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RESPONSABILIDADE SOCIO AMBIENTAL DA EMPRESA: UM ESTUDO DE CASO DA COOPERB NO ESPAÇO DE MIRASSOL D’ OESTE-MT

 

Joycimar Francisco de Paula[1]

 

 RESUMO

 

Em um ambiente onde a globalização tem gerado mudanças profundas na política, tecnológica e social, é necessário analisar o papel das empresas como motor de crescimento e desenvolvimento econômico. Porém, a discussão sobre a responsabilidade socioambiental não pode estar fora dessa pauta.  Desta forma, a presente pesquisa buscou analisar como a empresa Cooperb se insere na discussão do atual debate sobre responsabilidade socioambiental, verificando os reflexos de suas ações no quadro ambiental onde está inserida. A metodologia (procedimento de coleta de dados) constou de três etapas sucessivas e complementares: levantamento e leituras de obras para fundamentação teórica sobre o assunto, atividade de campo junto à empresa para busca de informações sobre práticas de responsabilidade socioambiental, checagem em trabalhos realizados por pesquisadores versando sobre esse assunto relacionada à Empresa estuda e, por fim, confronto das informações.  Os resultados mostram que a empresa se reinstalou no município de Mirassol D’ Oeste por ocasião do aumento da frota de carros flex nos anos 2000. Apesar de gerar considerável número de empregos no município, suas ações no tocante á responsabilidade ambiental só tem sido positivas do ponto de vista do próprio interesse da empresa, à medida que esta reutiliza o bagaço da cana para gerar energia. Entretanto, esta medida não tem sido capaz de solucionar graves problemas de poluição por agrotóxico à lavouras de pequenos produtores, à água e também por vinhaça, que favorece o aparecimento de insetos e também recursos hídricos do local. 

 

Palavras-chave: Cooperb. Mirassol D’ Oeste. Responsabilidade Sócio ambiental. Danos ambientais. 

 

 

  1. INTRODUCÃO

 

Em um ambiente onde a globalização tem gerado mudanças profundas na política, tecnológica e social, é necessário analisar o papel das empresas como motor de crescimento e desenvolvimento econômico. Na verdade, esse papel vai além da geração de recursos financeiros e atingir um maior engajamento com a sociedade, e promove um progresso econômico e social mais amplo.

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) não é um fenômeno recente, mas adquiriu grande importância nos últimos anos, o Brasil está na fase de exploração, compreensão parcial e adoção de RSE. Como observado por Oliveira e Gouveia (2010), os gestores ainda associam o termo RSE com filantropia corporativa, não integraram estratégias de RSE com o negócio principal da empresa, e estamos comprometidos o suficiente para a sociedade. Embora a visão do empresário do papel que desempenha na sociedade mudou, percebendo a dificuldade de obtenção de uma economia sustentável, retornos econômicos quando a pobreza em um país ou região aumenta, falta de cooperação empresarial entre os diferentes setores da sociedade não favorece o desenvolvimento da RSE (MONTEIRO, OLIVEIRA, RODRIGUES, 2011).

É preciso pensar que as ações de uma empresa afetam diretamente a vida das pessoas, por além de simplesmente gerar emprego e renda, esta influência no ritmo de vida da população e também causa repercussão no quadro ambiental, por que, é a natureza fonte primeira da obtenção da sua matéria prima. Tendo participação no ritmo que uma sociedade se organiza entre si e com o meio natural, dessa forma, pode-se dizer que as empresas influenciam diretamente na organização do espaço onde estão inseridas.

Como morador do município de Mirassol D’ Oeste, mais precisamente dos arredores das áreas de atuação da Cooperativa Agrícola dos Produtores de cana do Rio Branco (COOPERB), foi possível viver experiências próximas sobre os legados passados por essa empresa no espaço daquele município. Desta forma, como graduando em Geografia sentimos a necessidade de verificar com mais detalhes e visão crítica sobre a participação e responsabilidade dessa empresa na organização espacial daquele município e região.

Neste sentido, é a partir do raciocínio de que a empresa participa da organização dos espaços é que esta pesquisa se apresenta para dialogar tecer argumentos de como a Cooperb, localizada em Mirassol D’ Oeste se põem, como empresa, nos parâmetros de responsabilidade socioambiental hoje muito debatido. Dessa forma, objetivo deste trabalho foi de demonstrar como a empresa Cooperb se insere na discussão do atual debate sobre responsabilidade socioambiental, verificando os reflexos de suas ações no quadro ambiental onde está inserida

Após ter demonstrado a pretensão desta pesquisa, fez-se encaminhamentos metodológicos utilizados no decorrer dos trabalhos, no esboço teórico conceitual, abordando os conceitos de: responsabilidade socioambiental empresarial, estratégias de gestão, vantagens de assumir tal responsabilidade e necessidade de monitorar os encaminhamentos através de balanços ambientais.

Em seguida, nos resultados e discussões faz-se uma demonstração do contexto de instalação da empresa no município e ressalta posicionamentos da empresa acerca das suas atividades e trabalhos voltados para a questão ambiental. Ainda nessa discussão, no mesmo capítulo, o trabalho apresenta um diagnóstico onde as ações de responsabilidade socioambiental da empresa são alcançadas, cujas consequências são graves sinais de danos ambientais à população daquele município e arredores.

 

  1. MATERIAL E MÉTODO

2.1. Localização da área de estudo

A área de estudo está localizada na Microrregião do Vale do rio Jauru, no sudoeste de Mato Grosso. “A cidade de Mirassol D’ Oeste-MT se encontra nas Coordenadas Geográfica de 15º40'30" latitude sul e a 58º05'45" de longitude oeste, estando a uma altitude de 215 metros. (FERREIRA, 1997), conforme indica figura n º 01.

Figura 01: Localização do município de Mirassol D’ Oeste-MT no Estado de Mato Grosso.

Fonte: Shlesinger (2014, pág. 21)

 

 

 

 

2.2 A metodologia empregada

 

A metodologia (procedimento de coleta de dados) constou de três etapas sucessivas e complementares: levantamento e leituras de obras para fundamentação teórica sobre o assunto, atividade de campo junto à empresa para busca de informações sobre práticas de responsabilidade socioambiental, checagem em trabalhos realizados por pesquisadores versando sobre esse assunto relacionado à Empresa estuda e, por fim, confronto das informações para tecer o argumento deste texto.

Especificamente o trabalho constou-se das seguintes etapas:

 

  1. Levantamento e leitura de obras

 

O primeiro passo da pesquisa foi o levantamento bibliográfico, onde se buscou informações teórico-metodológicos sobre os conceitos de responsabilidade socioambiental da empresa, verificando seus fundamentos norteadores. Em seguida, procedeu-se minucioso trabalho de análise em estudos realizados por outros pesquisadores que procederam pesquisas sobre questões ambientais na região, como Soares (2009), que avaliou situações de nascentes em Mirassol D’ Oeste e São José dos Quatro Marcos no Sudoeste de Mato Grosso e também trabalhos que investigaram impactos ambientais causados especificamente pela empresa Cooperb no município de Mirassol d’ Oeste. Neste caso, serviu de base os trabalhos de Shlesinger (2014) in “Biocombustíveis: energia não mata fome” e Marcatto, Schlesinger e Overbeek (2010) in” Cortina de fumaça: O que se esconde por trás da produção de agrocombustíveis”. Buscou-se ainda informações no noticiário regional que constasse informações sobre o tema em estudo. Assim, pode-se dizer que no que tange sobre as informações relacionados aos impactos provocados pela empresa, este trabalho se baseou em pesquisa bibliográfica.

 

  1. Pesquisa campo junto à empresa para coleta de informações sobre suas atitudes no que tange a responsabilidade socioambiental

 

  1. Trabalho de gabinete para checagem e interpolação das informações e produção do texto monográfico.

 

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO: RESPONSABILIDADE SÓCIOAMBIENTAL DA EMPRESA EM MIRASSOL D’OESTE: O CASO DA COOPERB

 

3.1 Contexto histórico e geográfico da área de estudo

 

O patrimônio que deu início à cidade de Mirassol D’ Oeste, foi oficialmente fundado em 28 de outubro de 1964. O nome foi dado em homenagem à cidade paulista homônima onde residia a família do idealizador da cidade de Mirassol D'Oeste, o Sr. Antonio Lopes Molon, que veio para a região por volta de 1958, adquirindo algumas terras devolutas, onde hoje está o município. O município com o nome de Mirassol D’Oeste (figura nº 02), foi criado pela Lei Estadual nº 3.698, de 14 de maio de 1976 de autoria do deputado Airton dos Reis, criou o município. Artigo 1º – “Fica criado o município de Mirassol d’ Oeste, desmembrada a sua àrea do município de Cáceres, e que terá por sede o povoado do mesmo nome. O termo “D’Oeste", foi acrescentado para que não fosse confundido com o município de Mirassol, no Estado de São Paulo (FERREIRA, 2001).

Sua população estimada em 2010 é de 25.299 (vinte e cinco mil, duzentos e noventa e nove) habitantes. Possui uma àrea de 1.076,358 km². A economia expressiva do município baseia-se no gado de corte e leiteiro e na produção de álcool. Possui um frigorífico (BRF), Granja Marques, Laticínio Três Maria e uma cooperativa de álcool a COOPERB. As demais áreas da economia giram em torno do próprio comércio local, atendendo às necessidades de toda a Microrregião de Jauru. Mirassol D'Oeste funciona como um minipólo à Microrregião de Jauru, sendo o pólo a cidade de Cáceres (PESQUISA DE CAMPO e FERREIRA, 2014.

Figura nº 02: Vista área da área central da cidade de Mirassol D’ Oeste

 

 Fonte: http://www.cidades.com.br/cidade/mirassol_d%27oeste/002131.html

                

O comércio é ativo e muito contribui com a balança sócio-econômica do municipio. Hoje se encontram cadastrados na prefeitura municipal um total de 1168 estabelecimentos comerciais dos mais diversificados ramos de atividades, somente na sede do municipio. Uma das principais fontes de receita própria do município é o ISSQN, onde só no ano de 2008, segundo dados coletados na Prefeitura de Mirassol D’Oeste possuíam 310 contribuintes do imposto, entre pessoas físicas e pessoas jurídicas (www.diariomunicipal.com.br/amm-mt www.amm.org.br 1 ...)

 

3.2 A cooperb: características e estratégias socioambientais empreendidas

 

De acordo com Soares (2014), o início das atividades destinadass à produção de etanol na região Sudoeste de Mato Grosso coincide com o contexto da crise mundial do petróleo da década de 1970, quando foi concebido oficialmente no Brasil, em 1975, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). A primeira indústria do grupo foi implantada em Lambari D’ Oeste, naquela época pertencente ao município de Rio Branco no ano de 1986. Logo em seguida, aproveitando as condições de clima, solos e localização geográfica favorável (SOARES, 2014), foi instalada a usina de Mirassol D’ Oeste. Entretanto, Com o declínio do ProÁlcool nos anos 1990, a usina foi fechada.  Em 2002, a empresa foi comprada pela Cooperativa Agrícola dos Produtores de Cana de Rio Branco (Cooperb), hoje denominada Destilarias Novo Milênio, com sede em Lambari d’Oeste. A usina de Mirassol d’Oeste voltou a operar em 2006, agora com o nome de Cooperb, (figura nº 03).

Figura nº 03: Imagem aérea das instalações da empresa Cooperb no município de Mirassol D’ Oeste-MT

 

Fonte: Shlesinger (2014, p. 21).

Segundo dados de Marcatto, Schlesinger e Overbeek (2010), Mirassol D’ Oeste cultiva área de 18 mil hectares. Este total de terras inclui áreas dos municípios vizinhos da região como São José dos Quatro Marcos, Curvelândia, Glória D’ Oeste e inclusive Araputanga que mostraram avança na área plantada de cana de açúcar nos últimos anos (SOARES, 2014).  Especificamente no território do município, em 2013 a área plantada de cana-de-açúcar foi de 5.024 hectares.

Estudando a dinâmica socioeconômica das pequenas cidades da região, Soares (2014) retrata o sistema de uso da terra pela empresa Cooperb em Lambari D’ Oeste e assim escreve:

Como a empresa é formada em sistema de cooperativa, os vários cooperados arrendam áreas localizadas nos arredores do parque industrial e, dessa forma, à medida que aumentam a sua participação no volume de matéria-prima que será beneficiada em álcool, também fazem aumentar a sua participação no lucro final a ser distribuído. Neste sentido, há uma lógica crescente entre o aumento da área plantada para a cultura da cana com o crescimento do parque industrial e da sua influência na economia do município. Em contrapartida, é importante mencionar que o aumento dessas áreas ocorrem avançando sobre antigas áreas destinadas à criação de gado em sistema extensivo ou mesmo sobre áreas de pequenas propriedades onde se praticava a agricultura familiar (SOARES, 2014 pag. 140).

 

Como se trata do mesmo grupo empresarial, a dinâmica empreendida pela empresa em Lambari D’ Oeste é a mesma que acontece na usina de Mirassol D’ Oeste. Destaca-se na fala anterior que as áreas utilizaddas para o plantio da cana, geralmente ocorrem sobre o avanço de antigas áreas de pasto e daquelas anteriormente utilizdas para a agricultura familiar, (figura nº 04).

Figura 04: Área de plantio de cana em Mirassol D’ Oeste

 

Fonte: Shlesinger (2014, p. 04)

De acordo com dados da Secretaria da Agricultura de Mirassol D’ Oeste, citado por Shlesinger (2014), atualmente a usina emprega entre 1.500 a 1.600 pessoas nos períodos de safra.

De acordo com informações da empresa, no ano 2009, esta passou por mudanças de reestruturação, objetivando a melhoria da gestão. Assim, a Cooperb continuou desenvolvendo plenamente suas atividades na área agrícola, cultivando a cana-de-açúcar, matéria-prima principal para a produção de álcool carburante e a Agropecuária Novo Milênio, empresa da qual participa também os principais cooperados, passou a receber a matéria-prima fornecida pela Cooperb destinada ao processo de industrialização na unidade produtora (PESQUISA DE CAMPO).

Ainda de acordo com informções fornecidas pelo setor de comunicação da empresa, em 10 anos de história a inovação contínua tem sido a razão principal do crescimento da Agropecuária Novo Milênio. Tendo em vista o número de empregos diretos gerados pela empresa, especialmente no período de safra, é certo que esta tem significado muito importante na economia do município de Mirassol D’ Oeste.

Segundo a gerente do setor de responsabilidade ambiental da Cooperb, a política de administração da empresa tem como meta a busca de resultados baseadas em tendências orientadas para o produto, para o mercado, para os clientes e para o social. Segundo ela, indústria do álcool além de suas qualidades ambientais por originar-se de uma matéria-prima renovável, pode economizar divisas, manter o ambiente limpo e gerar uma infinidade de empregos.

Informações do setor de recursos humanos da empresa esclarecem que para atender a estrutura organizacional e administrativa, está dívidido em dois grandes setores: a parte que abrange todo o complexo agrícola da empresa, denominado de Cooperativa Rio Branco (COOPERB) e a parte que abrange o complexo industrial, chamada Novo Milênio. Ainda segundo este setor da empresa, as estratégias de políticas de mercado de satisfação ambiental se traduzem em cinco estratégias: de políticas de preços, de Mercado, de produtos desenvolvidos, de cadeia de suprimentos e de Política Ambiental, (tabela nº 01).

 

 

Tabela nº 01: Sinópse das estratégias de atuação no mercado e demandas ambientais praticadas pela empresa.

AGROPECUÁRIA NOVO MILÊNIO

Estratégia e políticas de preços

O produto obedece condições de safra agrícola, oriundo da cana-de-açúcar, tendo como período de produção os meses de abril a novembro em que a disponibilidade no mercado se torna abundante com grande oferta pelas unidades produtoras. Nesse período há uma necessidade de estocagem do produto para aguardar a entressafra em que os preços se elevam dando maior rentabilidade nas vendas. O preço segue as regras do segmento no mercado de combustíveis, caindo na safra e elevando gradativamente entressafra.

Mercado

A participação da empresa no mercado produtor a nível estadual é de 11%. A identificação do mercado, no caso as principais distribuidoras, permite que a empresa saiba como analisar e envidar seus esforços para comercializar seus produtos.

Produtos desenvolvidos pela empresa:

Por se tratar de uma indústria destinada exclusivamente na fabricação do etanol, tem sua produção voltada para o álcool anidro e álcool hidratado carburante, onde a sua característica deve obedecer padrões estabelecidos pela ANP – Agência Nacional do Petróleo.

Cadeia de suprimentos

O principal fornecedor de matéria prima (cana-de-açucar), insumo destinado ao processo industrial, é uma empresa do mesmo grupo denominada Cooperativa Agrícola de Produtores de Cana de Rio Branco Ltda com o nome de fantasia de COOPERB que tem suas atividades exclusivamente no cultivo da cana. Os demais são fornecedores do mercado nacional, principalmente do Estado de São Paulo, no que se refere aos demais insumos necessários ao processo de fabricação de álcool e outros materiais de consumo destinados à manutenção e funcionamento da empresa. Os fornecedores locais, tanto de insumos como de serviços, tem preferência no fornecimento no sentido de fortalecer a economia da região de abrangência da empresa.

Política Ambiental da Empresa

Todos os detalhes que envolve a política ambiental. Atualmente, procede campanha para “conscientizar todos os colaboradores para campanhas de reciclagem do lixo e evitar desperdícios no uso da água e da energia”. A água utilizada no processo industrial já dispõe de um processo de reaproveitamento. A energia utilizada no período de safra em que a usina está pleno processo industrial é gerada pela própria indústria através do reaproveitamento do bagaço de cana que é queimado pela caldeira produzindo energia para abastecer todo o parque industrial.

Fonte: Setor de Recursos Humanos da Agropecuária Novo Milênio, obtido em pesquisa de Campo.

3.3 Depoimentos de outra realidade: aonde a responsabilidade socioambiental da empresa não chega

 

Para demonstrar esta versão da realidade estudada, susidamos em estudos mais aprofudados na região e, especificamente na área de estudo, que procuraram dianosticar a realidade sociambiental vivida por moradores do local. De forma mais específica, procurou-se aqui, verificar dianósticos da realidade socioambiental no município de Mirassol D’ Oeste, cuja causa tenha sido provocada pela empresa em estudo.

Durante o processo de reunião destas informações constata-se que, apesar de apresentar um discurso que se volte para as preocupações socioambientais, na prática, o que acontece é o contrário, onde populações da vizinhança, principalamente de pequenos produtores assentados que vivem nos areedores da empresa, sofrem danos ambientais provoados pela Cooperb.

Diante da pesquisa realizada junto à empresa, observa-se que suas ações de responsabilidade social não ultrapassa à algumas medidas de Educação Ambiental, como oferecimento e plantio de mudas em áreas próximas de nascentes, conforme ja foi realizado com a Escola localizada no Distrito de Sonho Azul (PESQUISA DE CAMPO).

 

3.3.1 Os danos causados pelo agrotóxico

 

Em função das atividades desenvolvidas pela empresa Cooperb na produção do etanol, que requerem uso de agrotóxico, intensa movimentação de máquinas pesadas no solo e queima do vegetal, as consequencias de danos ao meio natural e à população da vizinhaça é bastante notória.

Estudos de Shlesinger (2014), onde procedeu entrevistas nos Assentamentos Margarida Alves e Roseli Nunes, localizados, respectivamente nos município de Mirassol D’ Oeste e Curvelândia, mostram uma realidade bastante preocupamente no que diz respeito a danos ambientais, com reflexos negativos ao meio físico e também na produção de alimentos na saúde da população. São danos que se mostram como, entraves à produção familiar, escassez de água, entre outros.

O grande problema ambiental gerado pela empresa, segundo Shlesinger (2014), decorre da pulverização de agrotóxico por que, levado pelo vento, este não se restringe apenas a plantação dos canaviais e se dissemina sem controle nas áreas de pequena agricultura dos assentados. Tomando opinião de um desses pequenos agricultores, essa realidade assim se evidencia:

 

“Esse ano, eu não sei se foi o veneno, o que aconteceu: o quiabo, abóbora, laranjeira, não está dando nada. O vento traz o veneno que eles jogam de avião pra madurar a cana. Eu tenho vontade de plantar, mas desse jeito fica difícil. Feijão não pode plantar, porque o veneno prejudica, não dá”, conta Ailton.

 

Em outra fala o pequeno agricultor assim conta:

 

O avião passa bem pertinho das casas jogando veneno. Faz muita interferência na produção. Uma vez a gente plantou feijão, ele ficou até bonito, verdinho, quase florindo, e de repente passou o avião. Aí não deu três dias, as folhas começaram a amarelar e não deu mais nada. Agora, há mais ou menos três anos, eles passam com o trator, mas o veneno continua chegando aqui”. (pág. 26)

 

Vê se que, além dos entraves a produção familiar decorrente da expansão da cana-de-açúcar e possivelmente ação do veneno, como se verifica na (figura nº 05) sobre as culturas de base familiar, há ainda ameaças à preservação de sua saúde e dos modos de vida dos assentados.

  

Figura nº 05: Pulverização na cultura por agrotóxico

 

 Fonte: Shlesinger (2014, p. 31)

 

Nos seus estudos Shlesinger (2014) demonstra que agrotóxico a que se referem os assentados, é um dessecante, herbicida utilizado nas lavouras da soja e da cana-de-açúcar ao final do ciclo de plantio, para antecipar a fase de colheita.  Estes produtos podem ainda causar a contaminação das águas.

Segundo Shlesinger (2014), o problema causado pelo agrotóxio ainda vai além da frustação do pequeno produtor não ver a colheita crescer. Esta tem uma dimnsão maior por que afeta, inclusive programas que servem de incentivo e garantem a permanência do produtor na terra. O autor explica que a contaminação das culturas familiares explica também o não aproveitamento do potencial de produção e fornecimento de alimentos por meio do PAA e do PNAE. Para participar destes programas, é necessária uma produção regular, que atenda às condições contratuais de comercialização. As perdas frequentes de produção causadas pelo veneno levam a que muitos agricultores desistam de vez da atividade e passem a dedicar-se somente à pecuária (SHLESINGER 2014).

 

3.3.1.1 O agrotóxico e os reflexos na água

 

De modo geral a atividade destinada a produção de etanol, segundo Shlesinger (2014) tem provocado diretamente o desmatamento e assoreamento dos rios, além de reduzir o volume das águas disponíveis em rios, córregos e poços. Entretanto, a contaminação dos recursos hídricos tem se mostrado mais evidente. Em depoimento realizado por Shlesinger (2014) e tomado do secretário de agricultura de Mirassol D’ Oeste, senhor J.V.B., assim esclarece:

“Uma represa de onde era captada a água para abastecimento do município não está mais sendo utilizada por causa de contaminação por inseticidas. Agora nós estamos usando outra represa, por- que já paramos de pegar água da principal. Foi feita análise, a água está contaminada. Essa análise foi feita pelo Saemi (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mirassol d’Oeste). Porque a cana vinha até a beirada da represa, e com a chuva, é levado tudo [os agrotóxicos] pra dentro da represa”. (SHLESINGER, 2014 pág. 32).

 

Estudando nascentes localizadas nos municípios de Mirassol D’ Oeste e São José dos Quatro Marcos, avaliando o uso da terra (figura nº 06), a fertilidade do solo e qualidade da água encontra nessas nascentes, Soares (2009) faz importante apontamento sobre esses elementos naturais encontrados em uma nascente localizada no Distrito de Sonho Azul em Mirassol. Nesse apontamento o estudo indica que água e o solo do entorno continham elementos proveniente de materiais químicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar.

 

Na nascente do Zé Cassete a vegetação original foi totalmente retirada para dar lugar ao pasto e à plantação de cana-de-açúcar (...) De maneira geral, foi verificado que em relação aos atributos químicos de fertilidade vários deles, principalmente, Ca2+, K+, Mg2+ estão em teores elevados, refletindo em elevados valores da soma de bases e baixos teores de Al3+, excetuando-se as áreas alagadas e de cultivo de cana-de-açúcar na nascente do Zé Cassete. Como a área de cana de açúcar apresenta as mesmas feições pedológicas e topográficas que o pasto leste e pasto oeste, pode-se inferir que o cultivo da cana de açúcar está esgotando a fertilidade do solo, haja vista que esta apresenta um valor de V = 37,6 %, inferior aos valores observados nas áreas de pasto (V = 53 e 68 % para o pasto leste e pasto oeste respectivamente) (Soares, p. 72/73)

 

     Figura 06 - Croqui demonstrativo do uso da terá no entorno da nascente do córrego do  

     Zé Cassete, distrito de Sonho Azul-MT.

 

                                                                                                                           Fonte: Soares (2009 p. 62).

 

Sobre a qualidade da água nesta nascente Soares (2009, p. 94/95) escreve que:

 

(...) Percebeu-se ainda, disponibilidade de fósforo com o teor de 0,892 mg/L (...). A presença de fósforo na água, geralmente está relacionada a rochas fosfatadas da bacia de drenagem a que está inserida. Participa do processo de aumento desse elemento, a decomposição de materiais alóctones e as formas de uso e ocupação do solo dentro da bacia hidrográfica. No caso específico desta nascente, a presença desse nutriente na quantidade encontrada é um indicativo da associação das características naturais da região, que é influenciada diretamente pelas rochas calcárias da formação Araras das serras do Caeté e Padre Inácio, com o uso e ocupação do solo, no caso, a plantação de cana-de-açúcar. Neste sentido, a utilização de fertilizantes pode chegar aos corpos d’água através do escoamento superficial, geralmente intensificada no período chuvoso, e lixiviação e percolação, que ocorrem na subsuperfície.

 

Nos apontamentos demostrados, fica demonstrado de forma contundente, como as ações desenvolvidas em prol do cultivo de cana para produzir etanol pela empresa tem atingido o ambiente de forma a interferir na qualidade do solo e da água que servirá para abastecer a população do município.

 

 

 

3.3.2 O problema da vinhaça

 

De acordo com Shlesinger (2014) em agosto de 2006, um vazamento de vinhaça, em área de cultivo da Cooperb em Mirassol d’Oeste, provocou a morte de milhares de peixes no córrego Guarani, zona rural do município. A vinhaça contaminou o córrego, matando lambaris, piavas e piraputangas, tendo o fato sido comprovado, na ocasião, por representantes do Ministério Público e fiscais da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).

A questão do problema da vinhaça tem se mostrado atual e corriqueiro no município de Mirassol D’Oeste, como consequência da produção de etanol. Em notícia divulgada no mês de junho do ano de 2015, o Jornal expressão demonstra que, diante de fato sem condições de ser ignorado, ante os efeitos e repercussão que produziu, autoridades municipais, gestão da empresa Cooperb e sociedade civil organizada, tiveram que sentar-se à mesa para discutir possíveis soluções, para um problema que se agravou e demonstrou outros alcance de danos ambientais. A notícia esclarece que o destino inadequado dado à vinhaça tem feito ocorrer o aparecimento de um tipo de mosca muito danosa à saúde e conforto da população. Sobre esse problema, assim esclarece a notícia:

 

na última segunda-feira (4) o Secretário de Agricultura, José Vanderlei Batista, Delegado de Polícia Judiciária Civil -  Daniel Santos Neri, Presidente do Sindicato Rural de Mirassol D´Oeste – Francisco Ferreira da Silva, Técnica da Vigilância Sanitária – Valklênia Klipper, Procurador do Municipio – Dr. Emerson Silva, Veterinário – Dr. Sérgio Ricardo Nascimento, Advogado da Usina Cooperb – Dr. Cleiton Tubino Silva se reuniram no gabinete do prefeito Elias Mendes Leal.
O objetivo da reunião foi para discutir o combate da “ Mosca  do Estábulo “ em inúmeras propriedades rurais do município, especialmente próximos a USINA COOPERB, onde esse aumento da mosca vem do empoçamento da vinhaça no campo.
 Além da perda de sangue utilizado na alimentação da mosca, as suas picadas são muito doloridas, onde, altas infecções podem provocar estresse que causa alterações no comportamento dos animais, os quais diminuem o tempo de pastejo, acarretando prejuízos no ganho de peso e na produção de leite. Presente também na reunião, o representante da Usina Cooperb – Nelson da Cunha Cintra que por sua vez, fez o compromisso de desempossar essa vinhaça que vem causando essa proliferação nas áreas afetadas, bem como não jogar mais vinhaças nos períodos chuvosos, onde a empresa fez um investimento de R$ 2 milhões em equipamentos para acabar com esta praga, onde já se trabalha com 20% a menos da colheita da cana. Depois da realização desta reunião, foi montada uma comissão para atuar junto à frente de combate a ‘mosca-do-estábulo’ e assim buscar alternativas e soluções imediatas para amenizar os ataques e os focos da mosca. Para o Prefeito Elias Mendes Leal, há ainda outra preocupação que foi discutida na reunião: “é quanto a usar fungicidas em larga escala, onde o gado pode acabar contaminando os rios e lagoas onde se banham, matando peixes e destruindo de vez a fauna e flora e é exatamente todo este contexto que todos nós também estamos preocupados, por isso temos que ter muita cautela e sempre aprovação técnica no uso destes agrotóxicos para não danificar o meio ambiente” ((JORNAL OESTE de 16/06/2015).

 

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[1] Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso, Pós-Graduando em Meio Ambiente e Sustentabilidade pela Faculdade Venda Nova do Imigrante – FAVENI.