Buscar artigo ou registro:

A INFLUÊNCIA DOS AFRICANOS NA CULTURA BRASILEIRA

                                                                   José Augusto de Faria Pereira

Artigo apresentado para Universidade Candido Mendes como avaliação para o curso de pós-graduação em História do Brasil.

 

Resumo:

Esse artigo pretende apresentar o processo de escravidão no Brasil que se iniciou no século XVI e terminou no século XIX. E como eles conseguiram manter os seus costumes e ainda influenciar na formação da cultura brasileira já que eram considerados escorias da sociedade. Os escravos ingressaram nas irmandades católicas, montaram orquestra de negros, disseminaram suas religiões, criaram a capoeira uma arte marcial que era praticada para defesa pessoal. O samba, rap e a música popular brasileira tem muitos traços da cultura africana, muitos escritores que fazem parte da literatura brasileira são descendentes de escravos, palavras como quiabo, caçula, samba que fazem partem do nosso vocabulário são de origem africana. E atualmente os descendentes de escravos ainda são descriminados e marginalizados na sociedade brasileira.

Palavras-chave: África. Escravos. Cultura, Religião. Afro-brasileiros. Samba. Capoeira.

 

Abstract:

This article intends to present the process of slavery in Brazil that began in the 16th century and ended in the 19th century. And how they managed to maintain their customs and still influence the formation of Brazilian culture since they were considered slags of society. The slaves entered the Catholic brotherhoods, set up black orchestra, disseminated their religions, created capoeira a martial art that was practiced for self-defense. Samba, rap and popular Brazilian music have many traits of African culture, many writers who are part of the Brazilian literature are descendants of slaves, words such as okra, young, samba that make depart from our vocabulary are of African origin. And today the descendants of slaves are still discriminated against and marginalized in Brazilian society.

Keywords: africa. Slaves. Culture, Religion. Afro-Brazilians. Samba. Capoeira.

 

  1. INTRODUÇÃO

         

             A escravidão na África já existia antes da presença dos portugueses, ela só mudou de patamar com a chegada dos mesmos, pois eles passaram a comprar os escravos ou armar governantes africanos para que estes entrassem em guerra e fornecessem escravos para os portugueses. 

           Desde 1550 quando os primeiros negros chegaram ao Brasil, começava-se a mistura de costumes, cultura e também a miscigenação da população brasileira. Eles trouxeram consigo seus costumes, cultura e religião, e tentaram mante- lós no Brasil mesmo sendo vigiados e reprimidos.

           Os negros escravos vieram para o Brasil como mão de obra, trabalharam nas fazendas de cana de açúcar, nas minas de ouro e diamante, nas plantações de café, foram maltratados e humilhados. Mas também reagiram a essa exploração de várias maneiras.

           Os escravos africanos deixaram na cultura brasileira, sua contribuição em todas as áreas como: culinária, música, religião, vocabulário, esporte, danças entre outros aspectos.

 

  1. A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA

         

            A escravidão existiu desde os primórdios do mundo, muitos povos espalhados pelos continentes a utilizaram de várias maneiras, cada um de uma forma peculiar. A África é um continente extenso, e cada povo africano tem sua própria organização política, econômica e social, então a escravidão na África se desenvolveu de várias formas.

            Muitos povos africanos utilizavam a escravidão doméstica, onde o escravo não era considerado não era considerado uma mercadoria, mais sim uma força a mais na hora das atividades, sejam elas na agricultura, pecuária ou mesmo na guerra. Os principais motivos para que uma pessoa se tornassem escravos na África era por dívidas e por derrotas em guerras. A maioria dos escravos com o passar do tempo passavam a fazer parte do povo que os conquistaram em caso de prisioneiros de guerra.

            A escravidão na África vai mudar de formato quando os europeus, principalmente os portugueses chegaram ao litoral africano. Primeiramente eles sequestravam as pessoas e levavam para a Europa, depois se aliaram a chefes locais africano, onde forneciam armas e munições para os líderes africanos em troca de escravos. Essas alianças proporcionaram o enriquecimento e a profissionalização dos traficantes de escravos, tanto europeus como africanos e também houve um acentuado crescimento do tráfico interno de escravos na África.

                               

  1. ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL

        

Em 1550 os primeiros navios de negros escravizados chegaram ao Brasil pelo porto de Salvador na Bahia, com o propósito de serem negociados com todas as fazendas de produção açucareira do nordeste brasileiro.

 A partir de 1550 desembarcaram na Bahia escravos destinados ao trabalho nos engenhos de cana do Nordeste. (LOPES nei,2008, pg 45)

Estima se que cerca de 10 milhões de escravos chegaram ao Brasil entre os séculos XVI e XIX. Eles vieram para substituir a mão de obra indígena nas fazendas nordestinas. Chegaram ao Brasil escravos de várias origens. E todos eram separados de suas famílias e de seu povo quando chegavam ao território brasileiro.

                                               “No engenho eram os escravos que realizavam a maioria das tarefas, desde semear a cana até controlar a qualidade do açúcar, na época do plantio trabalhavam das 5 ás 18 horas e na época do corte e do beneficiamento da cana trabalhavam 18 horas por dia”. (Boulos Júnior, Alfredo, 2013, p. 103)

              Após o declínio da economia açucareira e a descoberta de minas de ouro na região de Minas Gerais, causou a migração de grande parte da população brasileira para a região das minas, inclusive da maioria dos escravos existentes no Brasil.

            Nas minas estes escravos trabalhavam em condições subumanas, dentro dos rios ou dentro de cavernas com risco de desabamento. Muitos incentivados pelos seus senhores conseguiam extrair uma grande quantidade de ouro e trabalhavam em horários extras e conseguiam comprar sua liberdade.

             Após o declínio da mineração, os escravos foram deslocados para a região Sudeste, para trabalhar nas plantações de café, onde permaneceram trabalhando até o fim da escravidão no Brasil em 1888. Existiu muitos escravos domésticos e outros que trabalhavam nas cidades com vendas de mercadorias e doces.

          

  1. A INFLUÊNCIA DOS ESCRAVOS NA CULTURA BRASILEIRA

        

            Ao chegarem ao Brasil os negros traziam na sua bagagem, línguas, religiões, costumes que tentaram preservar como forma de se proteger. Esses costumes trazidos pelos escravos influenciaram em todos os aspectos na formação da identidade cultural brasileira.

             Segundo Matos (2012) os negros integravam as irmandades católicas, praticaram o islamismo, o candomblé e reuniram se em batuques e capoeira, e com isso deixaram profundas contribuições para a sociedade brasileira.

            A influência africana na língua portuguesa falada no Brasil está na mistura do português oficial com palavras e frases trazidas da África como: caçula, camundongo, candomblé, carimbó, cachimbo, fofoca, macumba, quitanda, quiabo, samba, sunga, umbanda, axé entre outras. Com isso o idioma praticado no Brasil é uma mistura do português, línguas africanas e indígenas.

            Na literatura brasileira vários escritores importantes eram de origem africana. No século XVIII temos Domingos Caldas Barbalho, no século XIX temos Castro Alves, Machado de Assis, Luiz Gama entre outros, no século XX temos Mario de Andrade, Lima Barreto, Viriato Correia entre outros. Todos estes influenciaram e deixaram sua marca na literatura brasileira e tem os seus nomes gravados na história do Brasil.

            A grande marca da literatura criada por escritores afro-brasileiros no Brasil no século XX é o posicionamento contestador diante do racismo, adotado por muitos autores, alguns deles publicando seus textos em periódicos da impressa negra, ativa em São Paulo na década de 1930.

                       

  1. AS RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL

 

            Os negros ao chegarem no Brasil de várias partes do continente africano trouxeram consigo uma variada gama de religiões e crendices tradicionais da África, ou quando chegaram aqui recriaram religiões africanas com aspectos do catolicismo.

            Segundo Nei Lopes (2008) a religiosidade afro-brasileira, herdou, de bantos e oeste africano formas religiosas específicas. Dos bantos veio os cultos aos chefes de linhagens e aos heróis fundadores. Do oeste africano chegou com mais força o culto aos elementos, forças da natureza e as divindades protetoras da atividade humana (orixás e assemelhados).

             A primeira manifestação religiosa africana ocorreu nos séculos XVII E XVIII com a presença do Calundu que que era a prática do curandeirismo, uso de ervas com ajuda dos métodos de adivinhação e possessão.

            As pessoas que praticavam o Calundu eram chamados de curandeiros e tinham conhecimento de certos métodos medicinais, com a utilização de ervas, frutos e produtos naturais, e também manipulavam substancias químicas, como venenos, que serviam para matar ou deixar a pessoa sonolenta. Isto fazia parecer que a pessoa estava sob encanto ou feitiço. Por isso os curandeiros eram conhecidos como feiticeiros ou bruxos. 

            Essa prática atravessou os séculos e chegou com muita força até o final do século XX, onde nos interiores brasileiros muitas pessoas praticavam o curandeirismo ou a benzimento contra doenças, inveja e mal olhado. 

            No Brasil eles recriaram o candomblé que se se resume na prática de oferendas e no processo de iniciação por possessão. Essa religião acredita nos ancestrais africanos, que são os orixás e vodus, estes se comunicam com seus seguidores por meio da possessão. Esses seguidores são conhecidos como pai e mãe de santo, e passam por um processo de iniciação parta incorporarem os espíritos dos ancestrais. Apesar do declínio desta religião, atualmente ela está presente principalmente na Bahia e Rio de Janeiro e influenciou na criação da Umbanda, religião baseada no catolicismo e no espiritismo.

            No Brasil tivemos diversas outras religiões africanas, ou outras formadas por um sincretismo religioso, ou seja a mistura de crenças africanas com aspectos do catolicismo. Como nas irmandades católicas negras, onde se cultuavam santos católicos, reis, rainhas e orixás africanos. Essas manifestações religiosas fazem parte da realidade brasileira da atualidade.

               

  1. A INFLUÊNCIA AFRICANA NA MÚSICA BRASILEIRA

 

             A música africana teve sempre uma finalidade concreta, está em conjunto com a dança serve para invocar e louvar as divindades ou suavizar um trabalho árduo e manifestar sentimentos.

             No século XVII, na ocasião de festas católicas, era comum os escravos saírem as ruas com instrumentos trazidos da África ou feitos no Brasil. Enquanto isso nas fazendas se organizavam os primeiros grupos orquestrais brasileiros formados por negros.

            A música popular brasileira foi fortemente influenciada pelos africanos, e pela religiosidade afro-brasileira. No final do século XIX Chiquinha Gonzaga em parceria com Augusto de Castro lançou o disco Batuque Candomblé. Já no século XX Eduardo Souto e João da Praia lançaram o pemberê.

            Outro estilo musical brasileiro que foi criado por escravos africanos em conjunto com elementos da cultura brasileira foi o samba. Essa música nasceu das festas de danças dos negros no solo baiano que também eram chamadas de samba. Essas músicas e danças eram criminalizadas devido suas origens negras.

            Em 1916 foi registrado o primeiro samba no Brasil a música Pelo telefone composta por Mauro de Almeida e Donga e cantada por João da baiana.

                                                     “Na década de 1930, era a vez dos sambas de Mano Elói ou Elói Antero Dias destacar os cultos afro-brasileiros. Ele foi eleito cidadão do samba pela união das escolas de samba do Brasil. Elói fundou a escola de samba Império Serrano”. (MATTOS, Regiane Augusto de, 2012, p. 198).

            Durante o restante do século XX o samba continuou sendo influenciado pela religiosidade africana e a partir da fusão da cultura africana e brasileira o samba se tornou uma referência na identidade cultural brasileira.

            Outro estilo musical com fortes traços da cultura africana é o Rap que foi criado nos Estados Unidos e chegou ao Brasil, neste estilo reaparece uma das mais fortes manifestações afro-brasileiras contemporâneas, pois os ritmos marcados e repetitivos, quanto a força da palavra, especialmente da palavra cantada, tem as características das sociedades africanas.

       “Além de narrar fatos do cotidiano e fazer a crônica dos acontecimentos, como fazem as sociedades africanas, as letras das músicas de rap denunciam a opressão e a marginalização a que estão submetidos os habitantes das periferias dos grandes centros urbanos, em sua maioria negros e mestiços. Geralmente acompanhando a música há um tipo específico de dança, conhecido como break, no qual as marcas africanas são evidentes”. (SOUZA, Marina de Mello e. 2014,p. 138).

            A presença da cultura africana na música brasileira é intensa tanto no samba, como no pagode, como no rap, e também na música popular brasileira. Artistas renomados no Brasil como Milton Nascimento, Martinho da Vila, Gilberto Gil, Pixinguinha entre outros tem descendência africana e colocam em suas músicas traços da musicalidade africana.

 

  1. CAPOEIRA

      

            A capoeira considerada hoje como uma dança ou arte marcial tem suas origens ligada a Angola e aperfeiçoada no Brasil foi utilizada pelos escravos africanos no Brasil como forma de resistência. Para não despertarem suspeitas, os escravos adaptaram os movimentos da luta aos cantos da África, fazendo tudo parecer uma dança.

             Essa luta foi proibida no Brasil por muito tempo devido suas origens. Em 1930 esse preconceito foi ficando de lado quando o então presidente Getúlio Vargas convidou um grupo de capoeirista para se apresentar para ele.

            A capoeira se tornou um dos símbolos da cultura brasileira e se espalhou pelo mundo, em forma de luta ou dança. Que é ritmada pelo atabaque, pelo berimbau e pelo agogô. Dois parceiros de acordo com o toque do berimbau, executam movimentos de ataque, defesa e esquiva.

 

  1. AFRODESCENDENTES NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

    

             Mesmo após o fim da escravidão no Brasil, os negros continuaram a margem da sociedade, a maioria dos negros atuais vivem nas regiões periféricas e não tem muito acesso à educação, saúde e outros serviços básicos de qualidade.

            A mídia retrata os negros, em filmes ou telenovelas sempre como empregados, por isso além de problemas financeiros, os negros passam por um problema de autoestima. Eles mesmos se sentem inferiores. No Brasil existe um preconceito racial muito grande que nem sempre está explícito.

            Em 2013 foi criado a secretaria especial de promoção de políticas de igualdade racial e 5 anos mais tarde tramitava no congresso o estatuto de igualdade racial que tem o objetivo de reparar os efeitos da lei Áurea sobre os afrodescendentes.

             Foram criadas cotas para negros nas universidades públicas, entre outras medidas, mas isso não diminuiu o preconceito que os atinge, eles continuam sendo vítimas de descaso preconceito e violência. E por falta de oportunidades muitos se envolvem na criminalidade.

 

  1. CONCLUSÃO

       

             O resultado da pesquisa demonstra que a escravidão já era algo comum na África e que ela se intensificou com a chegada dos europeus. Este processo influenciou e muito na formação da cultura brasileira, pois os escravos africanos que chegaram ao Brasil e trouxeram consigo seus costumes, tradições e religiões. E parte desses costumes foram assimilados pela população brasileira e passaram a fazer parte da nossa cultura.

            Destacou se neste processo a utilização da cultura por parte dos escravos como forma de se proteger e manter sua identidade diante da exploração que eram submetidos. E neste processo que foi duramente perseguido e vigiado a cultura africana conseguiu sobreviver e influenciar nossa cultura, costumes, vocabulário, religião, música e culinária.

             É interessante analisar que no período da escravidão chegaram ao Brasil cerca de 10 milhões de escravos, mesmo com a situação pela qual passavam eles e seus descendentes criaram estilos musicais como samba, várias de suas religiões são praticadas no Brasil, grandes escritores da literatura do nosso país são de origem africana. Seus idiomas e dialetos influenciaram no português falado no nosso território.

             O objetivo principal do artigo verificou que os escravos africanos tiveram uma importância muito grande na formação da cultura brasileira e que neste processo mesmo em situação social precária eles forneceram elementos importantes que são utilizados por todo o território brasileiro. 

        

 

REFERÊNCIAS

 

LOPES, Nei. História e cultura africana e afro-brasileira. São Paulo: Barsa Planeta,2008.

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade e cidadania:2 ano / Alfredo Boulos Júnior.- 1.ed- São Paulo: FTD, 2013.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano/ Marina de Mello e Souza. 1.ed- São Paulo: Ática, 2014.

MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro brasileira/Regiane Augusto de Mattos-2.ed,-São Paulo: Contexto, 2012.