebemos que não basta somente implantar a ludicidade nas escolas, mais do que isso, é necessário as instituições precisam enxergar a ludicidade e a brincadeira como sendo um aliado para a educação, e mudanças devem ser feitas para que a ludicidade aconteça de forma plena e de maneira a auxiliar o professor.
2.1. Brincadeiras, Brinquedos e Jogos
Que palavras lhe vêm à mente quando ouve falar em jogo ou brincadeira? Diversão, alegria, prazer devem ser algumas delas, não é? Pois é, o lúdico naturalmente induz à motivação e à diversão. Representa liberdade de expressão, renovação e criação do ser humano. As atividades lúdicas possibilitam que as crianças reelaborem criativamente sentimentos e conhecimentos e edifiquem novas possibilidades de interpretação e de representação do real, de acordo com suas necessidades, seus desejos e suas paixões. Estas mesmas atividades permitem, também, às crianças, o encontro com seus pares. No grupo, descobrem que não são os únicos sujeitos da ação, e que para alcançar seus objetivos precisam levar em conta o fato de que os outros também têm objetivos próprios que desejam satisfazer (MEC apud NEVES, 2002)
Portanto, de acordo com Neves (2002), a contribuição do “brincar” é para a criança crescer e se tornar um adulto equilibrado, e eficiente, portanto, deve-se analisar quais opções oferecer para essas crianças se tornarem esse adulto.
Brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras de jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Dessa forma brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo.” (KISHMOTO, 1994, p.6)
Também, segundo Kishmoto (1994), o jogo, é visto dentro de um contexto social como resultado de um processo linguístico, com um sistema de regras e um objeto específico; sendo assim, o sentido do jogo depende de cada contexto social; sendo assim, cada jogo assume uma imagem e um sentido que uma determinada sociedade lhe atribuiu, podendo haver diferentes significações em diferentes sociedades. Pode também, existir regras onde são aplicadas em qualquer lugar, como sendo uma característica específica de cada jogo, ou seja, as estruturas estratégicas e sequenciais das regras de um determinado jogo permitem diferenciá-lo.
Portanto, percebemos que através do jogo a criança libera energia, tem a capacidade de mudar uma realidade difícil para ela, fantasia na imaginação, e ao mesmo tempo sente prazer no que está fazendo.
2.2 Desenvolvimento da fala e do vocabulário: brincadeiras com letras
Quando as crianças começam a falar, acabam rotulando os objetos ao seu redor. Muitas vezes, apontam para algo e olham para os pais, esperando uma resposta. Você ensina palavras para seus filhos ao rotular os objetos no ambiente conforme o interesse deles. (INSTITUTO NEUROSABER, 2020)
Porém, é possível estimular ainda mais o desenvolvimento da linguagem nas crianças por meio de brincadeiras com as palavras, que sejam simples e divertidas para realizar com seu filho.
A aquisição de vocabulário é fundamental para a comunicação, o desenvolvimento da fala, a leitura e a escrita. O conhecimento de uma palavra envolve a compreensão de seu significado e de como ela se relaciona com outras palavras. (INSTITUTO NEUROSABER, 2020)
Embora cada criança desenvolva a linguagem em seu próprio ritmo, os pais podem contribuir nesse processo ao brincar com palavras junto aos seus filhos. A evolução da fala começa com gritos, grunhidos e balbucios nos primeiros meses e avança para as primeiras palavras em torno do primeiro ano de vida. (INSTITUTO NEUROSABER, 2020)
O Instituto Neurosaber (2020) dá algumas dicas de brincadeiras para realizar com as crianças:
Jogo das palavras: A atividade é bem simples: basta observar objetos – pela janela do carro, por exemplo - e nomeá-los. Basta informar à criança que está vendo um edifício azul e ele deve adivinhar qual é.
Piadas: Contar piadas adequadas à idade estimula o bom humor e a criatividade nas crianças. Você pode ler livros de piadas ou até mesmo compartilhar histórias engraçadas, alternando com seu filho quem é responsável por contar.
Rimas: Por volta dos quatro anos de idade, as crianças começam a se conscientizar de conceitos fonêmicos, como a rima, por exemplo. Eles adoram jogos de palavras, aliterações e rimas. Cantar, ler e fazer rimas, além de desenvolver a fala, ajudam a desenvolver habilidades de escuta e memória.
Você pode usar rimas em situações cotidianas, brincando com palavras que rimam para conversar com seu filho sobre as tarefas enquanto as faz, incentivando-o a fazer o mesmo!
Cantar: Cantar não só melhora as habilidades musicais, mas também ajuda as crianças a aprender novas palavras. Canções infantis com rima e ritmo são de fácil compreensão e memorização, consequentemente, é fácil e divertido cantar junto. Além disso, colocar uma música em uma atividade pode ser muito divertido e proveitoso.
Trava-língua: Trava-língua é uma maneira ótima e divertida de ensinar as crianças a pronunciar as palavras corretamente. Esta é uma maneira divertida de praticar a pronúncia das palavras., começando pelo mais simples e aumentando a dificuldade.
- LUDICIDADE, METODOLOGIA E INCLUSÃO EDUCACIONAL E SOCIAL
... a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. (SANTOS, apud SANTOS, 1997, p12).
Assim, percebemos que de acordo com Santos (1997), a presença da ludicidade se faz muito importante na educação infantil quando se refere à inclusão de crianças com problemas educacionais, mentais, físicos e sociais. A ludicidade pode oportunizar ao professor a compreensão do significado e da importância das atividades na educação infantil especial. Deve-se, portanto, provocar situações de inserção do lúdico e do brincar em projetos educativos tendo intencionalidade, objetivos e consciência clara de sua ação em relação ao desenvolvimento da aprendizagem na educação infantil especial, ou seja, se utilizando do lúdico para inclusão de crianças deficientes sendo fundamental para o desenvolvimento pessoal e social dessas crianças.
Nas metodologias atuais destaca-se a utilização da ludicidade como instrumento pedagógico para a inserção dessas crianças na rede regular de ensino de acordo com a Lei LDB n° 9.394 – 1996 (BRASIL, 1996); essa lei assegura a esses alunos implementação de formas, técnicas, currículos específicos e métodos. Porém, em caso de deficiências mais complexas os alunos deverão ser assistidos por instituições apropriadas para um acompanhamento especializado, sendo essas instituições um complemento da escola regular
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Todas as crianças têm direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível adequado de conhecimento. Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhes são próprias. Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades. As pessoas com necessidades educativas especiais devem ter acesso à escola regular que deverão integrá-las numa pedagogia centrada na criança, capaz de atender a essas necessidades. As escolas regulares, com essa orientação integradora, representam os meios mais eficazes de combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade integradora e alcançando educação para todos, além de proporcionar uma educação efetiva à maioria das crianças e melhorar tanto a eficiência como a relação custo-benefício de todo o sistema educativo. (UNESCO, 1994)
De acordo com a UNESCO (1994), em todas as situações pedagógicas, o mais importante que deve acontecer é que para escolas, entidades e comunidades realmente serem inclusivas, devem garantir a todos, principalmente a pessoas com necessidades especiais, acesso à educação e suas oportunidades promovendo sempre uma educação de qualidade.
- TEORIAS DO BRINCAR (POR FROEBEL, PIAGET E VYGOTSKY)
Muitos autores entendem o conceito de jogo sob diferentes abordagens, como por exemplo, a História, Psicologia, Filosofia e Sociologia.
O jogo é entendido e visto como sendo um elemento da cultura, diferenciando e identificando características de diferentes aspectos sociais; a atitude dos participantes pode ser desinteressada, ou voluntária, livre e até mesmo imaginária, ou seja, o mais importante dentro da ludicidade é o divertimento e o prazer do jogador.
Froebel (1782), filósofo do século XIX, foi um dos primeiros autores a salientar a importância do brinquedo e da ludicidade para o desenvolvimento infantil; criou recursos sistematizados para as crianças expressarem seus dons com criatividade. Dentro da sua pedagogia, ele se utilizou de materiais diversos, como por exemplo, papel, argila, serragem e blocos de construção. Além disso, Froebel dava uma extrema importância para atividades que envolvessem movimentos e ritmos, além de valorizar também a utilização de fábulas, mitos e contos de fadas.
Já para Piaget (1896), o jogo ou qualquer outra atividade lúdica são fundamentais no desenvolvimento cognitivo de qualquer ser humano principalmente no momento da infância. Na opinião dele, o jogo começa a acontecer quando um indivíduo deixa de realizar uma atividade somente pelo simples prazer de fazê-la, passando a realizá-la com um sentido, jogando simbolicamente.
Sendo assim, vai ser através do jogo simbólico que a criança passa a compreender o que é real, de forma com que passa a centrar-se a si mesma. Para Piaget, a classificação dos jogos consiste em: jogos simbólicos, jogos de exercício e jogos de regras.
Já Vygotsky (1896) acreditava que o jogo é o elemento de impulsiona o desenvolvimento dos indivíduos; além disso, ele destaca dois elementos importantes dentro das brincadeiras das crianças: as regras e as situações imaginárias. Ele acreditava que logo nos primeiros anos de vida da criança a brincadeira é uma atividade predominante e natural, tendo a função de desenvolver a aproximação entre os indivíduos, ou seja, a interação social das crianças ao brincar com outras pessoas permite a ampliação de conhecimento infantil.
Portanto, compreendendo as teorias de Froebel, Piaget e Vygotsky, percebemos que, desde muitos séculos atrás, começou-se a questionar e dar importância às brincadeiras, antes mesmo do termo ludicidade vir a existir. Isso comprova que, as brincadeiras são importantes para a aprendizagem, comprovadamente, há muitos anos, onde a mesma faz parte da vida da criança, de seu ciclo natural de vida, onde a mesma também faz parte de vida social das crianças, fazendo com que elas aprendam e se socializem ao mesmo tempo em que brincam umas com as outras. Assim, para um bom desenvolvimento cognitivo e social, a brincadeira deve fazer parte da vida da criança, tanto fora, quanto dentro da escola.
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho de conclusão de curso, compreendemos qual a influência da ludicidade e como utilizá-la em sala de aula; compreendemos também a importância de um professor mediador dentro de sala de aula, levando o aluno ao conhecimento de forma facilitada e compreensível, e isso é possível através da utilização da ludicidade de forma significativa para o aluno.
Assim, a partir de todas as informações contidas neste estudo, podemos concluir que é importante utilizar-se de jogos e brincadeiras em sala de aula como forma de atividades para ajudar o aluno a construir conhecimentos de diversas ordens, por meio de atividades que o desafiam e possibilitam a troca de conhecimento e a interação aluno/professor e entre os próprios alunos.
A construção do conhecimento acontece, portanto, a partir da realidade vivenciada durante as atividades lúdicas; porém, ainda nos dias de hoje, alguns professores são contrários às teorias a favor da ludicidade, optando assim pelo método tradicional de ensino; assim, percebemos a importância da preparação de professores que devem visar o futuro, tanto de seu trabalho, quanto da continuidade do ensino-aprendizagem de seu aluno.
Portanto, percebemos que o professor deve oferecer um ambiente oportuno para o crescimento social da criança e seu desenvolvimento, estimulando interações e troca de conhecimento, além de aquisição de novos conhecimentos através de momentos prazerosos de aprendizagem dentro da escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRINCADEIRAS de palavras ajudam a desenvolver a fala e o vocabulário. Instituto Neurosaber, 2020. Disponível em: < https://institutoneurosaber.com.br/brincadeiras-de-palavras-ajudam-a-desenvolver-a-fala-e-o-vocabulario/>. Acesso em: 07 de agosto de 2023.
CARNEIRO, Maria Ângela Barbato e DODGE, Janine J. A descoberta do brincar. São Paulo: Melhoramentos, 2007.
CUNHA, N. Brinquedoteca um Mergulho de Brincar. São Paulo: Maltese, 1994.
KISHIMOTO, T.M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação; p. 6. ed. São Paulo: CORTEZ, 1994.
KISHIMOTO, TM. O Jogo e a Educação Infantil; 1994. São Paulo: Ed. Pioneira, 1994.
MEC, apud. NEVES, Lisandra Olindo Roberto.2002. Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Unid. 4. Brasília, 2012.
SANTOS, M. G. S. Apud SANTOS, Maria da Glória Shaper dos. 1997. Educação especial. V2, 2 ed. Rio de Janeiro. Fundação: CECIERJ, 2005.
TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. O jogo e os processos de aprendizagem e desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. 2004.Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=621>. Acesso no dia 25 de outubro de 2015.