DESAFIOS E EXPECTATIVAS NA INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA – SABERES PEDAGÓGICOS
Loraci Gonçalves
Danieli Granzoto Cruz Equidone
Ana Maria Oliveira Lima
Rosangela Silva dos Santos
Gracieli aparecida dos Santos Monte
RESUMO
O professor é mediador dessas situações e quando se conecta com alunos que possuem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) essas dificuldades devem ser observadas para proporcionar uma interação maior com o conteúdo respeitando suas especificidades. Nesse objetivo de compreender como incluir a criança TEA esse trabalho tem como finalidade discutir os recursos para que uma aprendizagem de qualidade. Nesse contexto, o assunto proposto nesse trabalho será elaborado em três capítulos, usando a metodologia de pesquisa bibliográfica com o apoio de autores importante como: Piaget, Cunha, Cruz Silva entre outros. O trabalho será elaborado em três capítulos. Considerando o primeiro capítulo, serão tratadas informações acerca do TEA, como sua origem, seus aspectos restritivos e gerais. No segundo capítulo, consideraremos a questão legislativa acerca da inclusão. Já no terceiro capítulo, será observado sobre o papel do educador frente à intervenção pedagógica. Esse trabalho serve como proposta de observação para os futuros pedagogos para que dentro do ambiente escolar, possam exercitar o papel de capacitadores com o objetivo de melhorar o processo de aprendizagem dos alunos com espectro autista.
PALAVRAS-CHAVE: aprendizagem; intervenção; conhecimento.
INTRODUÇÃO
Na educação o processo de aprendizagem possui certos desafios que devem ser levados em consideração, principalmente em relação ao fato de que nem todos os alunos vão seguir no mesmo ritmo, e podem ter algumas dificuldades. Além disso, das crianças com alguma dificuldade de aprendizagem, temos aquelas que apresentam necessidades especiais, como o espectro autista, que dependendo do grau em que se encontra, leve, moderado ou severo, exigirá um atendimento mais especializado para que de fato tenha a chance de ter também uma aprendizagem significativa.
Observa se que o TEA é uma conexão das alterações do sistema nervoso que afeta o desenvolvimento da comunicação e da socialização, prejudicando assim o processo de aprendizagem. Porém, mesmo diante disto, a criança que é diagnosticada com TEA não pode se sentir excluída. O aluno deve ser incluído para se sentir à vontade no ambiente escolar, inserida em um contexto que possibilitará a ela se sentir à vontade.
Assim, a inclusão se torna um instrumento dentro das práticas escolares, e permite que os alunos tenham suas habilidades desenvolvidas, constituindo de maneira positiva que suas dificuldades sejam ouvidas e praticadas. Deste modo também, evidencia se ainda que existem inúmeras dificuldades que precisam de uma atenção especial. Sendo elas as deficiências e/ou limitações, que acarretam dificuldades ao aprendizado, mas que são fundamentais que recebam a educação, com qualidade. E que assim, estas possam ser reduzidas ou eliminadas.
As limitações são pontos bases para que o educador possa proporcionar aos alunos com TEA as mesmas condições de ensino dadas às demais crianças. Com isto ainda, as dificuldades oriundas das limitações e/ou deficiências, que contribuem para um aprendizado ineficaz, são minimizadas pela efetivação de diversos direitos.
Assim, devido a estas questões, busca-se instrumentos que facilitem processos ligados a aprendizagem e também outras áreas ligadas as crianças diagnosticadas com TEA. Diante te tudo isto, foi realizado pesquisas, afim de possibilitar um diagnóstico mais rápido e esclarecedor, para que as intervenções sejam aplicadas mais rapidamente e promovem um melhor desenvolvimento para a criança.
O CONTEXTO SOBRE O ESPECTRO AUTISTA
O TEA é definido como uma limitação neurológica que causa inúmeras alterações às crianças, contribuindo de sobremaneira para déficits na comunicação e no processo de socialização. De origem genética, o TEA é complexo, e pode ocorrer de acordo com a hereditariedade, em decorrência de seus padrões genéticos variados. Pode também ser notado de forma precoce, e seus sintomas variam conforme o seu nível de intensidade, traduzindo em comportamentos não autênticos (BRITO 2007).
Assim também, segundo o autor Brito (2007), o autismo é um problema que afeta o sistema nervoso, provocando uma desorganização nas células que processam informações resultantes dos comportamentos. Sendo que essa sintomatologia ocorre a partir dos dois anos de idade. Ainda de acordo com o autor, as crianças se mostram indiferentes ao afeto, a fala acontece tardiamente e às vezes é apenas repetição de sons ouvidos anteriormente. Com isto, todas essas características acabam rotulando a criança, o que muitas vezes gera desconforto. Assim,
Os autistas teriam uma sobrecarga sensorial durante a interação social, considerando-se que o ser humano é uma das fontes mais ricas de estimulação simultâneas: tom da voz (estímulos auditivos); expressão facial (estímulo visual) [...] e referência a objetos e eventos ao redor [...]. O retraimento social e as estereotipias seriam formas de fugir dessa sobrecarga. (BUENO, 2001, p. 3)
Deste modo, de acordo com Cunha (2015), em 1911, o termo ‘’autismo’’ foi criado através de Eugen Bleuler que quando buscava compreender sobre os sintomas da esquizofrenia. Em sequência, já no ano de 1943, acontece a maior compreensão sobre o termo da TEA e que até a atualidade é utilizada, a definição das classificações entre leve, moderada e severa. Assim, em relação as pesquisas de Léo Kanner, o uso da nomenclatura “Transtorno do Espectro Autista” possibilita avançar nos estudos, onde é possível diferenciar os diversos níveis da síndrome.
Assim, na classificação internacional de doenças mentais do CID – 09, é mencionado que o autista possui um distúrbio comportamental, que causa os transtornos. Existem ainda muitos questionamentos acerca da origem, mas que é explicado por Orru (2013), sob o ponto de vista de um padrão, é que tem se questões ligadas a atraso e desvio social, dificuldade em se comunicar, movimentos estereotipados e a apresentação precoce dos sintomas.
Com isto, em relação ao desenvolvimento da ligação entre espectro autista e o processo de aprendizagem, algumas práticas podem auxiliar o desenvolvimento da criança que foi diagnosticada, sendo eles o acesso ao ensino, a garantia de uma sociedade unificada e a interação saudável entre escola e família.
De acordo com Santos (2008), podemos classificar os transtornos de diferentes maneiras, sendo que cada um tem uma especificidade peculiar de demonstrar estes sintomas. Neste sentido, o educador tem influências diretamente positivas no auxílio da criança, identificando os sintomas e ajudando a encaminhar para o neuropediatra. E com isto, as orientações do neuropediatra serão importantes e necessárias para se trabalhar em conjunto, a favor dessa criança.
Desta forma, o transtorno do espectro autista envolve uma gama de sintomas e variações genéticas que provocam alterações no comportamento, dificultando as relações entre os processos de comunicação e socialização. Levou se muitos anos até que o autista foi percebido enquanto indivíduo que precisa de estimulação, e também de fatores que são de maior apoio para a construção de sua aprendizagem. Com isto, o autor Silva (2012, p. 22), menciona que “Pessoas com autismo apresentam muitas dificuldades na socialização, com variados níveis de gravidade”. E continua dizendo ainda que é possível observar algumas
[...] crianças com problemas mais severos, que praticamente se isolam em um mundo impenetrável; outras não conseguem se socializar com ninguém; e aquelas que 19 apresentam dificuldades muito sutis, quase imperceptíveis para a maioria das pessoas, inclusive para alguns profissionais. Estas últimas apresentam apenas traços do autismo, porém não fecham diagnóstico. (SILVA, 2012, p. 22)
Com isto, no processo de identificar as pessoas que possuem autismo, se compreende o quadro que acomete essas pessoas, principalmente na questão sobre as singularidades. As singularidades vão desde as atitudes aos vários padrões genéticos em relação ao espectro fenotípico. Assim também, para diagnosticar o distúrbio é necessário a observação sobre o estipulado pela CID – 10 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde).
O transtorno do espectro autista é decorrente de um padrão genético poligênico ou frequência, que é representado pela reunião de variações gênicas diferentes e de riscos baixos. Com isto, cada variação tem um papel distinto em relação ao fenótipo resultante. Visto que, se determinado indivíduo apresentar um baixo quantitativo da variante, não terá a doença desenvolvida, mas será passada aos descendentes. O autor Bosa (2002, p. 13), cita que “Compreender o autismo é abrir caminhos para o entendimento do nosso desenvolvimento”. E complementa citando também que“Estudar autismo é ter nas mãos um “laboratório natural” de onde se vislumbra o impacto da privação das relações recíprocas desde cedo na vida” (BOSA, 2002, p. 13). O autor ainda diz que
Conviver com o autismo é abdicar de uma só forma de ver o mundo [...]. É pensar de formas múltiplas e alternativas sem, contudo, perder o compromisso com a ciência (e a consciência!) – Com a ética. É percorrer caminhos nem sempre equipados com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma linguagem, é criar oportunidades de troca e espaço para o nosso saber e ignorância [...] (BOSA, 2002, p. 13).
Deste modo, uma vez que o autismo é um transtorno que se relaciona com o desenvolvimento, o mesmo acarreta danos qualitativos e quantitativos. Sendo que estes afetam de maneira direta às áreas de comunicação, socialização e comportamental. Além de também trazer distúrbios que afetam as habilidades motoras sociais e de linguagem (SCHMIDT, 2017). Assim, outras características que são destacadas, se dão pela maneira em que os indivíduos as representam, como forma de expressão em conjunto ou individualmente. Com isto ainda, as características que dizem respeito ao autismo podem ser analisadas também enquanto dificuldades de socialização na parte de comunicação, justamente por um comportamento mais restrito ou de repetição de palavras.
De acordo com ORRÚ (2013), o perfil de personalidade da pessoacom autismo é compreendido como tendo dificuldades de estruturação dos três pilares, de comunicação social, de interação e de características do comportamento. Vemos a importância de um diagnóstico precoce para analisar as possíveis ferramentas de intervenção, e assim se iniciar os cuidados. Uma vez que assim o indivíduo terá maior chance de ver suas potencialidades desenvolvidas (PINO, 2005). Com isto também, ressalta se que as pessoas que possuem TEA terão de obter o livre acesso aos serviços de saúde, para os cuidados por toda a vida até a velhice, visto que o espectro autista é uma condição que requer cuidados para uma vida toda.
O Processo de Aprendizagem e a Criança Com Espectro Autista
De acordo com Bueno (2001) um dos fatores que favoreçam no processo de aprendizagem a criança com autismo é o planejamento das aulas, juntamente com o currículo oferecido pela escola. Este, deve ser elaborado de forma que atenda às necessidades da criança, permitindo a ela desenvolver sua autonomia. Além de também efetivar as atividades propostas, de modo que tenha um desenvolvimento completo.
Desta forma, as autoras Camargo e Bosa (2009, p. 28), trazem sobre o contexto social e a aprendizagem de crianças autistas dizendo que “O autismo pode ocorrer em qualquer classe social, raça ou cultura, sendo que cerca de 65 a 90% dos casos estão associados à deficiência mental (Gadia, Tuchman, & Rotta, 2004)” (Apud CAMARGO; BOSA, 2009, p. 28). Além disso, as autoras também trazem que “Essa incidência vem contra a noção estereotipada, derivada das descrições clássicas, de que crianças autistas possuem uma inteligência secreta e superior” (Apud CAMARGO; BOSA, 2009, p. 28). Elas ainda citam que,
[...] é possível perceber a notável variação na expressão de “sintomas” do autismo. Crianças com funcionamento cognitivo mais baixo geralmente tendem a ser mudas e isoladas. Em outro nível, a criança pode aceitar passivamente a interação, mas raramente a procura [...] (CAMARGO; BOSA, 2009, p. 28)
Assim, para que a escola seja realmente inclusiva, precisa compreender as características das crianças, tirar do papel a teoria educacional e colocar em pratica. A fim de que o comportamento e o conhecimento do aluno sejam transformados, possibilitando a ele ultrapassar as dificuldades sociais. Com isto, Lampreia (2008, p. 399) cita que “A idade do surgimento das características artísticas é outro fator complicador na definição do autismo”. Além disso, continua citando dizendo que “Tradicionalmente, o autismo tem sido visto como uma síndrome inata, com características aparentes já nos primeiros meses de vida” (LAMPREIA, 2008, p. 399).
Conforme Lent (2010) a criança cresce e se desenvolve, repete a evolução das espécies, ou seja, primeiro rasteja como um réptil, engatinha como um quadrúpede e depois fica em posição ereta como um bípede. Assim como a coordenação neuropsicomotora tem seu desenvolvimento desde a gestação, dentro do (Sistema Nervoso Central) também aparecem duas outras formas de desenvolvimento, onde ocorrem os impulsos de transmissão elétrica e a química.
Sabendo disto, o olhar do professor não pode ser discriminatório, pois seja a criança com autismo ou não, ela sempre será um sujeito com que precisa estar no processo de aprendizagem.
Portanto entende-se que a educação especial tem um papel diferenciado na inserção das crianças com necessidades especiais, pois é por meio dela que recursos especializados podem ser disponibilizados. Além de ser por meio desta também que os referidos recursos são inseridos no processo de tratamento e desenvolvimento das crianças, o que vai garantir uma qualidade de vida mais satisfatória.
Através de movimentos internacionais é que foram surgindo e avançando as práticas da educação inclusiva. Assim, o conceito é formado a partir de 1994, com a declaração de Salamanca. A ideia se resume em possibilitar a entrada de crianças com necessidades especiais nas escolas de ensino regular. Com isto, o intuito era acabar com a segregação, que impedia a criança com deficiência de se juntar na mesma sala com as crianças ditas “normais”. (BUENO, 2001).
Dentro da aprendizagem da criança diagnosticada com o espectro autista, existem alguns aspectos que sofrem algumas dificuldades, mas que também se inter-relacionam. O primeiro diz respeito à parte motora e a aprendizagem,ou seja, as atividades neurológicas estão diretamente ligadas ao desenvolvimento, baseado nas atividades exploratórias. Assim, entende-se que o desenvolvimento psicomotor é visto como um alicerce que serve para direcionar os primeiros aprendizados, por isso é tão importante. Uma vez que através dele há o aprendizado formal, que estimula a linguagem, envolvendo o domínio de fonemas e grafemas (SCHMIDT, 2017).
Cruz (2014, p. 26), menciona que:
Os debates mostram a importância de analisarmos o compromisso da escola, ao mesmo, a responsabilidade de várias instâncias institucionais, pois ela não pode, de maneira isolada, solucionar muitos dos problemas e entraves para modificar a situação de segmentos excluídos dos processos educativos (CRUZ, 2014 p. 26 e 27).
Deste modo também, os portadores do espectro autista têm a tendência a terem o cérebro maior, devido à quantidade excessiva de testosterona adquirida durante a gestação. Mas este fator não se aplica a todos, onde alguns marcadores biológicos ainda estão sendo investigados, a fim de se encontrar um método interventivo mais adequado.
Ainda de acordo com estudos, algumas crianças com o espectro possuem elevado nível de serotonina (hormônio neurotransmissor, que atua fazendo a comunicação entre as células nervosas) nas plaquetas. E assim, há possíveis relações entre esse neurotransmissor, as habilidades que a criança possui de interagir com o meio em que se encontra, e o autismo. Todas sendo estudadas a fundo.
Deste modo, percebe-se que não há mais como negar que o autismo está ligado diretamente a fatores de ordem orgânica. A neurociência tem comprovado este fato (SCHMIDT, 2017). Porém, mesmo diante disto, como cita Cruz (2014, p. 27),
As mudanças de mentalidade não chegaram ainda a configurar uma real aceitação do diferente, o que faz perdurar a prática de segregação a qual, no que diz respeito ao sujeito com autismo, se materializa num viver recluso, circunscrito a espaços sociais para os “anormais”. Assim, a sociedade se protege e, mesmo hoje, o coloca em instituições quase asilares (CRUZ, 2014 p. 27).
Desta forma, a Neurobiologia do aprendizado explica que é possível, através do entendimento de como funciona a memória, compreender como é a relação do autismo com aprendizagem. Assim, existem três eventos mnemônicos relacionados àmemória: aquisição; consolidação e evocação das memórias. O aprendizado acontece a partir da aquisição de memórias. E para que haja essa aquisição é preciso ter atenção, uma vez que, já é evidenciado que as crianças com autismo não têm atenção compartilhada necessária para aprendizagem. Sendo assim, sem atenção, sem consolidação, não há nada a ser evocado, dessa maneira não há aprendizado. (SCHMIDT, 2017).
As autoras Camargo e Bosa (2009, p. 28), citam que a relação entre as crianças que já estão no ambiente escolar comum, e os alunos diagnosticados com autismo, é muito importante. Elas citam que “[...] fica evidente que crianças com desenvolvimento típico fornecem, entre outros aspectos, modelos de interação para as crianças com autismo,ainda que a compreensão social destas últimas seja difícil” (CAMARGO; BOSA, 2009, 28).
[...] acredita-se que a convivência compartilhada da criança com autismo na escola, a partir da sua inclusão no ensino comum, possa oportunizar os contatos sociais e favorecer não só o seu desenvolvimento, mas o das outras crianças, na medida em que estas últimas convivam e aprendam com as diferenças. (CAMARGO; BOSA, 2009, p. 28 e 29)
O mesmo autor, Surian (2010), explica ainda que o autismo não tem cura, masque por meio de técnicas e atividades direcionadas a criança poderá ter uma qualidade de vida melhor. E que também, a escola é vista como um lugar específico e fundamental na socialização das pessoas, além do meio familiar. Com isto, o papelde acolher esta criança, a partir do momento que a vida acadêmica começa, está na responsabilidade do educador. Sendo ainda da alçada do educador, promover o encontro da criança com as regras, valores e normas as quais regem os princípios exigidos para o tempo contemporâneo a qual vivemos.
Ainda segundo o estudo de Surian (2010), cada intervenção terá uma forma deser introduzida, baseada em alguns fatores determinantes, por exemplo, método de ensino oferecido, instituição onde é disponibilizado, e se esta é de fácil acesso para acriança. O autor assevera que fazer uma análise do método em si é relevante, pois épreciso que através do diagnóstico feito comece a introdução das intervenções, e que estejam adequadamente estruturadas de acordo com o perfil de cada criança. Com isto, o autor traz algumas informações para a montagem de um perfil, conforme determinadas características da criança diagnosticada com autismo. Uma vez que estes dados são importantes para melhor intervir.
As autoras Camargo e Bosa (2009, p. 69) trazem que para uma integração mais eficiente, bem como maior aprendizado das crianças com autismo, deve se trabalhar não somente visando os alunos, mas também os professores. Uma vez que,
[...] um estudo exploratório sobre as expectativas dos professores frente à [...] inclusão de alunos com autismo em suas classes (Goldberg, Pinheiro, & Bosa, 2005) demonstrou que os professores manifestaram uma tendência a centralizar suas preocupações em fatores pessoais como [...] medo e ansiedade frente à sintomatologia mais do que à criança em si. (CAMARGO; BOSA, 2009, p. 69)
Assim, a inclusão do aluno com espectro autista permeia dificuldades que necessita de apoio de todos os grupos que se envolvem com a criança, tais como alunos, pais, professores, profissionais especializados e a comunidade. Com isto, setodos estiverem envolvidos no processo de aprendizado, a qualidade do ensino vai poder ser garantia da melhor maneira. Além de também se garantir o desenvolvimentopleno do potencial do aluno. O professor deve estar atento ao processo de adaptação de forma que a criança sinta segurança e assim possa ter uma aprendizagem significativa (CRUZ, 2014).
O Educador no Processo de Intervenção Pedagógica
De acordo com Cruz (2014) no processo educacional receber as pessoas que possuem transtorno do espectro autista se torna um grande desafio, visto que para receber esse aluno é necessário que se prepare um planejamento e adequações da escola. Neste sentido, após a implementação de leis que favoreceram as pessoas que possuem necessidades especiais, houve um aumento na matrícula de indivíduos com TEA, no ensino regular. Essas leis levaram segurança para as famílias, no que se trata de qualidade de ensino para os filhos.
Deste modo, o autor Moran (2004, p. 15), cita no trecho como a figura do professor é importante para que os alunos tenham um bom “ensino”, pois
O ensino de qualidade é dependente da figura do profissional de ensino. A capacitação dos profissionais, a sua remuneração e motivação devem ser prioridades do sistema educacional para que a qualidade possa ser alcançada (MORAN, 2004, p. 15).
Assim, o mesmo autor, Moran (2004), diz também que, o educador é como o intermediário entre o conhecimento e o estudante, com o papel de transmitir a teoria e consolidar os valores acerca do convívio social, pautados na ética e moralidade. Assim também, é imprescindível para um bom desempenho em sala de aula a qualificação do professor, através de uma boa formação, contribuindo sobremaneira para a qualidade do ensino (MORAN, 2004).
Nesse sentido, a qualidade do ensino e a efetividade do processo inclusivo estão diretamente relacionadas à qualificação dos educadores. De acordo com Baptista (2003), o peso do trabalho do educador é mais relevante que o tipo de deficiência ou deficiências presentes em sala de aula. Assim, cita se que é fundamental que existam
[...] projetos de formação de professores, para que se desenvolvam formas de atendimento educacional direcionadas a todas as pessoas,diferentes ou deficientes, ou não. Considera que esse deveria ser um compromisso de todos os segmentos que se responsabilizam por alunos (CRUZ, 2014, p. 101).
As finalidades do processo educacional destinado às crianças com TEA são, assegurar a independência através do estímulo, à segurança na realização das atividades diárias e promover o desenvolvimento de habilidades e características,colaborando assim para a elevação da qualidade de vida. Assim, a intensidade do transtorno determina o tipo de suporte dado às crianças, como traz o autor Cunha (2015, p. 46), “O primeiro passo a ser dado pelo professor será o de conhecer seu aluno, seus afetos, seus interesses. Isso possibilitará a instituição de exercícios, atividades e afazeres que ajudarão a canalizar a sua atenção”. E ainda cita se também que:
Com efeito, a partir do princípio afetivo da atividade pedagógica, o professor encontrará recursos para a superação do quadro de hiperatividade e de déficit de atenção. Não se trata de uma regra, mas de um caminho, pois o afeto traz o interesse para os movimentos de ensino e aprendizagem (CUNHA, 2015, p. 46).
Deste modo também, o aprendizado de crianças com transtorno autista necessita de um AEE – Atendimento Educacional Especializado para ser efetivo. Sendo que este AEE é implantado utilizando se recursos com funções multivariadas, ambientes específicos e métodos próprios, que asseguram condições de igualdade aos alunos com deficiências. Como foi mencionado anteriormente, o professor através da sua ação reflexiva poderá por meio dela expandir a sua criatividade, tomar decisões que ajudarão no ensino de seus alunos. Com isto, haverá a possibilidade de que o docente reestruture suas práticas, organize seu planejamento.
O autor Cunha (2015, p. 56) cita que “Em suma, podemos concluir que esse quadro de comprometimento pedagógico requer práticas específicas, direcionadas à aquisição de habilidades necessárias para a inclusão família, social e escolar do indivíduo”.
Para se alcançar um patamar onde todos os alunos estão aprendendo de forma satisfatória, o docente tem de estar sempre refletindo suas ações. Além de também procurar colocar em uso as bases pedagógicas que aprendeu, visto que estas dão apoio e suporte, possibilitando que se busque várias maneiras inovadoras. Sendo ainda que estas facilitarão a aprendizagem da criança com autismo, levando esta a ter um desempenho satisfatório e assim poder se tornar sujeito na construção da sua própria história. (ORRÚ, 2013).
Conhecer as características inerentes aos portadores do espectro autismo ajudará na preparação das aulas, de forma a permitir que eles se sintam inseridas no contexto escolar. Além disso também permitirá que os portadores de autismo recebem todo o cuidado e auxilio necessários ao seu desenvolvimento. Porém, todo esse conhecimento não terá eficácia se o professor não possuir no seu planejamento métodos e estratégias especificas de intervenção. Por isso, as intervenções pedagógicas são necessárias no ambiente escolar, para promover a qualidade da aprendizagem da criança com autismo. (MAZZOTTA, 1996).
O educador tem um papel de grande importância no que diz respeito à aprendizagem de crianças que são diagnosticadas com autismo, e que estão inseridas nos ambientes escolares comuns. É através da formação continuada, da criatividade, da atuação com práticas socializadoras, processos pedagógicos e da compreensão das características de cada uma destas crianças que o professor pode propor boas ações, que irão auxiliar no processo de aprendizagem geral dos portadores de autismo.
CONCLUSÃO
De acordo com os aspectos abordados concluímos que ensinar a criança que está no espectro autista requer superação, a fim de transpor os limites que permeiam esse aprendizado. Assim também, evidencia se que os seguintes aspectos precisam ser analisados nesse processo, o modo como ocorre à aplicação da linguagem verbal e não verbal, quais comportamentos impossibilitam a comunicação e as dificuldades existentes na memorização e raciocínio. Uma vez que todos estes são decorrentes dessa má socialização e comprometimento do comportamento devido aos movimentos estereotipados.
Deste modo, as questões ligadas as dificuldades de aprendizado das crianças com autismo são diminuídas quando há uma busca constante por parte dos educadores de qualificação, bem como dos demais profissionais da educação. Isto faz com que se garanta um atendimento especializado na condução do ensino. Assim também, o chamado AEE – Atendimento Educacional Especializado, dá outra notável contribuição para reduzir as dificuldades de aprendizado, visto que por meio deste o professor e a escola oferecem recursos voltados a educação de crianças que apresentam algum tipo de deficiência ou questão especifica.
Assim também, evidencia se que a visão do professor para com seus alunos não pode ser diferenciada, independente de apresentar autismo ou não. Uma vez que, os alunos dependem do saber do educador, bem como de seu acompanhamento e afeto para conseguirem aprender. Só se consegue alcançar a aprendizagem satisfatória se a criança encontrar na sala de aula um ambiente propicio, e o professor é responsável por criar isto.
Dessa maneira, evidenciou se ainda no trabalho que, para que as crianças com autismo sejam de fato entendidas, e que tenham suas necessidades dentro dos ambientes escolares comuns supridas, faz se necessário que o professor esteja em constante atualização profissional. Uma vez que os desafio encontrados são muitos, bem como as características que cada aluno, com autismo ou não, também apresentam. Assim também, houve a possibilidade de demonstrar ainda que a figura do professor não pode ser dispensada, tendo em vista que a presença do mediador ajudará a criança na sua adaptação no seu primeiro encontro mundo escolar.
Sendo assim, competência e qualificação estão diretamente relacionadas ao posicionamento e as execuções das atividades diárias na condução das crianças no espectro no ambiente escolar, estas habilidades são de uma essência predominante para o domínio prático.
Concluindo esse trabalho, evidenciou se como um todo a importância da busca pelo conhecimento, principalmente pelas questões da intervenção e inclusão do aluno com espectro autista. Mesmo com todos os desafios, é preciso se aprofundar e se conectar com a família, para que o processo de aprendizagem possa permitir a convivência da criança com autismo em relação à qualidade, sabendo que suas peculiaridades, limitações, serão respeitadas. Assim, pode ser o ponto de partida, para que futuras pesquisas possam surgir a partir do que foi discutido e analisado, voltando se principalmente a meios para que a inclusão de crianças com autismo seja melhorada no Brasil.
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