Buscar artigo ou registro:

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UM OLHAR DIFERENCIADO PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO

Jovana Paula Menin Boas

                Jorge Martinez Boas

                Neusa Ferreira de Brito Martins

                Vera Lúcia Viana dos Santos

 

RESUMO

            O presente Artigo Acadêmico Científico traz uma abordagem sistêmica de reflexão sobre a reestruturação do Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli, conforme a realidade da educação no campo, envolvendo os mais diversos agentes que dela fazem parte como: pais, alunos e comunidade escolar. Ponderando como ponto fundamental à compreensão de que a escola deve possuir uma identidade própria que se compõe sob a influência dessa realidade local. Levando em consideração que a educação no campo precisa de um trabalho mais abrangente para que possa tender rumo à concretização de uma escola autônoma. Este artigo tem como embasamento teórico os autores: Calazans (1993), Ilma Passos (1995) que discute a construção do projeto político pedagógico, a Lei de Diretrizes Operacionais para a Educação Básica na Escola do Campo, Moacir Gadotti (1994) que salienta as discussões dos pressupostos do projeto pedagógico, Veiga (1995) que afirma a intencionalidade do PPP, a lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, Lima (2002), Revista Gestão em Rede (2005), Freire (1977) e Arroyo in: Kolling (1999). Como procedimentos metodológicos foram realizados reuniões e discussões com funcionários, pais e alunos da escola como instrumento de coleta de dados. Explicitando que o processo de reestruturação do PPP se faz necessário pela implantação de uma proposta pedagógica de acordo com a realidade de Unidade de Ensino situada no meio rural.

Palavras Chave: Projeto Político Pedagógico. Reestruturação. Educação do campo.

 

INTRODUÇÃO

A escola tem como objetivo estimular e desenvolver a cidadania proporcionando a sua comunidade estudantil, situações em que tenham oportunidades de adquirir valores e conhecimentos básicos para viver em sociedade. Deve ter atitudes e habilidades necessárias para que cada aluno possa vir a participar plena e efetivamente da vida política, econômica e social do país.

            Mas para realizar essa função social, é preciso propor situações em que os educandos possam participar de projetos coletivos de interesse da escola e da comunidade, exercitar-se na autonomia de uma convivência social saudável, expressar livremente suas ideias e opiniões, aprender a ouvir e debater, estabelecendo com isso uma atitude para com o saber e o conhecimento que eleve o desejo de querer aprender sempre mais.

            Diante desta afirmação o presente artigo traz uma abordagem sistêmica de reflexão sobre a reestruturação do Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli, conforme a realidade da educação no campo, é nesse espaço geográfico da zona rural, é perceptível que faltava e ainda falta infraestrutura e preocupação com a qualificação dos educadores e educandos que vivem na zona rural.

A escola buscou através de um olhar e de um tratamento diferenciado, o envolvimento dos diversos membros que fazem parte da rotina da instituição e da comunidade local, que foi essencial para a reelaboração do Projeto Político Pedagógico, que é considerado a identidade da escola por isso precisa ser realizado por aqueles que convivem e conhecem todos seus problemas e fraquezas, buscou-se discutir e analisar as melhores respostas para os diversos questionamentos que surgiram dentro dos grupos participantes das reuniões realizadas. Esse processo de reconstrução deverá sempre ser revisto, pois o sistema educacional e as ações da escola estão em constantes mudanças que são vistas sempre de forma positiva pelos que nela estão inseridos.

            A pesquisa foi realizada por etapas: a primeira foi à fase das reuniões de sensibilização, após as coletas de dados através dos questionários aplicados e consequentemente a reelaboração do artigo científico e execução das novas ações necessárias para a construção coletiva de uma escola que é desafiada a mudar sua realidade.

Neste sentido, a atuação do gestor democrático é fundamental, como mediador e facilitador do processo levando-o a modificar, aperfeiçoar e construir novos instrumentos de ação e interpretação na reestruturação do Projeto Político Pedagógico da Escola. Os relatos mencionados descrevem como ocorreram as atividades relacionadas a essas etapas mostrando o quanto foi importante para a escola todo esse processo.

 

  1. O REAL CONTEXTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

            Muitas pessoas certamente conheceram ou conhecem as chamadas “escolinhas rurais” enraizadas no meio das árvores ou à beira da estrada, entre um sítio e outro. Geralmente, pequenas escolas compostas por uma sala de aula, onde se concentram crianças de diversas fases de escolaridade, sob a orientação de uma única professora. O aspecto físico, por si só, produz uma ideia de fragilidade no sentido idílico, destacando a simplicidade e humildade como valor inestimável das pessoas que ali vivem. Outra ideia de fragilidade, baseada na concepção da superioridade urbana frente ao campo, se traduz no sentido de discriminação que considera que ali pouco se ensina e pouco se aprende, resumindo, é uma escola de pouca qualidade.

            Não se pode negar as “fragilidades” da educação escolar que está configurada no campo. Mas, é prudente evitar avaliações apressadas e infrutíferas que atribuam ao próprio povo do campo a responsabilidade por essas mazelas. Faz-se necessário conhecer como vêm sido traçadas as políticas educacionais para esse contexto ao longo dos anos, como forma de melhor compreender o seu desenrolar e os seus problemas.

            O ensino regular na zona rural nunca se constituiu uma preocupação social por parte da elite agrária, por isso seu surgimento foi tardio, datando do segundo império, e seu desenvolvimento histórico acompanha a evolução das estruturas sócio agrárias do país (CALAZANS, 1993). Tal impulso ocorreu com o advento da monocultura cafeeira aliada ao fim da escravidão, que passou a mostrar a necessidade de um tipo de trabalhador mais especializado, correspondendo à qualificação pretendida pelos grandes proprietários.

            O movimento pedagógico na área da educação rural conhecido como ruralismo pedagógico, se consolidou partir de 1930, defendendo uma “escola rural típica”, com currículos e métodos adequados às peculiaridades regionais. Louvado como uma alternativa às tradicionais propostas educativas, na realidade esse movimento tinha como fundamento político-ideológico o ajustamento ou enraizamento do homem ao campo, de modo a atender a vocação rural do país e a livrá-lo do inchaço urbano e dos possíveis problemas sociais acarretados por ele (CALAZANS, 1993). Posteriormente, teve-se como consequência para o campo projetos educacionais europeus e norte-americanos enfatizando-se uma formação técnica, correspondendo aos princípios do mercado capitalista, sendo inúmeros os projetos implantados, ora pela iniciativa privada, ora pelo Estado.

            Esses fatores, durante anos, ajudaram a deixar no esquecimento a educação em escolas do campo e, consequentemente, não chamavam a atenção do governo para a importância de investimentos nesse setor. Mas hoje, ao analisar os conteúdos das publicações existentes, são visíveis as mudanças ocorridas em relação às políticas públicas para a educação rural, baseada nas mudanças sociais que vêm ocorrendo na sociedade em geral.

Nesse sentido, as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica na escola do campo, aprovadas pela Resolução CNE/CEB nº1, de 3 de abril de 2002, assume um compromisso de grande relevância na educação do campo:

E, neste ponto, o que está em jogo é definir, em primeiro lugar, aquilo no qual se pretende ser incluído, respeitando-se a diversidade e acolhendo as diferenças sem transformá-las em desigualdades. A discussão da temática tem a ver, neste particular, com a cidadania e a democracia, no âmbito de um projeto de desenvolvimento em que as pessoas se inscrevem como sujeitos de direito. Assim, a decisão de propor diretrizes operacionais para a educação básica do campo supõe em primeiro lugar a identificação de um modo próprio de vida social e de utilização do espaço, delimitando o que é rural e urbano sem perder de vista o nacional. (CNE/CEB, 2001:18).

Salientando que essa implementação foi uma reivindicação histórica dos movimentos sociais do campo, e suas orientações referem-se às responsabilidades dos mais diversos sistemas de ensino com o atendimento escolar.

Percebe-se que poderá derivar da integração escola/campo princípios de um novo fazer pedagógico que envolva os educadores e educandos com as experiências cotidianas vividas em seu contexto de origem, seus valores e sua realidade.  Mesmo com as conquistas legais para a educação do campo, nota-se ainda que falta compromisso por parte de alguns governantes com essa realidade. Porém, o compromisso com a educação não é apenas um fator determinante, mas é um problema político, social e econômico. 

            Nesse sentido, a reestruturação do Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli está sendo planejada com ações relevantes e com grandes chances de serem realizadas, pois o projeto está focado na busca de grandes melhorias para a escola. Segundo Gadotti:

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (GADOTTI, 1994, p.579).

Seguindo o pensamento de Gadotti, a consolidação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, em seu artigo 12, inciso I, Prevê que, “os estabelecimentos de ensino, respeitados as normas comuns e as do seu sistema de ensino, tem a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”, deixando explicita a ideia de que a escola não pode prescindir das reflexões sobre sua intencionalidade educativa. Assim sendo, o projeto pedagógico passou a ser objeto prioritário de estudos e de muita discussão sendo construído com a participação de todos os profissionais da instituição.

É claro então, que o PPP é uma forma concreta de planejar a organização da escola evidenciando assim, os interesses, desejos e propostas da comunidade escolar, sendo um importante caminho para a construção da instituição, sendo um instrumento eficiente para a transformação da realidade da escola. Conforme a posição de Veiga, que afirma a intencionalidade do PPP:

 Projeto Político Pedagógico é uma ação intencional. É político no sentido de compromisso da formação do cidadão para um tipo de sociedade. É pedagógico no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias das escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade (VEIGA, 1995, p.13).

Assim, a dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica, sendo a construção do Projeto Político Pedagógico de fundamental importância, é a concretização da identidade da escola e do oferecimento de garantias para um ensino de qualidade.

É previsto, dentro das normas de elaboração e consolidação do PPP, instaurar uma forma de reelaboração, execução e reorganização do trabalho pedagógico, sendo de suma importância a participação ativa do gestor escolar, juntamente com todos os protagonistas da escola e comunidade local, pois todos são partes integrantes desse processo educativo, contribuindo para que a escola consiga chegar ao seu objetivo.

 

  1. UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ESCOLA: RECONHECIMENTO DE SUA IDENTIDADE

A Escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli, está localizada na Sede do Assentamento ENA, no município de Feliz Natal, Estado de Mato Grosso, sendo sua unidade mantenedora a Prefeitura Municipal de Feliz Natal.

      Níveis e modalidades ofertados pela escola: Educação Infantil: Creche (Extensão da creche Municipal Direitos Humanos), Pré II e III, Ensino Fundamental de 1º ao 9º ano, Ensino Médio (sala anexa Escola Estadual Antônio André Maggi).

            O projeto de Assentamento ENA, onde está inserida a escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli, localiza-se na Amazônia Legal, na bacia do Xingu vizinha ao parque Indígena de mesmo nome, onde o município de Feliz Natal, tem 40% de sua área dentro do mesmo, cortado por rios afluentes do Rio Xingu.

            A comunidade local é formada por cerca de 250 famílias oriundas de diversas partes do Brasil, que sobrevivem por meio da agricultura familiar. Muitas crianças e adolescentes participam apenas do seguimento formal da escola no período matutino.

            Atualmente, a escola atende em média 244 alunos distribuídos em doze turmas mais três salas anexas da Escola Estadual Antonio André Maggi. A escola oferece a Educação Infantil, com uma turma do maternal, alunos de 0 a 3 anos (filhos dos funcionários da escola), uma turma do Pré II com alunos de quatro e cinco anos, uma turma do Pré III com alunos de cinco e seis anos, o Ensino Fundamental de nove anos, e o Ensino Médio. Funciona no horário das 07h30min ás 12h00min com intervalo de dez minutos às 09h30min. Sendo servido nesse espaço de tempo, café da manhã e almoço.

O quadro funcional administrativo da escola possui um total de 33 funcionários e está distribuído da seguinte forma: 01 Diretora, eleita pela comunidade escolar, licenciada em Pedagogia e concluindo Pós Graduação em Gestão, 01 Coordenadora Pedagógica, eleita pelo quadro de professores, formada em Letras, com Pós Graduação em Educação Infantil e Especial, 01 Secretaria com Ensino Médio, 01 monitora, 03 Auxiliares de Serviços Gerais, 03 Merendeiras, 04 motoristas e 02 Vigias. O corpo docente é composto por 16 professores e uma professora de reforço, sendo nove com Licenciatura em Pedagogia, uma em Matemática, uma em Ciências Contábeis e cinco com Ensino Médio, com este quadro de professores, a escola não supre todas as necessidades no que se refere ao corpo docente. A Escola Municipal Rural Malvina Evaristo Pescinelli desde 2010 não reestrutura seu PPP, o mesmo não era sistematizado e suas ações eram elaboradas conforme o calendário municipal que não condizia com a realidade de uma escola do campo, com isso trazia consequências na frequência e no aprendizado dos alunos. Como diz Veiga 1995, p 12 “Nesta perspectiva, o Projeto Político Pedagógico vai além de um simples argumento de planos de ensino e de atividades diversas”. Para Veiga, o PPP não está centrado em um amontoado de palavras argumentativas, mas sim, em um veículo norteador de toda base de ensino da Instituição para qual ele foi elaborado.

  1. DA TEORIA À PRÁTICA NA REESTRUTURAÇÃO DO PPP: PESQUISA DE CAMPO

A partir dessa análise a equipe gestora organizou vários momentos de participação coletiva com todos os autores do cotidiano escolar e comunidade local para a reelaboração do PPP de maneira democrática, com o intuito de buscar uma identidade real, evidenciando um olhar diferenciado a realidade desta escola do campo.

Esta reelaboração foi com base na proposta pedagógica, referencial curricular e no calendário próprio com as devidas alterações como escola do campo, sendo um planejamento flexível, pois poderá sofrer variações devidas aos diversos fatores, desde o nível de aprendizado até o tempo disponível.

O Projeto Político Pedagógico é uma atribuição legal conferida à escola pela lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, ampliando seu papel diante da sociedade e colocando-a como centro de atenção das políticas educacionais mais gerais. Sugere ainda, o fortalecimento da sua autonomia, delegando aos que fazem à escola (comunidade interna e externa) a tarefa da reelaboração do PPP. Nos seus artigos 12 e 13 regulamenta a participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica das instituições as quais fazem parte. Dando continuidade em seu Art. 14 assegura aos sistemas de ensino a autonomia de sistematização dos seus Projetos Pedagógicos, assim exposto na lei:

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola (LDB 9.394/96 Art. 12, 13,14).

            Mas, para o cumprimento ao disposto instituído nesta lei, se faz necessário procurar oficializar a concepção de educação e consequentemente de cidadão a ser formado, para a sociedade atual. Dentro deste contexto, a EMR. Malvina Evaristo Pescinelli está sistematizando a reelaboração do PPP, com ações necessárias para a melhoria da instituição bem como uma melhor organização do fazer pedagógico e administrativo evidenciando através dessas ações uma escola do campo.

            Salientando que contextualizar a educação no campo é muito importante atualmente, pois esse tema é pouco discutido no contexto social. As escolas do campo vivem uma dinâmica diferente de sistema educacional, ou pelo menos deveriam viver. Um passo fundamental é garantir a plena efetivação da participação de toda a comunidade escolar nas decisões a serem tomadas na escola, melhorando, assim, a qualidade educacional e social do campo.

A equipe gestora ao constatar a necessidade de reelaboração do PPP da escola, organizou várias reuniões com a equipe pedagógica e o conselho escolar com a argumentação de que nossa visão de mundo sempre muda e que nossas ações precisam ser sempre revistas, levando em consideração que a educação sempre será na sociedade um instrumento essencial para a formação de qualquer cidadão. Por meio de uma educação com princípios democráticos, pode-se reconstruir uma escola de educação básica de qualidade participativa. Na realidade educacional, o gestor realmente deve conduzir a escola com participação e autonomia, e não somente administrar, mas gerir, mediar, construir coletivamente.

            Respeitar e compreender as múltiplas identidades na escola do campo significa conhecer e compreender o conhecimento de muitas pessoas e uma gestão escolar democrática deve motivar toda a comunidade na união em prol do desenvolvimento da unidade escolar. É preciso considerar os vários aspectos desse contexto, como o ambiente físico tanto da escola quanto da zona rural, as tradições familiares, as condições sociais, entre outras, para entender a dimensão cultural-social e a pluralidade do processo educativo, toda a gestão escolar, ou seja, todos que fazem parte da comunidade escolar, direção, professores, alunos, pais e funcionários podem opinar nas decisões da escola.

A construção da escola democrática constitui, assim, um projeto que não é sequer pensável sem a participação ativa de professores e de                         alunos, mas cuja realização pressupõe a participação democrática de      outro setores e o exercício da cidadania crítica de outros atores, não sendo, portanto, obra que possa ser edificada sem ser em co-construção. (LIMA, 2002, p. 42).

            Dessa forma com a participação de todos que compõem a comunidade escolar nas decisões da escola, podemos construir um espaço de diálogo, discussão, troca de ideias e valores. Acredita-se que uma gestão democrática que luta para defender os ideais de um lugar, que é o alicerce da educação, está realizando uma gestão preocupada com o desenvolvimento da unidade escolar e dos educandos que ela compõe.

As atividades foram operacionalizadas através de questionários, que foram direcionados aos servidores, alunos e pais. A metodologia de aplicação se deu da seguinte forma: Aos professores foram aplicados no momento do planejamento, aos servidores através de reuniões e palestras, aos pais durante as duas primeiras reuniões e debates e aos alunos durante as aulas.

Os pais foram convidados para cinco reuniões na escola, onde aproximadamente oitenta pais e responsáveis compareceram e mais uma reunião está marcada para o final do semestre. A equipe gestora contou com o apoio da rádio comunitária local, que cedeu espaço para a realização de dois debates entre pais, alunos e funcionários sobre a importância da reestruturação do PPP. 

Nos questionários entregues para os pais estavam contidos informações e questionamentos sobre o conhecimento da realidade da nossa clientela, como eles viam a instituição e que modelo de escola eles gostariam para seus filhos.

A estratégia de leitura e análise de cada passo do PPP elaborado e construído em anos anteriores, desde o seu marco referencial teórico, aos planos de ação de cada uma das dimensões da escola: Plano de trabalho da gestão e plano da coordenação pedagógica, foi de grande relevância, pois os aspectos que não atendiam as demandas atuais da comunidade foram reestruturados.

O projeto já reelaborado foi apresentado e discutido com alunos, pais e demais interessados nesse processo, onde foi exposta também a necessidade de melhoria para a escola, tanto na estrutura física como no ensino aprendizagem dos alunos.

Nota-se que a comunidade escolar está começando ter consciência de que o PPP é a alma da instituição, que nele está expresso o pensamento e os anseios coletivos de toda uma equipe, uma vez que, tudo que é feito em conjunto, acaba definindo a visão de todos democraticamente e consequentemente se tem um resultado positivo.

A revista gestão em rede, nesse sentido, afirma que:

 A escola, na qual as famílias se integram, tem uma tradição e um presente que garantem a concretização de esperanças. A experiência tem mostrado ao longo do tempo que sistemas educacionais que deram certo, e continuam dando certo, são aqueles que os pais participam da educação de seus filhos. Esta participação redunda qualidade educativa da escola. (REVISTA GESTÃO EM REDE, agosto de 2005, p. 12).

Os pais precisam perceber a importância de sua participação no processo de aprendizagem dos filhos, é preciso conscientizá-los de que o binômio família-comunidade é imprescindível para manter um bom relacionamento com a escola, não se restringindo apenas a reclamações que dizem respeito ao comportamento dos alunos. No entanto, observa-se que a comunidade, apesar de estar tomando gosto em participar das ações voltadas a gestão democrática, não se deu conta ainda da importância da escola como fator de transformação do ser humano e da sociedade.

No que se refere à participação da família no cotidiano escolar, nota-se que uma das maiores dificuldades que os pais encontram é a distância de seus sítios em relação a escola e o fato de alguns residirem nas fazendas circunvizinhas, sendo necessário a adequação do horário para as reuniões nos sábados e que o transporte escolar fosse disponibilizado para os pais.

A participação dos alunos na reelaboração do PPP se deu através de conversas e reuniões em sala de aula, onde foi aplicado questionário sobre a visão do aluno em relação a escola e o que seria necessário mudar para haver uma melhoria tanto na estrutura física como no processo de ensino aprendizagem.

Acreditando no pressuposto de que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREIRE,1977, p. 69) a educação como prática de liberdade será consequência do processo educativo.

Segundo Paulo freire: devemos assumir o papel de educadores democráticos e ousados, desenvolvendo em nossa prática educativa atitudes que reforcem a curiosidade e capacidade crítica dos alunos.

Por meio do diagnóstico realizado, percebeu-se que os alunos estudavam apenas na escola, não realizando em casa tarefas simples, como a leitura de um texto do livro didático, cabendo ainda a escola o importante papel de orientar o aluno a aprender a ser estudante, aprender a conviver com outros estudantes e professores e fazer aquilo que é proposto, com a melhor qualidade possível.

            Com a implantação da proposta pedagógica voltada para educação no campo, pretende-se assegurar um ensino de qualidade, buscando elevar a aprendizagem dos discentes de acordo com as possibilidades e ritmo de cada turma em todas as áreas de conhecimento e garantir a implementação do período integral, pelo menos duas vezes na semana, para que o educando tenha tempo e espaço para diversas atividades como Agroecologia, Educação Física, Cultura, Arte Popular, Música, Danças, Artesanatos, informática e demais projetos e programas culturais, ambientais e sustentáveis.

            A partir dessas reflexões acerca da revisão do PPP se desenham novos caminhos para uma escola diferente, onde todas as questões relativas ao fazer pedagógico, as conexões com o currículo, o conhecimento e a função social da escola venham de encontro com os anseios da comunidade escolar.

            Esse aspecto assume um caráter definitivo, quando se pensa na melhoria da educação e, consequentemente, da sociedade em que vivemos. A reflexão sobre a organização da escola não é algo acabado, mas produto de relações e práticas social. É preciso entender que o campo não é um conglomerado de pessoas “incultas” isoladas do mundo urbano e “desenvolvido”. O campo é habitado por seres humanos com sentimentos, histórias de vida e saberes gestados no trabalho agrícola e no convívio social com seus semelhantes, que buscam uma evolução intelectual e cultural.

            É essa concepção de campo que devemos ter como referência ao tratar de educação do campo, considerando o protagonismo das crianças e jovens, educadoras e educadores camponeses na luta por uma educação que corresponda aos seus ideais de formação.

“... a educação rural ignorada e marginalizada está mostrando seu rosto, o verdadeiro, não a caricatura tão repetida: reduzir a educação à escolinha rural, à professora desqualificada, às massas de analfabetos. Uma visão preconceituosa que os educadores rurais vão desconstruindo” (ARROYO in: KOLLING, 1999).

            Diante de tudo o que foi analisado até agora, fica claro, então, que urge o delineamento de um projeto político-pedagógico alicerçado em novos princípios educativos e num projeto histórico de sociedade, a sociedade igualitária e solidária.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Envolver a comunidade escolar e local é um grande desafio, pois a grande maioria ainda não sente capaz ou mesmo responsável por esse processo, no qual foram conscientizados sobre a grande importância de inserir-se nos assuntos escolares. Através de encontros, ouviu-se os anseios dos pais, alunos, funcionários professores, equipe administrativa e comunidade local através de entrevistas, reuniões objetivando a melhoria da qualidade dos serviços prestados à comunidade com base na realidade escolar. Foi preciso entender que o Projeto Político Pedagógico da escola é o reflexo de seu cotidiano. Para tanto, precisa de um tempo razoável de reflexão e ação, para se ter um mínimo necessário a consolidação de sua proposta.

            Por meio dos diagnósticos realizados, percebe-se que a reconstrução do PPP da escola não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, trata-se de um processo complexo com diversos enfrentamentos de ordem individual no que se refere a situações pessoais e profissionais, como também os interesses coletivos. Onde é extremamente necessária a atuação de uma equipe gestora, capaz de articular bem todo o processo, envolvendo todos os agentes da escola e a comunidade local. Nota-se ainda, que é uma construção fundamental e necessária ao bom andamento da escola e o mais importante é possível e faz parte do cumprimento da legislação educacional vigente.

O PPP da EMR. Malvina E. Pescinelli é um projeto que se renovará constantemente, na teoria e na prática, sempre buscando novas ideias, propostas e realizações, rompendo com suas formas hierárquicas, mas baseando-se no respeito, na autonomia e na responsabilidade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

_______, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

 

ARROYO, Miguel. A escola do campo e a pesquisa do campo: metas. In: MOLINA, Mônica (Org.).Educação do campo e pesquisa: questões para reflexão. Brasília, DF: MDA, 2006. BOF, Alvana Maria (Org.). A Educação Rural no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2006.

 

BRASIL, Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No 9394, de 20 de Dezembro, 1996.

 

CALAZANS, Maria J. C. Para compreender a educação do estado no meio rural – traços de uma trajetória. In: TERRIEN, Jacques; DAMASCENO, Maria N. (Orgs.) Educação e escola no campo. Campinas: Papirus, 1993.

 

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? RJ Paz e Terra, 1997.

 

GADOTTI, Moacir. ”Pressupostos do projeto pedagógico”. In: MEC, Anais da Conferencia Nacional de Educação para todo Brasil, 28/08 a 02/09/1994.

 

LIBÂNEO, J.C. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Pratica . Goiânia: Alternativa, 2001.

 

LIMA, Luciano C. Organização Escolar e Democracia Radical: Paulo Freire e a governação democrática da escola pública. 2. ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.

 

MEC. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. RESOLUÇÃO No. 01 DE 03/04/2002. Diretrizes operacionais para a educação básica do campo, Brasília, 2002.

 

REVISTA GESTÃO EM REDE - Consed - Conselho Nacional de Secretários. Agosto, 2005.

 

SOARES, Edla de Araújo Lira (relatora). Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo- Parecer 36/2001. CNE/CEB, Brasília, 4 de dezembro de 2001.

 

VEIGA, Ilma Passos A. Projeto Político Pedagógico da escola: Uma construção Coletiva. In Projeto Político Pedagógico da escola: Uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995.