O GÊNERO BIOGRAFIA COMO FERRAMENTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA PRODUÇÃO ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Iraci Alves Ferreira GRESELE [1]
Elizete Alves FERREIRA [2]
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados do projeto sobre o gênero biografia realizado na Escola Municipal Selvino Damian Preve, com os alunos do 7º ano “A” do ensino fundamental, período matutino, localizada na rua Tamandaré, 649, Centro, na cidade de Santa Carmem-MT. Além disso, foi desenvolvido a partir de leituras de obras de Bakhtin, Geraldi para a fundamentação teórica; e em especial a leitura do texto de memórias literárias pelos alunos, bem como foram solicitados a fazer uma pesquisa referente ao gênero biografia, ou melhor a biografia de artistas para ser socializados em sala e a sequência e outras atividades. Além de socializar as leituras em sala das biografias, conhecer também as características das mesmas, com intuito de mais tarde os alunos escreverem as autobiografias. Num outro momento os alunos produziram os textos autobiográficos, digitaram e em sala fizeram as correções socializando-as com os colegas de sala. Para continuação do projeto foi convidada a professora Sônia para falar sobre sua biografia, o qual os alunos realizaram produção de textos, registros de fotos e para finalizar o trabalho do projeto foi elaborado o livro encadernado com os textos dos alunos.
Palavras-chave: Gênero. Produção textual. Leitura. Biografia.
1-Introdução
Este artigo é resultado do projeto desenvolvido no 7º ano “A” matutino, na Escola Municipal Selvino Damian Preve e traz como temática o gênero biografia como perspectiva do processo de ensino-aprendizagem numa busca de aperfeiçoar a escrita, ampliar a leitura e a interpretação de texto dos alunos do cotidiano escolar e da vida.
Ao pensar em realizar as atividades de forma de ensino numa perspectiva de didática o gênero biografia, em sala nos possibilitou caminhos e situações prazerosas e significativas diante do contexto escolar, isto é muitíssimo importante, pois os alunos em seus textos, puderam expressar seus sentimentos com grande expressividade. Falar desde a data de nascimento, do local que nasceram, dos pais, da idade, uma prática social muito particular, esportes, frutas preferidas, amigos e muitos outros. E depois a socialização em sala de aula com os colegas que os tornou mais próximos nesta interação discursiva do gênero em trabalho: biografia/autobiografia enriqueceu o saber dos alunos. É importante salientar que trabalhar e socializar as ideias numa visão que se busca compartilhar através do diálogo é muito significativo.
No espaço escolar compartilhar a interação das informações é importante, a leitura compartilhada, a correção dos textos, a produção de textos e os registros enriquece os saberes na construção do conhecimento.
2-Fundamentação Teórica
Na sala de aula a leitura e interpretação de textos de diferentes gêneros textuais é muito importante para a construção do processo de ensino –aprendizagem. Conforme diz Geraldi, 1991:
A língua é produzida socialmente. Isto quer dizer que a sua produção e reprodução, é fato cotidiano localizado no tempo e no espaço da vida dos homens: uma questão dentro da vida e da morte do prazer e do sofrer.
Desta maneira o projeto surgiu a partir de leituras de informações, estudos e de conteúdos propostos para ampliar e aperfeiçoar o conhecimento do aluno. Tendo em vista a análise de trabalhar o gênero biografia, características, a pesquisa, e a própria autobiografia, o refazer em sala observando a correção, a coesão, coerência, ortografia, concordância verbal e nominal, explorando o discurso, pois é necessário para a leitura de mundo numa perspectiva eficaz e facilitadora no desenvolvimento de sua aprendizagem.
Para Bakhtin, (1992, p.268) “Nenhum fenômeno novo (fonético, léxico, gramatical) pode integrar o sistema da língua sem ter percorrido um complexo e longo caminho de experimentação e elaboração de gêneros e estilos. ”Por isso trabalhar os diversos gêneros textuais incluindo a biografia na sala de aula contribui de forma significativa na formação dos alunos, visto que eles vão falar e escrever da própria vida. Dentre tantos gêneros que existem sendo uns mais simples que fazem parte do cotidiano e outros mais complexos.
A definição segundo: Bakhtin “Entendo por biografia ou autobiografia (narrativa de uma vida) uma forma tão imediata e possível, e que me seja transcendente, mediante qual posso objetivar meu eu e minha vida num plano artístico. (p.95, 1992) ”
Ao escrever a autobiografia os alunos relatam desde a data do nascimento, falam dos pais, da origem, do que gostam e é muito importante na socialização da linguagem verbal oral. Isso gera uma discussão importante que enriquece o saber na construção do conhecimento de forma significativa de acordo com as perguntas e respostas na linha do tempo. De acordo com o PCN de Língua Portuguesa:
O domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem os homens e as mulheres se comunicam, tem acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cultura. (1998, p.19)
Na análise de produção de textos, obviamente cada aluno tem seu jeito de se expressar expondo seus sentimentos, visto que é uma autobiografia, mesmo que seja simples, e também com registros de fotografia tirada pelos alunos que também é trabalhada a linguagem não verbal a fotografia.
Nesta proposta de trabalhar com o gênero autobiografia é muito enriquecedor nas trocas dessas de informações e no resultado do trabalho como forma de socialização das palavras, frases, textos na formação e desenvolvimento de forma efetiva de maneira gradativa desta narrativa.
Segundo Bakhtin (1992):
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A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e a cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa (p.279)
Aprender através dos gêneros textuais é muito significativo e propicia também uma leitura além da simples decodificação de símbolos. É de grande importância para que o indivíduo construa seu próprio conhecimento a respeito da leitura e os prazeres que ela traz, e tem que ser de compreensão da sua própria experiência que vai sendo adquirida, já que a leitura tem por sua principal função a de decodificar fatos registrados e vividos por ele e escrever a autobiografia no processo ensino-aprendizagem torna-se algo muito valioso, porque parte do pressuposto da sua própria existência e de sua bagagem.
Considero a produção de textos (orais e escritos) como ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da língua. E isto não apenas por inspiração ideológicas de devolução do direito à palavra às classes desprivilegiadas, para delas ouvimos a história, contida e não contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos escolares. Sobretudo, é porque no texto que a língua – objeto de estudos – se revela em sua totalidade quer enquanto conjunto de formas de seu reaparecimento, quer enquanto discurso que remete a uma relação intersubjetiva constituída no próprio processo de enunciação marcada pela temporalidade e suas dimensões. (Geraldi; 1997, p. 135).
Além da escrita também se alia a leitura a este processo contínuo estamos sempre melhorando e nos aperfeiçoando e desta maneira percebe-se que ela necessita ser significativa, atraente, que vá ao encontro das necessidades do aluno para que ele possa construir textos bons e criativos.
Portanto, o aluno tem uma história de vida, muitos conhecimentos trazidos do seu meio em que ele vive e está na escola a capacidade de organizar, aperfeiçoar e sistematizar estes saberes de maneira formal na orientação desta produção textual de forma dirigida .
É através da leitura uma arte de criar e de recriar novos textos, de compor ou estudar, por isso a necessidade de produzirr e ler os diversos gêneros textuais, observando que sem a leitura não existe aprendizagem, pois são inúmeras as formas de leitura. Assim segundo FERREIRO (2001, p. 16), “a leitura só é produção de sentido quando se é capaz de relacioná-la com as observações – leitura – da realidade já realizadas, estabelecendo-se, portanto, uma relação dialógica com o texto”.
Para FREIRE ( 2011, pp29 e 30) : “ De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas por uma certa forma de “ escrevê-lo ou de reescrevê-lo, quer dizer de transformar através de nossa prática consciente”.
Desta maneira a linguagem social tem se fundamentado na participação seja de forma oral ou escrita, então com o uso da leitura, que contribui para a autobiografia que tem todo seu contexto e sentido mesmo que de forma simples do jeito dos alunos como ponto principal para uma plena participação social de interação e socialização em sala. Cada aluno escreveu conforme o seu ponto de vista e o seu conhecimento de mundo. Desta forma segundo o que diz GERALDI (1991, p.13), “a língua é produzida socialmente. Isto quer dizer que a sua produção e reprodução, é fato cotidiano localizado no tempo e no espaço da vida dos homens: uma questão dentro da vida e da morte do prazer e do sofrer”.
Lembrando que para isso acontecer é necessário que o professor proporcione aos alunos caminhos, sejam através da escrita ou da leitura que possibilitam o gosto e a vontade de continuar lendo e aprendendo, e aprendendo ao mesmo tempo com essa leitura significativa.
Enfim, as diversas possibilidades que o gênero textual autobiografia possibilita trabalhar dentre elas a linguagem não verbal, com o registro do autorretrato, pois os alunos têm as referências pessoais, familiares, geográficas, culturais, perfis diferentes que é muito importante dentro do espaço escolar e uma aprendizagem significativa da Língua Portuguesa e os mesmos fizeram também como forma de representação de sua imagem. Houve a participação da professora Sônia que foi muito valiosa e significativa, enriquecendo o trabalho dos alunos, tanto na para escrita, quanto na oralidade, pois o discurso, foi muito bom, que foi trabalhado a linguagem verbal escrita e oral, os alunos puderam fazer perguntas, produziram os textos sobre o que ela contou, foi uma troca de informações. Na etapa da digitação no laboratório, e depois em sala a correção dos textos, observando os erros, a leitura de cada um, a socialização, a interação, etc. Sem esquecer que no final foi confeccionado o livro encadernado com os textos dos alunos como produto final e leitura dos mesmos na sala.
3-Conclusão
O trabalho desenvolvido foi de grande valia para o processo ensino-aprendizagem dos alunos e muito reflexivo, pois trabalhar com o gênero textual “biografia”, leitura e produção desses textos enriquece o saber dos alunos de forma significativa e se faz necessária numa construção efetiva, dinâmica,dialógica e participativa no contexto escolar.
É sabido que o trabalho na sala de aula tendo como suporte os diversos textos garante não somente o sentido da leitura, mas também o significado dos textos, auxilia na formação dos cidadãos. Se o objetivo é formar cidadãos críticos capazes de compreender os diferentes gêneros textuais e que aprendam na escola o domínio da língua oral e escrita é para que se tenha uma para participação efetiva, portanto se fez necessário estas aprendizagens.
Portanto, a vida é constante aprendizagem que jamais cessa e que faz o ser humano refletir sobre a educação para que estejamos sempre aprendendo com as informações e construindo conhecimento importante para a vida através dos textos e a sala de aula o espaço para o aprimoramento do conhecimento através da diversidade textual e metodologias para a construção do saberes.
4-Bibliografia
BAKHTIN, Mikhail, Estética da criação verbal, 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BRASIL MEC.Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa 1998.
FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. 14º ed. São Paulo: Cortez 2001.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 2011.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 64ª ed, Cascavel: Assoeste, 1991.
ORLANDI. Eni Pulcinelli.Linguistica, editora Brasiliense, Coleção 184, Primeiros Passos,1986.
[1] Formada em Letras e Pedagogia pela Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), especialização em Língua Portuguesa e Literatura pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação. Professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida e Escola Municipal Selvino Damian Preve, na cidade de Santa Carmem- MT. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
[2] Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), especialização em Psicopedagogia Institucional pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação; Alfabetização e Educação Infantil pelo ICE- Instituto Cuiabano de Educação. Trabalho na Escola Municipal Selvino Damian Preve na cidade de Santa Carmem-MT nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.